A viagem…
…que começamos dia 8 de Abril em Ovar, partiu de uma vontade enorme de conhecer o mundo e tentar fazê-lo o mais lentamente possível, conhecendo dessa maneira, o maior número de pessoas, lugares, culturas e experienciar tudo isto sem qualquer pressa! A ideia de fazer esta viagem começou há 4 anos, aquando do regresso de uma outra viagem por parte de um de nós. Desde esse momento a decisão estava tomada, o primeiro passo havia sido dado! O 2º passo seria com certeza o mais complicado, o que levaria mais tempo a dar por variadíssimas razões, entre elas o sermos capazes de juntar o suficiente para nos aguentarmos tanto tempo na “estrada”! A data foi adiada no último ano mais do que uma vez. Ou era o emprego, ou a família, ou a casa, ou os cães ou uma série de outros contratempos que nos impedem e nos deixam receosos de tomar tamanha decisão. Quando isto começa a acontecer, há que marcar uma data e ser-lhe “fiel”! Foi o que fizemos! Depois de pensarmos um bocado sobre o que queríamos realmente fazer, achamos por bem marcar Abril como o mês de saída. Decidimos também que dividiríamos a viagem em duas partes: a primeira seria feita pela Europa, a segunda parte levar-nos-ia até à Ásia! Escolhemos a Europa, porque está aqui mesmo ao lado e por essa razão andamos sempre a adiar a visita, em prol doutros destinos. Escolhemos também a Europa, porque seria a primeira vez que faríamos uma viagem deste género e não sabíamos muito bem como reagiríamos, se necessitaríamos mais do que aquilo que achávamos normal, se iríamos gostar de estar sentados tanto tempo num selim duma bicicleta, se isto, se aquilo…Escolhemos a Europa, porque é a zona mais cara e poderíamos, depois de concluída a viagem, calcular mais ou menos quanto seria preciso para o resto. Escolhemos, por uma série de outras razões, tão fáceis de perceber, mesmo para quem nunca tenha pensado numa viagem assim!
Os planos…
…forma muito poucos! Queríamos partir sem pensar muito naquilo que iríamos encontrar, no que gostaríamos de visitar, onde gostaríamos de passar o nosso tempo. Queríamos ir e descobrir com as pessoas que íamos encontrando, o melhor caminho, o mais bonito, os locais mais interessantes e gozar ao máximo! Partiríamos com um orçamento reduzidíssimo e queríamos cumpri-lo! Não era nossa intenção deixar de fazer alguma coisa por causa de não gastar meia dúzia de tostões, o que não queríamos era gastar sem sentido, porque mesmo na vida que fazíamos em Portugal, nunca o fizemos. Quanto mais se gasta, menos se viaja! Sair de Portugal, subir até à Holanda, Alemanha, descer até à Hungria, Turquia, Grécia e subir pela Croácia, cruzar o norte de Itália e voltar a Portugal pelo sul da Europa…talvez, 9 meses depois! As bicicletas seriam as nossas do dia-a-dia, umas simples BTT’s, sem quaisquer kits especiais! Escolhemos levar atrelados de carga em vez de alforges. Tenda, fogão, sacos-cama, roupa de Inverno e de Verão (o mínimo!), máquina fotográfica e computador portátil. A comida seria comprada todos os dias. Somos vegetarianos e queríamos também mostrar que isto de fazer tanto esforço, não exige carne, mas sim sabermo-nos alimentar! Nunca treinámos e quando nos perguntavam se o fazíamos, respondíamos sempre da mesma maneira: Ninguém treina para ir a Fátima a pé!
A Partida…
…aconteceu com abraços para um lado, lágrimas para o outro, os últimos conselhos, chamadas de atenção e as normais preocupações para quem fica! Um último café para acordar e pedalamos para longe! Até já…
Partimos em direcção a Arouca. Para trás ficava uma série de coisas pelas quais tínhamos lutado nos últimos anos. Porém, partir para o desconhecido era mais forte. Tínhamos de ir e ver, sentir, comunicar, rir, sofrer, pensar em toda a informação que receberíamos a cada minuto e tirar dela o melhor partido! Seria também uma prova de fogo para nós. Viveríamos 24 horas por dia juntos. Neste momento, quase 3 meses depois, estamos em Osnabruck, na Alemanha, em direcção a Berlim. Para trás ficou a serra de Arouca e do Montemuro, o Douro e Foz Côa; as planícies intermináveis do interior de Espanha, parte do Caminho de Santiago até Pamplona e o mar em San Sebastian; o imenso pinhal da costa francesa e a maior duna da Europa em Arcachon, a incrível cidade de Bordéus, o rio Loire, o concerto de Deolinda em Paris e a gayparade em Lille; a Bélgica, o país que mais gostamos até agora, com cidades dinâmicas, inovadoras e jovens; os canais, os moinhos e as bicicletas aos milhares, por todo o lado, quais rainhas das estradas, na Holanda; e agora a Alemanha, tão verde!
Para trás, nesta viagem, já ficaram tantas coisas! Pessoas que conhecíamos e fomos encontrando ao longo dos diversos países! Famílias que nos receberam em suas casas e dividiram um pouco do seu tempo connosco! Dias de chuva torrencial, vento, granizo, neve e muito sol a queimar-nos a pele! Ficaram para trás portugueses que fomos encontrando ao acaso, no meio da rua, e que nos convidaram a ficar! Para trás ficou tudo isto, mas sabemos que ainda só agora começámos! Ainda falta tanto…