Desde a última vez que os especialistas se reuniram com os políticos e os parceiros sociais no auditório da Autoridade do Medicamento, em Lisboa, a situação epidemiológica do País “agravou-se muito”. Portugal atingiu máximos históricos de infeções, tendo agora “mais áreas com incidência superior a 960 [casos de Covid-19 por cem mil habitantes]”, explicou André Peralta Santos, diretor de serviços de informação e análise da DGS, esta terça-feira.
“Na última reunião do Infarmed [realizada antes do natal] estávamos com uma situação epidemiológica com uma tendência decrescente, fruto das medidas implementadas. Essa tendência manteve-se decrescente até muito próximo do natal, e atualmente estamos com uma trajetória fortemente crescente, atingindo já um máximo histórico da incidência cumulativo”, disse o especialista.
Este aumento do número de infeções é, segundo André Peralta Santos, transversal a todas as faixas etárias e regiões do país, correspondendo “inevitavelmente a um aumento das hospitalizações” e dos óbitos, também “em níveis históricos”, tendo já ultrapassado a barreira dos cem diários na última semana.
Região do Norte. Jovens entre os 20 e os 29 anos são faixa etária mais preocupante e Viana do Castelo é o pior concelho
Fazendo um zoom à região do Norte, desta vez com a análise de Óscar Felgueiras, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que participou na reunião por videoconferência: a zona passou a ter 40% dos concelhos com incidência “muito elevada”, na última semana; quando, a 26 de dezembro, havia 9% de municípios nesta situação. “Saltou de repente”, comentou o especialista.
Embora todas as faixas etárias sejam responsáveis por este aumento, é no grupo dos 20 aos 29 anos que a incidência mais cresce, revelou Óscar Felgueiras.
A nível geográfico, destacam-se os distritos de Aveiro (com um crescimento de 70% dos casos, na última semana) e de Bragança. Já o distrito do Porto “é o que apresenta uma incidência mais baixa”, continua o professor universitário.
“O concelho mais crítico, neste momento, é o de Viana do Castelo. Apesar de ter uma incidência de 879 [por cem mil], que aparenta estar dentro da média, a verdade é que o crescimento está a ser muito mais acentuado do que no resto da região. Na última semana, teve um crescimento de 109%: muito acelerado”.
Lisboa e Vale do Tejo. Mais de cem portugueses recusam fazer teste de rastreio quando aterram em Portugal
Em relação à região da Grande Lisboa, Duarte Tavares, do Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, assumiu, na reunião, que o aumento de casos chegou “antecipadamente em reação àquilo que nós prevíamos”, já se notando um aumento das infeções logo nos dias que se seguiram ao natal, a 27 e a 28 de dezembro. Na distribuição etária, “verifica-se que de novembro para dezembro, e de dezembro para janeiro, temos cada vez mais casos em mais jovens”, aponta, referindo-se à mesma faixa etária, a dos 20 e os 29 anos.
Também a subir estão os casos importados. Só nos primeiros 11 dias de janeiro já chegaram particamente tantos infetados ao aeroporto de Lisboa, como no mês inteiro de novembro: 53. Sendo de salientar que, segundo Duarte Tavares, diariamente, “mais de cem cidadãos portugueses, à chegada a Lisboa, recusam fazer teste e não o trazem [feito]”.