Dois pacientes com epilepsia receberam uma terapia experimental com células estaminais e tiveram uma redução quase completa nas convulsões epiléticas um ano após o tratamento, revelam os primeiros resultados do estudo feito em dois hospitais norte-americanos.
O tratamento foi feito com uma única injeção cerebral de neurónios desenvolvidos em laboratório, produzidos para amortecer a atividade elétrica, com o objetivo de interromper as convulsões.
Apesar de ser ainda prematuro afirmar a sua total eficácia, os resultados iniciais, apresentados na reunião anual da International Society for Stem Cell Research, em Boston, na semana passada, são vistos como prometedores.
“Embora a nossa investigação clínica esteja em andamento em outros pacientes, é gratificante testemunhar que os dois primeiros tiveram um alívio das convulsões sem comprometimento cognitivo adicional até o momento”, disse Cory Nicholas, CEO da Neurona Therapeutics, empresa de biotecnologia com sede em San Francisco que desenvolveu a terapia, citado pelo jornal The Guardian. “Esperamos que estas melhorias continuem no decorrer do estudo.”
Depois da terapia inovadora, um dos pacientes baixou em 95% as convulsões mensais e o outro 90%.
A epilepsia é a disfunção do sistema nervoso mais comum. O que acontece durante uma convulsão é que o equilíbrio entre os neurónios excitatórios, que disparam sinais, e os neurónios inibidores, que diminuem essa atividade, se desconetam, causando uma descarga elétrica.
Os sintomas são diferentes consoante a zona do cérebro onde ocorre a descarga. Na zona motora cerebral manifesta-se através de movimentos involuntários de um lado do corpo, sem perda de consciência. Na zona visual pode provocar uma visão de luzes.
Caso a crise epilética seja generalizada, a descarga elétrica acontece em toda a superfície cerebral ao mesmo tempo.
A epilepsia afeta cerca de 65 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, estima-se que 40 a 70 mil pessoas sofram desta doença crónica.
Os dois pacientes que entraram neste estudo têm formas graves de epilepsia. Um sofre da doença há sete anos e tinha uma média de 32 convulsões por mês, o outro tem epilepsia há nove anos, com uma média de 14 convulsões por mês.
O tratamento fez-se através da injeção de uma alta concentração de neurotransmissores inibidores no local das convulsões dos pacientes. As células foram produzidas em laboratório, a partir de células estaminais embrionárias.
Os ensaios anteriores, feitos em animais, mostraram que estes neurónios injetados entraram nos circuitos cerebrais e travaram as convulsões.
Depois da terapia, um dos pacientes baixou em 95% as convulsões mensais e o outro 90 por cento.