Quando o mundo se confronta com a terrível ameaça da covid-19, é oportuno recordar situações equivalentes vividas no passado. Este número é, pois, dedicado a pestes e a epidemias que, desde que há memória, assombraram a humanidade e Portugal, e também ao combate a essas doenças e aos progressos no campo da investigação. Como é que o mundo passou a ser outro depois da peste negra, na Idade Média. Como eram montadas as quarentenas e os fechos de fronteiras nos século XVI e XVII. O que aconteceu no século XIX em Portugal, por causa da cólera. E, claro, como o País foi fortemente afetado pela gripe espanhola, num ano especialmente conturbado politicamente. Será interessante o leitor verificar os pontos de contacto e as semelhanças com a atualidade.
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Sumário
Cronologia A longa crónica dos micróbios
1918
A pneumónica em Portugal
A pandemia que em 1918-19 afetou o mundo, com forte incidência no nosso País, tem sido esquecida em detrimento de outras memórias, como a da Grande Guerra, que então decorria. Mas fez, de longe, mais mortos do que o conflito, por José Manuel Sobral
Os esforços da Cruz Vermelha Portuguesa
Embora vocacionada para atuar em teatros de guerra, a instituição colaborou largamente com as autoridades durante as epidemias de 1918 e 1919, por Helena da Silva
A trágica viagem do vapor Moçambique
Quase 200 pessoas – 43 num só dia – morreram de pneumónica no percurso de Lourenço Marques a Lisboa, em outubro de 1918, por Helena da Silva
Ricardo Jorge, o sr. Saúde Pública
A partir do Conselho Superior de Higiene, organismo de Estado criado com a implantação da República, o higienista esteve aos comandos da gestão das medidas sanitárias e da informação veiculada para os jornais, por Maria Fátima Nunes
Tifo, a outra epidemia do ano
Transmitido pelo piolho, o tifo afetava as classes mais pobres. Em 1918, Porto e Braga sofreram especialmente, por Cláudia Lobo
Sidónio Pais, de ‘Presidente-Rei’ a monarquia sem monarca
Enquanto lavrava a pneumónica, Portugal conheceu uma ditadura de um ano e uma breve restauração monárquica parcial, por Luís Almeida Martins
Guerra total, gripe global
Durante muito tempo, a Grande Guerra e a pneumónica foram abordadas como entidades independentes uma da outra. Contudo, é estreita a relação entre ambas, por Helena da Silva
Contágio planetário
Nenhuma doença provocou tantos mortos em tão pouco tempo como a pneumónica de há um século. Os médicos foram surpreendidos por um vírus desconhecido que dizimou milhões de jovens adultos, sem que uma cura ou uma vacina fossem encontradas, por Clara Teixeira
Uma economia doente
A catástrofe causada pela pneumónica apenas terá sido superada pelas duas guerras mundiais e pela Grande Depressão, por Clara Teixeira
Outras epidemias
Peste negra, a mãe de todas as epidemias
Segundo os cálculos mais prudentes, a peste negra terá devastado um terço da população europeia entre 1348 e 1351. Mas o balanço pode ser ainda mais trágico. Da pior epidemia de sempre nasceria uma sociedade nova, por Luís Almeida Martins
Peste negra em Portugal
A epidemia terá chegado no verão de 1348 e abalou o País até fevereiro do ano seguinte. O Norte e o Centro foram as zonas mais afetadas, por André F. Oliveira da Silva
A grande peste de 1569
Em 1569, a grande peste que se abateu sobre Lisboa chegou a matar 600 pessoas por dia. Para a combater, D. Sebastião mandou vir dois médicos de Sevilha, por Cláudia Lobo
O combate aos surtos na Idade Moderna
Quais as medidas de contenção adotadas contra as frequentes pestes e outras epidemias? Respostas que podem surpreender-nos pela semelhança com o presente, por Laurinda Abreu
A vida em tempos de cólera
Depois da chegada a bactéria à Europa, em 1832, beber água era um perigo que podia ser mortal. Portugal não escapou, por Maria Antónia Pires de Almeida
Terçar armas contra o ‘micróbio’ da cólera
A luta contra esta doença, entrada no período das Lutas Liberais, mobilizou meios militares ao longo de todo o século XIX, por Laurinda Abreu
Os lazaretos
Como funcionavam no século XIX os locais de quaretena obrigatória, por Laurinda Abreu
A peste que fechou o Porto
Depois do aparecimento de peste bubónica no Porto, em 1899, seguiram-se meses de agitação e revolta face a Lisboa,devido à imposição de um cordão sanitário, por Cesaltina Pinto
Era uma vez a higiene
Antes até dos conselhos médicos, foi a publicidade veiculada na imprensa do final do século XIX e início do século XX que ajudou a divulgar os cuidados a ter, por Maria Antónia Pires de Almeida
Ciência
O micróbio contra-ataca
Um resumo muito breve da história muito antiga de algumas das muitas guerras virais, todas elas muito exponenciais, por Clara Pinto Correia
Entrevista: a fronteira entre eu e o Outro
Adelino Cardoso, investigador em História da Medicina e Filosofia, analisa o efeito das epidemias ao longo dos tempos. Por Emília Caetano
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