É bom regressar a casa. É bom voltarmos a dormir na nossa cama, voltarmos àquelas que são as nossas rotinas, voltarmos a abraçar família e amigos. É ainda melhor ao fim de três (longas) semanas, quando regressamos com o coração cheio de histórias para partilhar, que acreditem que não são poucas. As surpresas e desilusões e os amores e desamores foram muitos. Ainda assim, o cansaço com que nos deitamos na noite em que chegamos não podia ser mais recompensador, e muito facilmente se misturou com a sensação de dever cumprido. Mas se naquela noite foi fácil adormecer, com os olhos pesados e o coração completo, o regresso à realidade na manhã seguinte já foi mais atribulado. Os finais sempre foram difíceis de aceitar. As três semanas que passamos de comboio pela Europa não podiam ter passado mais rápido. É nestas alturas que a expressão “o tempo passa a correr” faz o maior sentido. E desenganem-se aqueles a quem três semanas parecem muito tempo – muita coisa ficou por descobrir, até porque a Europa não é assim tão pequena como dizem. Conhecer nove cidades em apenas 23 dias parece-nos agora uma loucura, jovem e saudável. Talvez pudéssemos ter eliminado algumas cidades do roteiro, para fazermos tudo com mais calma e com menos défices de horas de sono. Mas talvez, se não tivesse sido assim, não teria sido tão bom, nem tão ao nosso jeito, quanto foi. Fica uma vontade enorme de voltarmos a Budapeste, não por nos ter falhado algum sítio daquela enorme cidade divida em duas margens, mas por ter sido uma daquelas que mais gostamos. Fica uma certa desilusão em relação a Praga, cidade a que queremos voltar numa época baixa, com menos gente e menos confusão, na esperança de podermos passear no centro histórico com menos empurrões. Fica uma ressalva muito positiva relativamente a Cracóvia, cidade que é muito mais do que “perto de Auschwitz” ou com “as mais antigas Minas do Sal do mundo” – é um dos locais mais perfeitos para descansar, para passear ou até para ser bem recebido na Polónia. Destes 23 dias, levamos o melhor e o pior de cada sítio por onde passamos. De Bucareste trouxemos facilmente o medo de uma cidade pobre, com os piores condutores da Europa e com mais cães abandonados nas ruas cinzentas e desertas à noite. De Budapeste fica-nos o tempo incerto em pleno Verão, a história soberba de uma cidade limpa e cuidada e um dos melhores pores-do-sol de toda a Europa. Da pequenina (e rápida de se conhecer) Bratislava trazemos a manhã no Devin Castle, que valeu por tudo e por mais qualquer coisinha. De Viena trazemos a cidade europeia mais luxuosa e imponente. De Praga recordarmos demasiada confusão, mas também as melhores cores e os melhores recantos à beira-rio de sempre. De Cracóvia trazemos os sensivelmente quatro quilómetros de jardim em torno do centro da cidade e trazemos Auschwitz, onde a perceção da história nos parece real. De Varsóvia trazemos o Euro’12 e o povo mais orgulho de si e dos seus antepassados. De Berlim trazemos a vergonha na história, que não é assim tão longínqua, e a capacidade soberba de mostrar ao exterior o que de melhor se faz e o que melhor tem a cidade. Do interrail, só por si, trazemos a melhor das viagens das nossas vidas e a vontade de repetir tudo outra vez. E ainda a saudade.