Apesar de toda a retórica política sobre a importância de salvar as ilhas-nação, consideradas as mais vulneráveis e afetadas pelas alterações climáticas – sobretudo pela subida do nível do mar e pelo aumento da intensidade dos furacões –, o pequeno espaço que os representa na COP26, em Glasgow, ficou remetido para um canto discreto, na área dos pavilhões.
É aí que encontramos Walton ‘Aubrey’ Webson, representante permanente da Antígua e Barbuda nas Nações Unidas e presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS, na sigla inglesa), ao final de uma manhã que ficou marcada pela publicação do segundo rascunho da conclusão da cimeira do clima. Apesar de o documento estar ainda aquém das expectativas, e de ser um passo atrás relativamente à primeira versão, o embaixador mostra-se agradado com alguns dos pontos do texto e cautelosamente otimista quanto ao resultado das negociações, que deverão, ou deveriam, terminar hoje.
Que avaliação faz da COP26 até agora?
Para já, parece-me que temos ainda algumas boas saídas possíveis, antes de o documento final estar concluído. Chegámos cá com algumas coisas em mente e julgo que estamos a chegar lá no texto. Queríamos, por exemplo, que o tema das perdas e danos fosse uma discussão central e que constasse do documento, e estamos a consegui-lo. Está bastante proeminente no texto, pelo menos por agora. Também queremos que a conclusão vá no caminho de fortalecer a discussão sobre adaptação, e estamos também a chegar lá.
A questão do Livro de Regras de Paris ainda parece incipiente…
Os pontos à volta do Livro de Regras eram o nosso terceiro tópico principal. Este continua a ser discutido, mas está a ir na direção da implementação, o que é importante. E pela primeira vez, ainda que de uma forma insuficiente, temos uma referência [no rascunho da conclusão] sobre o dano causado pelos combustíveis fósseis e sobre o apoio que tem de ser redirecionado. Isso é bom, mas aí ainda temos um caminho a percorrer. Diria que as questões da adaptação, tal como surge nesta altura no texto, são a nossa maior conquista até ao momento.
O capítulo das perdas e danos é suficiente? Já devíamos estar a falar de compensações ou indemnizações aos países mais afetados pelas alterações climáticas?
Não sei se diria indemnizações, mas claramente, se vamos medir os efeitos das alterações climáticas, temos de falar em perdas e danos, porque é aí que as populações locais sentem o impacto.
Que mudanças espera que sejam efetivamente implementadas, depois da COP26?
Os pequenos Estados insulares são os que menos contribuem para as alterações climáticas. O mundo não pode esperar que sejamos nós os primeiros a implementar as mudanças necessárias. Na verdade, estamos a liderar pelo exemplo, mas a mudança tem de vir dos maiores emissores de gases com efeito de estufa. O meu povo e os povos dos pequenos Estados insulares estão à espera que os países grandes cumpram as promessas que foram feitas aqui.