Esta é a história do Luís, mas podia ser da Ana, do António ou do João. É a história de como a cada setembro encaixamos professores como se encaixam peças de puzzles, desarrumando vidas. É a história de uma profissão que durante anos aprendemos a odiar, vítima das piores caricaturas, até percebermos que precisamos deles como do chão que pisamos, porque sem eles nada floresce. Porque os professores são tudo: educadores, assistentes sociais, amigos, psicólogos. Só lhes falta terem rodas.

O Luís deixou de ser professor na altura em que a Troika assentou arraiais em Portugal. As horas das disciplinas que dava tinham sido reduzidas, os horários completos escasseavam e o que pagavam não dava para as despesas. Fez-se à estrada. Literalmente. Foi trabalhar como motorista.

Quase dez anos depois, o cenário parecia melhor e concorreu. Ficou com um horário quase completo e voltou aonde sempre quis estar. As coisas pareciam encaminhar-se e, no ano passado, conseguiu entrar para os quadros através de uma coisa chamada “vinculação dinâmica”. Estava a poucas dezenas de quilómetros de casa. Em contrapartida, este ano ficava obrigado a concorrer ao país todo. Resultado? Ficou colocado em Lisboa, a centenas de quilómetros da casa que está a pagar ao banco e onde estão os dois filhos pequenos.

Desesperado com os preços dos quartos em Lisboa, Luís ouviu de uma amiga a solução que agora lhe parece ser a única. Vai fazer ida e volta entre Lisboa e Coimbra todos os dias. A amiga faz o mesmo entre Coimbra e Amadora há um ano. Fizeram os dois as contas e chegaram à conclusão de que quase 400 euros em autocarros por mês e duas horas de viagem por dia de trabalho compensam.

“Vou aproveitar as viagens para ler e trabalhar”, diz-me, ainda sem saber bem como será esta aventura. “Vai ser complicado. Vai ser difícil. Não tenho dúvidas. Mas as pessoas habituam-se a praticamente tudo”.

Como professor, o Luís já está há muito habituado a “praticamente tudo”, embora ainda lhe faça confusão o facto de, já depois de colocado, terem aparecido quase 400 novos horários a norte, quase todos em escolas muito mais próximas de casa do que aquela que lhe calhou, que irão agora provavelmente para docentes com menos anos de serviço do que tem. “Porque é que estes horários só aparecem agora?”, exaspera-se.

E não pode receber os tais 200 euros de ajudas de custo que compensam ter ficado tão longe? “Não tenho direito. A minha escola não tem falta de professores”, responde-me, num tom a meio caminho entre a indignação e a ironia que, isto já se sabe, uma pessoa habitua-se “a praticamente tudo”.

Os professores já estão habituados a acabar agosto com o coração nas mãos e as malas à porta, numa migração interna que em Portugal é capaz de só ter comparação com aquela que, até aos anos 70, levava milhares de camponeses rumarem da Beira Alta para o Alentejo para ceifar. Eram conhecidos como os “ratinhos”, porque, diziam os do sul, iam para lá “roer o nosso pão”. Os professores de agora parecem, porém, condenados a comer apenas o pão que o diabo amassou.

São criaturas estranhas, que falam em siglas incompreensíveis. QZP, TEIP e outras de um eduquês tão difícil de decifrar que me lembro de, nos primeiros meses como jornalista de Educação, ter feito num caderninho uma espécie de dicionário só para conseguir acompanhar as conferências de imprensa. Conhecem o país de norte a sul, apanham com as modas dos miúdos e as mudanças sociais dos pais. E estão cansados. Estão muito cansados. Mas, por algum motivo, resistem. Seja porque não sabem fazer outra coisa, seja porque há profissões que se nos colam à pele e não as conseguimos deixar sem perder um pedaço de nós.

Penso nos professores que tive. Sou capaz de ter tido dos maus, mas só me lembro dos bons. Da D. Clara, que me ensinou as primeiras letras. Da D. Rosete, que me fez ganhar confiança e gosto pela escola. Da Prof. Ana Amaro, que me apresentou ao Gil Vicente e me fez gostar de Teatro. Da Prof. Helena Castro, que me fez apaixonar-me pelo Camões, sorrir com o Eça e encantar-me com o Cesário Verde. Da Prof. Olga, que me fez entender o Kant como se fosse uma coisa simples. E de tantos e tantos outros, que este texto não chegava nem para nomear muito menos para agradecer tudo o que fizeram por mim.

Para que as escolas não sejam depósitos de alunos, mas lugares de construção de cidadãos, é preciso que lá estejam professores felizes, estáveis, com condições materiais. Escrevo o óbvio. Mas preciso de escrever o óbvio, porque não há maneira de isto se resolver. Talvez se lhes puserem rodas…

Eu era infeliz e não sabia.

(a inversão do lugar-comum surgiu-me depois da crónica terminada. pareceu-me resumir tudo.

soou-me, no entanto, demasiadamente bíblica, estava morto e reviveu, tinha-se perdido e foi achado.

não há nenhuma parábola nesta crónica. nem nenhuma antítese na frase inicial. haverá, quando muito, uma semelhança sonora ou rítmica com as frases bíblicas. bem sei que são o ritmo e a melodia que nos disponibilizam para o conteúdo. pelo menos, é o que acontece comigo em relação às letras das canções.

adiante)

*

Arrumo. Ando sempre a tentar ganhar espaço no escritório. A tralha vai-se acumulando de uma forma nem sempre estratificada. Mesmo assim, há qualquer coisa de arqueológico ou facebookiano nesta tarefa de arrumar. Desenterro corpos que me morreram sem que tivesse dado conta. Às vezes fico comigo mesma nos braços, uma acusação silenciosa que não entendo. Aceito que sou diferente daquela que me sonhei, mas porquê tanto rigor mortis? Podíamos pelo menos falar uma com a outra.

Deparo-me, então, com o meu exemplar do romance Desgraça do J.M. Coetzee. Na contracapa um autocolante com o preço, 2.340$00. Lá dentro, escrito a lápis, Lido em agosto de 1999. Por baixo, Relido em setembro 1999. Não era meu hábito fazer este tipo de anotações, nem passou a sê-lo. Qual a razão daqueles dois gestos excecionais com um estreito mês de intervalo entre eles? Passado um quarto de século, atrevo-me a dizer que intuí que nunca mais seria a mesma depois da leitura de Desgraça. Que quis registar a data da minha mudança. Do início do meu renascimento.

Deitada no chão, a Lulu, que me segue por toda a casa com a sua mansa e muda sabedoria canina, vigia-me.

*

Em Luanda, a minha mãe tinha capoeiras no quintal. Umas toscas construções de madeira, arame e zinco. Era a única mulher do bairro que fazia criação.

(fazer criação. mastigo esta forma de dizer. reconheço a justeza com que o fazer rebaixa a carácter divino da criação. na ausência do complemento direto, diz-se ela faz criação, e nunca ela cria. apesar de ser uma entidade selvagem, uma língua tem por vezes conscienciosos detalhes éticos)

Num sítio onde sobrava espaço por todo o lado, as modestas casas do bairro tinham enormes quintais traseiros. Nalguns havia pérgulas com trepadeiras e vasos de flores espalhados, a ornamentarem o terreno. Nesses, raramente brincávamos, para não estragarmos as plantas. Também estávamos proibidos de ir para os que eram deixados ao abandono e se enchiam de capim e de bichos: matacanhas, carraças, pulgas e outros invencíveis inimigos. Os bichos que existiam no nosso quintal eram diferentes. Não eram minúsculos como os do capim, nem nos faziam mal. Tinham um corpo suficientemente grande para que os pudéssemos manter presos sem dificuldade. Se algum pintainho escapava por entre a rede do galinheiro, não ia longe. Tão-pouco nos atacava. Eram pacíficos e amistosos os bichos do nosso quintal. Às vezes, a minha mãe deixava-nos até brincar com eles. Desde que não os estragássemos. Ficávamos a espreitar os coelhinhos bebés, umas apetecíveis bolinhas de pelo, mas nunca lhes tocávamos, para que as suas mães não os enjeitassem.

