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Quatro ministros, uma mensagem em uníssono, com exatamente as mesmas palavras: a energia nuclear é “demasiado cara, demasiado perigosa e demasiado lenta” para ser uma opção na descarbonização. João Pedro Matos Fernandes e as suas congéneres da Alemanha, da Áustria e do Luxemburgo justificaram assim a hoje, na COP26, em Glasgow, a declaração conjunta contra a energia nuclear como opção sustentável.
O acordo visa impedir que o nuclear integre a taxonomia da União Europeia – o sistema de classificação que decide quais as atividades económicas consideradas sustentáveis e, portanto, podem beneficiar de apoios e incentivos, ao abrigo do Pacto Ecológico Europeu.
“Não queremos definir as políticas dos outros países, mas consideramos que o orçamento da UE não deve ir nunca para o nuclear”, disse o ministro português do Ambiente e da Ação Climática. “O dinheiro que se põe no nuclear é dinheiro que não vai para as energias renováveis. É, por isso, importante que fique de fora da taxonomia europeia.”
A ministra alemã do Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear, Svenja Schulze, por seu lado, defendeu que o nuclear “não é sustentável” e que “nenhum cenário [de redução de emissões] devia levá-la em conta”. Após o acidente de Fukushima, a Alemanha começou a acelerar o desmantelamento dos seus reatores nucleares – decisão que levou ao aumento de emissões, uma vez que teve de recorrer à queima de carvão para produzir eletricidade. Em 2022, deverão encerrar de vez as suas 17 centrais nucleares.
Carole Dieschbourg, ministra luxemburguesa do Ambiente, Clima e Desenvolvimento Sustentável, disse que abrir ao nuclear a possibilidade de aceder a apoios “verdes” afetaria “a credibilidade, aos olhos dos consumidores”, das políticas de mitigação das alterações climáticas. Finalmente, Leonore Gewessler, ministra austríaca para a Ação Climática e o Ambiente, acrescentou que “há evidência de quão perigosa é a energia nuclear” e que “só porque é menos mau [do que os combustíveis fósseis] não significa que seja bom”.
“O nuclear é a fonte de energia mais limpa da Alemanha”
Minutos depois da declaração, a VISÃO falou com ativistas pela energia nuclear, do Nuclear for Climate (um grupo que integra 150 associações de todo o mundo), presentes na cimeira, que se mostraram furiosos com a posição assumida. “A Alemanha está a recarbonizar a sua produção de eletricidade”, acusa o americano Mark Nelson, ativista da American Nuclear Consultant e consultor na área. “Ao mesmo tempo, está a superar a oferta de países europeus mais pobres na compra de créditos em carbono, usando esses créditos como compensação pelo aumento da poluição, por estar a recorrer mais ao carvão para suportar a sua economia.”
Nelson comenta ainda que é “moral e cientificamente errado” a Alemanha falar sequer de carbono. “Deviam abster-se de falar de energia enquanto não põem a sua própria casa em ordem. O país está a semanas de fechar a produção limpa de eletricidade para milhões de pessoas. É a fonte de energia mais limpa da Alemanha. E atrevem-se a dizer, na COP26, qual é a energia certa, errada, cara, barata? Hipócritas! Como se atrevem?! Está a forçar o encerramento de centrais nucleares, a aumentar a poluição devido à queima de carvão e depois mentem sobre o seu sucesso na redução de carbono.”
A engenheira nuclear peruana Shirley Rodriguez Rojas, que também pertence ao grupo Nuclear for Climate, através da secção latino-americana da associação American Nuclear Energy, acrescenta que “é evidente a falta de conhecimento das pessoas nos governos sobre energia nuclear”, ignorância essa que se estende às populações. “As pessoas usam o Google para terem as suas respostas e não sabem distinguir boa de má informação. É incrível ainda haver, por exemplo, tanta gente que não acredita nas alterações climáticas. Temos de redesenhar os debates, de forma a torná-los mais inclusivos, do ponto de vista da justiça climática, e de levar a informação e o conhecimento a mais pessoas.”