Uma equipa de investigadores da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, e do Instituto Federal de Investigação em Saúde Animal, da Alemanha, tentaram ensinar 16 vacas a usar uma área de sanitários própria, apelidada de “MooLoo”, num processo que ajuda a tratar a urina de bovinos de uma maneira mais sustentável e abre caminho para métodos mais ecologicamente corretos nas quintas.
“Normalmente, presume-se que o gado não é capaz de controlar a defecação ou micção”, salientou Jan Langbein, psicólogo no Instituto de Fisiologia Comportamental (FBN) e investigador do estudo, publicado na revista Current Biology, acrescentando que, ao contrário do que se pensa, “o gado, como muitos outros animais, é bastante inteligente e capaz de aprender”.
“As vacas urinam mais quando acordam de manhã, o que demonstra que têm a capacidade de reter a micção. Não há nada na sua neurofisiologia que os diferencie radicalmente de animais como cavalos, macacos e gatos, que apresentam comportamento específicos no que diz respeito às necessidades fisiológicas”, explicou Lindsay Matthews, uma das investigadores do estudo e professora na Universidade de Auckland.
A experiência foi realizada em latrinas construídas especificamente para os vitelos, oferecendo recompensas aos animais – bebida doce ou puré de cevada – quando eles urinavam no local adequado. Por outro lado, se se aliviassem noutro local, eram castigados com um pequeno jato de água vindo de cima, durante três segundos. “É preciso tentar envolver os animais no processo”, destacou Langbein, notando ainda que o método também facilitou a recolha e tratamento da urina, reduzindo assim o risco de contaminação do solo.
Como resultado, após cerca de 15 sessões de treino, dos 16 vitelos, 11 tiveram resultados positivos, enquanto que os restantes, embora não tenham conseguido passar no teste, só precisavam de mais tempo para perceber, adiantaram os investigadores. “Os bezerros mostraram um nível de desempenho comparável ao das crianças e superior ao de crianças mais novas”, lê-se no estudo.
“Depois de dez, quinze, vinte anos de pesquisa com gado, sabemos que os animais têm personalidade própria e lidam com coisas diferentes de maneiras diferentes, [uma vez que] não são todos iguais”, justificou Langbein, sobre os cinco vitelos que não tiveram sucesso.
A equipa, que pretende ainda ensinar os vitelos a defecar através do mesmo método experimental, ambiciona agora desenvolver um sistema automatizado com sensores que possa ser utilizado para treinar estes animais com pouca intervenção dos criadores, para que “dentro de alguns anos todas as vacas consigam ir à casa de banho”, salientou o investigador.
Os autores do estudo sugerem assim que, de acordo com as estimativas, caso os criadores conseguissem treinar o gado e recolhessem 80% da urina dos estábulos, as emissões de amoníaco produzidas diminuiria 56%, além de o risco de infeção para os animais ser muito mais baixo.
Embora o amoníaco produzido na urina das vacas não afete diretamente o Ambiente, à medida que se decompõe no solo resulta em duas substâncias problemáticas – nitrato e óxido nitroso. Os micróbios convertem-no em óxido nitroso, que é o terceiro gás com efeito de estufa mais significativo, depois do metano e do dióxido de carbono. O óxido nitroso é um gás com efeito de estufa 300 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. “A urina do gado é uma das principais causas do nosso problema de azoto [do qual o amoníaco é um composto químico] e qualquer redução faria diferença”, destacou Douglas Elliffe, um dos investigadores do estudo e professor de psicologia na Universidade de Auckland.
Esta é a primeira experiência de formação de gados bovinos com área de sanitários específica, com resultados promissores, numa tentativa de reduzir os impactos ambientais dos resíduos das explorações pecuárias, causadores da poluição do solo e dos cursos de água. “Mostrámos provas de que podemos treinar vacas, e facilmente”, conclui Elliffe.