Na tentativa de domar a minha infindável energia, a minha mãe pedia-me ajuda nas tarefas domésticas. Uma das que eu mais gostava era a de alimentar as galinhas e os coelhos. Deliciava-me vê-los correr ao meu encontro, sôfregos por comida. Quanto mais interagia com eles, mais os descobria semelhantes a mim. Tinham sede, fome, calor e frio, como eu. Tinham sono, como eu. Ficavam doentes, como eu. Tinham medo, como eu. Não falavam, é certo.

Na catequese, a irmã Flores foi categórica, Os animais não têm alma, Deus não os quis com alma, criou-os para nossa serventia, o cão serve para nos guardar a casa, a ovelha para nos dar lã, a vaca para nos dar leite e carne…

Demorei a perceber que os bichos das capoeiras do nosso quintal eram os mesmos que apareciam no meu prato. Cozidos, assados, estufados.

Em 1999, eu ainda comia carne e peixe. Trinta e cinco anos feitos e pouco tinha pensado no que era a vida dos outros animais. Trinta e cinco anos. Quase a mesma idade da minha mãe aquando da casa com as capoeiras, em Luanda. A minha mãe mais jovem até. Quereria isso dizer que também eu, se houvesse umas traseiras onde pudesse construir uma capoeira… Contudo, Esta é a única vida que existe. A qual partilhamos com os animais, sublinhei no romance.

*

Numa ninhada de coelhos, houve um que nasceu menos pardo e com as patinhas brancas. A minha mãe disse enternecida, Nunca vi um coelho tão bonito. Há muito que eu pedia aos meus pais que me deixassem ter um cão. Como eles mantinham a recusa, decidi que aquele coelho seria o meu cão. Chamei-lhe Pluto e aos poucos fui-lhe conquistando a confiança. Uma tarde, demorei mais a voltar da escola e o Pluto não estava na coelheira. Ao encontrá-lo junto à porta de entrada da nossa casa, acreditei que ele tinha escapado para ir procurar-me. Semanas depois, o Pluto já deixava que eu lhe pegasse ao colo. Passei a levá-lo, às escondidas da minha mãe, quando ia ter com os outros miúdos. Eles queriam fazer-lhe festas, mas o Pluto ficava todo a tremer, Só gosta de mim, pensava eu, ufana.

A minha mãe matou o Pluto para o comermos, tal como matou outro coelho qualquer. Quando dei conta, odiei-a durante muito, muito, tempo. Nessa terrível noite, eu a chorar trancada no quarto, ouvi o meu pai perguntar-lhe:

– Tinhas mesmo de fazer isso?

– Não sabia que a miúda ia reagir assim.

E depois acrescentou:

– Comecei a matar galinhas pouco mais velha do que ela.

*

Quando me perguntam se a literatura pode mudar o mundo, respondo que não. Minto. Desgraça e outros romances, alguns poemas e outros textos permitiram que eu me reconhecesse mais depressa. Que felicidade, a do encontro! Passar através da malha que a rede da capoeira cria e, nesse deslumbre, não estranhar assim tanto o mundo lá fora. Pessoanamente entranhar-me. Sem que nenhuma mão tenha o poder de me devolver ao cárcere. Nem de me fazer mal.

OUTROS ARTIGOS DESTE AUTOR

+ A brincar na lama

+ Sofá-cama

+ Silentium Universi

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Palavras-chave:

Será que a febre olímpica e a vontade de bater recordes já atacou o Presidente de França, Emmanuel Macron, e a classe política do país? Por enquanto, a Bélgica continua sem concorrência direta no que toca aos tempos necessários para se formar um governo. Na sequência das eleições de junho de 2010, os belgas tiveram de esperar 589 dias para haver um executivo em funções plenas; e, em outubro de 2020, o liberal flamengo Alexander De Croo levou 494 dias até conseguir formar e liderar uma coligação de sete partidos.

JÚPITER SEM OLIMPO

Na última segunda-feira, 26, o chefe de Estado francês emitiu um comunicado oficial a informar que se recusava a dar posse aos partidos de esquerda que venceram as legislativas antecipadas, no final de julho. Motivo: o programa da Nova Frente Popular (NFP) – aliança de socialistas, ecologistas, comunistas e a LFI (La France Insoumise, movimento chefiado por Jean-Luc Mélenchon) – seria imediatamente alvo de “uma moção de censura pelo conjunto dos outros grupos representados na Assembleia Nacional [câmara baixa do Parlamento]”, ficando em causa a “estabilidade institucional”. Uma argumentação supostamente resultante das audições promovidas por Macron, junto de todos os partidos com assento parlamentar, incluindo os líderes da NFP e Lucie Castets, a mulher que estes últimos propuseram para mandar no Palácio de Matignon (residência oficial do primeiro-ministro).

Ao chumbar um eventual elenco progressista de Castets e anunciar que daria início a uma nova ronda de consultas com “personalidades que se distinguiram pela sua experiência ao serviço do Estado e da República”, Emmanuel Macron fez o que vários analistas há muito lhe apontam: é um adepto incondicional do quero, posso e mando – tal como François Mitterrand (Presidente entre 1981 e 1995) ou o general De Gaulle (herói da resistência ao nazismo e chefe de Estado entre 1959 e 1969), mas a sua postura bonapartista e jupiteriana (entenda-se autoritária) faz-se acompanhar de muitas indecisões e improviso. 

Populismo Marine Le Pen e Jordan Bardella, os chefes de fila da União Nacional, prometem apresentar moções de censura à direita e à esquerda Foto: Teresa Suarez/LUSA

Afinal, foi este governante jovem e hiperativo, cada vez mais impopular entre os seus compatriotas, que, após as eleições para o Parlamento Europeu, a 9 de junho, decidiu, motu proprio, dissolver o Parlamento e convocar legislativas antecipadas para “clarificar” a situação política no Hexágono. Nada lhe correu bem. Menos de um mês depois, o seu partido (Renascimento) e respetivos aliados perderam a maioria parlamentar, não evitaram o melhor resultado de sempre da extrema-direita (10,6 milhões de votos e 142 deputados) e a NFP, graças à singularidade do sistema eleitoral, venceu surpreendentemente o sufrágio, obtendo 178 dos 577 assentos do hemiciclo. Se a estratégia de Macron era dividir para reinar e manter incólume o poder absoluto no palácio do Eliseu (o seu segundo e último mandato quinquenal termina em 2027), enganou-se.

A generalidade dos comentadores e dos meios de comunicação não lhe perdoa a arrogância e a sobranceria de querer ser a única alternativa a um sistema político com “regras obsoletas e clânicas” que impedem a modernização nacional por ele desejada: “[Macron] Sempre quis curto-circuitar, enfraquecer e mesmo humilhar os partidos desde a sua chegada ao Eliseu”, asseverou, no Le Monde, Solenn de Royer, na última terça-feira, 27. Em editorial, na mesma edição, o mais influente vespertino europeu mostrava-se igualmente implacável: “França encontra-se numa situação inédita e perigosa (…). Em plena rentrée escolar e a poucas semanas de ser apresentado o projeto de orçamento para 2025, o país está novamente ameaçado de um bloqueio [institucional] devido à obstinação do chefe de Estado que tenta aproveitar-se da relativa fraqueza dos que tentam fazer-lhe frente.” O Libération punha também, nesse dia, o Presidente na sua primeira página, com um simples título garrafal: “Le Mépris”, entenda-se “o desprezo” com que inviabilizou um governo de esquerda e ignorou a vontade de mudança do eleitorado.

