As imagens que mostram o processo de desflorestação dos bosques de Kranji não enganam. Num vídeo da Straits Times com imagens capturadas pelo Sentinel 2 (satélites desenhados para captar imagens e informação da Terra, importantes para o programa Copernicus, da Comissão Europeia), é clara a evolução do terreno entre março do ano passado e fevereiro deste ano.
Devido ao confinamento, a área tem estado restrita, pelo que só recentemente a situação chegou ao conhecimento dos locais. Numa reportagem do VICE World News, Brice Li, um habitante local e ávido amante da natureza, conta que soube do sucedido através de um telefonema de um amigo, durante o Ano Novo Chinês. “Cada floresta tem o seu charme. O desta era selvagem, e ao mesmo tempo sereno, e ainda muito bonito. Havia lagoas de água doce localizadas bem no interior, que tinham sapos, cobras e ecossistemas completos.”
Fotografias e vídeos rapidamente chegaram às redes sociais, com algumas pessoas a criticarem a devastação com algum humor.
No centro da atribuição de culpas está a JTC, uma empresa do estado que desenvolve propriedades industriais. É ela a responsável pelo desenvolvimento do projeto Agri-Food Innovation Park (Parque de Inovação Agroalimentar), que será construído com o intuito de captar a inovação na indústria agrotecnológica. O parque vai fazer parte de uma zona com espaços para negócios, indústria, pesquisa, desenvolvimento e inovação. E é precisamente nas florestas de Kranji que se vai desenvolver este projeto.
A JTC contratou um especialista ambiental para realizar um estudo sobre a área e elaborar um plano de monitorização e gestão ambiental que viria a ser aplicado durante o projeto para o novo parque. Segundo a Channel News Asia, a JTC esperava que o estudo fosse concluído em abril, período no qual os planos de desenvolvimento do parque iriam iniciar. No entanto, a 13 de janeiro a JTC descobriu que o seu empreiteiro, Huationg, tinha começado, erradamente, a limpar alguns terrenos. Foi ordenado que parasse de imediato, e foi o que aconteceu. De momento decorre uma investigação interna levada a cabo pela JTC de modo a averiguar como foi possível um erro destes.
A JTC diz agora que vai trabalhar com organizações como a National Parks Board e a Urban Redevelopment Authority, e também com a comunidade, de forma a garantir que o projeto seja posto em prática com “a devida consulta e com responsabilidade ambiental”.
“As florestas de Singapura sempre foram tratadas como se fossem terras secundárias e vazias, mas isto foi um choque muito rude para todos nós”, disse Liew Kai Khiun, membro do conselho da associação ambientalista local Nature Society Singapore, que tem trabalhado com as autoridades para preservar os espaços verdes que ainda existem. “A população de Singapura está a aumentar e as florestas e espaços verdes são muito valiosos para o nosso pequeno país. Afinal, dizemos que somos uma cidade-jardim.”