Apesar de haver total consenso científico em torno da segurança para a saúde dos organismos geneticamente modificados (conhecidos também pela sigla OGM ou transgénico), continua a haver um enorme receio relativamente ao seu consumo. Sobretudo na Europa, onde a legislação é extremamente restritiva. Só é permitido cultivar uma planta (milho BT) e o consumo, para alimentação, está restrito a cinco espécies: soja, milho, colza e algodão (para produção de óleo) e beterraba para produção de açúcar.
Um transgénico é um ser vivo cujo material genético foi alterado por técnicas de engenharia genética. É graças a este método que hoje em dia se produzem alguns medicamentos, como a insulina ou a hormona do crescimento. Mas os exemplos mais conhecidos continuam a ser o das plantas com interesse para a agricultura. Por norma, ocorre a introdução, ou remoção, de um gene, para tornar a cultura mais rentável, reduzir a necessidade de pesticidas ou de água ou ainda melhorar a qualidade nutricional – um bom exemplo é o arroz dourado, enriquecido com vitamina A.
Mas as alterações genéticas não são provocadas exclusivamente pela engenharia genética. Qualquer alteração ambiental pode provocar modificações na estrutura genética das plantas. Aliás, é disso que se trata na seleção e melhoramento de sementes, praticada há centenas de anos na agricultura.
Agora um estudo de uma equipa de investigadores do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, da Universidade Nova de Lisboa, veio mostrar isso mesmo. No caso, o trabalho, publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, mostra que o excesso de sal, um fator de stress para a planta, provoca mais modificações genéticas do que a engenharia genética.
“Os fatores ambientais por si só causam mais alterações do que quando se introduz uma modificação específica no ADN da planta, como é o caso dos transgénicos”, resume a investigadora Rita Batista, primeira autora do estudo.
Sempre que há uma agressão – excesso de luz, água a mais ou a menos – as plantas produzem proteínas. Outro importante fator de stress é o próprio confinamento a um laboratório. Um processo pelo qual passam quer as sementes geneticamente modificadas quer as outras. “Comemos diariamente plantas sujeitas a stress ambiental, sem qualquer preocupação”, nota Rita Batista.
“Quando o assunto são os transgénicos, há muito preconceito, muita falta de informação. As decisões são tomadas com base em interesses políticos e económicos.”