DESTITUIÇÃO E EGOS

Na passada semana, o eurodeputado Raphaël Glucksmann, um dos mentores da Nova Frente Popular, já alertara para os cenários de incerteza e para a necessidade de terminar com o duelo de egos “entre Júpiter [Macron] e Robespierre [Mélenchon]”, para que a social-democracia seja bem-sucedida contra as forças radicais de Marine Le Pen e Jordan Bardella (putativos pretendentes, respetivamente, ao Eliseu e a Matignon, pela União Nacional). Em simultâneo, nos debates e tertúlias do CNews, o canal de informação habitualmente descrito como a Fox News francesa, propriedade do multimilionário conservador Vincent Bolloré, especula-se sobre a melhor hipótese de afastar Emmanuel Macron do cargo que ocupa desde 2017, como forma de ultrapassar o atual impasse. A ideia está prestes a passar da teoria à prática porque Jean-Luc Mélenchon e os seus camaradas insubmissos já admitem iniciar um processo de destituição, invocando o artigo 68º da Constituição – algo com poucas hipóteses de sucesso por exigir a aprovação de dois terços dos deputados. Seja como for, mal o chefe de Estado anunciou que iria proceder a novos contactos para encontrar uma personalidade alternativa a Lucie Castets, a LFI emitiu um comunicado cujo título fala por si: “Censura, Mobilização, Destituição!”

Esquerda acusa Macron de ter entrado numa “deriva iliberal” e o líder dos comunistas franceses comparou-o com Donald Trump. Com a atual crise, o governo interino não vai sequer apresentar orçamento para 2025

Recorde-se que, no passado domingo, para evitar um possível chumbo a Castets, Mélenchon revelou que nenhum militante do seu partido iria integrar esse futuro governo de esquerda, de modo a provar que sabe fazer cedências e a evitar o coro de críticas da direita e do mundo empresarial. Daí que Mélenchon acuse Macron de “traição” e de “negar a vontade popular”. Não foi o único. Os principais dirigentes da NFP, a começar pelo líder dos socialistas, Olivier Faure, recusam voltar a reunir com o Presidente e nem põem a possibilidade – para já – de participar numa dança de cadeiras para um executivo ideologicamente mais abrangente. Isto é, no qual caibam todos os partidos da direita tradicional e gaullista (excluindo-se aqui a União Nacional), do centro, e da esquerda não populista.

A LFI promete combater por todos os meios a “surdez” de Macron e já convocou para 7 de setembro um protesto nacional. Marine Tondelier, chefe de fila dos Verdes, acusa-o de “deriva iliberal” e o líder do Partido Comunista, Fabien Roussel, em entrevista à BFMTV, foi ainda mais longe: “Hoje temos um Presidente que é um pouco como o senhor Trump nos EUA, que contesta o resultado das urnas. (…) Os franceses têm de se mobilizar!”

PRETENDENTES E CV

Dada a situação de emergência económica de França – a dívida pública já representa 112% do PIB e Paris tem de explicar até ao final do próximo mês, em Bruxelas, como pretende pôr as contas em dia, devido ao procedimento por défice excessivo que lhe instaurou a Comissão Europeia –, a crise política tem de se resolver e depressa. Mas nada indicia que tal possa vir a ocorrer. A não ser que Macron saque uma personalidade especial da cartola ou recue em toda a linha e acabe por nomear a mulher que até 23 de julho – data em que foi formalmente escolhida pela NFP – era uma ilustre desconhecida para a maioria dos franceses. Com 37 anos, Castets, a ainda diretora das finanças de Paris, que passou as últimas semanas a palmilhar o país e a dar entrevistas, tem todas as condições para liderar o governo ou entrar na próxima corrida presidencial. Formada na École Nationale d’Administration, instituição de elite criada no final da II Guerra Mundial e que, desde então, produziu sete primeiros-ministros e quatro presidentes (sim, Macron faz parte desta lista), esta filha de psicanalistas compensa a falta de experiência política com outros talentos académicos e pessoais: o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento de atividades terroristas, ser poliglota (aperfeiçoou o inglês quando estudava na London School of Economics e aprendeu mandarim na Universidade de Fudan, em Xangai) e uma grande comunicadora, capaz de reunir consensos. Para evitar rumores homofóbicos sobre a sua vida privada, esta feminista e feroz defensora dos serviços públicos assumiu, numa entrevista ao diário Sud-Ouest e à revista Paris Match, que é casada com uma mulher e que tem um filho de 2 anos e meio. Um perfil que pode pedir meças a qualquer das personalidades de que se fala na imprensa francesa, quase todas com ambições presidenciais e capazes de encaixar nos planos macronisto-maquiavélicos (ver caixa). Há quem acredite que Macron, em desespero de causa, pode ainda convencer antigos governantes que não lhe façam sombra, casos de Jean Castex, Valérie Pécresse ou Bernard Cazeneuve. No entanto, a escolha mais curiosa e paradoxal seria Karim Bouamrane, o autarca socialista de Saint-Ouen que apoiou – sem grande entusiasmo – Lucie Castets. A confirmar-se, viria dar razão aos que afirmam que o Obama francês tem grande futuro e que Macron é um atleta imbatível. 

Candidatos ao futuro

Figuras que podem suceder a Macron, em 2027, além de Marine Le Pen e Lucie Castets

Karim Bouamrane
O socialista que preside a câmara de Saint-Ouen-sur-Seine, filho de marroquinos, foi um aluno excecional, especializou–se em segurança informática e trabalhou em Silicon Valley. Estrela em ascensão, chamam-lhe o Obama francês. Tem 51 anos.

Gabriel Attal
Primeiro-ministro desde janeiro, desiludiu-se com Macron por não ter sido ouvido na dissolução do Parlamento e na convocatória de legislativas antecipadas. Tem 35 anos.

Xavier Bertrand
Antigo ministro do Trabalho, atual presidente da região Hauts-de-France, é um conservador capaz de fazer pontes à direita e à esquerda. Tem 59 anos.

Marine Tondelier
A líder dos ecologistas franceses é ambiciosa e ganhou popularidade com a Nova Frente Popular. Tem 38 anos.

Laurent Berger
Católico progressista e antigo presidente da Confederação Europeia de Sindicatos, é considerado uma reserva moral do país. Tem 55 anos.

Palavras-chave:

Os mais distraídos só ontem terão ficado a perceber que a edição 2024/2025 da Liga dos Campeões vai ser completamente diferente da prova que todos conheciam até aqui. Bem diferente, provavelmente apenas no formato, pois, em termos de competitividade, as mudanças introduzidas pela UEFA têm tudo para continuar a favorecer mais os principais colossos europeus e, por conseguinte, dificultar a vida às equipas menos apetrechadas financeiramente. Ora, se já era difícil para qualquer equipa portuguesa ir longe nesta competição milionária, com o novo formato da prova tudo se tornará, estou certo, mais difícil. Uma ideia que gostava de ver contrariada por Sporting e Benfica, os dois representantes portugueses na presente edição.

Este artigo é exclusivo para assinantes. Clique aqui para continuar a ler

DOURO

1. Quinta da Roêda: Festa e lagarada

O cenário da Quinta da Roêda é deslumbrante. A propriedade da Croft, no Pinhão, abre a época das vindimas com uma festa no dia 6 de setembro (das 18h às 23 horas) no terraço do centro de visitas e nos lagares. Entre os petiscos preparados na grelha e no forno a lenha, a cargo do chefe de cozinha Milton Ferreira (responsável pelos restaurantes do The Vintage House e Quinta do Portal), conte-se com arroz de pato, sanduíche de rabo de boi, preguinhos de novilho maronês com redução de vinho do Porto, secretos de porco com molho chimichurri, chouriço de Trás-os-Montes com tomate, entre outras iguarias com vinho do Douro a acompanhar (€65/pessoa).

