O mês passado, a Volvo anunciou uma revolução: a partir de 2030, todos os carros produzidos nas suas fábricas serão elétricos. Uma decisão por razões ambientais, para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, mas também economicamente racional, diz à VISÃO VERDE Gisela Blomkvist, diretora de Sustentabilidade da Volvo. Mas, avisa, o setor está dependente de boas infraestruturas. Os analistas da indústria queixam-se de que a rede de postos de carregamento na Europa ainda é incipiente.
Deixar de fabricar qualquer tipo de carro a combustão nos próximos nove anos: não é uma mudança drástica num período de tempo relativamente curto?
Faz parte do nosso plano climático, um dos mais ambiciosos da indústria automóvel. Temos o compromisso de nos tornarmos neutros em carbono até 2040, de liderar a transição da indústria para a mobilidade com emissões zero e de reduzir o impacto das alterações climáticas. Também faz sentido do ponto de vista de negócios. A transição para um fabricante de carros elétricos é fundamental para que a empresa se torne mais sustentável e para o nosso sucesso futuro.
Este anúncio não vai afetar as vendas de carros a gasolina da marca até que a transição esteja concluída?
É uma transição gradual; não o faremos do dia para a noite. Também estamos dependentes da existência de infraestruturas [como postos de carregamento] que apoiem a adoção em massa de veículos totalmente elétricos. Temos esperança de que em 2030 o mundo esteja pronto para que a Volvo seja totalmente elétrica.
Muita gente ainda tem dúvidas sobre os carros elétricos devido aos problemas de autonomia. A tecnologia da bateria está a evoluir com a velocidade necessária?
Sabemos que a autonomia é importante para os clientes de carros elétricos, mas a tecnologia está a evoluir rapidamente. Na Volvo, decidimos entrar no mercado de carros elétricos apenas quando sentimos que tínhamos um produto com uma gama adequada para os nossos clientes. O nosso primeiro carro totalmente elétrico, o XC40 Recharge (que foi lançado em Portugal em março), oferece uma autonomia de até 418 km no ciclo WLTP oficial [o padrão utilizado no setor]. Para clientes com carregamento noturno em casa e um “tanque cheio” quando saem de casa, é uma autonomia adequada para a grande maioria de suas necessidades.
Os elétricos vão ficar mais baratos em breve, ao ponto de os preços se equipararem aos dos automóveis com motor a combustão?
Como acontece com qualquer tecnologia, o custo diminui com o tempo, e estamos a ver isso a acontecer com os carros elétricos. Vale a pena lembrar, também, que o custo por quilómetro dos carros elétricos é mais baixo do que o dos carros movidos a combustão interna.
Há uma estimativa da quantidade de emissões anuais que serão evitadas pela Volvo a partir de 2030?
A nossa ambição é sermos uma empresa neutra do ponto de vista do clima em todas as nossas operações até 2040. Vamos ser transparentes sobre o nosso progresso e vamos publicar uma avaliação das emissões de CO2 de todo o ciclo de vida de cada carro elétrico que produzimos.
Toda a eletricidade consumida na fábrica da Volvo na Suécia vem de fontes hidroelétricas. Mas ainda existem processos que terão a sua própria pegada de carbono. É possível um fabricante de carros tornar-se completamente neutro em carbono, compensando, por exemplo, as outras emissões?
Reconhecemos que os carros elétricos são apenas parte da resposta, e é por isso que a nossa estratégia climática aborda as emissões de todas as áreas das operações da empresa, incluindo a produção e a cadeia de abastecimento. Já garantimos a neutralidade climática para as nossas instalações de produção de motores em Skövde, Suécia, bem como as fábricas em Chengdu e Daqing, China.
O impacto da indústria automóvel vai além do problema das emissões. Matérias-primas, pneus … O que pode ser feito para resolver esses problemas?
Neutralidade climática em toda a cadeia de valor significa que pretendemos não apenas reduzir as emissões líquidas para zero nas áreas que podemos controlar, incluindo as nossas operações e fase de uso do produto, mas também aquelas que podemos influenciar, como a cadeia de abastecimento. E aqui já tomámos algumas medidas para reduzir as emissões. Estas incluem maior uso de materiais sustentáveis nos nossos carros, como plásticos reciclados, e a redução da intensidade de carbono dos principais materiais, incluindo aço e alumínio. Também estamos a exigir que alguns fornecedores diretos usem energias renováveis na sua produção. Foi o que fizemos com dois dos nossos fornecedores de baterias, LG Chem e CATL. No entanto, precisamos de fazer muito mais, e é por isso que definimos a meta ambiciosa de reduzir as emissões da nossa cadeia de abastecimento em 25% por carro entre 2018 e 2025.
Os veículos elétricos são o “fim do caminho” ou uma tecnologia de transição até que o hidrogénio esteja suficientemente maduro?
Como uma empresa mais pequena, precisamos de concentrar esforços para garantir que conseguimos produzir os melhores carros para os nossos clientes. Como tal, não estamos atualmente a estudar os carros a hidrogénio. Preferimos concentrar toda a atenção em fazer os melhores veículos movidos a bateria elétrica, que acreditamos serem o futuro.