Desde o início da pandemia que a comunidade científica procura a resposta a uma questão fulcral: como é que ocorre a transmissão do vírus. Entre os cientistas, aumenta o consenso de que a probabilidade de contrair a Covid-19 através do contacto com superfícies infetadas é pequena. A maior preocupação está nas interações pessoais, sendo mais provável contrair o vírus se as pessoas estiverem demasiado expostas à presença umas das outras durante longos períodos de tempo. Locais onde haja uma grande concentração de pessoas, bem como áreas que não são devidamente ventiladas, apresentam um risco elevado de propagação do vírus.
Ações banais, como falar ou respirar, e que não apresentavam qualquer perigo para o dia a dia na sociedade pré-Covid, continuam a revelar-se poderosos meios de transmissão do vírus. Isto porque durante os processos respiratórios são libertadas para o ar gotículas que podem estar contaminadas, correndo o risco de infetar o meio envolvente. Se essas gotículas entrarem em contacto direto com os olhos, nariz ou boca, a probabilidade de contágio entre pessoas é muito elevada.
Um outro aspeto que pode contribuir para a propagação do vírus é a inalação de aerossóis. Num caso ocorrido num restaurante Chinês, um cliente infetado, que não apresentava quaisquer sintomas, transmitiu o vírus às pessoas à sua volta através da emissão de partículas através da respiração. O cumprimento das distâncias de segurança foi respeitado, no entanto, o problema é que o local não se encontrava devidamente ventilado. Alguns cientistas acreditam que, apesar de a transmissão por aerossóis ser frequente, isso não explica o porquê de o número de infetados ser tão elevado. John Brooks, diretor médico do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos, esclarece que se a Covid-19 fosse transmitida como o sarampo ou a tuberculose, casos em que o vírus permanece no ar durante mais tempo, haveria muito mais pessoas infetadas.
Um outro fator que contribui para a transmissão do vírus, é a prolongada exposição ao mesmo. Segundo Brooks, o vírus demora cerca de 15 minutos ou mais a atuar após o contacto com a fonte de infeção. No entanto, o médico relembra que há exceções, e a reação pode demorar menos tempo caso haja a rápida emissão de gotículas respiratórias para o ar. É o que acontece nos atos de espirrar e tossir.
Lisa Brosseau, responsável pela área de proteção respiratória do Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infeciosas, acredita que as medidas de prevenção devem ser severamente respeitadas sobretudo nos locais de trabalho, que se apresentam como um forte meio de disseminação da doença. É necessário manter a distância de segurança e fornecer aos trabalhadores os equipamentos de proteção necessários, incluindo máscaras respiratórias adaptadas, nos casos em que seja necessário.