Os mercados do Norte da Europa são mais sensíveis à causa ambiental, mas os portugueses começam a apanhar-lhe o rosto. É essa a opinião de Rita Machado, da Small Portuguese Hotels, uma plataforma que agrega mais de 140 pequenos hotéis, na Conversa Verde desta semana. Uma nova mentalidade que está a fazer com que as unidades hoteleiras construam de base todo um planeamento “verde”. “Em Portugal, antigamente os hotéis adaptavam-a se a temas ambientais e sustentáveis. Hoje, os projetos são criados de raiz com uma estratégia ambiental. Sabem que é o que os diferencia e que é por isso que os procuram.”
A preocupação do lado da oferta passa por “reduzir a pegada ecológica e dar aos clientes uma experiência local autêntica”. Isso implica trabalhar muito com produtos locais. “Há uma preocupação muito maior com a comunidade local. Os hotéis trabalham com orgulho com o que têm na região.”
Uma aposta que é recompensada, assegura. “Entre um hotel que se posiciona nesta área e outro que não, os clientes vão para o primeiro. Durante a pandemia, os portugueses mostraram-se muito sensíveis a esta área de apoio a economia local, ajudar os pequenos restaurantes e lojas. Esse novo normal veio para ficar, e ainda bem.”
Outra coisa que mudou foi a atitude face ao desperdício alimentar. Além de haver várias redes de distribuição de comida da hotelaria e restauração, que estão agora a recuperar, depois do pico da pandemia, os consumidores também estão muito mais cuidados. “Sentimos que os clientes estão muito mais sensíveis. Pedem porções mais pequenas, caixas para levar as sobras da refeição…”
Sensibilizar pelo exemplo
Este posicionamento dos hotéis é caro? Rita Machado prefere chamar-lhe outra coisa. “É um investimento, que, comparado com a realidade de há dez anos, é mais fácil de fazer, sobretudo nas pequenas unidades hoteleiras. Os proprietários e os investidores estão mais atentos a este conceito. Não fazer nada, hoje em dia, já não é opção.”
E não é só uma questão de agradar aos clientes, acrescenta. “Os colaboradores também o pedem. As pessoas vão trabalhar para projetos e identificam-se com esses projetos. É muito importante que os se sintam envolvidas. Querem mais do que o salário no fim do mês, querem um projeto que faça sentido.”
Uma das grandes questões nesta área é distinguir uma verdadeira política ambientalmente sustentável de greenwashing – empolar medidas insignificantes para dar uma imagem de empresa impoluta. Isso faz-se com “transparência”, diz a responsável da Small Portuguese Hotels, garantindo que atualmente os funcionários já são capazes de explicar aos clientes todos os pormenores e estratégias ambientais do hotel.
Uma comunicação que também pode ajudar a moderar os padrões de consumo de água e energia dos clientes – estudos mostram que um turista gasta muito mais energia, água e outros recursos do que um local. “O nosso comportamento quando estamos de férias não é o mesmo de quando estamos em casa”, lembra Rita Machado. “Mas os hotéis que comunicam a diferença sensibilizam os clientes, demonstrando que estão a fazer a sua parte.”
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