Os dados ainda são escassos, mas até agora, os estudos disponíveis parecem não indicar transmissão vertical do novo coronavírus. Ou seja, parece que uma mãe infetada não passa a doença ao filho. Também não há indicação de que o risco de contrair a COVID-19 seja maior numa mulher grávida do que na população em geral.
Dada o recente surto de zika, com graves efeitos no desenvolvimento fetal, e ainda as infeções por outros vírus da família corona, como a SARS e a MERS, que aumentavam o risco de parto prematuro, atraso no crescimento e morte materna, temia-se que o mesmo pudesse acontecer com o novo vírus.
No entanto, dois estudos recentes, publicado na revista Lancet, parecem apontar para uma situação bem menos grave neste caso. “Até ao momento, nem as mulheres grávidas no terceiro trimestre, nem as mulheres em tratamento reprodutivo mostraram riscos para a evolução do seu processo e estado do seu futuro bebé”, nota Sérgio Soares, diretor médico da clínica de fertilidade IVI-Lisboa. Além disso, continua o médico, que se baseia nos estudos disponíveis até agora, “não há evidência de transmissão deste tipo de infeção viral através de tratamentos de procriação medicamente assistida”, nem transmissão vertical de COVID-19 de mãe para filho. “O prognóstico das mulheres grávidas não foi pior do que nas mulheres não grávidas infetadas”, resume Sérgio Soares.
Num dos artigos da Lancet os autores do trabalho referem que as características da pneumonia COVID-19 em mulheres grávidas foram semelhantes aos relatados por pacientes adultas não grávidas que tiveram a doença. A conclusão do trabalho que, ressalvam os investigadores, é baseado numa amostra pequena, é de que “atualmente não há evidência de infeção intra-uterina causada por transmissão vertical.”
“As consequências da infeção por SARS-CoV-2 na gravidez é incerta, sem evidência, até agora, de impacto severo para mães e crianças; no entanto esta possibilidade deve ser considerada. A experiência recente com o zika sugere que quando surge um novo agente, a comunidade médica deve estar preparada para o pior cenário”, refere-se noutro trabalho.
Em linha com estas conclusões, Sérgio Soares sublinha que é preciso estar particularmente vigilante, uma vez que “qualquer infeção viral, passível de afetar as vias respiratórias inferiores pressupõe risco para a mesma e para a gravidez.”
É por esta razão que os autores do artigo da Lancet descrevem um conjunto de recomendações direcionadas aos profissionais de saúde.