Quando António Guterres foi eleito secretário-geral da ONU, os jornais espanhóis desfizeram-se em elogios, não apenas ao ungido novo homem forte das Nações Unidas, em Nova Iorque, mas também à eficácia da diplomacia portuguesa e, genericamente, à classe política nacional. Não foi a última vez que jornais como o El País se desdobraram em explicações sobre os motivos pelos quais os políticos espanhóis comparavam mal com os portugueses: durante a pandemia, a imprensa espanhola elucubrou extensamente sobre as diferenças entre o apparatchik político que liderava o Ministério da Saúde de Espanha e a homóloga Marta Temido, uma especialista conceituada, que liderava com galhardia o combate à pandemia, em Portugal, com resultados que, ao tempo, estavam longe de se verificar em Espanha. Entre os atributos reconhecidos por nuestros hermanos aos dirigentes portugueses, a extraordinária aptidão, jamais vista em Espanha, para falarem línguas estrangeiras. E Portugal dispunha de uma diplomacia profissional e estável, não dependente dos ciclos político-partidários, que remava para o mesmo lado quando se tratava de colocar um luso em lugares internacionais de influência. O El País destacava que Marcelo Rebelo de Sousa, em seis meses de mandato, já tinha apertado mais mãos de líderes mundiais do que o então presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, depois de cinco anos no poder.

Uma das características internacionalmente reconhecidas à diplomacia portuguesa voltou a emergir no processo que levou à mais do que provável indigitação de António Costa como presidente do Conselho Europeu (escrevíamos este texto na terça-feira à tarde, quando acabava de ser anunciado que essa nomeação estava mesmo garantida): a convergência de esforços, estranhos aos alinhamentos políticos internos, para alcançar um objetivo internacional. Com efeito, na própria noite eleitoral de 9 de junho, Luís Montenegro anunciou o apoio incondicional à candidatura de António Costa, o adversário político de ontem – e o Governo português parece ter movido todos os esforços para alcançar esse desiderato –, mesmo dando de barato que o mérito principal pertence ao ex-primeiro-ministro, que andou a trabalhar para isto durante anos. Tipicamente, António Costa declarou, pouco depois, que nem sequer lhe passaria pela cabeça aceitar o lugar se o Governo do seu país estivesse contra…

Mas este desfecho, que poderá ser confirmado entre hoje e amanhã, na decisiva reunião do Conselho, não está isento de escolhos. Em 2017, António Guterres, o homem do diálogo, parecia ser a figura certa no lugar certo para construir pontes e mudar o mundo. Sabemos o que aconteceu: a primeira coisa com que se deparou foi com Donald Trump na Casa Branca… António Costa surge para construir novas pontes entre os 27. Não foi debalde que conseguiu estabelecer, por exemplo, com o improvável Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro e expoente de um dos grupos europeus de extrema-direita, uma relação amistosa e até próxima, e mesmo que Orbán se tenha insurgido contra esta escolha, em voz alta, não deixarão de conversar, em voz baixa… Mas Costa aparece num momento em que está iminente a viragem de França à ainda mais temível extrema-direita de Marine Le Pen, cujo partido pode tomar a dianteira já na primeira volta das legislativas francesas, que ocorrem dois dias depois da indigitação de Costa. O ex-primeiro-ministro, conhecedor da legislação europeia, só por uma unha negra não conseguiu evitar o Brexit, depois de ter arquitetado, numa histórica maratona do Conselho, um pacote de medidas que, no limite da legalidade, podiam ter impedido a saída dos britânicos. Mas não impediram. E não será ele que irá desatar o nó da guerra na Ucrânia, o maior desafio enfrentado por um presidente do CE desde que, pelo Tratado de Lisboa, o lugar foi recriado, deixando de ser ocupado por um dos primeiros-ministros em exercício, e passando a sê-lo por uma personalidade a tempo inteiro.

