Um novo estudo, realizado por investigadores do Hospital Geral de Massachusetts, deu conta de que o consumo leve a moderado de álcool pode ajudar a diminuir o risco de doenças cardiovasculares, uma vez que auxilia na redução dos níveis de stress, conclusões que estão em linha com resultados de investigações anteriores.
A equipa queria perceber de maneira clara de que forma é que este tipo de consumo de álcool, que equivale, nas mulheres, a uma bebida por dia e, nos homens, a uma ou duas bebidas por dia, podia ajudar na redução da probabilidade de se desenvolver uma doença deste género. O objetivo era, uma vez compreendido o mecanismo, encontrar uma abordagem que replicasse os efeitos protetores do álcool, sem os seus efeitos adversos.
Para isso, a equipa analisou dados de cerca de 50 mil pessoas inscritas no banco de dados norte-americano Mass General Brigham e, tendo em conta fatores genéticos, relacionados com o estilo de vida e socioeconómicos, por exemplo, concluiu que o risco de haver eventos relacionados com doenças cardiovasculares diminuiu em pessoas que bebiam álcool de forma leve a moderada.
Os investigadores analisaram também um conjunto de 754 pessoas e, a partir de imagens cerebrais, perceberam que houve sinalização de stress reduzido na amígdala, a região do cérebro relacionada com as respostas ao stress, nos indivíduos que consumiam álcool de forma leve a moderada, em comparação com aqueles que se abstinham do álcool ou que quase não bebiam.
Não é novidade que o álcool reduz a reação da amígdala a estímulos ameaçadores durante a sua ingestão. Contudo, este é, de acordo com a equipa, o primeiro estudo a referir que o consumo leve a moderado de álcool tem efeitos neurobiológicos de longo prazo na atividade da amígdala, que pode ter, por seu lado, um efeito significativo no sistema cardiovascular.
A investigação concluiu ainda que, dentro da amostra de 50 mil pessoas, o consumo leve a moderado de álcool foi associado a quase o dobro do efeito protetor cardíaco em indivíduos com histórico de ansiedade, comparativamente aos outros.
Os investigadores explicam que “quando a amígdala está muito alerta e vigilante, o sistema nervoso simpático – que ajusta o organismo para lidar com situações de perigo e stress – é intensificado, o que aumenta a pressão sanguínea e a frequência cardíaca, além de desencadear a libertação de células inflamatórias”. Portanto, se o stress for crónico, “o resultado é hipertensão, aumento da inflamação e um risco substancial de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares”, acrescentam.
Contudo, a equipa alerta para o facto de não estar, com os resultados da investigação, a aconselhar as pessoas a beberem álcool sem pensarem nas suas consequências negativas. Citado pelo The Guardian, Ahmed Tawakol, médico cardiologista e principal autor do estudo, explicou que a equipa não está a defender o consumo de álcool para reduzir o risco de ataques cardíacos ou AVC devido “a outros efeitos preocupantes do álcool na saúde”.
Isto porque, por exemplo, o estudo, publicado no Journal of the American College of Cardiology, mostrou que qualquer quantidade de álcool aumenta o risco de cancro e que, em quantidades maiores de consumo, o equivalente a mais de 14 bebidas por semana, o risco de ataque cardíaco começou a aumentar.
O nutricionista Pedro Graça, que escreveu para a VISÃO em 2019, garante, também, que “o consumo excessivo de álcool está associado ao aumento de risco para várias doenças, nomeadamente cancro, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças do aparelho digestivo e um múltiplo leque de acidentes, nomeadamente rodoviários e também outras situações, frequentemente não reportadas, como a violência doméstica”.
Em agosto de 2018, um estudo publicado na revista Lancet e utilizando os dados do Global Burden Disease para 195 países, conclui que não existe nenhuma quantidade de álcool cujo consumo possa ser considerado sem risco para a saúde.
Mais recentemente, também na mesma revista foi publicado um trabalho em que se analisou o consumo de mais de meio milhão de pessoas e que concluiu que o álcool presente nas bebidas alcoólicas parece aumentar de forma uniforme a pressão arterial e o risco de AVC.