A partir do dia 6, dar-se-á início às vindimas na quinta que podem ser acompanhadas tanto na vinha como na pisa a pé nos lagares de granito (lagaradas), havendo a possibilidade de acrescentar um piquenique ao porgrama. Quinta da Roêda > Estrada Nacional 323, Pinhão > T. 22 010 9830 > €65 (festa), vindima (€52, €88 com piquenique), 4-11 anos 50%

2. Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo: Almoço e prova de mosto

Situada no Cima Corgo, a quinta tem 41 parcelas tradicionais. Foto: DR

A Quinta Nova, uma das pioneiras no enoturismo no Douro, abre as portas durante três dias (2, 9 e 16 de set), a quem queira participar na vindima. A propriedade de Luísa Amorim, com 41 parcelas tradicionais de vinha, propõe desde o corte das uvas à prova dos primeiros mostos e dos vinhos clássicos Quinta Nova no Patamar Wine Shop & Bar. Um almoço tradicional a cargo do chefe de cozinha André Carvalho, servido no pátio do restaurante Terraçu’s – de onde se tem uma bonita vista para a paisagem -, uma visita ao Wine Museum Centre Fernanda Ramos Amorim, à garrafeira histórica e à sala das barricas, completam o programa. Covas do Douro, Sabrosa > T. 254 730 430, 96 986 0056 > 2, 9, 16 set > €270

3. Quinta de Ventozelo: Mata-bicho e visita à adega

Será preciso esperar até ao dia 14 de setembro para participar na vindima desta quinta em Ervedosa do Douro, propriedade da Granvinhos, com mais de 200 hectares de onde saem mais de 30 referências de vinho. O dia começa nos lagares com a entrega do kit de vindima. Numa carrinha Bedford, os visitantes são levados para vindimar numa das parcelas, fazendo um intervalo a meio da manhã para o tradicional mata-bicho, preparado pelo chefe José Guedes: caldo de cebola, covilhetes de legumes e javali, além de vinho tinto da casta que se encontra a ser vindimada e um Quinta de Ventozelo Reserva Branco 2022.

Segue-se o transporte para a adega da Granvinhos, em Alijó, para uma visita ao processo de chegada das uvas e vinificação. O almoço decorrerá na Cantina de Ventozelo, onde será servido um repasto de pratos regionais, como sardinha de São João em escabeche, salada de tomate coração de boi do Douro, rancho à moda de viseu e rabanadas de vinho do Porto. Ervedosa do Douro, S. João da Pesqueira > T. 254 732 167 > 14 set > €175, €80 (12-17 anos)

VINHOS VERDES

4. Quinta da Aveleda: Vindima com cinema, música e workshops

O programa de vindima pode incluir um jantar de petiscos tradicionais. Foto: DR

No coração da Região dos Vinhos Verdes, a Quinta da Aveleda junta este ano a vindima a um programa de cinema, música ao vivo e workshops: o Vindim’art. As propostas são diferentes a cada dia e podem incluir um minicurso vínico (31 ago, 8 set), o jogo didático Prova que Sabes (1 e 7 set), um workshop de pintura com vinho (1 set) ou de chapelaria (7 set), a visita aos jardins românticos ou à adega velha. No dia 8 de setembro, conte-se com um concerto de música tradicional pelos grupos Marotos da Concertina e Raízes Épicas. O programa mais completo (das 15h30 às 23h, em cada um desses dias, €99) inclui o lanche das colheitas, uma prova horizontal de Alvarinho, um jantar de petiscos tradicionais e a tradicional sopa das vindimas. R. da Aveleda, 2, Penafiel > T. 255 718 200 > 31 ago, 1, 7, 8 set, sáb-dom > €18 a €99 

DÃO

5. Quinta da Teixuga: Vindima com almoço

A Quinta da Teixuga tem 30 hectares. Foto: DR

No Dão, é em setembro que as vindimas acontecem em força. Na Quinta da Teixuga, em Nelas, a Caminhos Cruzados (empresa do Grupo Terras & Terroir) promove três programas: vindima durante uma hora, visita à adega e ao processo de vinificação e uma prova (€35), outra que acrescenta uma prova de três vinhos (€50) e, a mais completa, que inclui um almoço preparado pelo chefe Miguel Vidal com duas entradas, um prato principal e sobremesa (€80). À chegada, todos os visitantes recebem um chapéu, tesoura e t-shirt. É necessária reserva prévia. R. de Carvalhal, Nelas > T. 232 940 195, enoturismo@caminhoscruzados.net > Setembro > €35 a €80

6. Taboadella: Merenda com vista para as vinhas

A adega da quinta, da autoria de Carlos Castanheira. Foto: DR

Nesta antiga villae romana do Dão, com 42 hectares de vinha e floresta, os visitantes são recebidos pelas 10 horas na Wine House antes de partirem para a vinha. O dia é preenchido com a visita a um lagar romano, à adega revestida a cortiça com arquitetura de Carlos Castanheira, e a todo o processo de vinificação das uvas. Uma prova de vinhos Villae e um cesto de merenda (com enchidos regionais, bolinhos de bacalhau, alheira, sanduíche de queijo Serra da Estrela, pão regional e de Loriga, água e vinhos) que pode ser saboreada onde o visitante quiser, completam a manhã. Silvã de Cima, Sátão > T. 96 711 6877, 232 244 000 > setembro, ter-sáb 10h-13h30 > €60

ALENTEJO

7. Adega Mayor: Workshop vínico e almoço na adega de Siza Vieira

Adega Mayor, da autoria do arquitecto Siza Vieira Foto: Marcos Borga

Em Campo Maior, na Adega Mayor, a tradição repete-se com um programa especial dedicado à vindima. No dia 14 de setembro, convida-se a aprender um pouco sobre a arte de vindimar, pondo as mãos na massa, porque é assim que se aprende a técnica certa para o corte e seleção dos cachos. Já na adega, um obra assinada pelo arquiteto Siza Vieira digna de visita fora da época da vindima, os participantes fazem a prova do mosto e um workshop vínico. O programa termina com um almoço onde se privilegiam os sabores locais harmonizados com vinho da Adega Mayor. Herdade das Argamassas, Campo Maior > T. 268 699 440, enoturismo@adegamayor.pt > 14 set, sáb > €100

8. Mainova: Vindima noturna e observação de estrelas

No Vimieiro, o projeto vinícola de Bárbara Monteiro, responsável pela Mainova, distingue-se pela originalidade, onde se inclui o Wine Art Gallery, um enoturismo e adega de arquitetura moderna. Para assinalar a época da vindima, criaram um programa especial para o dia 7 de setembro, que na verdade só começa depois de almoço, mas prolonga-se noite fora. Chama-se Moinante Experience e inclui vindima noturna, um jantar especial e uma sessão de observação de estrelas. O dia começa pelas 15h30, com um welcome-drink, visita à adega e prova de vinhos, ao final da tarde há DJ set e servem-se os petiscos preparados pelo chefe João Narigueta, responsável pelo restaurante Híbrido (Évora) e Poda (Montemor-o-Novo). Às dez da noite, os visitantes são convidados a vindimar e uma hora depois, há sessão de observação das estrelas. A tudo isto, pode juntar-se um workshop de fotografia para telemóvel com Ana Soares e Miguel Inácio. Monte Herdade da Fonte Santa, EN 372-1, Vimieiro, Arraiolos > T. 91 073 2526 > 7 set, sáb > €85, workshop €35

