Encontra-se a decorrer a maior feira internacional de turismo realizada em Portugal: a Bolsa de Turismo de Lisboa. O turismo é, cada vez mais, um setor fundamental para a nossa economia. Em 2022, as suas receitas ascenderam a 21,1 mil milhões de euros – mais 15% do que em 2019 – e a ambição é atingir os 27 mil milhões de euros de receita até 2027.
Sendo Portugal um dos países em que o turismo tem maior peso no PIB, espera-se do setor que seja exemplar no seu contributo para a transformação da economia nacional numa economia sustentável. Cabe ao setor reconhecer que maior importância implica maior responsabilidade no contributo que deverá dar para alcançarmos as exigentes metas ambientais e sociais delineadas para a década.
Essas metas decorrem sobretudo de diretrizes da UE e muitas estão já traduzidas em estratégias e regulamentação. Por exemplo, relativamente à descarbonização, temos uma Lei de Bases do Clima, um Roteiro para a Neutralidade Carbónica e um Plano Nacional Energia e Clima. Até 2030, os países da UE terão de reduzir as emissões em 55%, o que implica reduções anuais superiores à que ocorreu durante o confinamento – porém, sem as nossas vidas e economias confinadas.
A mudança de paradigma de desenvolvimento ambicionada até 2030 é de tal modo exigente que nunca será alcançada através de medidas avulsas ou superficiais. Ela exige uma nova economia, assente em novas premissas. No que toca ao turismo, coloca-se o desafio de assegurar que para além de gerar receitas é também um agente de mudança positiva.
Até agora, tem cabido ao Turismo de Portugal o papel de alertar e capacitar o setor para os desafios da sustentabilidade, nomeadamente, através do Plano Turismo + Sustentável 20-23. Porém, e apesar deste constituir um esforço relevante, a estratégia e o discurso continuam demasiado focados no crescimento – e os incentivos e, sobretudo, as exigências são ainda escassas e leves. Para o período pós 2024, é necessário um plano mais ambicioso. Ou o setor acelera a transição das suas cadeias de valor para o paradigma da sustentabilidade, ou não dará o contributo que lhe cabe para as exigentes metas nacionais. Obviamente, o problema não é o turismo, mas sim o excesso de turismo, o turismo de massas e o facto da oferta turística não incorporar no preço final os seus impactos sociais e ambientais.
Para que o preço seja justo e responsável, é necessário começar por avaliar os impactos sociais e ambientais das cadeias de valor da atividade turística. Por exemplo, relativamente à descarbonização, são necessárias estratégias para as suas várias componentes – incluindo transportes, edifícios e alimentação – e depois incorporar no preço o valor necessário para compensar as emissões que subsistam. Num contexto em que a tonelada de carbono já ultrapassou os 100 euros, a taxa de 2 euros que os passageiros da TAP pagam por viagem está longe de ser suficiente para compensar as emissões. O valor a pagar deveria ser dez vezes superior. Paralelamente, seria também importante que os serviços de ecossistemas de que a atividade turística beneficia fossem remunerados, de modo a poder haver mais iniciativas de restauro ecológico compensadoras. O Resort do Martinhal, em Sagres, edificado numa zona protegida, daria um bom caso de estudo. Já a nível social, a valorização das comunidades locais tem de passar pelo seu envolvimento nos processos de gestão dos territórios.
Para além do reconhecimento dos impactos sociais e ambientais no preço final, para ser credível a transição do setor para a sustentabilidade deveria passar pela adoção de certificações (por exemplo, da Global Sustainable Tourism Council, da Sustainable Hospitality Alliance ou da Biosphere), pela validação dos objetivos assumidos por terceiras partes (por exemplo, pela Science Based Targets) e pelo reporte de informação não financeira (por exemplo, através da adoção dos indicadores da Global Reporting Initiative).
Schopenhauer dizia que todas as verdades passam por três fases: primeiro são ridicularizadas, depois violentamente contestadas e finalmente aceites como autoevidentes. Seria muito importante que a importância do tema da sustentabilidade se tornasse autoevidente para o setor do turismo em Portugal, ou dificilmente o país fará a transição para um paradigma de desenvolvimento sustentável até 2030.