Há dezenas de cientistas em todo o mundo naquilo por que agora mais esperamos, uma vacina para o novo coronavírus. Mas há um cenário que não devemos colocar de parte: e se não for encontrada uma vacina? O facto não seria inédito – veja-se o caso do HIV – e obrigar-nos-ia a viver de forma diferente, com a Covi-19 como parte do quotidiano. Teríamos de nos adaptar a uma espécie de rédea curta nas nossas movimentações e maneira de viver. Com aberturas e fechos de comércio, com precauções a todo o instante, sem margem para desfrutarmos, como antes, de acontecimentos como aniversários, casamentos ou jantaradas.
Mesmo que sejam desenvolvidos tratamentos, os surtos da doença continuarão a acontecer a cada ano caso não exista uma vacina.
“Existem alguns vírus para os quais ainda não há vacina”, diz David Nabarro, professor de saúde pública no Imperial College London e consultor da Organização Mundial de Saúde para a Covid-19, à CNN.
Para este professor é essencial que “todas as sociedades se posicionem” de forma a defender-se contra o novo coronavírus, encarando-o como “uma ameaça constante” ao mesmo tempo que se avança social e economicamente.
No entanto, muitos especialistas acreditam que vai ser encontrada uma vacina. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, a agência governamental dos EUA para as questões de Saúde, aponta para um ano a 18 meses. Já o médico e epidemiologista Chris Witty, diretor-geral da Saúde inglês refere que um ano talvez seja uma data muito prematura.
Para Peter Hotez, diretor da Escola Nacional de Medicina Tropical da Universidade de Baylor, acelerar uma vacina em um ano ou 18 meses seria algo sem precedentes. “Não quer dizer que seja impossível, mas seria uma ato heroico”, lembra, sem deixar de exortar que precisamos de “um plano A e um plano B”.
Como foi com a SIDA
Quase quatro décadas depois dos primeiros casos e 32 milhões de mortos ainda não existe uma vacina para o VIH.
Durante muitos anos, os doentes com SIDA não só enfrentaram uma sentença de morte, mas também o ostracismo de milhares de pessoas.
As investigações para a descoberta de uma vacina foram intensificando-se, mas a constante mutação do vírus tornou as pesquisas infrutíferas. No entanto, foram desenvolvidos medicamentos e, hoje, o VIH, é uma doença crónica.
E há mais casos. A febre de dengue (causada pela picada de um mosquito infetado) esteve quase a ter uma vacina, mas em 2017, os ensaios para a doença que afeta cerca de 400 mil pessoas por ano foram suspensos porque pioravam os sintomas.
Covid-ready
Sem vacina, teremos que adotar o plano B. “É absolutamente essencial trabalharmos para estarmos sempre prontos para a Covid”, refere David Nabarro. Teremos de ser uma espécie de sociedade Covid-ready em que cada um tem de ser auto-responsável em isolar-se caso esteja doente.
Keith Neal, professor emérito de Epidemiologia e Doenças infecciosas, na Universidade de Nottingham, garante que o lockdown “não é sustentável economicamente e, talvez, também não o seja politicamente”.
Ou seja, à medida que os países começam a abrir a economia e a desconfinar as populações, os especialistas devem pressionar para que os Governos adotem novas maneiras de viver de forma a que, de alguma maneira, se possa comprar tempo ao tempo até que se desenvolva uma vacina.
Os especialistas também preveem uma mudança de atitude em relação ao trabalho, com o tele-trabalho, pelo menos em alguns dias, a enraizar-se e a tornar-se norma. E as empresas a terem escalas para que os escritórios não fiquem demasiado cheios desnecessariamente.