9. Tapada de Coelheiros: Conhecer as uvas, o montado e ovelhas merinas

A sala de provas e loja da Tapada de Coelheiros Foto: Marcos Borga

São muitas as atividades agrícolas numa herdade de 800 hectares de terra, onde há 600 ha de montado, vinha, nogueiral, um rebanho de mil ovelhas merinas, pinhal, olival, galinhas de raça preta lusitana, gamos e veados. Com a tiragem da cortiça terminada em julho, já se deu início às vindimas. A proposta de enoturismo da Tapada de Coelheiros, na freguesia de Igrejinha, concelho de Arraiolos, para esta época, convida a conhecer este ecossistema num passeio de jipe, onde se dará conta dos métodos de produção regenerativa, biológica e sustentável, assim como da fauna e flora. Também as uvas, cultivadas em cerca de 50 hectares em produção biológica, serão alvo de atenção. Compreender os diferentes estados de maturação, características do fruto, do vinho e da vindima, fazem parte do programa, assim como uma visita à adega, onde os vinhos são produzidos sob a supervisão do enólogo Luís Patrão. Por fim, convida-se à prova de cinco vinhos, harmonizados com uma tábua de petiscos e produtos típicos da região. Herdade de Coelheiros, Igrejinha, Arraiolos > T. 266 470 000 > até 21 set > €70

10. Fita Preta: Vindimar num antigo morgado

A adega revestida a cortiça e o Paço do Morgado de Oliveira, a casa da Fita Foto: Francisco Nogueira

Para se juntar à vindima da Fita Preta, um dos projetos do enólogo António Maçanita, localizado em Nossa Senhora da Graça do Divor, perto de Évora, é precido madrugar, pois é nessa altura que se garante a máxima frescura da uva. O programa proposto pode incluir (ou não) a passagem pela vinha, onde, equipados com luz de mineiro, se colhem, com todo o cuidado e acompanhados pela equipa de vindima, os cachos de uvas. Depois do trabalho, segue-se um pequeno-almoço na vinha. A atividade segue na adega (totalmente revestida a cortiça) com as restantes tarefas de vinificação que se dão a conhecer in loco. Depois há uma prova de mostos em fermentação e de algumas colheitas de anos anteriores. O dia termina com um almoço buffet em grupo no pátio do Paço do Morgado de Oliveira, edifício do século XIV. Paço do Morgado de Oliveira, EM 527 km 10, Nossa Senhora da Graça do Divor, Évora > T. 91 826 6993, enoturismo@fitapreta.com > a partir de €150

ALGARVE

11. Arvad: Descobrir a casta algarvia Negra Mole

É nas margens do rio Arade, em Estômbar, que se encontra o projeto Arvad. São 9 hectares de vinha, onde se encontra, entre outras castas, a Negra Mole, 100% algarvia. É ela que dá o mote ao programa Vindima Arvad – Especial Negra Mole que acontece no dia 6 de setembro. Começa com a tradicional vindima manual, a que se segue, já nas instalações da adega, a prova de três vinhos (tinto, rosé e branco) e do novo espumante (com estágio em ânfora de barro) produzidos com Negra Mole, acompanhada por uma tábua de petiscos locais. Cada participante terá direito a uma garrafa de vinho Arvad Negra Mole – será entregue em 2025 porque é resultado desta vindima, e é preciso pensar o que se quer deixar escrito no rótulo personalizado. Sítio da Abicada, Estômbar > T. 96 849 4049 > 6 set, sáb > €95

LISBOA E SUL

1. Júlia Ventura 1875-1983  Lisboa

Foto: Vera Marmelo

Uma visão da produção inédita de um artista consagrado? É proposta que pede uma, duas ou mais visitas. Júlia Ventura é um caso singular na arte nacional, que, tal como Helena Almeida, explorou exaustivamente a autorrepresentação como questionamento das possibilidades fotográficas, e das expectativas associadas ao corpo feminino. A plasticidade física, o repertório de expressões e de tiques faciais, as poses e atitudes são a matéria-prima preferencial. A curadoria de Bruno Marchand privilegiou os primeiros oito anos de produção, cerca de 20 séries de trabalho: fotografias, desenho, vídeo, texto e instalação, a maioria inédita. Culturgest > R. Arco do Cego, 50 > T. 21 790 5155 > até 29 set, ter-dom 11h-18h > €5 

2. Nosso Barco Tambor Terra  Lisboa

Foto: Bruno Lopes

A poderosa escultura entrelaçada em crochet e algodão quotidiano imobilizada na nave central do MAAT é uma das maiores obras realizadas por Ernesto Neto, o sábio das peças orgânicas que suscitam respostas primitivas. Nosso Barco Tambor Terra tem ambição de memorial simbólico a culturas cruzadas, a velas dos barcos a partir para os ainda chamados Descobrimentos. À maneira de uma criatura ancestral, possui respiração: a escultura é “ativada” pelo som de tambores e batuques, escondidos entre os pilares têxteis, à disposição do público. Uma escolha que reflete o interesse recente do artista brasileiro na percussão e a sua defesa da “arte contemporosa”, tátil e em contacto com a Natureza.  MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Belém > T. 21 002 8130 > até 7 out, qua-seg 10h-19h > €8 a €11 

3. Evidence: Soundwalk Collective & Patti Smith Lisboa

Diário pessoal, arquivo sonoro, moodboard, homenagem, registo de viagem, experiência documental? Todas estas ferramentas são exploradas em Evidence, exposição imersiva construída com imagens abstratas, fotografias, desenhos de Patti Smith, objets trouvés, mais de 500 sons (audíveis nos auscultadores incluídos na visita), e onde se arruma até a mesa de viagem de Mário Cesariny. Apresentada no Centre Pompidou, aqui reformulada, a mostra site-specific com curadoria de Chloé Siganos e Jean-Max Colard, ilustra a viagem – musical, poética e espiritual – empreendida pela cantora americana e pelo músico francês Stephan Crasneanscki entre 2017 e 2021, no âmbito da colaboração resultante no trio de álbuns Perfect Vision. E foi a sombra tutelar dos poetas Artaud, Rimbaud e René Daumal que os guiou na peregrinação sonora pela serra Tarahumara, no México, o planalto abissínio da Etiópia e os Himalaias indianos. MAC/CCB > Pç. do Império > T. 21 361 2400 > até 15 set, ter-dom 10h-17h30> €10 

4. Paradigm Lisboa

Foto: João Krull

Se a porcelana é um material frágil, é certo que Ai Weiwei a usa para transmitir mensagens fortes. Quase, quase a terminar, Paradigm revela 17 obras recentes, realizadas em porcelana ou em Lego, por vezes cruzando ambas as linguagens: é o caso do tríptico realizado com peças de Lego a recriar uma peça mediatizada e politizada, Dropping a Han Dynasty Urn, em que o artista se mostra a deixar cair um vaso chinês que se espatifa no chão. Presentes estão ainda Girl with Pearl, o famoso quadro de Vermeer também reconstituído com os blocos coloridos, peças de porcelana ilustradas com cenas de refugiados em vitrines ou a curiosa instalação de frutos e vegetais em loiça, que lembra o português Bordallo Pinheiro. São Roque Antiguidades e Galeria de Arte > R. de São Bento, 199A > T. 21 396 0734 > até 31 ago, seg-sáb, 10h30-19h > grátis 

5. Às Escuras Lisboa

Esparsas têm sido as ocasiões para reencontrar Rosa Carvalho, pintora que explora, aqui, um novo e fascinante território traduzido em esculturas criadas com materiais reciclados (cigarreiras, rolos de fita-cola, redomas…) e nanofiguras apanhadas em posturas poéticas (uma cadeira solitária no topo do glaciar, uma mulher que limpa o chão-azulejo, minúsculos soldados na waste land de uma fruteira…). Nesta exposição preciosa, curada por Isabel Carlos, há 200 trabalhos a pulsar por atenção, entre pequenos teatros, aguarelas e desenhos de paisagem marcada pela figura humana e por bestiário enigmático, ou pinturas que refletem o (pequeno) mundo.  Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva > Pç. das Amoreiras, 56/58 > T. 21 388 0044 > até 6 out, ter-dom 10h-18h > €7,50 

