Portugal, um dos primeiros signatários do Acordo de Paris, assumiu o compromisso de atingir a neutralidade carbónica até 2050. Apesar de avanços significativos no desempenho ambiental do nosso país (o 15º melhor entre 29 países, de acordo com o “Índice de Transição Verde” realizado pela Oliver Wyman), e das melhorias registadas na produção de eletricidade renovável, que já representa mais de 60% do total gerado a nível nacional, a nossa trajetória ainda está longe de garantir o cumprimento pleno dessas metas.
Do lado do investimento, apoios como o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) têm sido fundamentais, mas a execução desses fundos nem sempre é célere ou eficaz, enfrentando muitas vezes entraves administrativos, lacunas de planeamento ou mesmo escassez de mão de obra especializada para setores-chave da economia verde.
No plano internacional, o cenário permanece igualmente desafiante: a decisão de Donald Trump de retirar os EUA — o segundo maior emissor de gases com efeito de estufa — do Acordo de Paris pela segunda vez, aumentou a pressão sobre os esforços climáticos globais.
Neste contexto, cabe muitas vezes às instituições, públicas e privadas, tomar a iniciativa e demonstrar, na prática, que esta transformação é mais tangível do que se possa pensar – hoje. No SEA LIFE Porto, por exemplo, alcançámos recentemente a meta de assegurar a operacionalização de todo o aquário 100% a partir de energias verdes certificadas. Sendo uma infraestrutura com exigências energéticas contínuas e críticas ao bem-estar animal, este passo, mais do que logístico, assume um caráter simbólico, provando que é possível evoluir para um modelo sustentável mesmo em contextos complexos.
Mas mais do que vontade e investimento, este processo exige confiança. A esse nível, destaca-se também a importância vital das entidades reguladoras independentes e dos sistemas de certificação, enquanto promotores de uma transição energética justa, viável e sustentável. Ao assegurarem o cumprimento de padrões rigorosos, a transparência nos mercados energéticos e a proteção do interesse público, estas entidades assumem-se como ferramentas de confiança que combatem o greenwashing, promovem verdadeiramente a sustentabilidade ambiental e escolhas informadas e conscientes.
Quando falamos de transição energética, é preciso considerar que nem todas as soluções são isentas de risco. A expansão das renováveis exige uma visão clara e integrada, de longo prazo. A sua implementação deve ser feita com responsabilidade, avaliando os impactos sobre a biodiversidade, os ecossistemas e as comunidades locais, promovendo um modelo justo, participativo e equilibrado. Do lado das organizações, importa investir ativamente em conhecimento para adotar, de forma sustentada e inovadora, medidas integradas que assegurem a sustentabilidade ambiental, a par da eficiência operacional, no longo prazo.
A oportunidade reside em criar uma economia verde e resiliente, onde inovação, sustentabilidade e coesão social caminhem lado a lado. Para isso, é necessário investir ativamente na literacia climática, na educação ambiental, no reforço das competências verdes e na criação de condições para que empresas, autarquias e cidadãos possam continuar a ser agentes ativos na transformação que todos desejamos.