É um prédio inteiro acabadinho de construir, ainda está desocupado e fora escolhido pelas autoridades de Hong Kong para ser uma área de quarentena para acolher as pessoas que pudessem ser portadoras do vírus 2019-nCoV, como é conhecido o coronavírus – mas a população em volta não recebeu bem a medida. Num piscar de olhos, havia uma multidão em fúria à volta do edifício a protestar contra aquela instalação. Logo a seguir, outros bloquearam as ruas mais próximas e atiraram ‘cocktails molotov’. Um fotógrafo da AFP viu mesmo grandes chamas a sair da entrada do prédio, momentos antes de os bombeiros intervirem. A polícia lamentou: “Estes atos representam uma séria ameaça à segurança das pessoas”. Até ao momento, já foram detetados seis casos na região autónoma e as autoridades não hesitaram em declarar emergência pública.
O caso ilustra bem o receio revisto e aumentado um pouco por todo o mundo, desde que se soube que havia um novo vírus vindo da China. Foi no final de dezembro que se confirmou o primeiro doente infetado num mercado de mariscos e outros animais vivos, nos subúrbios de Wuhan, mas que rapidamente se alastrou a todao país. Inicialmente, as autoridades locais reportaram apenas 41 pacientes, todos naquela região, e descartaram que a doença fosse transmissível entre seres humanos. Os mais recentes números há muito que confirmaram o contrário: mais 2700 pessoas estão doentes e 80 já morreram.
Perante este cenário, a opção foi intensificarem-se os trabalhos para erguer um novo hospital, só para estes casos, em tempo recorde – qualquer coisa como meia dúzia de dias, à semelhança do que acontecera em 2003, quando a epidemia de SARS paralisou Pequim. Ao mesmo tempo, está lançada uma nova corrida à vacina, depois de se ter isolado com sucesso a primeira estirpe do vírus. As entradas e saídas das cidades na região mais afetada estão proibidas há dias e os serviços de autocarro entre províncias também foram suspensos.
Só que, como já escrevemos, sempre que a China tosse, o mundo assusta-se – e a ver pela forma como o vírus já se espalhou, haverá razões fortes para isso: além da China, estão confirmadas dezenas de infeções em Hong Kong, Macau, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Austrália e Canadá.
No final da semana passada, a doença chegava à Europa, depois de a ministra da Saúde francesa, Agnes Buzyn, confirmar três pessoas doente no país – e na manhã de sábado era Portugal que sustinha a respiração, depois de a Direção-Geral da Saúde ter reportado o primeiro caso suspeito de infeção de um homem que regressara de Wuhan no sábado. Internado no Curry Cabral, a suspeita acabaria por não se confirmar e respirávamos de alívio. É verdade que o Centro Europeu de Controlo de Doenças mantém que ainda é baixa a possibilidade de transmissão secundária no espaço da União Europeia – mas com um aviso sério: “desde que sejam cumpridas as práticas de prevenção e controlo de infeção relacionadas com um eventual caso importado”.
E isso é mais do que suficiente para se apertarem medidas. O governo já desaconselhou viagens não essenciais à China; a informação sobre os sintomas – febre, dor, mal-estar geral e dificuldades respiratórias, incluindo falta de ar – foi afixada nos aeroportos nacionais e a DGS já reforçou as recomendações para quem possa ter regressado recentemente da China. Na dúvida, insiste aquela autoridade de saúde, ligue para o SNS24: 808 24 24 24