Esta vitória de António Costa surge, ironicamente, depois de um parágrafo num comunicado da PGR quase ter acabado com a sua carreira política. Paradoxalmente, o Ministério Público fez-lhe o favor de o projetar para um lugar que aprecia muito mais do que o de primeiro-ministro de Portugal. Este epílogo não deixa de ser uma derrota de alguns atores do poder judiciário que, nos timings mais críticos, fizeram política, no sentido de o desviar do seu castelo.

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Palavras-chave:

Em Portugal, referendámos a despenalização da interrupção voluntária da gravidez em 2007. Passaram 17 anos e considera-se que este foi um dos passos mais importantes na promoção da liberdade de escolha e da saúde da mulher. Já nem sequer é um tema que queiramos discutir em praça pública – exceto quando entrevistadores continuam a questionar políticos sobre as suas convicções pessoais, como se isso fosse mudar alguma coisa na lei. Que não vai. Porque, embora haja forças conservadoras a desejarem palco, dificilmente Portugal voltará sequer a querer pensar no assunto – nisso somos bons: está resolvido, siga a viagem. E para aqueles que são contra a interrupção voluntária da gravidez (IVG), com toda a legitimidade que a democracia e a liberdade lhes conferem, também não há grande tema, porque ninguém obriga as pessoas a abortar.

Dito isto, olhemos para o que se passa do outro lado do Atlântico, onde uma nova discussão sobre a IVG levou – como não poderia deixar de ser – milhares de pessoas às ruas do Rio de Janeiro, neste domingo. Em resumo, o que aconteceu foi o seguinte: o Projeto de Lei 1904/24, que foi assinado por 33 deputados brasileiros, equipara o aborto realizado após as 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples. E isto passaria assim a ser válido até para os casos em que o procedimento já está previsto na lei, como numa gravidez decorrente de violação. A proposta, que está atualmente em análise na Câmara dos Deputados, altera o Código Penal Brasileiro, que atualmente não criminaliza o aborto em caso de violação nem prevê qualquer restrição de tempo de gestação para o procedimento nesse caso. No mesmo sentido, a lei brasileira admite a realização de uma IVG em caso de perigo de vida para a mãe e em caso de malformação grave do feto. Se o projeto de lei for aprovado pelos parlamentares, o aborto realizado após as 22 semanas de gestação será punido com pena de prisão efetiva, que pode ir de seis a 20 anos. Atualmente a lei brasileira prevê a prisão “de um a três anos para a mulher que aborta; a reclusão de um a quatro anos para o médico ou outra pessoa que provoque aborto com o consentimento da gestante; e reclusão de três a dez anos para quem provoque aborto sem o consentimento da gestante”, informa-nos o portal oficial da Câmara dos Deputados. Ora, isto significa que se aqueles 33 deputados levarem a sua avante, uma mulher que recorre à IVG pode incorrer numa pena semelhante à prevista em casos de homicídio simples. E superior à prevista em caso de violação – fascinante, não é? Portanto, se uma mulher brasileira for violada, e se uma gravidez resultar desse crime, ela pode ir para a prisão durante mais tempo do que o criminoso que a violou, no caso de não querer seguir com a gestação.

Quando li as primeiras notícias sobre o assunto, achei, claramente, que não estava a compreender o que se discutia naquele órgão legislativo. Porque não me parece possível que em pleno século XXI continuemos a proteger criminosos, colocando as mulheres em lugares de ainda maior vulnerabilidade. A bandeira “pró-vida” tem servido para muita maluquice, mas não pode continuar a proteger quem só defende determinadas vidas. E continuar a vitimizar as mulheres num retrocesso brutal do que seria a sua dignidade. Eu não quero acreditar que uma coisa deste género pudesse acontecer em Portugal. Mas a verdade é que também não diria que ia acontecer no Brasil, e aqui estamos. No ano da graça de 2024. Se isto não é uma distopia total, não sei o que lhe chamar.

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O presidente da Fundação JMJ, D. Américo Aguiar, entrega ao final desta manhã o Relatório e Contas relativo à atividade da organização a Manuel Castro Almeida, Ministro Adjunto e da Coesão Territorial. As contas, auditadas pela Deloitte, revelam um resultado líquido positivo de €35 milhões no acumulado dos dois anos de atividade.

