Um estudo, publicado a 31 de maio, na revista Fontiers in Nutrion, mostrou como um homem britânico com cancro do cérebro conseguiu sobreviver sem ter de recorrer aos tratamentos típicos, quimioterapia ou radioterapia, adotando, em vez disso, uma dieta cetogénica, como parte de uma terapia metabólica cetogénica que consiste numa abordagem nutricional não-tóxica.
A investigação resultou de uma colaboração entre universidades dos Estados Unidos e do Reino Unido, que analisaram um homem de 32 anos, diagnosticado, em 2014, foi com glioblastoma multiforme (GBM), ou astrocitoma grau IV. Este é o tipo de tumor cerebral primário mais comum e agressivo, geralmente considerado fatal, nos adultos. Neste caso, o homem possuía também uma mutação conhecida como IDH1, que melhora significativamente as probabilidades de sobrevivência.
O estudo analisou os benefícios do uso do próprio metabolismo do corpo para combater o cancro. Este é o primeiro que avalia este tipo de terapia como tratamento do GBM com a mutação IDH1, sem o recurso a outros tratamentos, adotando apenas uma abordagem nutricional não-tóxica. Esta abordagem consiste na adoção de uma dieta cetogénica, também conhecida por Keto, que é uma alimentação pobre em hidratos de carbono e rica em gorduras, baseada maioritariamente em gorduras saturadas, o mínimo de vegetais possível e numa variedade de carnes.
O que esta mudança alimentar faz, como explicam os autores, é limitar a produção de glicose e glutamina, necessárias ao crescimento deste tipo de tumores. No entanto, não basta apenas cortar na sua produção, uma vez que estas são essenciais para o funcionamento do corpo humano, pois são uma fonte de energia para as nossas células. A dieta citogénica permite compensar esta escassez ao aumentar a produção de corpos cetónicos, que funcionam também como fonte energética para o coração, cérebro e tecido muscular.
Para além da quimioterapia ou radioterapia, os doentes, em certos casos, podem recorrer à ressecção cirúrgica, que consiste na remoção da maior quantidade possível do tumor. Em 2017, passados três anos de apenas optar por uma dieta citogénica, o paciente decidiu recorrer à ressecção cirúrgica. Este continuou, entanto, com uma parte residual do tumor, que continuou a crescer lentamente, levando-o a intensificar a terapia metabólica cetogénica.
“À luz da progressão lenta contínua do tumor residual, o paciente intensificou a terapia metabólica cetogénica em outubro de 2018 com a inclusão de técnicas de mindfulness para reduzir o stress. Embora a ressonância magnética mostre progressão do tumor com um intervalo lento, o paciente permanece vivo e com boa qualidade de vida”, escreveram os autores no estudo. Segundo a Medical Xpress, o GBM mata 15 mil pessoas por ano e permanece maioritariamente incontrolável. Várias são as figuras conhecidas que sofreram desta doença como é o caso recente do senador norte-americano John McCain, diagnosticado aos 80 anos em julho de 2017 e falecido a agosto de 2018. Embora os tratamentos tenham mudado para novas imunoterapias, o tempo média de sobrevivência é de 11 a 15 meses. Quando este estudo foi publicado o paciente continuava vivo, tendo passado 80 meses desde o seu diagnóstico.
As descobertas neste caso são particularmente relevantes para outros pacientes que contenham o mesmo tipo de mutação. No entanto, tal como os autores escrevem no artigo serão necessários mais estudos para testar este tipo de dieta como tratamento. Os investigadores referem, ainda, a dificuldade em realizar ensaios clínicos em larga escala com terapias alternativas, o que os leva a examinar casos individuais, criando outras dificuldades. “Não podemos prever se a resposta terapêutica à terapia metabólica cetogénica observada num paciente com GBM, também será observada com outros pacientes de forma semelhante”, escrevem os autores.