Quem tem um nível socioeconómico baixo perde, em média, 2.1 anos de vida, um valor superior a outros fatores de risco, como é o caso da obesidade, da hipertensão e do consumo excessivo de álcool. Estes são os primeiros resultados de um grande estudo que está a ser desenvolvido por um consórcio europeu, Horizon 2020, que reúne dados recolhidos em Portugal, França, Suíça, Itália, Reino Unido, EUA e Austrália.
O primeiro trabalho concluiu que as condições socioeconómicas são um fator tão relevante como outros fatores de risco na questão da mortalidade e que, além disso, é um fator independente dos outros, contribuindo, por si só, para uma perda de cerca de dois anos de vida.
Sílvia Fraga, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, a instituição portuguesa que participa no consórcio, explicou que o objetivo deste estudo começou por “tentar perceber de que forma as desigualdades sociais se associam às socioeconómicas”. Através dos dados, os autores compararam o impacto do estatuto socioeconómico com os principais fatores de risco apontados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no plano 25 x 25, que pretende reduzir a mortalidade em 25%, até 2025. São eles a obesidade, o sedentarismo, o consumo de tabaco, a diabetes, a hipertensão e o consumo excessivo de álcool.
Curiosamente, o nível socioeconómico revelou uma redução da esperança de vida maior do que três dos fatores referidos. A hipertensão (1.6 anos), a obesidade (0.7 anos) e o consumo excessivo de álcool (0.5 anos) foram associados a uma perda de menos anos de vida. O sedentarismo contribuiu para uma redução da esperança de vida muito semelhante ao nível socioeconómico – 2.4 aos. As maiores reduções verificam-se na diabetes (3.9 anos) e no consumo de tabaco (4.8 anos).
Perante estes resultados, a investigadora da Universidade do Porto acredita que “a OMS deveria incluir este fator nos planos de atuação e pensar nele como um importante fator na introdução de políticas”. Portugal tem aderido a este plano da OMS que exclui o estatuto socioeconómico do grupo dos grandes fatores de risco de mortalidade e, para Sílvia Fraga, é importante que não seja esquecido. “Não vale a pena estar a insistir num modelo de promoção da saúde baseado na doença, ou seja, atuar apenas nestes fatores. Devemos atuar mais precocemente, mais ao nível social. Eu acredito que com melhores condições socioeconómicas, há mais saúde”.
Para estabelecerem o nível socioeconómico das pessoas analisadas, o consórcio considerou a profissão. Portanto, os resultados revelam que “as pessoas que têm uma profissão menos classificada perdem, em média, dois anos da sua vida, mesmo ajustando para o efeito que os outros fatores possam ter”, clarificou a investigadora.
Silvia Stringhini, a especialista que liderou o estudo, referiu ainda, em declarações ao Science Daily, que a redução da pobreza, a melhoria da educação e a criação de ambientes domésticos, escolares e de trabalho seguros são passos essenciais para reduzir este impacto. “Ao fazer isso, o status socioeconómico poderia ser direcionado e melhorado, contribuindo para uma melhor saúde e riqueza para muitos “.