Recorde-se que, inicialmente, a Fundação estimava lucrar €20 milhões com a atividade. Os €35 milhões serão entretanto aplicados no desenvolvimento de projetos de apoio a jovens, especialmente nos concelhos de Lisboa e Loures, segundo revelou o presidente da instituição em conferência de imprensa na altura em que as contas foram tornadas públicas, no final de maio.

Na ocasião, o prelado afirmou ainda que o bom se resultado deveu ao número de inscritos na JMJ, que na reta final ultrapassou as expectativas – mais de 400 mil – bem como ao apoio do Estado, das empresas e particulares, incluindo o voluntariado, e também a “uma gestão austera”. Este deverá ser o último ato oficial de D. Américo Aguiar enquanto presidente da Fundação JMJ, uma vez que o cargo vai ser assumido pelo agora bispo auxiliar de Lisboa D. Alexandre Palma. O anúncio da sucessão foi feito no mês passado.

Antes das Jornadas Mundiais da Juventude, que aconteceram no ano passado em Lisboa, um estudo encomendado pela Fundação da JMJ à PwC e ao ISEG concluía que o impacto podia aproximar-se dos 500 milhões de euros. Quando questionado pela EXAME, no início deste ano, sobre quando o impacto global da iniciativa poderia ser conhecido, João Duque, que coordenou esse estudo, referiu que precisava de ter disponíveis as contas da Fundação, devidamente fechadas e auditadas.

Numa análise publicada em janeiro de 2024, a EXAME dava conta da disparidade dos dados disponíveis, e da dificuldade de encontrar o impacto esperado nos números da Economia. Com o Relatório e Contas fechado e tornado público há cerca de um mês e, a partir de hoje nas mãos do Executivo, é hora de dar resposta à questão que mais vezes foi feita durante a preparação da JMJ: “Pode um dos momentos mais marcantes de 2023 ter alcançado apenas ganhos simbólicos?”

O novo passadiço do Barranco do Demo, em Alferce, a nove quilómetros do centro de Monchique, fica quase à beira da estrada. Partindo junto ao cemitério, basta uma curta caminhada, sem dificuldade, até ao piso de madeira que liga as duas encostas do vale tectónico, profundo e com escarpas íngremes.

Inaugurada em outubro de 2023, a estrutura está muito bem integrada na paisagem, sem agredir nem a Natureza nem a vista. Para apreciarmos a beleza serrana temos de percorrer um quilómetro com mais de 500 degraus em diversas escadarias. Mas ninguém se assuste – é fácil, sem precisar de preparação física.

O ponto alto da travessia acontece ao chegar-se à ponte suspensa, 50 metros de comprimento estendidos a 20 metros acima do chão. E o som da água do riacho como banda sonora do passeio. Monchique é conhecida pelas propriedades da sua água: com um ph de 9,5, é a mais alcalina de Portugal e uma das mais alcalinas do mundo.

Nesta passagem segura, que inspira confiança até nos menos afoitos, passam cinco pessoas de cada vez e a maioria posa para a fotografia.

Esta é uma serra privilegiada com dois picos distintos: a Picota, a 774 metros, e a Foia, mais ocidental, a 902 metros de altitude acima do nível do mar. Dali, em dias de céu limpo, consegue-se ver desde o cabo de São Vicente até à serra da Arrábida.

Rica em trilhos pedestres e estradas acessíveis, por aqui cruzam-se caminhantes de várias nacionalidades, alguns com cães, outros famílias inteiras.

Estão sinalizadas três rotas circulares, que não vão além dos oito quilómetros, e duas ligações lineares à Via Algarviana. O Percurso das Hortas anda à volta da vila termal, por entre hortas, bosques e pomares; Pelos Caminhos de Alferce passa por vales, riachos, campos agrícolas e uma calçada medieval, e Entre o Vale e o Castelo islâmico de Alferce, um percurso montanhoso “com vistas soberbas dos cumes”, que se vai cruzar com o novo passadiço. Nas ruínas do castelo, abandonadas após a conquista cristã, mas que permanecem inalteradas, nascerá em breve um centro interpretativo.

