Será que somos demasiados para o Planeta que temos?
Ao nosso atual ritmo de consumo, certamente que seremos.
Mas o que é que isso afinal significa, porque é que afinal se diz que exigimos do planeta mais do que ele tem para nos dar?
Bom, começo por dar uma notícia ao leitor que é provável que não esteja sempre presente na sua mente – nós somos animais. Tão animais como todos os outros que connosco partilham o planeta Terra. E partilha é a palavra de eleição, porque na verdade temos tanto direito aos seus recursos naturais como as restantes espécies animais e vegetais. E como tal as nossas necessidades não deveriam, supostamente, ultrapassar o necessário para assegurar a nossa segurança e bem-estar.
Mas será que nos limitamos a isso?
Não acredito muito nisso. Pelo menos aplicado à minha pessoa, dado que me encontro neste preciso momento a escrever este artigo no computador portátil, ao som de uma televisão que debita as notícias do dia em pano de fundo, e com um smartphone ao lado a avisar-me que já estou atrasado no envio deste texto.
A tecnologia evoluíu e trouxe-nos muitas mais-valias. Algumas essenciais à vida como a conhecemos hoje. Mas também nos trouxe toda uma panóplia de aparelhos e produtos sem os quais conseguiríamos viver muito bem. Mas quanto mais temos, mais queremos. E quando não podemos ter tudo o que está à nossa volta para escolher, sentimo-nos infelizes.
E é essa mesma escolha que nos é permitida que constitui uma das grandes ameaças ao planeta. Para que possamos escolher, necessitam de existir opções. E estas existem, e muitas. Basta que passemos os olhos pelas prateleiras dos hipermercados. E, quando o fizermos, que multipliquemos essas prateleiras por muitos milhares; e, quando o fizermos, voltemos a multiplicar por mais uns quantos. A economia exige que o consumidor possa escolher. E quando o prazo se aproxima do fim da validade, sanitária ou tecnológica, descartam-se os itens como desperdício e colocam-se novos. Novos, e muitos, para que se possa escolher de novo.
Já olharam com atenção para uma banca de peixe de supermercado ao final do dia, quando este já começa a ficar pouco fresco? Ou para a fruta, quando começa a ficar pouco apelativa? Ou para a comida já cozinhada nos tabuleiros de um dos muitos restaurantes de buffet ou hotéis e que não é consumida ao final de determinada refeição?
Diz-se, entre outras coisas, que comemos demasiado, mais do que necessitamos. Talvez, mas pior do que isso é tudo aquilo que não comemos, simplesmente porque lá foi colocado a mais para que pudéssemos escolher.
É certo que já exigimos ao planeta mais do que necessitamos. É certo que metade daquilo de que nos rodeamos é supérfluo e desnecessário. Mas agravamos esse consumo excessivo com tudo o que retiramos do planeta para triplicar a oferta daquilo que eventualmente será consumido, para que esta escolha seja efetuada de entre uma imensidão de itens.
Há quem teorize que a maior causa da nossa infelicidade é o excesso de escolha que temos à disposição. No caso particular do esgotamento dos nossos recursos naturais, essa afirmação poderá vir a tornar-se mais verdadeira do que provavelmente desejaríamos.