Apenas dois meses depois de o mundo ter acordado para a Ómicron, o diretor do Laboratório de Biotecnologia e Virologia Molecular da Universidade do Chipre, em Nicósia, garante ter identificado mais uma mutação do coronavírus.
Leondios Kostrikis deu-lhe o nome de trabalho “Deltacrón”, por ela combinar características genéticas tanto da variante Delta como da variante Ómicron, e refuta a hipótese de a sua descoberta não passar de um erro técnico.
A nova variante já foi apresentada à GISAID, a base de dados internacional do Instituto Pasteur que acompanha mutações do vírus, na sexta-feira, 7. Até agora, foram notificados 25 casos de infeção por “Deltacron”, sobretudo em pacientes hospitalizados e não vacinados, disse Leondios Kostrikis à agência de notícias Bloomberg.
Ainda não se sabe se esta mutação é mais patogénica ou contagiosa do que as anteriores, sublinhou o cientista cipriota. “Mas, tendo em conta que a Ómicron é bem mais contagiosa, é expectável que esta última se sobreponha”, acrescentou.
Foi também à Bloomberg que Leondios Kostrikis se apressou a rebater os seus pares que suspeitam que a “Deltacron” não seja uma verdadeira mutação mas antes o resultado de contaminação laboratorial.
Numa declaração por e-mail, o investigador especificou que os casos que identificou “indicam uma pressão evolutiva para uma linhagem ancestral adquirir essas mutações e não o resultado de um único evento de recombinação”. Além disso, escreveu, pelo menos uma sequência provinda de Israel e depositada num banco de dados global exibe características genéticas da nova variante. “Essas descobertas refutam as declarações não documentadas de que a Deltacron é o resultado de um erro técnico.”
Esta descoberta surge num momento em que dados do site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford, no Reino Unido, indicam que 95% das mostras analisadas em laboratório atualmente são da variante Ómicron e 4% são da Delta. E, enquanto a maioria da população mundial não estiver imunizada, é expectável que apareçam novas variantes.
No final da semana passada, em França, um grupo de cientistas identificou uma variante com mais mutações do que a Ómicron, batizada com as iniciais do Instituto Hospitalar Universitário de Marselha (IHU), que deriva de uma outra (a B.1.640), detetada em setembro, na República do Congo. O primeiro caso foi de um viajante que regressava a França vindo dos Camarões, país que faz fronteira com o Congo.