Manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 °C, comparado com o período pré-industrial, é a meta da 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), que se realiza em Glasgow até 12 de novembro. A cimeira do clima já deu ‘vida’ a dois importantes acordos – um para o metano, onde mais de 80 países, incluindo Portugal, comprometeram-se a cortar as emissões de metano em 30% até 2030 (tendo em conta os níveis do ano passado), e outro para a desflorestação, em que a Declaração de Glasgow sobre a Floresta e o Uso da Terra declara a necessidade de acabar com a desflorestação até 2030 -, mas é na Índia, o terceiro maior emissor do mundo, que as atenções se centram.
Segundo um recente estudo da Universidade de Melbourne, na Austrália, se a Índia se mantiver fiel ao compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2070 podemos estar perante um cenário mais positivo do que o esperado – a subida de temperatura em 2 °C parece já ser um cenário quase inevitável, quanto mais cumprir com o objetivo ótimo do Acordo de Paris, algo que já nem mesmo alguns líderes mundiais acreditam ser possível, tal como disse o primeiro-ministro de Fiji, Josaia Vorege Bainirama. Há dois meses, o relatório especial do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) alertou para a eventualidade de a temperatura subir acima de 1,5 °C em menos de dez anos. Mas o cenário pode ser bem mais catastrófico: a ONU estimou em setembro que os compromissos assumidos pelos Estados signatários do Acordo de Paris são altamente insuficientes, levando, tal como estão, a um aumento de 2,7°C.
Índia pode evitar o aumento de 2°C
Diz o estudo, citado pelo The Guardian, que a Índia pode fazer uma diferença considerável nesta estimativa da temperatura global, uma vez que o cenário do 1,5 °C é já quase inalcançável. No entanto, o compromisso da Índia, a par do trabalho de outros países no mesmo sentido, poderá ser suficiente para manter o aumento de temperatura em cerca de 1,9 °C acima dos níveis pré-industriais. Malte Meinshausen, autor do estudo e principal autor do IPCC, admite que as últimas horas na COP26 permitiram uma mudança “importante” no aquecimento global até agora projetado e muito graças aos compromissos assumido pela Índia, mas também pelo plano de descarbonização apresentado pela China.
“Quando olhamos para a Índia a fixar a neutralidade carbónica para 2070, é algo que, ao contrário do que as pessoas podem pensar, é bastante positivo, porque a Índia vai ser um país com uma população maior do que a China e com emissões maiores do que a China. Ter este objetivo de longo prazo e fazer investimentos de curto prazo são um bom sinal, diria que são um bom ponto de partida. Mas não é suficiente, o desejável é que a Índia venha a antecipar este objetivo. Com a China, por exemplo, já é diferente, já tem uma capacidade de resposta muito maior do que a Índia. Portanto, da China esperava-se, principalmente a curto prazo, um esforço maior”, diz Francisco Ferreira, presidente da ZERO, à VISÃO.
Na COP26, a Índia também se comprometeu, até 2030, a aumentar a chamada ‘energia limpa’ para 500 gigawatts e a reduzir a intensidade das emissões da sua economia em 45%.