Encontrar um hotel as 23h não foi tarefa fácil A chuva e com o hotel Sheraton como referência (e não como destino), por ser perto do consulado português, fui andando sem rumo, em busca da palavra universal ‘Hotel’.
Resolvi perguntar aos seguranças de um colégio por um hotel barato (a ‘cheap hotel’, em inglês). Um deles, muito prestável, passou para o outro lado do portão e veio ajudar-me. Foram precisos uns dez minutos de difícil comunicação, para que percebesse que o senhor procurava num mapa o ‘cheap hotel’, pensando que era o seu nome.
Lá encontrei um hotel barato, que se insinuava ao longe com umas luzes néon Não tão barato como desejava, mas muito em conta, para a qualidade do quarto.
Parti para a primeira caminhada por Banguecoque como gosto: sem rumo e sem mapa. Para andarmos assim por uma cidade, há duas referências importantes: edifícios altos e marcos humanos (pessoas que não saem do mesmo sítio o dia todo). Banguecoque tem os dois, pelo que foi fácil deambular pela cidade.
Se a curiosidade matasse, aqui este que vos escreve – bem ou mal, é indiferente para o caso – e que é bastante curioso, por sinal, já estaria morto. Passo por várias bancas com comida de aspeto delicioso, mas não faço ideia o que são. Para almoço, comi uma espetada que tenho quase a certeza que era de frango e outra de…qualquer coisa. Eram cubos pequenos, com muito nervo, por isso, neste caso, acho que se aplica a velha máxima daquele senhor que nasceu em Santa Comba Dão: “o povo é feliz enquanto for ignorante”.
Em Banguecoque o lixo não é limpo, é mudado do sítio. Os varredores devem ser licenciados em decoração urbana: ‘Hmmm esta garrafa azul não combina muito bem com o cinzento mesclado do passeio. Acho que a vou por em harmonia com o preto tingido da estrada. Oh Liung, lembras-te de quando a estrada era preta?”. “Ai Liang, tu nem me fales disso, que me matas do coração”. “Ai ai…” suspiram os dois em uníssono
É fácil ver quando um turista está perdido mas não quer dizer: olha para os outros turistas com um sorriso que mistura o alívio com a aflição. Recebi vários desses olhares, mas não me solidarizo. “Faz-te homem”, penso eu quando é um homem. “Faz-te mulher”, penso eu quando é uma mulher. “Faz-te a vida”, penso eu quando é indiferenciado.
Quando alguém me diz alguma coisa na língua local, respondo um grunhido rápido e monocórdico, cuja sonoridade soará, passe o pleonasmo e, se isto não for um pleonasmo, então passe por cima, cuja sonoridade, dizia eu antes deste dilema estilístico, soará a qualquer coisa como “Badabimg Badabomng” misturado com “konishiua”.