É um dado que tem baralhado os cientistas: só 2,4% dos casos de Covid-19 detetados na China, o epicentro da pandemia, correspondem a pessoas com menos de 18 anos e, neste grupo, só 0,2% sofreram doença grave. De alguma forma, os mais jovens parecem estar protegidos da infeção pelo novo coronavírus. No sentido contrário, quanto mais velho, maior o risco. Descobrir porquê pode ser determinante para combater a pandemia.
“Embora alguns dados preliminares sugiram que as crianças são menos suscetíveis à infeção e à doença, precisamos de muito mais informação até percebermos se de facto isto se confirma”
David knipe
Normalmente, os grupos mais suscetíveis de sofrer infeções são os muito novos – por ainda não terem um sistema imunitário completamente maduro – e os mais velhos, em que as defesas já começam a falhar. O caso da infeção por coronavírus parece representar uma exceção. O que tem intrigado os cientistas. David Knipe, professor de microbiologia da Faculdade de Medicina de Harvard, admitiu à VISÃO que este é um dos pontos que precisa de ser esclarecido. “Embora alguns dados preliminares sugiram que as crianças são menos suscetíveis à infeção e à doença, precisamos de muito mais informação até percebermos se de facto isto se confirma”, comentou.
Várias hipóteses estão em cima da mesa. Uma delas tem a ver com o facto de as crianças de tenra idade estarem particularmente expostas a outros tipos de coronavírus, que causam em geral constipações e infeções respiratórias ligeiras, as ditas viroses. É possível que este contacto frequente com um vírus da família corona deixe o seu sistema de defesa mais bem preparado para atacar o novo vírus, num fenómeno que os especialistas chama de ‘imunidade cruzada’. Esta tese carece ainda de comprovação e tem sido até criticada por alguns especialistas que sublinham que os adultos também têm contacto frequente com os quatro tipos de coronavírus que circulam normalmente, todos os anos, sem que isso os proteja.
“Ainda não é claro se as crianças estão a ser infetadas, mas simplesmente não desenvolvem sintomas da doença ou se, de alguma forma, são mais resistentes à infeção. Essa resposta ainda não temos”, sublinha David Knipe.