Atualmente, Portugal acolhe 74 espécies de tubarões, mas, de acordo com a Sea Sheperd, 43% encontram-se em risco de extinção. Foi nesta perspetiva que esta organização conservacionista do mar reuniu na quarta-feira um conjunto de profissionais marinhos num painel interativo em prol da proteção de tubarões na Europa.
O evento, que decorreu em paralelo à Conferência dos Oceanos, em Lisboa, visa pressionar as instituições para colocar um fim imediato ao comércio da carne de tubarões e destacar a importância destas espécies para os ecossistemas marinhos.
A exportação e consumo em território nacional de carne de tubarão são as principais causas do declínio desta espécie no País. De acordo como os dados da Sea Shepherd, pelo menos 32 restaurantes em Portugal englobam pratos de carne de tubarão nos seus menus. A carne é preparada e servida de várias maneiras e sob vários nomes, levando com que muitas pessoas não se apercebam que consomem estes animais. As peixarias comercializam a carne sob nomes comuns que não são imeditamente identificáveis como tubarões, como é o caso da tintureira (tubarão-azul) e do cação (designação geral para vários tipos de tubarão, como o tubarão-galhudo).
Por outro lado, o consumo consciente e a despreocupação pela proteção dos tubarões pode dever-se a uma perceção social negativa que é atribuída a este animal. “Os tubarões são retratados como criaturas horríveis, que nos vão matar- tarefa de que se encarregaram filmes e documentários, fazendo com que hoje não haja preocupação nenhuma pela sua extinção”, declarou Alex Cornelissen, CEO da Sea Shepherd Global.
“A saúde dos oceanos passa pela proteção dos tubarões” acrescentou. “Estes animais têm um papel fundamental no equilíbrio do ecossistema marinho: contribuem para o controlo e até mesmo para saúde dos restantes peixes no mar, uma vez que, geralmente, os tubarões alimentam-se de espécies doentes e acabam por prevenir uma contaminação coletiva no oceano.”
A pressão de organizações e ativistas ambientalistas tem gerado avanços, como uma legislação de 2013 que exige que, dentro do espaço da União Europeia, os tubarões sejam desembarcados ainda com as barbatanas, de modo a erradicar o “finning” – uma prática em que os pescadores cortam as barbatanas de tubarão, antes de os devolver ao mar, onde os animais acabam por morrer por hemorragia e asfixia.
Não obstante aos avanços, esta lei exige apenas que as barbatanas permaneçam no corpo dos tubarões até à descarga no porto de pesca, mas permite que sejam separadas e comercializadas depois de chegarem à terra. Além das barbatanas, ainda há um multiuso das restantes partes do corpo deste animal, não só na alimentação, mas também nos setores cosméticos e farmacêuticos. Assim sendo, os profissionais marinhos mobilizados pela Sea Sheperd apelam a uma legislação que proteja os tubarões na sua íntegra, colocando um fim ao comércio destes peixes na UE.
Depois de acompanhar uma série de embarcações de pescas, a investigadora Kristina Boerder evidenciou também que, apesar de este setor ter adotado tecnologias mais eficientes para a localização de peixes, as autoridades governamentais não seguiram adiante com mais vigilância nos pescadores e ao que efetivamente estão a pescar.
Como exemplo, mencionou o relatório do estado da pesca e da aquacultura mundial, que fornece estimativas destes dados, mas falha em apresentar estatísticas exatas. “Conseguimos rastrear Ubers, aviões, carros, mas no oceano somos seletivamente cegos”, diz Kristina Boerder. A falta de dados tem criado brechas para a pesca ilegal e a exploração de espécies em extinção. “Precisamos de transparência para tomar decisões daqui para frente”, exige.
Outro ponto abordado pelo painel foi a importância dos pescadores se juntarem a esta causa. Muitas das vezes, as delegações governamentais que gerem a pesca são dominadas por pessoas dentro deste setor, que pensam que o seu principal papel é dar ao mercado o maior número de produtos possíveis. Ao colocar profissionais do ambiente nestas delegações, podemos facilitar a inspeção de sustentabilidade na pesca, apontou Gonçalo Carvalho, coordenador da organização não governamental de Ambiente SCIAENA.