Deixar a Alemanha foi uma sensação agradável! Não que tivéssemos detestado, nada disso, mas a relação stress/seriedade e nós, não combinou lá muito bem! Vínhamos com uma certa resistência ao país, que diminuiu completamente quando decidimos ficar a dormir a última noite mesmo na fronteira com o próximo país. Em Frankfurt (Oder), 4 alemãs acolheram-nos em sua casa, mostrando que além de sorrir, as pessoas cá – generalizando, claro está – também sabem divertir-se! Foi uma maneira de deixar o país com um sorrisinho na cara, e que também nos dizia que tínhamos de regressar e prepararmo-nos doutra forma!
A Polónia era há já muito tempo um país que adorávamos conhecer, por muitas e variadas razões! Atravessar a ponte que separa a cidade de Frankfurt (Oder) com a de Slubice foi, a princípio, uma sensação estranha. Estávamos noutro país, mas a maior parte das pessoas e dos automóveis presentes, eram alemães. Quisemos rapidamente pedalar o máximo para o interior que – agora parte oeste da Polónia – já foi a Alemanha de leste! Sabíamos um pouco da história destas divisões territoriais pós 2ª Guerra Mundial mas, aquando da nossa chegada a casa da Ula e da sua família, tivemos a verdadeira lição do que a Polónia sofreu ao longo dos anos, das guerras com os outros países, da parte que agora é do país e outrora era alemã, do comunismo e de toda uma variedade de coisas que fazem do povo polaco, um povo lutador e corajoso! No parte de trás do jardim de sua casa, 4 blocos de apartamentos subiam até aos 20 andares, depois do terreno lhes ter sido “comprado” pelo partido comunista na altura no poder! A imagem é surreal!
Se a estrada até Zielona Góra estava “pedalável”, daí até Wroclaw, estava mesmo muito má. Até Lubin, a cidade onde paramos para descansar durante a noite, foi uma luta constante contra o mau estado da estrada que encontrámos. E depois contra o imenso calor e humidade que se fazia sentir. Percorríamos 20 quilómetros e logo tínhamos de encostar as bicicletas para comprar água – que já havia terminado -, para descansar à sombra, comer ou, o nosso passatempo favorito na Polónia, tirar as centenas de mosquitos e outros pequenos insectos que ainda não conseguimos descobrir do que se tratam, da roupa, do corpo e dos dentes! Chegar, depois de todo aquele dia, foi como chegar a um oásis depois de caminhar horas no deserto. O banho, a sopinha e o conforto de um sofá, tornam-se das coisas mais preciosas do mundo em certos dias de viagem!
A estrada continuou má até Wroclaw. O facto da Polónia e da Ucrânia serem os organizadores do Europeu de Futebol de 2012, faz com que o país esteja virado do avesso. Mas o pior não é só o facto das estradas estarem em obras, com o aumento de número de vias – pois Portugal passou pelo mesmo – o mal é a falta de estradas! Se não pedalarmos pelas estradas quase principais, estamos sujeitos a “nunca” mais chegar ao destino! Mas com a falta de auto-estradas, toda a circulação se faz por elas, querendo isso dizer que, além das pessoas conduzirem muito depressa, mesmo muito depressa, os camiões são às centenas, Fazendo-nos razias enormes, mostrando que a Polónia ainda não é um país onde aceitar que uma bicicleta circule no meio da estrada, seja uma coisa normal. É horrível ter uma estrada em obras, onde se circule alternadamente só num sentido, e estarmos na frente da fila, com 10 camionistas desesperados por estarem a circular a 15km/h atrás de nós, com todo o calor e humidade que está e sentirmos toda aquela gigante pressão sobre nós, querermos acelerar e não conseguirmos…
Wroclaw é uma das maiores cidades da Polónia mas, chegar a ela, é uma lufada de ar fresco! É uma cidade extremamente bonita, com muita história e muito dinâmica! No entanto, parar as bicicletas no meio de toda aquela confusão e tentar descobrir o sítio onde iríamos ficar nessa noite, não se tornava tarefa fácil…até aparecer, vindo do nada, um rapaz montado na sua bicicleta que num inglês perfeito nos pergunta se precisamos de ajuda! Logo puxou de um mapa e, depois de dois dedos de conversa, levou-nos até à rua onde deveríamos seguir “sempre em frente”! Trocamos contactos, algumas experiências e a promessa de um cafezinho algures! Depois de chegarmos ao destino, reparamos que as pessoas que nos deveriam acolher nessa noite, além de não estarem, não tinham deixado nenhuma forma de contacto ou qualquer mensagem. Esperamos cerca de 3 horas, sentados na entrada do prédio e ainda tivemos oportunidade de assistir a uma das maiores tempestades da nossa vida que, viemos a saber mais tarde depois de termos comunicado com Portugal, anda a fazer das suas na Polónia e, cremos, já fez algumas vítimas. Foi mesmo uma coisa impressionante que registámos em vídeo! A noite chegou e não tínhamos sítio onde ficar. Contactar o Radek foi a solução encontrada. Logo se mostrou disponível para nos oferecer alojamento e, melhor de tudo, para nos vir buscar de carrinha, já que vivia a 15 quilómetros dali e com aquela tempestade, com o estado das estradas e os loucos dos camiões, não queria ficar com a memória pesada! Caminhamos pelo meio da lama e chegamos a casa todos sujos! O conforto daquela casa e daquelas pessoas deixou-nos impressionados! A ideia que tínhamos do país estava a melhorar de hora para hora! Foram 3 dias passados na companhia destas pessoas incríveis que, além de serem vegetarianos e amantes das bicicletas como nós, nos deram indicações sobre a cidade e nos mostraram sítios que, sem eles, nunca lá chegaríamos. A cidade é muito bonita e o seu centro tem alguns edifícios com as fachadas pintadas que nos fazem ficar parados a olhá-los durante muito tempo! Depois, o facto da Polónia ser um país extremamente acessível a nível de preços, faz-nos experimentar uma série de coisas que doutra maneira, nunca arriscaríamos. Não é que seja um paraíso da gastronomia para nós, mas têm uma série de receitas que nos fazem crescer água na boca! As pessoas são impecáveis e, apesar de um pouco sérias a princípio, quando as olhamos a segunda vez, deixam escapar um sorriso que nos faz aproximar delas, conversar, trocar algumas palavras mesmo que, ao fim de 5 minutos, ainda estejamos a falar línguas diferentes!
Daqui, seguiremos para Cracóvia, mas de comboio, onde visitaremos também o antigo campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Regressaremos depois a Wroclaw, onde deixaremos as bicicletas, para pedalar até à República Checa!