Um dos bazares mais genuínos da Rota da Seda continua a ser o de Kerman, no sudeste o Irão. É do conhecimento geral que a Rota da Seda não era um rota única mas um conjunto de caminhos que permitiam as trocas comerciais entre o ocidente e o oriente. Ora, era precisamente em Kerman, que os produtos que vinham da Índia e do Paquistão chegavam à Pérsia.
Esta proximidade trás para o Irão uma minoria que alegra o bazar: são os baluchis, uma etnia de origem paquistanesa e afegã que sobressai nas ruas fervilhantes do bazar, quer pela sua indumentária, quer pelas longas barbas. Fazem lembrar os afegãos, também eles aqui tão perto.
A proximidade do Paquistão faz hoje de Kerman uma das cidades com mais problemas de droga do Irão. As rotas comerciais continuam a existir mas, na atualidade, para além de especiarias e tecidos deste lado do mundo chegam também novos problemas e desafios.
À parte destes novos problemas, o bazar de Kerman continua a ser um local excecional para testemunhar a vida mercantil. Resolvemos explorar este belíssimo bazar em busca dos seus lugares escondidos, remotos e esquecidos. Entre ruas e ruelas encontramos madraças, mesquitas, hamans e caravançarais. A maioria está ao abandono, com sinais evidentes de degradação.
No bazar encontramos produtos oriundos das imediações de Kerman mas muitos outros negociados ao longo da Rota da Seda. Chegam aqui os melões e melancias da Ásia Central, o arroz basmati da Índia, assim com as frutas do Turquemenistão e Uzbequistão. Dizem que as uvas vêm de Fergana, um vale no sul do Uzbequistão. Em troca, os iranianos de Kerman oferecem aos comerciantes os seus preciosos artigos em cobre e os seus belos tapetes tecidos artesanalmente e coloridos de forma natural. Os tapetes persas são um dos artigos mais cobiçados pelo oriente, a par das tâmaras que inundam o bazar nesta altura do ano.
As tâmaras aqui produzidas comem-se frescas. As tâmaras secas são vendidas para os países árabes, especialmente para a Turquia, em que nesta altura do Ramadão são consideradas produtos básicos devido ao seu elevado valor calórico e rico em açúcar. Em Istambul, tínhamos encontrado imensas tâmaras a vender e só aqui descobrimos que a Turquia não tem palmeirais nem produção de tâmaras. Todas as tâmaras vendidas no país vêm do Irão, do Iraque ou da Síria.
Também há chás de várias flores, alguns especialmente coloridos que comprei, mas que não consegui perceber do que são, nem de onde são provenientes. Talvez alguém por aí me possa ajudar!
O nosso passeio por Kerman terminou com uma visita aos mausoléus e às mesquitas da cidade. Apesar da beleza destes últimos, foi o tempo em que nos decidimos perder no bazar que nos contagiou com a sua azáfama e que marcou esta nossa viagem ao longo da Rota da Seda.