6. Marina Tabassum. Materiais, Movimentos e Arquitetura no Bangladesh Lisboa

Esta mostra é uma janela para o mundo, e para o fazer diferente. Arquiteta e investigadora, nascida em 1968 e distinguida com o prémio Aga Khan 2016, e a trabalhar em Daca, Marina Tabassum criou uma prática “da terra para a mesa do projeto arquitetónico”, uma arquitetura social que trabalha com as populações e os recursos locais. A instalação evocativa dos cursos de água que cruzam o Bangladesh, a casa modular de bambu e aço Khudi Bari com manual de instruções incluído para ser (des)montada consoante as necessidades, os vários projetos construídos em tijolo, tão bonitos, transformam a perspetiva de quem vê. MAC/CCB > Pç. do Império > T. 21 361 2800 > até 22 set, ter-dom 10h-18h30 > €7 

7. Les Frissons, les Étoiles e os Pirilampos Lisboa

A Francisco Queirós, interessava-lhe falar de utopias potenciais, mas há um efeito Ícaro a emboscá-las. Algo está a acontecer nos ecrãs da exposição, sublinha, mas não se sabe bem o quê porque a ação tem um tempo longo, diferente do dos humanos. O que não impede o artista de ensaiar uma reflexão através de trabalhos digitais e analógicos: pinturas (que rebaixa à condição de estudos), esculturas em caixas (negações da “última utopia” que nos resta, diz, a do toque como a proximidade possível); vídeos que incluem animação, montagem de objetos reais, ou um “cinema” de frases apropriadas de niilistas como Vivienne Westwood ou Sex Pistols.  Galeria Miguel Nabinho > R. Tenente Ferreira Durão, 18 B > T. 21 383 0834 > até 6 set, seg-sex 10h30-19h, sáb 10h30-19h > grátis 

8. Os Dias Estão Numerados Lisboa

Foto: Joana Linda

Daniel Blaufuks entregou-se desde 2018 a um projeto-monumento, um diário fotográfico. Isto é, submeteu-se à obrigatoriedade de auscultar o mundo, sem plano prévio, e logo produzir todos os dias um registo visual. O fotógrafo assume estar hoje mais opinativo: nas mais de 450 imagens, por vezes intervencionadas com palavras, colagens, recortes, biografia, há também reflexões sobre o mundo e a Natureza, e reações aos conflitos nos territórios ucraniano e palestiniano. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Belém > T. 21 002 8130 > até 7 out, qua-seg 10h-19h > €11 

9. Rémiges Cansadas Lisboa

Experiência sensorial que amplifica leituras de um poema de Daniel Faria (1971-1999), fazendo da cor vermelha uma aliada na exploração plástica de significados, memórias, liturgias. A exposição surge da proximidade do artista e académico Samuel Silva ao “poema-objeto” oferecido por Daniel a um amigo em 1991, redigido num papel de caixa registadora, com as superfícies laterais embebidas em tinta vermelha, e passível de ser desenrolado como um manuscrito bíblico – uma peça que revela e oculta simultaneamente o que está escrito. Brotéria > R. São Pedro de Alcântara, 3 > T. 21 396 1660 > até 7 set, seg-sáb 10h30-19h > grátis 

10. Paula Rego: Manifesto Cascais 

As figuras podem ser menos definidas, o jogo de cores mais exuberante, a abstração fazer-se presente, mas estão lá as sementes do corpo de trabalho da artista portuguesa desaparecida em 2022. Esta exposição celebra a primeira individual de Paula Rego, ocorrida em 1965 na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, em que explorava fraturas da sociedade portuguesa, como a ditadura e o colonialismo, e tinha já uma visão crítica sobre a experiência feminina condicionada pelo patriarcado.  Casa das Histórias Paula Rego > Av. da República, 300 > T. 21 482 6970 > até 6 out, ter-dom 10h-18h > €5 

11. João Abel Manta Livre Oeiras 

Foto: José Carlos Carvalho

Imaginar a paisagem visual do Portugal pré e pós-25 de Abril sem o traço benigno e certeiro de João Abel Manta, testemunha das manias e conquistas pátrias, é impossível. Toda a gente reconhece um cartoon seu, nem que seja MFA, Povo com os protagonistas desenhados com as “fardas” trocadas. Panorâmica abrangente dedicada ao artista, beneficiou do acesso ao seu arquivo pessoal e dos empréstimos de obras de instituições e colecionadores privados – como Vasco Gonçalves, a quem Abel Manta ofereceu maquetas de cartazes que são, finalmente, reveladas. Uma viagem bem-humorada por pintura, desenho, cartoon, ilustração, design gráfico, azulejos, tapeçarias, cartazes, cenografia e figurinos para teatro, pela mão de um criador livre. Palácio Anjos > Alameda Hermano Patrone, Algés > T. 21 411 1400 > até 20 dez, ter-dom 11h-18h > €2 

12. Quando Soubermos Ouvir as Árvores Almada 

O título foi buscado na escrita de Herman Hesse, os desenhos evocam Maria Gabriela Llansol. Esta proximidade à literatura tem sido uma bússola constante na produção de Ilda David, capaz de a metamorfosear em paisagens outras. Mas o visitante não precisa destas referências para se imbuir de serenidade, simbolismos, declinações da Natureza, constantes nestas pinturas e nos desenhos sulcados por bordados, e sair renovado das salas do convento. Convento dos Capuchos > R. Lourenço Pires de Távora, Costa da Caparica > T. 21 291 9342 > até 14 set, seg-sáb 10h-13h, 14h-18h > grátis 

13. The Infinite Ways of Creation Ericeira 

A fachada da galeria expõe o traço reconhecível de Vanessa Teodoro, que usa o grafismo de linhas fortes, a linguagem da ilustração, as influências da street art e o contraste do preto e branco como ferramentas. Da loiça à madeira, do papel à parede, estes suportes diversos funcionam como folhas em branco para um léxico exuberante. Aqui, há pratos de loiça e pranchas de skate pintados com linhas e ziguezagues, mas também esculturas com formas geométricas reminiscentes do corpo feminino. Hélder Alfaiate – Galeria de Arte > R. da Fonte do Cabo, 40A > T. 91 244 5783 > até 8 set, qua-dom 11h-14h30, 15h30-20h > grátis 

14. Helena Almeida – Habitar a Obra Caldas da Rainha 

Oportunidade para reencontrar as pinturas icónicas de Helena Almeida (1934-2018) da série Pintura Habitada (1975), em que a artista plástica radicalizou o discurso pictórico, intervindo nos seus autorretratos a preto e branco com pinceladas azul-Klein. Gestos performáticos que dessacralizaram a tela e trouxeram o corpo para dentro da obra. No âmbito do programa Serralves Fora de Portas, a estes trabalhos da coleção do museu portuense acrescentam-se obras últimas, como as da série Abraço (2006), com o marido, Artur Rosa, a surgir a seu lado, revelado num enquadramento cúmplice. Uma outra camada com significado familiar é trazida pela circunstância de esta exposição estar patente no museu dedicado ao pai da artista, o escultor Leopoldo de Almeida, em cujo atelier ela trabalhou até ao fim. Museu Leopoldo de Almeida – Centro de Artes > R. Ilídio Âmado > T. 262 840 540 > até 6 out, seg-sex 9h-12h30, 15h-18h > grátis 

