Quando chegou ao quartel do Regimento de Engenharia da Pontinha, às dez da noite de dia 24 de abril de 1974, Otelo Saraiva de Carvalho ia vestido à civil. Poderia mesmo ‘ser’ o engenheiro Óscar Pinto, nome de código que usara desde o golpe das Caldas, a 16 de março, altura em que os principais operacionais do Movimento das Forças Armadas se passaram a tratar por nomes falsos para não serem identificados pela polícia política.
O plano ‘Operação Fim-Regime’ que Otelo elaborara tinha sido distribuído, nos dois dias anteriores, por militares em todo o país, graças à colaboração de oito oficiais-estafetas. Tudo a postos, portanto, para a noite em que o futuro ia começar.
O leitor deste número da VISÃO História (posto à venda quando se comemorou o 40º aniversário da revolução, reeditado o ano passado e agora novamente nas bancas), seguirá o fio dos acontecimentos exatamente a partir do momento em que Otelo entra no quartel da Pontinha e nas 36 horas seguintes. Cerca de 30 militares foram entrevistados pelos nossos jornalistas, numa tentativa de reconstituir, com pormenor, até à tomada da sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, às 9 da manhã de 26 de abril. É a Revolução contada, tanto quanto possível, pelos seus protagonistas. Da tomada do Quartel-General da Região Militar de Lisboa, que Otelo havia definido como um alvo fundamental, até ao cerco do quartel da GNR no Largo do Carmo, que leva à rendição de Marcelo Caetano, passando pelo que aconteceu no Porto, no Algarve e na Zona Centro, a VISÃO História tenta reconstituir, em discurso direto, como foi feita a Revolução. Algumas reportagens são ilustradas com fotografias a cores pouco conhecidas.
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Sumário da revista
Cronologia: Onze meses de contagem decrescente
Entrevista a Vasco Lourenço: “O 25 de Abril não aconteceu por geração espontânea”
Juntamente com Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves, Vasco Lourenço fez parte da direcção da Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães. Evoca aqui os nove meses de conspiração que culminaram com a Revolução dos Cravos
Mapas: os alvos em Lisboa e as operações no resto do país
Posto de comando: O futuro é esta noite
Entrevista a Cardoso Fontão: “Nesses dias, não houve heróis”
É com desassombrada modéstia que o coronel Cardoso Fontão, à beira de fazer 82 anos, fala da sua participação do golpe militar
Rádio Clube Português: Os homens sem sono
Viagem aos bastidores da operação que transformou os estúdios da Sampaio Pina na voz do posto de comando do Movimento das Forças Armadas
Emissora Nacional: Polícias no caminho
Os capitães Luís Pimentel e Frederico Morais sabiam que a guerra estava perdida e que era preciso mudar o regime. Comandaram a companhia que ocupou a Emissora Nacional, na Rua do Quelhas
RTP: Capitão Mónaco
Teófilo Bento comandou os chamados “padeiros” da EPAM que ocuparam “a televisão”. Com muito improviso e sorte pelo meio
Portela: Memorial do aeroporto
Tomou “Nova Iorque”, libertou oficiais do 16 de Março e prendeu três ministros. Rui Rodrigues fazia-o de novo, mas os políticos teriam outro destino. “Como numa revolução que se preze”
Porto: A revolução a norte
Na Invicta, o sucesso deveu-se em grande parte a um capitão dos rangers. Saiu de Lamego para tomar a sede da PIDE, fez muito mais do que isso e… aquela foi a única coisa que não fez
Terreiro do Paço e Largo do Carmo: Herói a contra-gosto
Capitão de Cavalaria, Salgueiro Maia dispensou as botas de cano alto, a boina preta, os óculos Ray-Ban. Para a Operação Fim-Regime, vestiu uma farda de trabalho igual à dos homens que comandava. Quis dizer-lhes, acredita quem esteve com ele no golpe, que todos arriscavam igualmente a vida por uma causa, o derrube da ditadura, e não por um qualquer feito heroico
Almada: Os canhões do Cristo Rei
O alto do Cristo Rei e a ponte sobre o Tejo foram os objetivos da Escola Prática de Artilharia. Tudo correria sobre rodas, com o apoio entusiástico da população
Zona norte: Um operacional a caminho de Lisboa
Dinis de Almeida comandou a coluna que tomou o quartel da Figueira da Foz, o Forte de Peniche, a Academia Militar e o RAL1. – e que no caminho cantaram quadras de António Aleixo
Peniche: Cerco ao Forte
A prisão política no caminho da coluna de Viseu
Vilar Formoso: Face à Espanha
O capitão Monteiro Valente disparou um tiro e sublevou sozinho a guarnição da Guarda antes de marchar para tomar o controlo do posto fronteiriço de Vilar Formoso
Porto Alto: o miliciano comunista
Luís Pessoa combateu na Guiné e fez o curso de capitães milicianos, para quando chegasse a hora. Coube-lhe o comando da força que ocupou as antenas de Porto Alto
Santa Margarida: o homem de confiança
Amigo de Salgueiro Maia, foi Leonel Martinho do Rosário quem teve a ideia de enviar ambulâncias a abrir caminho para as colunas militares chegarem às antenas de Porto Alto
Objetivo: Fóia
José Glória Alves foi o único capitão de Abril a comandar uma operação no Algarve, região que viveu a revolução de uma estranha forma
PIDE/DGS: O último bastião
Os que tomaram a sede da PIDE/DGS foram os únicos que viram sangue derramado no dia da queda do regime
António de Spínola: o general das guerras perdidas
Foi o rosto exterior da Revolução, mas nunca concordou com os seus princípios e viria a ser devorado por ela – sem deixar de ser uma figura referencial do Portugal do século XX
Francisco da Costa Gomes: o militar paradoxal
Foi o escolhido pelos capitães para dar um rosto ao poder depois do golpe, mas seria ultrapassado por Spínola. Por pouco tempo, pois o principal trunfo deste homem discreto foi a capacidade de sobrevivência
Vítor Alves: o ‘diplomata’ sereno
Foi o primeiro rosto do MFA a surgir diante dos portugueses, na manhã de 26 de abril de 1974. Pelas suas capacidades de negociação, foi-lhe atribuída a orientação política do golpe
Melo Antunes: anatomia de um instante
Melo Antunes não foi apenas decisivo para derrubar a ditadura. São dele, também, as palavras fundadoras do regime democrático estabilizado. Saiba como e porquê
Imagens: a hora da vitória
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