As duas ligações à Via Algarviana fazem-se entre Monchique e Alferce, precisamente por caminhos centenários e um trilho florestal que permite um desvio até à Picota.

— DORMIR

Pure Monchique Hotel
> Villa Termal das Caldas de Monchique Spa Resort > T. 282 910 910 > a partir €95

— COMER

O Luar da Foia
Estr. Foia, Ceiceira > T. 282 911 149

A Charrete
R. Dr. Samora Gil, 30-34 > T. 282 912 142

A Tasca do Petrol
Corgo do Vale, Marmelete > T. 282 955 117

— Explorar
Destilaria de Medronho Monte da Lameira > Tv. da Portela, 15, Lameira > T. 96 270 2039

Parque da Mina > Vale de Boi > T. 96 207 9408

Palavras-chave:

Seja num veleiro de 17 metros, construído na Holanda em 1913, seja numa embarcação solar, silenciosa e amiga do ambiente, ou numa lancha rápida, nestes passeios de barco há muito para descobrir. As aldeias e vilas ribeirinhas do Alqueva – de Juromenha, a norte, ao paredão da barragem, a sul –, a fauna e flora dos canais do Parque Natural da Ria Formosa, os recantos escondidos nas margens selvagens do rio Guadiana, inacessíveis de outra maneira, e as águas da barragem de Santa Clara, onde ainda se pesca. O que se revela aos nossos olhos são paisagens únicas, apenas visíveis se vestirmos a pele de marinheiros, por um dia ou por um par de horas.

Pata Larga
O passeio começa de buggy, pela zona exterior da fortaleza da Juromenha, vila ribeirinha do Alqueva. A volta de barco pode levar uma hora ou o dia inteiro, se formos até Monsaraz, mas, qualquer que seja a duração, é certo que, no caminho, nos cruzaremos com corvos-marinhos e outras aves na beleza natural das encostas. Termine-se com um almoço ou petisco no restaurante Pata Larga, uma das variantes destes passeios. Joaquim Pedro Siquenique – Passeios de Barco > Cais Fluvial da Juromenha > T. 96 296 4065 > a partir de €10

Sem-Fim
A bordo do Sem-Fim, veleiro de 17 metros, construído na Holanda em 1913, sob os comandos de Tiago Kalisvaart, visita-se a ilha Dourada, com direito a piquenique e mergulho no meio do Alqueva (optando pelo iate Glória, pernoita-se na água com vista para o castelo de Monsaraz). Para quem gosta de adrenalina, sugere-se o Zagolina, barco rápido que vai até à aldeia da Luz ou mais longe. Centro Náutico de Monsaraz, Praia fluvial de Monsaraz > T. 96 166 7584 > a partir de €10/pessoa

Alqueva Tours
O casal Humberto Nixon e Maria Manuela são dos primeiros operadores turísticos do Alqueva. Têm três barcos, todos preparados para receber pessoas com mobilidade reduzida. Entre os 30 minutos do Flash Alqueva, e a hora e meia do Pôr do Sol com Antão Vaz, são várias as opções de viagem. Estação Náutica Moura-Alqueva (junto ao paredão da barragem de Alqueva) > T. 91 897 3494 > a partir de €7,50/pessoa

Beira-Rio Náutica
Dos vários passeios disponíveis, ao longo do Parque Natural do Vale do Guadiana até Alcoutim, há dois que se destacam. O percurso ribeirinho desvenda a vila alentejana de Mértola, a ponte romana e as azenhas do Guadiana, já o percurso mais longo termina no Pomarão, a aldeia piscatória que se estende pela encosta. R. Dr. Afonso Costa, 108, Mértola > T. 91 340 2033 > a partir de €7,50/pessoa

