Nos Estados Unidos da América, entre 1,5% a 2% das pessoas com Covid-19 que tomam Paxlovid podem, passados poucos dias, voltar a ter infeção por SARS-CoV-2. Não apresentando sintomas da doença, agrava ainda mais a situação, pois não sabem que estão a disseminar o vírus.
O aviso é de Michael Charness, do Centro Médico de Administração de Veteranos (Veterans Administration Medical Center), em Boston, e dos seus colegas que, recentemente, trabalharam em conjunto com uma equipa de investigadores da Universidade Columbia para investigar como há casos de reinfeção de Covid-19 após o tratamento com Paxlovid, um antiviral capaz de complementar a ação da vacina e de reduzir a probabilidade de doentes de risco irem parar ao hospital, terem doença grave e morrerem. Nos Estados Unidos da América é campeão de vendas e também já foi aprovado no Brasil. Por cá, aguarda-se a norma da DGS.
No estudo encontraram, pelo menos, dois casos em que as pessoas contagiaram outras quando foram reinfetadas. Um homem de 67 anos infetou uma criança de seis meses depois de ter estado meia hora perto do bebé. Tinham passado 12 dias desde o seu primeiro teste positivo para a Covid-19, seguindo-se um tratamento de cinco dias com Paxlovid que o fez sentir-me melhor. Quando esteve perto do neto não tinha nenhum sintoma da doença, mas cerca de oito horas depois começou a sentir-se mal novamente.
O bebé testou positivo cerca de três dias depois, assim como os seus pais. Nenhum dos três teve outros contactos próximos com infetados antes de ficarem doentes.
“Esta situação indica que a transmissão é possível durante a recuperação, antes mesmo de desenvolver sintomas”, explica Michael Charness à CNN, cadeia de televisão americana. “Nós estudámos um pequeno número de pessoas. É perfeitamente possível que existam outras pessoas por aí, que não tenham sintomas, e ainda tenham uma reinfeção viral.”
Num outro caso, um homem de 63 anos infetou dois familiares durante três dias de reinfeção após tomar Paxlovid.
Com base nesse estudo, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) emitiu, na semana passada, novas orientações para os doentes com Covid-19 em recuperação após a terapêutica com Paxlovid.
Quem testar positivo outra vez e voltar a ter sintomas da doença, depois de terminar a toma do medicamento antiviral, deve reiniciar o período de isolamento e manter-se sem contactos físicos durante cinco dias completos.
Após esse tempo adicional, desde que a febre tenha desaparecido nas últimas 24 horas sem medicação para a reduzir e a pessoa se sinta melhor, poderá sair do isolamento. É aconselhado que continue a usar máscara durante dez dias, após o regresso dos sintomas.
As descobertas e as orientações surgem à medida que o uso de Paxlovid cresce nos Estados Unidos. Segundo a Casa Branca, nos últimos dois meses, as prescrições aumentaram seis vezes, aproximadamente, de 27 mil por semana para 182 mil por semana.
O governo crê que o aumento está relacionado com o programa de testes, ao ter criado centros únicos em mercearias e lojas de conveniência, onde as pessoas podem fazer o teste e receber uma receita de medicamentos antivirais, que devem ser tomados logo nos primeiros dias de sintomas.
Os resultados da eficácia são promissores: em ensaios clínicos, e comparando com quem tomou placebo, o Paxlovid reduziu em quase 90% as hipóteses de uma pessoa com Covid-19 tornar-se um doente grave a precisar de hospitalização.
Por esta razão, o CDC continua a recomendar o tratamento precoce com este medicamento. No entanto, é importante que todas as pessoas saibam que o antiviral pode não fazer desaparecer completamente a infeção.
Segundo as investigações, os testes genéticos realizados sugerem que, as pessoas reinfetadas pelo SARS-CoV-2 após o tratamento com Paxlovid, não é com uma estirpe diferente do vírus. Também não há sinal de que o vírus tenha sofrido alterações ou mutações para desenvolver algum tipo de resistência ao fármaco.
Até agora, os casos de reinfeção têm sido leves, sem relatos de doença grave. Por isso, o CDC não considera ser necessário aumentar tratamento.
O mistério ainda não foi resolvido, mesmo depois de a equipa de Michael Charness, ter visto a quantidade de vírus no corpo de uma pessoa, a chamada carga viral, diminuir durante a toma de Paxlovid.
O Paxlovid bloqueia a replicação viral, diminuindo os níveis de vírus, mas em algumas pessoas – ninguém sabe quantas, porque não foram estudadas em número suficiente – os níveis do vírus voltam a subir nove a 12 dias após o primeiro teste positivo.
Ainda é preciso esclarecer qual a ligação da infeção à toma do medicamento; se o dia em que começou o tratamento interfere no desenvolvimento da reinfeção e se é preciso aumentar o número de dias de tratamento, de cinco para seis ou sete dias.