No novo número da VISÃO História, já nas bancas, encontra a resposta a estas e outras questões sobre o centenário do PCP, além de uma extensa entrevista em que José Pacheco Pereira, autor de Álvaro Cunhal, Uma Biografia Política explica, ao jornalista Miguel Carvalho, porque é que Cunhal é visto como uma espécie de «santo laico» pelo partido que liderou durante décadas.
O Partido Comunista Português (PCP) nasceu há 100 anos, a 6 de março de 1921, o que faz dele o mais antigo partido português em atividade. Ao longo de um século, foi palco por onde desfilaram muitas figuras e algumas conjunturas políticas, mas o rumo, esse, foi sempre o da defesa dos mais desfavorecidos. Conhecemo-lo nas grandes greves da cintura industrial de Lisboa, em 1943, e no levantamento dos assalariados rurais do Ribatejo e do Alentejo, a seguir às presidenciais fraudulentas de 1958. Essas lutas e histórias de resistência terminaram quase sempre em detenções, espancamentos, torturas e isolamento, seguidas de arrojadas fugas das prisões ou de um mergulho na clandestinidade, a única maneira de garantir a sobrevivência do partido e dos seus militantes durante a longa ditadura de Salazar.
Neste número, a VISÃO História recua no tempo, descrevendo as dores de parto por que passou o PCP, fundado durante as lutas anarquistas e sindicalistas que acompanharam a I República. Ninguém melhor para o fazer do que João Madeira, investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, autor de A História do PCP – Das origens ao 25 de Abril (1921-1974), que analisa também o contributo dos debates do Tarrafal para a implantação do comunismo à portuguesa. Desses anos iniciais, recordamos os contornos da liderança de Bento Gonçalves, a vida aventurosa de Carolina Loff, as suspeitas na origem do exílio mexicano de Pável, o esquecimento de Júlio Fogaça e a cisão marxista-leninista de Francisco Martins Rodrigues. As espetaculares fugas da prisão de Dias Lourenço e de Carlos Brito, as duras provas da clandestinidade, a radicalização de parte dos militantes nos anos finais do antigo regime e, ainda, o 25 de Abril e a festa da democracia, são outros temas abordados.
Para nos ajudar a compreender o momento presente, publicamos, ainda nesta edição da VISÃO História, uma cronologia muito completa para guiar o leitor através do século de vida do PCP, ilustrada com emblemas, símbolos, manifestos e exemplares da imprensa clandestina. Mas como 100 anos não cabem numa só edição, muitos outros episódios, momentos e personagens ficam a aguardar outra oportunidade para serem contados. Por isso, despedimo-nos, com um «Até amanhã», caros leitores.
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SUMÁRIO DA EDIÇÃO
Cronologia Principais marcos da história do movimento comunista em Portugal e no mundo
1921 – 1940
As Origens do PCP O mais antigo partido português em atividade nasce a seguir à Grande Guerra, na sede da extinta Federação Maximalista Portuguesa, uma organização anarquista e sindicalista, de cariz revolucionário, cujos militantes apoiavam os ideais da Revolução Russa. Nos anos 30, o PCP cresce e transforma-se sob a liderança de Bento Gonçalves, mesmo com todos os membros do seu secretariado detidos no Tarrafal. Por João Madeira
Carolina Loff, A ‘noiva’ de Cunhal Foi uma das primeiras mulheres em cargos de direção, mas caiu em desgraça quando se envolveu com o PIDE que a interrogou. O seu percurso, entre Portugal, Espanha e a URSS, adensa a suspeita de que terá sido uma espia dos soviéticos, mesmo depois de expulsa do partido. Por Clara Teixeira
1941-1964
Rumo à vitória A «reorganização» do PCP começa em dezembro de 1940, numa tentativa de conferir ao partido as características leninistas adaptadas ao funcionamento em ditadura. Contudo, tal só começará a verificar-se depois da prisão de Júlio Fogaça e da ascensão de Álvaro Cunhal. Mas opartido renovado do final da década de 1940 viria a sofrer um «desvio de direita», antes de se internacionalizar e de corrigir o rumo. Por João Madeira
Júlio Fogaça, o líder ‘esquecido’ De origem burguesa, confrontou-se com Cunhal por defender uma estratégia de combate à ditadura oposta à do líder. Foi expulso e apagado da história oficial do partido, depois de ter sido denunciado e preso na companhia do homem com quem mantinha uma relação homossexual. Por Adelino Cunha
Anos 1940
