Ali não há avenidas largas nem arranha-céus. Na 2nd. Street de Brooklyn, o ambiente é próprio do bairro residencial que Paul Auster tantas vezes retratou nas suas ficções. A copa das árvores cobre o passeio e as casas, alinhadas umas às outras, só têm dois pisos. À porta vem Siri Hustvedt, a escritora e a mulher que Auster conheceu no dia 23 de Fevereiro de 1981, conforme deixou registado em Leviathan. Logo atrás vem Paul Auster. E, já durante a entrevista com a VISÃO, há-de vir Sophie, chegada da escola com a mala carregada de livros. A família está preocupada porque Jack, o velho cão de que os leitores incondicionais de Auster também já ouviram falar, caiu das escadas na noite anterior.
Já houve quem por aqui andasse à procura da Nova Iorque do autor, seguindo os indícios por ele deixados na obra. À esquina da rua onde vive Paul Auster, porém, não existe nenhuma tabacaria como a de Smoke e de Blue in The Face, os filmes que Wayne Wang realizou sobre argumentos de Paul Auster. Nem tão-pouco a Paper Palace, a papelaria de A Noite do Oráculo, o seu mais recente romance cuja tradução portuguesa estará disponível nas livrarias já no próximo dia 9 com a chancela das Edições Asa. Nele, o escritor Sidney Orr ainda recupera de uma doença que lhe foi quase fatal quando descobre um caderno de fabrico português que o conduz de novo à escrita. Sob a influência desse pequeno bloco de notas, a personagem escreve na ideia de que o que escreve vai acabar por acontecer. A história de A Noite do Oráculo desenvolve-se depois no sistema de caixas chinesas que Paul Auster tanto aprecia. Do enredo principal ao romance dentro do romance, das notas de rodapé à reprodução de uma misteriosa lista telefónica da Polónia, Portugal surge como um país «perfeito»: «Pessoa é um dos meus escritores preferidos. Deitaram abaixo Salazar e agora têm um governo decente. O terramoto de Lisboa inspirou Voltaire a escrever Candide. E Portugal ajudou milhares de Judeus a fugirem da Europa durante a guerra. É um país bestial.» Parece uma ironia, mas – como adiante se verá – Paul Auster já não visita Portugal desde 1995. Quer voltar. Para, com Siri Hustvedt, ir às Janelas Verdes ver os quadros de Hieronymus Bosh que estão no Museu de Arte Antiga.
VISÃO: A Noite do Oráculo começa com um caderno de capa azul made in Portugal que altera completamente a vida do protagonista, Sidney Orr. Os seus leitores portugueses querem saber – de onde veio este caderno?
PAUL AUSTER: Claro que eles querem saber, mas na verdade não posso dar-lhes uma resposta muito precisa.
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