Numa altura em que as alterações climáticas estão no centro das atenções – e quando aquece o debate na COP26 -, um novo estudo da Kantar Public vem revelar que as pessoas não estão assim tão comprometidas em salvar o planeta, sobretudo porque consideram que já fazem mais do que os outros, incluindo o governo dos seus próprios países.
Segundo os dados recolhidos pelo investigador Emmanuel Rivière junto de habitantes dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Países Baixos, Polónia, Singapura e Nova Zelândia, “quando convidados a avaliar o seu compromisso pessoal com a proteção do meio ambiente e do planeta, dois terços dos entrevistados classificam-se muito melhor do que os seus concidadãos”.
No entanto, esta perceção de falta de compromisso entre as outras pessoas e entidades poderá interferir negativamente com a maneira como cada um transforma preocupações em ações, alerta o estudo, que se foca sobretudo na forma como as pessoas se deixam impactar por aquilo que os governos fazem e não fazem para combater as mudanças climáticas. E prova disso é a “ambiguidade”, como o próprio autor do estudo diz, que a investigação revela: apesar de 76% dos inquiridos afirmar que aceitaria regras e regulamentações ambientais mais rígidas em prol de um combate mais assertivo contra as alterações climáticas, a verdade é que quase metade (46%) diz que realmente não precisa de mudar os seus hábitos, mostrando-se reticente a novas atitudes em favor do ambiente.
Além disso, quando questionados sobre como se sentem em relação a ter de agir pessoalmente em prol da preservação do ambiente e do planeta, “apenas metade (51%) afirma que definitivamente faria algo, com uma pequena proporção (14%) a afirmar que não o faria. Um terço (35%) admite estar dividido – ‘há razões para o fazer, mas também razões para não fazer’”, lê-se no estudo.
Influenciados por aquilo que os governos fazem
De acordo com a investigação, as alterações climáticas são um tema que preocupa a generalidade das pessoas, com 62% dos inquiridos a dizer que a crise climática é o principal desafio ambiental do momento, seguindo-se a poluição do ar (39%), o impacto dos resíduos (38%) e as novas doenças (36%).
No que diz respeito ao impacto direto das alterações climáticas na vida de cada um, 78% dos participantes admitem que há um impacto mundial notório e a mesma percentagem diz que sentiu o impacto também no seu próprio país. Mais de metade dos participantes (55%) confessa sentir um impacto a nível pessoal, sendo que é em Singapura que o efeito das alterações climáticas mais consequências traz junto da população (77%).
Apesar de os entrevistados considerarem que são mais ativos na luta pelo meio ambiente do que as pessoas dos seus países, os seus governantes e até os meios de comunicação, o certo é que muitas pessoas parecem já ter desistido da luta: apenas 36% das pessoas dizem estar “altamente comprometidas” em preservar o planeta. Porém, a perspetiva é ainda mais negativa quando avaliam o quão empenhados estão outras pessoas e setores. Diz o estudo que apenas 21% dos participantes acreditam num grande compromisso por parte dos meios de comunicação e somente 19% depositam essa confiança nas autarquias locais. No que diz respeito ao empenho dos seus compatriotas, só 18% acreditam num compromisso. A perspetiva face ao governo e às grandes empresas é ainda melhor, 17% e 13% respetivamente.
Perante este cenário, escreve o estudo, corre-se o risco de nada em concreto ser feito. “Enquanto os cidadãos acreditam que estão à frente do governo em termos de compromisso com a ação ambiental, o risco de um círculo vicioso permanece muito alto, onde a perceção de falta de envolvimento dos líderes do governo cria a impressão de falta de compromisso da comunidade enquanto um todo, que por sua vez alimenta ainda mais a barreira das normas sociais”.
A ação dos governos e as medidas até agora tomadas têm sido alvo de duras críticas por parte dos ativistas durante a COP26. George Monbiot, jornalista e ativista ambiental britânico, defende mesmo que só uma grande mobilização popular encabeçada pelos mais novos poderá resultar em ações concretas, acusando os líderes de “falta de vontade política”. Também a ativista sueca Greta Thunberg classificou a COP26 como “um fracasso”, não se poupando em críticas aos líderes que marcam presença na cimeira, que decorre até ao dia 12 de novembro, em Glasgow.