Ocupam pouco mais de um por cento da superfície total do planeta, mas as cidades acolhem hoje metade da Humanidade. Em rigor, e segundo as Nações Unidas, esse facto ocorreu em 2007, sendo de prever que o vertiginoso fenómeno da urbanização prossiga ao longo das próximas três décadas. Aliás, só nos países em desenvolvimento e nos últimos 30 anos, as cidades receberam, em média, 3 milhões de habitantes por semana.
É na Ásia e em África que está a ocorrer este êxodo nunca visto dos campos para as áreas urbanas. São estes dois continentes que apresentam as taxas mais elevadas de população rural, respectivamente 41% e 39 por cento. E ambos serão responsáveis por mais de dois terços dos novos habitantes urbanos até 2050. Basta pensar nos dois países com mais habitantes, a nível mundial, para ficarem justificadas as preocupações e os desafios que daí resultam. China e Índia são protagonistas de um crescimento económico proporcional ao crescimento dos espaços urbanos e das megacidades, as áreas metropolitanas que, segundo os critérios da ONU, abrigam mais de 10 milhões de pessoas. E Pequim, Xangai, Bombaim, Nova Deli e Calcutá são meros exemplos, pois a capacidade de atracção destes aglomerados urbanos muitas vezes sinónimos de trabalho, prosperidade e melhores perspectivas de vida é igual à que ocorre em Lagos (Nigéria), Kinshasa (República Democrática do Congo) ou Cartum (Sudão).
Pormenor incontornável: boa parte dos recém-chegados jamais cumprem as suas expectativas e, segundo as agências da ONU, um em cada três, está condenado a residir em bairros de lata e sem as mínimas condições para uma vida digna. De qualquer forma, ainda está longe de confirmar-se o cenário descrito em O-Zone, livro da autoria do americano Paul Theroux publicado em Portugal com o nome de Zona Exterior, em 1988. Nessa obra, os ricos vivem em enclaves verdes, protegidos por exércitos privados, que os separam dos pobres e da miséria ambiental envolvente.
Um relatório realizado pela GlobeScan e pela MRC McLean (duas empresas especializadas em estudos de opinião e políticas urbanas) revela que os desafios colocados pelas megacidades são enormes mas existem razões para algum optimismo. Segundo os 522 responsáveis de 25 grandes cidades de todo o mundo inquiridos neste estudo financiado pela Siemens, as grandes áreas urbanas conhecem problemas que são do conhecimento geral (poluição, ordenamento, desigualdades e assimetrias, etc.) mas as suas prioridades parecem iguais em todo o lado: criação de emprego, competitividade económica, redução da pobreza, melhores transportes e reorganização/revitalização das infra-estruturas existentes. E ainda as preocupações ambientais, desde que não comprometam o crescimento económico. Percebe-se. Cerca de 25% da riqueza mundial é produzida pelas dez maiores áreas metropolitanas do planeta.