Não é uma Volta a Portugal em Bicicleta, mas é natural que a bicicleta marque presença aqui e ali – até porque é mais importante fazer uma viagem limpa do que uma viagem rápida. Na segunda-feira, 12 pessoas entre os 18 e os 61 anos, distribuídas por três equipas, partem para uma excursão de nove dias (com regresso a 27 de setembro), numa competição em que ganha quem consumir menos recursos.
As regras do jogo levam em consideração as emissões de dióxido de carbono, o tempo, o dinheiro e o consumo de água. Uma app vai contabilizar os gastos de cada equipa e convertê-los em “clima”, uma moeda virtual que avalia os quatro critérios. No final, vence quem gastar menos “climas”.
A iniciativa, promovida pela Câmara de Cascais (concelho de onde é dado o tiro de partida), foi desenvolvida pela Get2C, uma consultora especializada em ambiente. “Queremos sensibilizar o maior número de pessoas de uma forma divertida”, diz Luís Costa, da Get2C. “Este projeto é desenvolvido com sete municípios, que serão percorridos da forma mais sustentável possível. Às equipas, é dado um orçamento inicial com a moeda virtual, que depois usam como entenderem. Se forem de carro, gastam menos tempo, mas mais dinheiro e CO2; se forem de bicicleta, perdem mais tempo, mas poupam CO2.”
Cada equipa faz um trajeto diferente, de modo a não se cruzarem na mesma localidade, mas todas têm de passar pelos sete concelhos: Cascais (de onde partem e aonde chegam), Faro, Portimão, Odemira, Gouveia, Famalicão e Viana do Castelo. Em todos os municípios, têm de desenvolver projetos que envolvam a população, sempre na perspetiva da sustentabilidade.
“O objetivo é aprendermos a medir as nossas ações”, explica Luís Costa. Os vencedores da competição irão à Cimeira do Clima nos Emirados Árabes Unidos (COP28), no final de novembro, onde apresentarão as concluões da viagem, no pavilhão de Portugal.
Usar comboio, evitar carne
Rafaela Melo, 27 anos, da equipa Água, admite que entrou na prova quase por acaso. “Preencho qualquer formulário que me põem à frente… Mas depois fui ficando cada vez mais entusiasmada. Gosto muito de viajar, e esta é uma oportunidade para fazer uma viagem sustentável.”
O plano da sua equipa, em termos de transporte, é combinar trajetos de comboio com outros de autocarro, com uma boleia em carro elétrico pelo caminho. A alimentação, outra área com uma pegada ecológica potencialmente significativa, vai ser vegetariana. A parte do envolvimento com as comunidades locais passará, a propósito, por uma refeição vegetariana no lar de idosos de Gouveia onde a equipa vai pernoitar, além de ações de sensibilização em escolas, uma refeição comunitária com sunset no Algarve, a projeção de um documentário sobre desperdício alimentar e ações de plantação e renaturalização em Famalicão e Odemira.
Por seu lado, Francisco Paupério, 28 anos, da equipa Ar, acredita que “temos de apelar à sustentabilidade de várias formas, e a proximidade é a mais eficaz”. “Esta viagem vai contribuir para disseminar projetos sustentáveis financeira e ecologicamente, ao dar o exemplo para outras pessoas.”
O transporte passará igualmente pelo comboio (“A melhor opção na combinação de tempo e emissões”, sublinha Francisco), com percursos de autocarro onde não há ferrovia e mobilidade suave dentro das localidades, incluindo percursos de bicicleta nas novas ecopistas de Portimão. A alimentação será exclusivamente vegana e o mais possível com produtos locais.
Finalmente, Mariana Gomes, 22 anos, da equipa Terra, ativista pelo clima desde 2019, diz ter sido atraída pela “possibilidade de contactar com as populações locais, do interior, que não são chamadas à mesa para discutir o impacto das alterações climáticas em Portugal e que não têm voz ativa nas decisões políticas nacionais e regionais”. A experiência de ser “obrigada”, durante uns dias, “a ter um melhor comportamento e a perceber o impacto individual” é outra motivação para esta viagem.
Também a equipa Terra tentará andar de comboio sempre que ele estiver disponível, mas Mariana realça a dificuldade que tem sido planear uma viagem pelo transporte coletivo mais sustentável quando “não há linha férrea em várias áreas de Portugal”. “Isso obriga-nos a optar, muitas vezes, pela segunda opção mais sustentável, o autocarro.”
A alimentação, essa, será vegana, com prioridade para alimentos da época e locais.