Torneiras, secadores de mãos e autoclismos transformam-se em verdadeiros instrumentos musicais neste ciclo de concertos com um palco peculiar: oito músicos da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP) atuam nas instalações sanitárias do centro comercial LeiriaShopping.
Cada utilizador das casas de banho pode ser ouvinte, mas também fonte de inspiração e até intérprete num acontecimento que alia a música a elementos de espontaneidade criativa e improvisação, à medida que músicos interagem com os sons do WC.
Depois de passar pelos dois músicos à entrada, vários “músicos volantes” seguem os utilizadores, que vão poder ouvir música ao vivo proveniente do cubículo ao lado, num micro concerto com pouco mais de um minuto, o tempo de uma ida à casa de banho.
Aqui quase tudo é possível, desde um dueto entre um saltério e uma sanita, flatulências e fagotes, guitarras e lavatórios. Cada músico vai poder interpretar uma obra com base nos sons que forem produzidos pelas pessoas ao pé de si.
“Esta é uma ótima oportunidade para os músicos exploram a riqueza acústica do espaço”, explica à VISÃO o diretor pedagógico da SAMP, Paulo Lameiro. Até porque as casas de banho são conhecidas pela sua capacidade de reverberação (é por isso que soamos melhor ao cantar no duche).
Para assinalar o Dia Mundial da Água, 22 de março, a SIMLIS (Grupo Águas de Portugal) está a promover um conjunto de ações de sensibilização para os efeitos prejudiciais de despejar pensos, cotonetes, unhas ou cabelos nos canos de esgoto.
Nesse sentido, a SAMP aceitou o repto para a criação de uma performance musical que ajudasse a chamar à atenção para a problemática, e teve a ideia de interpretar micro concertos, do classicismo à música eletrónica, sempre nas casas de banho.
A iniciativa “O Cano é que Paga!” teve início no passado fim de semana e foi acolhida com muito agrado. “Foi interessantíssimo ver a surpresa das pessoas ao serem confrontadas com um momento inesperado e quase surreal”, conta Paulo Lameiro.
Na entrada para a casa de banho, há também quem decida voltar para trás, e as reações nem sempre foram positivas. Os músicos respeitam a privacidade dos utilizadores, mas por vezes a sua presença é motivo de incómodo e indignação.
Alguns podem ver a sua intimidade invadida, mas “tal como os momentos que passamos na casa de banho, também a arte é uma coisa íntima”, defende o diretor pedagógico da SAMP.
Uma coisa é certa, depois desta experiencia, “seguramente ninguém vai esquecer a mensagem. Uma ida à casa de banho nunca mais será a mesma”.
Os micro concertos da SAMP regressam às casas de banho do LeiriaShopping dias 29 e 30 de março.