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A febre das cirurgias estéticas já não se fica apenas pelo que se mostra em público – nos últimos tempos, as partes mais privadas têm sido alvo de todas as atenções. Os números são impressionantes: há umas semanas, durante um encontro de cirurgiões e ginecologistas em Barcelona, foi revelado que as labioplastias (correção estética que passa pelo corte dos lábios inferiores da vulva) cresceram 45% de 2015 para 2016, nos Estados Unidos. Javier Del Pozo, diretor da conferência,explicou que a maioria das mulheres que recorrem à labioplastia fá-lo porque quer ter lábios vaginais mais pequenos; outras, por se sentirem incomodadas pela forma desigual. O modelo preferido são os lábios que formam uma linha minimalista, disse o médico, especialista neste tipo de cirurgias. A vontade de ter a área púbica esteticamente atraente coincide com a procura pela depilação completa da zona genital, uma vez que os pêlos púbicos podiam tapar uma eventual imperfeição.
As labioplastias a laser são das operações mais frequentes na estética genital. Mas, além do corte dos lábios da vulva, há pacientes que pedem para engrossar os lábios, reduzir o clítoris ou simplesmente eliminar lesões dos partos.
Toda esta atenção que se começa a dar à zona íntima deve-se “à pornografia”, considera Javier del Pozo. “Os homens comparam com o porno, e isso não são os padrões reais.” Essa comparação leva a que o público feminino procure também branquear a pele da zona genital, normalmente mais escura.
De qualquer modo, a restauração dos tecidos vaginais é possível sem cirurgia. Para isso há o laser intravaginal. Este fornece intervenções cirúrgicas para melhorar a amplitude vaginal e para casos leves de incontinência. O laser produz um efeito térmico que provoca um aumento na produção de colagénio nas paredes da vagina. O resultado esperado é a melhoria na elasticidade, hidratação e um espessamento que estreita a vagina, mas no efeito contra a incontinência os resultados são moderados e “exigem mais estudos”, alertam os especialistas.
Todas iguais
Os especialistas alertam para expectativas sexuais irrealistas. Javier del Pozo lembra que há uma ampla gama de tratamentos, mas o fundamental é um diagnóstico correto e detetar os problemas que podem ser resolvidos antes de se optar por uma cirurgia estética genital. Na mesma linha, Francisca Molero, ginecologista e presidente da Federação Espanhola de Sexologia, adverte para a ética profissional que pode estar em causa. “Não aprendemos nada com o que aconteceu com as operações de ampliação do tórax? Quando uma pessoa vem a um profissional dizendo que não gosta de algo, que aquilo não parece normal para a pessoa, o que é mais responsável: trabalhar esse lado ou dar à paciente o que ela quer?”, disse a sexóloga ao jornal espanhol La Vanguardia.
Há outras questões associadas. Um novo parceiro, a quem se quer mostrar “perfeita”, e as perdas de urina podem obrigar a intervenções. No caso da incontinência, que surge a vários níveis e com várias soluções, esses problemas são geralmente ignorados por ginecologistas, que encaminham habitualmente para outra especialidade médica.
“Para uma vida sexual satisfatória é preciso deixar-se ir. Se houver vazamentos de urina a mulher tenta controlar, contraindo a vagina. Não é o melhor, claro. Mas as reestruturações vaginais para melhorar a frouxidão, a secura e o sexo coincidem com a maturidade de uma geração de mulheres que reivindicaram contraceptivos e tomaram as rédeas da sua reprodução. E da sua sexualidade…”, diz Francisca Molero. “O sexo não termina aos 40 ou 70 anos, mas uma sexualidade madura não requer os genitais de uma criança. É muito contraditório.” Além disso, critica, “ésurpreendente que uma sociedade teoricamente livre impinja cada vez mais e mais regras. Em vez de tender a favor da diversidade, tende a favor da homogeneização. A genitália externa feminina não é apenas diversificada – também muda ao longo da vida. Como as mentalidades.”