A oliveira é o símbolo do Mediterrâneo, sendo a sua distribuição geográfica um indicador que define a região Mediterrânica. A produção de azeitona destina-se sobretudo à sua transformação em azeite, e está concentrada nesta região, sendo que os países do Sul da União Europeia produzem em conjunto mais de ¾ da produção mundial. Devido aos benefícios para a saúde e sabor que adiciona à comida, o azeite tornou-se um produto alimentar cada vez mais apreciado. Nos últimos 15 anos, verificou-se um crescimento médio, a nível mundial, da ordem dos 3,1%.
Portugal encontra-se perto de alcançar a auto-suficiência na produção de azeite. Com a entrada em produção das novas plantações, é expectável que dentro de dois a quatro anos, se satisfaçam as necessidades internas de consumo, 72.000 Toneladas, bem como para exportação, 47.000 Toneladas (valores da campanha 2010/2011). Pela primeira vez nas últimas décadas, a balança comercial do sector teve um balanço positivo, superior a um milhão de euros, tendo as exportações atingido os 160 milhões de euros.
A par da produção de uva para vinho, a azeitona para azeite é um dos poucos produtos agrícolas onde Portugal apresenta um excedente no comércio de água virtual – ou seja, o volume de água necessário para produzir o azeite que exportamos é maior que o volume de água necessário para produzir o azeite que importamos. As importações concentram-se em Espanha, que depois é associada à produção nacional e exportada para países terceiros, nomeadamente Brasil e EUA.
O olival é tradicionalmente uma cultura de sequeiro, que tem vindo progressivamente a ser explorado em sistemas intensivos e mecanizados de regadio. Esta tendência tem sido notória tanto em Portugal como em Espanha, nomeadamente nas bacias do Guadalquivir e do Guadiana. Importa contudo recordar que a qualidade do azeite, à semelhança de outros produtos, perdem qualidade e genuidade quando produzido de forma intensiva. A qualidade do azeite está intrinsecamente relacionada com a dureza das condições ambientais do mediterrâneo, e a sua conversão em pomares de oliveiras acarreta custos, alguns dos quais para além da nossa visão actual.
Com esta intensificação perdem-se variedades mais tradicionais de azeitona, como a galega, que se adaptam mal aos sistemas de pomar, e com ela se perderá o aroma único, que caracteriza alguns azeites portugueses, e os empurram para os lugares cimeiros das competições internacionais. Outro exemplo das implicações que a intensificação desta cultura acarreta, são os seus impactos ambientais. Mesmo utilizando sistemas de rega de gota-a-gota, bastante eficientes na utilização da água, estes olivais não deixam de contribuir para o aumento da utilização de água, devido à sua escala e intensidade. Além disso, podem ainda contribuir para a erosão de solos, fragmentação de habitats semi-naturais, e a sua transformação em azeite gera águas residuais muito poluentes.
A compatibilização de áreas agrícolas intensivas de qualquer cultura, com a sua envolvente, é fundamental para a sustentabilidade da utilização dos recursos água e solo. Apesar de, em Portugal, o olival representar a principal cultura certificada em modo biológico, devido ao crescimento mundial da procura de azeite, a resposta do mercado tem assentado em sistemas de produção intensivos com impactos ambientais significativos. Falta por isso uma iniciativa global que promova a produção sustentável de azeite, e que dissemine por toda a região mediterrânica as boas práticas e as experiências positivas empreendidas.
Saiba mais no relatório Water Footprint in Portugal – 2011 http://assets.panda.org/downloads/pegadahidrica_2011.pdf