As grandes greves Asmulheres desempenharam um papel central nas greves de protesto de 1943, em Lisboa e no Barreiro, orientadas pelo PCP. Na Travessa do Baluarte, em Alcântara, a violência policial sobre um grupo de manifestantes permitiu fixar para a posterioridade uma das fotografias mais icónicas do movimento operário português, que faz a capa desta edição da VISÃO História. Por Vanessa Almeida
Estaline, a morte do ‘paizinho’ O desaparecimento do rosto do comunismo deixou um sentimento de orfandade. Em Portugal, dirigentes e simpatizantes do PCP fizeram o luto. Por Luís Almeida Martins
As fugas de Dias Lourenço e Carlos Brito A nado no oceano gelado, Dias Lourenço, responsável pelo Avante! clandestino, protagonizou uma das fugas mais arrojadas da prisão de Peniche. Anos depois, Carlos Brito, Américo de Sousa e Rolando Verdialos escaparam do Aljube equilibrando-se num algeroz. Por Luís Pedro Cabral
Guerra Colonial: Sair ou ir? Ao mesmo tempo que defendia a deserção junto da população em geral, o PCP pedia aos militantes que participassem no conflito, num esforço de politização das Forças Armadas. O testemunho de Mário Moutinho de Pádua. Por João Pacheco
Couço, a aldeia vermelha Indignados com a fraude nas eleições de 1958, os coucenses mobilizaram-se e saíram à rua, lutando por melhores salários e pela jornada das oito horas diárias no campo. Durante quatro anos, famílias inteiras viveram num vai e vem contínuo de luta-prisão-luta, com as mulheres na primeira linha da contestação. Por Clara Teixeira
Francisco Martins Rodrigues e a cisão ‘m-l’ Radical e defensor da ação violenta, rompeu com a orientação de Cunhal e avançou com o que entendia ser o embrião de um partido a refundar, à esquerda do PCP. Por Ricardo Noronha
Percursos
A dura prova da clandestinidade Para escapar à PIDE, tornavam-se invisíveis e cortavam com tudo: nome, terra, família, amigos, trabalho… Depois, criavam uma personagem, com uma história falsa verosímil, com nome, família e profissões simulados. Houtros eram homens e mulheres que nunca se tinham visto antes passaram a viver sob o mesmo teto, fingindo ser um casal. Memórias dos clandestinos do PCP. Por Cláudia Lobo
Jovem e clandestina Depoimento na primeira pessoa de Branca Carvalho, antiga dirigente comunista que aderiu ao PCP com 18 anos.
Entrevista com Pacheco Pereira Com o quinto e último volume da biografia de Cunhal quase concluída, o historiador revisita a vida do «eterno» secretário-geral do PCP, desmonta ideias feitas e explica porque é que ainda hoje é visto como «uma espécie de santo laico». E também critica o modo como o partido gere a sua história e os seus arquivos. Por Miguel Carvalho
1965-1973
Radicalizações no estertor da ditadura A reconfiguração de forças, a Guerra Colonial e a adoção de ações violentas para derrubar o regime caracterizaram os últimos anos do Estado Novo. O PCP reforçou a influência política, agitando e apoiando uma onda de greves, apesar da multiplicação de novos movimentos políticos à esquerda. Por João Madeira
O verão de Praga Entre janeiro e agosto de 1968, algo de novo aconteceu a leste. Os tanques soviéticos esmagaram uma experiência de «socialismo com rosto humano» na Checoslováquia comunista. O PCP apoiou, mas à custa de atritos internos e da saída de militantes. Por Luís Almeida Martins
A Luta armada da ARA Cunhal aprovou as ações armadas em 1964, mas os atentados, eficientes e espetaculares, só começaram em 1970, exigindo o fim da Guerra Colonial. O casco do navio Cunene foi a primeira «vítima». Por João Pacheco
1974-2000
25 de Abril, a festa da liberdade A atuação do PCP nos anos revolucionários de 1974 e 1975 continua a gerar acesos debates. É comum ler e ouvir que Portugal esteve perto de ver uma ditadura comunista substituir a ditadura de extrema-direita. Mas o partido rejeita a autoria de tal plano, assim como a participação em golpes como o de 25 de Novembro, atribuindo a radicalização à extrema-direita e ao «esquerdismo anarquizante» e «aventureirista». Por Francisco Bairrão Ruivo
Dissidentes da Perestroika EnquantoGorbachev tentava renovar para evitar a derrocada do mundo socialista, em Portugal o PCP entrava em convulsão com o «Documento dos Seis» e o «Documento da Terceira Via». Cunhal referiu-se a «uma crise na consciência comunista» dos críticos e manteve-se irredutível à frente do partido. Saíram Vital Moreira, Veiga de Oliveira, Zita Seabra, José Luís Judas, Barros Moura, Pina Moura. Uns foram expulsos, outros afastaram-se pelo seu pé. Até um dia, camaradas. Por Emília Caetano
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