Na miríade monótona de fatos escuros e gravatas que povoa a COP26, três ou quatro pessoas destacam-se pelos seus diademas de plumas na cabeça. Uma delas é Alberto Terena, que veio a Glasgow, na Escócia, pedir ao resto do mundo que proteja os 370 povos indígenas do Brasil das alterações climáticas – e das políticas destrutivas de Bolsonaro. “Estamos sendo afetados diretamente pela mudança climática no nosso território e pelas políticas deste governo, que incentivam o desmatamento, as queimadas…”, acusa o representante do Conselho Terena (povo do Mato Grosso do Sul). “Viemos pedir apoio para que o mundo socorra o povo indígena. Há vidas que estão sendo ameaçadas e mortas.” Alberto não perdeu a esperança. Se assim fosse, não estava hoje na Escócia, a chamar a atenção para o problema do seu povo. Mas também não tem visto sinais sérios de uma ação efetiva contra os problemas ambientais durante a cimeira do clima.
A chuvosa e cinzenta Glasgow está a deixar um sabor agridoce na boca de ativistas e delegados dos quatro cantos do mundo que todas as manhãs se encaminham para o SEC Centre, onde decorrem as negociações de mitigação e adaptação às alterações climáticas. Por um lado, confirma-se que só por milagre a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris será atingida. Por outro, tudo se encaminha para que o aumento de temperatura não atinja níveis insustentáveis. De acordo com duas análises, os compromissos assumidos até agora asseguram que o aumento da temperatura média global fica abaixo dos 2º C até ao final do século. Uma projeção do Climate Resource, calcula um aumento de 1,9º C. Outra estimativa, da Agência Internacional para a Energia, aponta para 1,8º C.