15. O Tempo de Todas as Perguntas Évora 

O imenso arquivo de Alfredo Cunha tem-se desdobrado ultimamente em diversas exposições e livros, para sorte nossa. Inserida nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a exposição O Tempo de Todas as Perguntas revela 36 fotografias, algumas destas inéditas, focadas nas crianças à época da revolução de 1974. Há risos e lágrimas, travessuras, caretas e calções remendados, num retrato sentido do País, sempre permeado pelo humanismo e pelas inquietações sociais do fotógrafo português, que, aqui, teve curadoria da escritora Patrícia Reis. Fundação Eugénio de Almeida > Páteo de São Miguel > até 6 out, ter-dom 10h-13h/14h-19h > grátis 

16. Stirring the Pot Comporta 

Partindo do conceito do arroz, omnipresente em várias civilizações e nos arrozais vizinhos da Comporta, a historiadora de arte Nancy Dantas convocou cinco artistas contemporâneos para uma reflexão celebratória, social e geográfica a partir do humilde grão, antes guardado neste espaço. O resultado é uma paisagem multiculturalista de ecos rurais: a escultura aérea semelhante a poeiras do sul-americano Igshaan Adams e a peça de parede dramática que alude à História dos EUA do norte-americano Leonardo Drew são vizinhos das pinturas texturadas da brasileira Marina Rheingantz e do bando de pássaros realistas esculpidos pelo brasileiro Efrain Almeida – um dispositivo cenográfico que compete na atenção captada pelas enormes telas têxteis do baiano Alberto Pitta. Casa da Cultura da Comporta > R. do Secador, 8 > até 31 ago, ter-dom 11h-14h, 17h-20h > grátis 

17. MFA – Mostra de Fotografia e Autores de Faro Faro 

Foto: Bruno Saavedra

À segunda edição, a MFA apresenta 17 exposições sob os temas sustentabilidade e multiculturalidade. Agenda 2030 mostra 30 imagens de 19 fotógrafos, escolhidas entre mais de 250 pelos curadores António Pedrosa, Clara Azevedo, Valter Vinagre e Vasco Célio. A fotógrafa Pauliana Valente Pimentel revela um Dubai real em Empty Quarter; Despedido, de Valter Vinagre, retrata a destruição da Feira Popular, alvo da especulação imobiliária; Lucília Monteiro, fotojornalista da VISÃO, criou Imagem Foto Corpo Lugar, sobre o arquivo fotográfico de José de Sousa Monteiro, de 1950 a 1999. O projeto documental de Elisa Freitas, Na Hora da Verdade, Não Sabia como Lê-las, aborda a história de um casal durante a Guerra ColonialMas há mais: Joana Dionísio faz um luto familiar em And the Shape of Things Disappeared for a While; Helena Gonçalves traz fotografias encenadas em Raiz. O luso-brasileiro Bruno Saavedra capta a realidade das crianças de São Tomé e Príncipe em Para Não Dizerem que Não Falei das Folhas; a romena Alina Zaharia explora os temas da identidade e do perdão em A Fada do Salgueiro; a alemã Polly Hummel explora a simbologia corporal em Kuss den Frosch. Um Algarve cheio. Fábrica da Cerveja > R. do Castelo, 10 > até 31 ago, seg-sáb 18h-24h > grátis 

PORTO E NORTE 

18. Universo Dalí Vila Nova de Gaia  

Elefantes com pernas infinitas, romãs que xxx obras arrumadas: desenhos, esboços, pinturas, esculturas, assim como trabalhos comerciais e publicitários assinados por Dalí. Um núcleo importante é dedicado às fotografias captadas pelo fotógrafo francês Robert Descharnes entre 1955 e 1985, permitindo (re)ver o lado teatral e sempre em pose do artista espanhol. Museu Atkinson > WOW – World of Wine, R. do Choupelo, 132 > T. 22 012 1200 > até 31 out, seg-dom 10h-19h > €15 

19. Yayoi Kusama 1945-Hoje Porto

Foto: Lucília Monteiro

Oito décadas de trabalho reúnem-se na maior retrospetiva dedicada à prolífica japonesa de 95 anos: são mais de 160 obras permeadas pela cor, pelas geometrias que habitavam as alucinações da artista, pelo gesto vanguardista e pela biografia de Yayoi Kusama. A marcha psicadélica avança com os espelhos, abóboras, padrões de bolas, redes, tentáculos, ondas irradiantes – o caos organizado. Dividida em sete grandes temas – Autorretrato, Infinito, Acumulação, Conectividade Radical, Biocósmico, Morte e Força de Vida –, esta exposição incontornável inclui tanto os primeiros desenhos realizados enquanto adolescente japonesa a viver o trauma da II Guerra Mundial, como as obras monumentais recentes já criadas em plena Kusamania. Fundação de Serralves > R. Dom João de Castro, 210 > T. 22 615 6500 > até 29 set, ter-sex 10h-17h, sáb-dom 10h-20h > €20 (o bilhete dá acesso a todas as exposições no museu) 

20. Formas dos Futuros ao Redor  Porto 

Foto: Hendrik Zeitler

Resistir, revolucionar, repensar, imaginar são palavras de ordem associadas a Formas dos Futuros ao Redor. Curada por João Laia, a exposição adota uma “perspetiva queer expandida”, com a ambição de desafiar as “narrativas dominantes”. É uma reflexão que deseja ir além do debate identitário e configurar um futuro diferente para o qual contribuem artistas que, em comum, têm um não conformismo: Rodrigo Hernández, Maria Jerez, Kem, Sandra Mujinga, Luiz Roque, Outi Pieski, Ana Vaz, P. Staff, Osías Yanov e o projeto Nave Geo-Celestial de Joana da Conceição. Afrofuturismo, ficção científica, música eletrónica, luzes estroboscópicas, vídeos imersivos e paisagens sensoriais alinham-se para uma utopia alternativa. Galeria Municipal do Porto > R. de D. Manuel II, Jardins do Palácio de Cristal > T. 22 507 3305 > até 8 set, sex-dom 12h-20h, 10-15 set, ter-dom 10h-18h > grátis 

21. Para Ser Eterno Basta Ser Um Livro – Editorial e Design do Livro em Portugal no Século XX  Matosinhos 

José Bártolo e Jorge Silva tratam o livro como objeto de design, investigando a história editorial nacional e os autores, artistas e artesãos a ela associados: ou seja, editores, ilustradores, designers. A exposição, dividida em quatro temas – Explosões, Coleções, Temas e Anatomia de um Livro –, apresenta originais publicados, desenhos, maquetes, artes finais, documentos vários. Quem nunca comprou um livro por ser um belo objeto que atire a primeira bola de papel… Casa do Design > Edifício Paços do Concelho, R. de Alfredo Cunha > T. 22 939 2470 > até 27 out, ter-sex 10h-13h, 15h-18h, sáb-dom 15h-18h > grátis 

22. Cidade, Casa, Corpo – Os Mapas e a Linguagem  Matosinhos 

Foto: DR

Uma cartografia labiríntica construída pela arquiteta e desenhadora excelentíssima Ana Aragão e pelo mestre da efabulação humana e metafísica que é Gonçalo M. Tavares desdobra-se em 13 mapas com impacto visual e poético. São cidades imaginárias, ou até cidades invisíveis, para roubar o termo a Italo Calvino. Malhas urbanas onde cabem avenidas emocionais, becos de reminiscências, encontros fortuitos. Os escritos de Tavares dedicados a lugares como Manhattan, Moscovo ou Praga não roubam protagonismo às linhas intrincadas desenhadas, e vice-versa: cada um oferece um fio de Ariadne.  Casa da Arquitectura > Av. Menéres, 456 > T. 22 766 9300 > até 29 set, ter-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €10 

