Quando chegou a Beja, na campanha eleitoral de 1976, pouco antes das eleições em que os portugueses iam pela primeira vez eleger livremente um presidente da República, o general Ramalho Eanes encontrou um ambiente de medo. O exterior da Praça de Touros onde se ia realizar o comício tinha muita gente – mas, lá dentro, havia poucas pessoas. «Têm andado aí a espalhar que você não chegava cá, que não o iam deixar chegar, e que os que estivessem cá dentro iam sofrer as consequências», contou-lhe um apoiante. «Naquele comício o meu tema foi o medo», recorda o general ao jornalista da VISÃO História, João Pacheco, numa (rara) entrevista que pode ler no número da VISÃO História que se encontra nas bancas, dedicado às eleições presidenciais em Portugal.
A VISÃO História recua no tempo até à implantação da República, em 1910, explicando qual o método de eleição presidencial então seguido e a exceção que foi Sidónio Pais. Depois do golpe de Estado de 1926, que impôs a ditadura, Óscar Carmona submeteu-se a uma espécie de plebiscito controlado pelo governo, sem oposição consentida, e à reeleição, por método semelhante, em 1935 e em 1942. Após a II Guerra Mundial, com a vitória das democracias, Salazar viu-se coagido a simular eleições “livres”, e daí resultaram as vagas de fundo oposicionistas de 1949, 1951 e 1958 (sobretudo neste último ano, em que o protagonista foi o candidato independente Humberto Delgado), sem hipóteses, porém, de triunfo para os movimentos de oposição reprimidos e amordaçados. Nesta edição, explica-se que mecanismos utilizou o Estado Novo para manipular e controlar todo o processo eleitoral. Sabia que não existia um boletim de voto, tal como o conhecemos hoje?
Depois do 25 de Abril de 1974, passou a poder votar-se em liberdade, praticando-se pela primeira vez o sufrágio universal, com acesso às urnas de todos os cidadãos de ambos os sexos e maiores de 18 anos.
É esta a história desta vez contada pela VISÃO História, a revista que, através de incursões pelo passado, nos ajuda a compreender o presente. Infografias de leitura fácil e clara compilam os resultados de todos os atos eleitorais para a Presidência, dos quais relembramos também cartazes, autocolantes, panfletos e imagens marcantes.
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SUMÁRIO DA EDIÇÃO
1911 a 1925 Presidentes eleitos pelo parlamento Durante a I República, instaurada em 1910 e derrubada em 1926, os presidentes eram escolhidos pelos deputados e senadores reunidos em sessão conjunta do Congresso, pelo que as campanhas não tinham outra visibilidade no exterior além daquela que lhes era dada pela Imprensa.Por Elsa Santos Alípio
1918 A primeira eleição direta Sidónio Pais tomou o poder pela força, instalou uma ditadura pessoal e depois procurou legitimidade numa espécie de referendo.Por Luís Almeida Martins
1928 O apoio plebiscitário O essencial da governação da ditadura fica aqui traçado: ao lado de um Presidente da República militar e consagrado por «eleição» direta plebiscitária passa a erguer-se o «ditador» com poderes irrestritos. Por Luís Farinha
1949 Um ato de liberdade após 22 anos de medo Foi preciso esperar mais de 20 anos para que surgisse, com Norton de Matos, uma candidatura oposicionista à Presidência. Mas o jogo da ditadura continuava a estar viciado.Por Helena Pinto Janeiro
1951 Uma solução de continuidade Calados os defensores da restauração da monarquia e formalizado o «não» de Salazar ao Palácio de Belém, a União Nacional escolheu outro militar, Craveiro Lopes, para suceder ao marechal Carmona. Os candidatos da oposição, Quintão Meireles e Rui Luís Gomes, não chegaram a votos. Por Pedro Vieira
1958 O general sem medo e o almirante sem voz O extrovertido Humberto Delgado contra o discreto Américo Tomás, apagado representante de Salazar. Esta campanha em tempos de dura repressão é um marco na luta das forças democráticas antiditadura. Por Luís Almeida Martins
A arte da coragem Secundarizado no turbilhão eleitoral de 1958, Arlindo Vicente merece ser recordado como uma das figuras emblemáticas da oposição. Por Luís Almeida Martins
1965 e 1972 De regresso a São Bento As reeleições de Américo Tomás, em 1965 e em 1972, foram entregues a um colégio eleitoral controlado pelo regime, para evitar «sustos» como o da candidatura de Humberto Delgado. Por Clara Teixeira
Finalmente, a liberdade Na televisão, os quatro candidatos discutiram com cortesia. Mas durante a campanha houve tiros, bombas, insultos e pedradas. E um candidato, que era também o primeiro-ministro, hospitalizado por ter tido um enfarte. Por João Pacheco
António Ramalho Eanes ‘Na campanha eleitoral constatei que éramos intolerantes’ Em conversa com a VISÃO História, o «Presidente de todos os portugueses» reflete sobre as razões das suas candidaturas, reflexo da sua motivação e da sua postura na vida. Por João Pacheco
1980 A hora dos militares à civil Para uns ainda não era tempo de os militares se afastarem do poder. Para outros já iam demasiado tarde. As eleições presidenciais de 1980 refletiram essa gradual saída de cena dos homens de Abril. Por Emília Caetano
1986 O combate mais renhido de sempre De um lado, Soares «era fixe». Do outro, Freitas do Amaral projetava «prá frente Portugal». Numa das campanhas mais longas e participadas, representavam os dois lados da extrema polarização política do seu tempo. Nunca a esquerda e a direita mediram forças, olhos nos olhos, de forma tão dramática e decisiva. Nas únicas presidenciais com direito a segunda volta, ganhou o candidato socialista, pela diferença «de um Estádio da Luz». Por Filipe Luís
Debates para a História As eleições presidenciais são ocasião para que o País assista a debates políticos do tipo «mano-a-mano», que concentram expetativas, originam esperanças e provocam acrimónias. Aqui fica o exemplo de seis duelos dos mais marcantes. Por Filipe Luís
1996 Em tempos de guerra não se limpam armas A 14 de janeiro, Jorge Sampaio sucedia a Mário Soares como Presidente da República, derrotando Cavaco Silva, vindo de uma década de governo. O acordo com o PCP na Câmara de Lisboa, anos antes, foi a chave para estas eleições. Por Luís Pedro Cabral
2006 Uma campanha com passado pela frente O «combate final» entre Cavaco e Soares foi o confronto entre duas formas de estar no mundo. A intromissão e o bom resultado de Manuel Alegre constituiu a surpresa. Por Filipe Santos Costa
2016 Variedade de candidatos Marcelo Rebelo de Sousa – que em janeiro de 2021 corre para um segundo mandato – foi há cinco anos eleito Presidente da República. Evocamos essa jornada cívica através de materiais de campanha
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