Só nos importamos com quem está próximo. E a função dos zoos é essa: aproximar as pessoas dos animais para que se importem com eles. “Temos o objetivo máximo de dar a conhecer animais que não estão na nossa proximidade, porque acreditamos que só assim as pessoas vão conseguir conservar e preservar as espécies”, diz, na Conversa Verde da VISÃO, Teresa Guedes, diretora do Zoo de Santo Inácio, em Vila Nova de Gaia, fundado há 23 anos pela sua família.
Boa parte desse esforço passa pelas crianças e pelos jovens, acrescenta. “Possivelmente caminhamos para a sexta extinção em massa, portanto, devemos alertar os mais pequeninos e os grandes para o que se está a passar e para eles trabalharem em casa com os pais, com os amigos, para evitarmos que isso aconteça.”
Esse papel de sensibilização foi interrompido durante a pandemia, que Teresa Guedes admite ter sido “um pesadelo” para o pessoal e para as receitas do próprio parque, que teve de fechar nesse período. Mas serviu também para revelar o melhor das pessoas. “Os nossos fãs, os nossos visitantes comuns e assíduos vieram ter connosco para nos ajudar com donativos. Foi um apoio incrível.”
Finda a pandemia, notou-se também outra coisa boa: a ânsia das pessoas de passarem mais tempo ao ar livre. “Passaram a valorizar imenso o estar em contato com a natureza. Sentimos uma procura maior a seguir à pandemia.” E essa atitude mantém-se. “Foi uma chamada de atenção para todos nós, é. Durante anos, não me lembro de ver no zoo um português com chuva aqui, só estrangeiros. Ultimamente, desde o fim da pandemia, começamos a ter portugueses mesmo com chuva miudinha.”
Sucessos e insucessos da reprodução
Além da sensibilização, os zoos têm uma enorme responsabilidade na conservação das espécies, nomeadamente através dos projetos de reprodução. Teresa Guedes explica que os animais do Zoo de Santo Inácio (todos provenientes de outros zoos ou nascidos ali) são constantemente trocados com outros parques para assegurar a diversidade genética. “Há uma coordenação europeia, uma equipa que nos diz exatamente que animal é que deve ir para onde, de modo a que a sua reprodução garanta uma linhagem pura da espécie. Por exemplo, dois tigres nossos foram para a Bélgica, porque fazia sentido.”
A diretora do parque, o maior da região Norte (15 hectares e 600 animais, divididos por 200 espécies), destaca o caso de sucesso do “seu” casal de hipopótamos-pigmeus, uma espécie em risco de extinção: “Já tiveram três bebés, que já foram para outros zoos e que já se reproduziram. É uma espécie que tinha um insucesso enorme de reprodução, e nós fomos os primeiros da Europa a consegui-lo.”
Por outro lado, “nunca tivemos sucesso com a reprodução do leão-asiático, um dos nossos maiores ícones no zoo”. “É uma espécie que tem problemas de fertilidade enormes. Vamos avançar agora com um estudo para perceber o que se passa, mas estamos a perceber que se calhar é falta de vitamina A.”
A responsabilidade do Zoo de Santo Inácio é acrescida, dada a reduzida distribuição do leão-asiático. “É o único que existe fora da África, vive na floresta de Gir, na Índia, uma zona muito pequenina, muito restrita. Exatamente porque só existem nessa zona, se há uma catástrofe, um incêndio, se há um terramoto, podemos perder mais uma espécie na natureza. Por isso é que queremos também investigar e tentar fazer com que estes animais se consigam reproduzir.”
Falta de apoios do Estado
Um problema com que os zoos em geral se debatem são os custos de funcionamento, e o de Santo Inácio não é exceção. “É caro manter os animais todos saudáveis, com as melhores condições, garantir a segurança dos visitantes, comprar a alimentação… E não temos qualquer apoio especial, todas as receitas vêm dos visitantes, de patrocinadores, quando existem, e de alguns padrinhos dos animais”, diz Teresa Guedes. “É claro que, se houvesse apoio financeiro estatal, seria ótimo. Mas também importa referir que temos ajudas, nomeadamente no fornecimento de alimentos: há supermercados que nos ajudam há 23 anos, com o fornecimento de sobras alimentares que têm dos frescos, frutas e legumes, diariamente. É um apoio essencial e que nos faz baixar bastante os nossos custos.”
As ambições da diretora do zoo passam pelo crescimento, em breve, da área do parque em 40%, a entrada de novas espécies e a remodelação de alguns habitats e espaços. “Queremos ir muito mais além na conservação. E queremos aumentar a educação dentro do zoo, ensinar as pessoas a observar a natureza. Neste dia a dia de correrias, temos de saber parar e apreciar aquilo que a natureza nos dá.”
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