23. Obras Escondidas, Obras Escolhidas Bragança 

Graça Morais soma 50 anos de vida artística em 2024, data simbólica vivida pelo 25 de Abril, que ecoa a postura cívica da pintora, atenta aos solavancos humanistas do mundo. Recusando rótulos de mostra antológica ou de retrospetiva, a exposição apresenta cerca de 160 obras, incluindo um acervo de 80 pinturas retiradas da gaveta e vistas pela primeira vez em público. Contas feitas ao calendário, os trabalhos mais antigos datam de 1975, altura em que a artista lecionava Educação Visual em Guimarães, e os mais recentes, de 2023, habitados pela realidade dos conflitos e crises humanitárias testemunhados nos jornais lidos pela pintora transmontana, e usados como inspiração para a sua aparentemente inesgotável produtividade artística. Centro de Arte Contemporânea Graça Morais > R. Abílio Beça, 105 > T. 273 302 410 > até 26 jan, ter-dom 10h-18h30 > €2,39 

24. Fronteiras Braga  

Foto: DR

Exercitando um léxico pictórico reconhecível desde a década de 1980, Pedro Calapez mostra pinturas sobre alumínio ou sobre tijolo. São 23 obras selecionadas em 20 anos de produção generosa, incluindo alguns inéditos e peças que testam, ainda e sempre, as definições e os limites da escultura, do desenho e do apontamento arquitetónico. Juntou-se-lhes ainda um critério de aproximação à tradição industrial patente no espaço expositivo, para rematar Fronteiras. Zet Gallery > R. do Raio, 175 > T. 253 116 620 > até 21 set, seg-sáb 14h-19h > grátis 

25. Manu Braga 

Noora Mänty criou um comovente portefólio dos últimos anos de vida do seu avô, fragilizado pela doença mas atento aos rumores do mundo. A fotógrafa finlandesa radicada em Portugal captou rotinas e cenas domésticas em cores invernosas: o avô a ler, a tomar chá, a observar o mundo exterior pela janela aberta, a ser cuidado pela mulher. O equilíbrio “nórdico” e nostálgico deste registo documental é sobressaltado por cores, que denunciam a inexorável passagem do tempo: ramos de flores a murchar, uma figura solitária entre os roxos e amarelos da cozinha modesta. Galeria da Estação – Encontros da Imagem > Lg. da Estação, 40 > até 31 ago, ter-sáb 14h-18h > grátis 

26. PoPalolo Coimbra 

Foto: DR

Figura referencial da arte portuguesa do século XX, António Palolo (1946-2000) foi o que se poderia designar como um agente da arte pop em Portugal, trazendo aquilo a que o curador Miguel von Hafe Pérez chama “uma presença pictórica refrescante”, ou seja, um outro olhar sobre a criação, atento às questões da acessibilidade da arte, dos processos rápidos de produção e das influências urbanas. O pintor, autodidata, construiu um corpo de trabalho marcado pela geometria, pelo uso inteligente e arriscado da cor, pelo impacto visual das peças, por vezes pouco obedientes aos confinamentos da tela, antes aventurando-se em ângulos pelas paredes do white cube. É precisamente o seu legado mais devedor do movimento da pop que está patente no CAV, numa mostra ambiciosa que tardava, já que a última retrospetiva dedicada ao artista foi no distante ano de 1995. Percorrer o espaço do CAV por entre as vibrantes telas patentes é uma aventura feliz, uma redescoberta de Palolo, artista sem fronteiras. E há um remate final que contribui para a melhor contextualização do artista: o visionamento do filme Ver o Pensamento a Correr, realizado por Jorge Silva Melo em 1995. Um reencontro necessário. CAV – Centro de Artes Visuais > Pátio da Inquisição, 10 > T. 239 836 930 > até 15 set, ter-dom 14h-19h > grátis 

27.  Vamos para a Mesa! Coimbra  

Os rituais da comida, a sociabilidade trazida pelos refeitórios, a mesa de refeição como lugar de investigação de “dimensões societárias, políticas, culturais, sanitárias, económicas e sustentáveis da humanidade”, são conceitos que alimentaram a participação dos 11 artistas ligados à Galeria Underdogs nesta coletiva indoor. Vamos para a Mesa! conta com obras criadas especificamente para o espaço do antigo refeitório do Mosteiro de Santa Cruz por AkaCorleone, Cássio Markowski, Fidel Évora, HalfStudio, Julien Raffin, Marta Lapeña, Pitanga, Raquel Belli, Tamara Alves, Unidigrazz e Maria Imaginário. A ver com apetite. Sala da Cidade – Antigo Refeitório do Mosteiro de Santa Cruz > R. Olímpio Nicolau Rui Fernandes > T. 239 840754 / 239 857525 > até 26 out, ter-sáb 13h-18h > grátis 

Palavras-chave:

No próximo domingo, 1 de setembro, arranca o outono climatológico, período do ano marcado pelo regresso do frio e da precipitação, muitas vezes intensa, e que dura até 30 de novembro. Tendo em conta a climatologia de setembro, é normal haver uma alternância entre estados de tempo quentes e secos, e estados de tempo frescos ou frios, com chuva, trovoada e até mesmo queda de granizo”, explica Alfredo Graça, geógrafo e especialista do projeto de informação meteorológica Meteored, em comunicado.

Assim, segundo o modelo da Meteored, “as temperaturas estarão entre 1 e 3 ºC acima da média da estação em grande parte do território de Portugal continental e no arquipélago dos Açores, com anomalias mais moderadas no arquipélago da Madeira, litoral Oeste e Barlavento Algarvio, mas também em zonas do interior como o Alto Alentejo”, lê-se. Não obstante, são expectáveis algumas nuances do ponto de vista térmico na semana de 9 a 16 de setembro.

Já para outubro preveem-se temperaturas até 1 ºC acima da média em grande parte da geografia nacional, “mas também haverá exceções tais como o litoral Centro e Sul, desde Ílhavo até às terras do Barlavento Algarvio, dado que, de momento, para estes locais não são esperadas quaisquer anomalias”, refere. No arquipélago dos Açores está prevista uma anomalia térmica positiva de 1,5 ºC, enquanto no arquipélago da Madeira se perspetiva o mesmo que para o Continente.

Para novembro, vislumbra-se a continuidade da tendência de um tempo ligeiramente mais quente do que o normal, do mesmo modo que nos meses anteriores. “Esperam-se anomalias térmicas positivas suaves, entre 0,5 ºC e 1 ºC, em Portugal continental e na Região Autónoma da Madeira. Já para a Região Autónoma dos Açores estão previstas temperaturas até 1,5 ºC acima da média em todas as ilhas do arquipélago”, diz.

Precipitação

Segundo os mapas da Meteored, as primeiras duas semanas de setembro “reúnem o potencial para registar chuva acima dos valores médios da normal climatológica de referência em quase toda a geografia de Portugal continental”, analisa. Nos Açores perspetiva-se um setembro bastante húmido, exceto na primeira semana, e na Madeira espera-se que o mês seja geralmente mais seco do que o normal. Para a segunda quinzena de setembro não se vislumbram, de momento, anomalias significativas em nenhuma zona de Portugal continental ou arquipélago da Madeira.

Para o mês de outubro prevê-se a Região Norte ligeiramente mais chuvosa do que o normal, contrastando com zonas centrais e meridionais de Portugal continental “em que se vislumbram anomalias de precipitação negativas”. Na Região Autónoma da Madeira não se observam anomalias estatisticamente significativas e para os Açores as primeiras tendências para outubro revelam um tempo bastante chuvoso.

Novembro revela-se chuvoso, com “contrastes regionais pluviométricos, desta vez ainda mais pronunciados”. Para quase todas as regiões a norte da Serra da Estrela – exceto distrito da Guarda – há perspetiva de chuva em valores superiores à normal climatológica de referência. Porém, “a sul do rio Mondego, o cenário poderá ser drasticamente diferente, com precipitação ora enquadrada na média, ora inferior à média (Região de Leiria, Grande Lisboa, Península de Setúbal, Oeste e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve)”, explica.