A prática de exercício físico aumenta o ritmo cardíaco e a temperatura corporal e quando estes valores são mais elevados, é possível que as pessoas não durmam tão bem, afirma Trent Yamamoto, coordenador do Laboratório de Investigação em Fisiologia do Exercício da UC Fit Digital Health de Brett Dolezal, nos Estados Unidos, citado pelo jornal Washington Post.
Com estes indicadores, é comum que se tenha a ideia que se deveria de limitar a atividade física ao final do dia para descansar melhor. No entanto, Yamamoto assegura que “quer o exercício noturno seja escolhido por preferência ou por necessidade, estudos recentes demonstraram que o exercício noturno não tem necessariamente um impacto negativo no sono”.
Embora os investigadores não tenham chegado ainda a um consenso, como é o caso de um estudo de 2019, que identificou a presença de elevados níveis de melatonina, a hormona relacionada com o sono, em pessoas que faziam exercício de manhã em comparação com quem fazia à tarde, existem vários estudos que mostram que o exercício noturno não é prejudicial para o sono.
Um outro estudo realizado em 2019, na Austrália, concluiu que não havia efeitos negativos no sono de quem praticava um treino aeróbico ou de resistência de intensidade moderada entre as 20h45 e as 21h30, mesmo que terminassem o treino 90 minutos antes da hora de deitar. Quando os participantes do estudo foram dormir, a temperatura corporal tinha voltado ao seu valor inicial.
Um estudo de 2020 observou 34 homens e mulheres, com idades entre os 18 e os 45 anos, que praticavam exercício físico regularmente, para avaliar como é que a sua qualidade de sono era influenciada por exercícios matinais ou noturnos. Os investigadores não encontraram diferenças na qualidade do sono entre os praticantes de exercício físico de manhã ou à tarde e à noite. Também constataram que a intensidade do exercício durante os treinos não afetou a qualidade do sono.
Apesar destes dados, os especialistas alertam para o facto de os efeitos do exercício em diferentes alturas do dia poderem variar consoante as pessoas e de muitos destes estudos serem feitos em pequena escala.
“Precisamos de muito mais dados sobre isto”, diz Marie-Pierre St-Onge, professora associada de medicina nutricional no Columbia University Medical Center e diretora do Columbia’s Center of Excellence for Sleep & Circadian Research, nos Estados Unidos, citada pelo também pelo Washington Post.
“Algumas pessoas podem achar que são mais negativamente afetadas pela atividade noturna e por isso devem restringir mais o exercício noturno”, acrescenta.
Afinal, a que altura do dia fazer exercício é mais benéfico?
Um estudo de 2023, publicado na revista Nature Communications, analisou mais de 92 mil pessoas no Reino Unido e observou que apesar de a prática de qualquer exercício estar associada a um risco reduzido de doenças cardíacas e cancro, quem praticava exercício entre o meio-dia e a tarde ou ao longo do dia (em vez de apenas de manhã ou à noite) apresentava o menor risco de doenças cardiovasculares.
Os investigadores são de opinião de que reconhecidos os benefícios de praticar exercício à noite, deve-se terminar a atividade pelo menos uma ou duas horas antes de dormir, para permitir que o corpo arrefeça e que o coração volte a um ritmo cardíaco de repouso.
“Se alguém tem dificuldade em adormecer, não diria que é aconselhável ir jogar basquetebol num ginásio iluminado à noite”, diz St-Onge. Mas se for capaz de correr ou levantar pesos depois do jantar e ainda conseguir adormecer e sentir-se descansado de manhã, “não há problema”, explica.