Bass Catch
Na barragem de Santa Clara, em Odemira, a Bass Catch faz passeios de barco, com ou sem almoço, e ainda tours para pesca de achigã ou de carpa. Centro Náutico da Barragem de Santa Clara, Santa Clara-a-Velha, Odemira > T. 96 355 3829 > a partir de €150 (pesca, 1 pessoa), €100 (passeio, 2 pessoas)

Solar Moves
Nestes barcos, movidos a energia solar, tanto se descobre Tavira e as vilas piscatórias como a natureza da ria Formosa. A passagem por Cacela Velha só é possível nestas embarcações que, por serem silenciosas e ecológicas, têm permissão para navegar os canais de acesso restrito. Um mergulho no mar e uma degustação de ostras podem também fazer parte da viagem. Cais de Cabanas e Cais de Tavira > T. 92 436 9172 > a partir de €45/pessoa

Animaris
O Eco Tour é um dos passeios que realiza no Parque Natural da Ria Formosa. Uma viagem à descoberta do património natural que leva os visitantes até à ilha Deserta, em Faro, guiados por um biólogo marinho que fala da biodiversidade, atividades locais, da flora e da fauna. Cais da Porta Nova, R. Comandante Francisco Manuel, Faro > T. 91 877 9155 > €35/pessoa

Palavras-chave:

“Será que vale a pena o desvio?”, questionámo-nos enquanto nos dirigíamos a Algoz e após a bióloga Sónia Soares, 41 anos, nos ter dito que a sua floresta tinha apenas cem metros quadrados. Depois de vermos a forma como trata destas plantas e de conhecermos a filosofia de base, demos a viagem por compensada.

Sónia instalou esta minifloresta, baseada no método japonês que leva o nome do seu fundador, Miyawaki, no terreno dos sogros, pois estava muito preocupada com a destruição da Natureza, com um futuro saudável e com o acesso a recursos naturais. Criou então o projeto Floresta Nativa, no Barreiro, onde vive e dá aulas, e lançou-se, em 2022, na plantação deste pedaço no Algarve. “Esta é uma mensagem de consciencialização. Faço consultoria para ajudar outros a fazerem o mesmo.”

E o mesmo parece básico, mas não é. “Os princípios são os de só plantar espécies nativas, que são as mais bem-adaptadas, plantar em densidade, pois elas interajudam-se e a competição é vista como algo positivo”, explica Sónia, mostrando que tem aqui cerca de 30 variedades de todos os estratos. O método garante 97% de taxas de sobrevivência e o crescimento pode ser até dez vezes mais rápido do que uma monocultura – está testado em todo o mundo.

No fundo, é olhar para o que se fazia antes da intervenção do Homem, deixando a cargo da Natureza a maioria dos procedimentos. 

Palavras-chave:

A ventania arruína qualquer plano para uma ida à praia, por isso torna-se mais fácil de conhecer um dos novos percursos circulares que tocam a Via Algarviana, um caminho que cruza o Algarve de ponta a ponta, pelo interior, numa extensão que ultrapassa os 300 quilómetros. Mesmo assim, o sol é um inimigo sempre presente, pois não se encontram muitas sombras por aqui.

Nada que assuste um grupo de estrangeiros que acaba de chegar do Norte da Europa, nem tão-pouco duas amigas francesas com quem nos cruzamos no meio deste Algarve tão distinto do que é vendido nas agências de viagens, mas tão, mas tão, mais genuíno.

Foi há 15 anos que a associação Almargem criou este enorme trilho, numa tentativa de desviar o interesse do sol, da praia e do golfe, para o barrocal algarvio, completamente esquecido naquela época. A aposta está ganha, à boleia do interesse crescente de um certo público por descobrir o País em modo caminhada. E, para assinalar a data, a associação decidiu inaugurar quatro percursos ao longo da região.

Pedimos ajuda aos arqueólogos Jorge Correia e Carlos Oliveira, da Câmara Municipal de Silves, e fomos conhecer o troço que dá pelo nome de Passos do Património, com uma extensão de 16,3 quilómetros, parte deles percorrendo o património megalítico da zona de Vale Fuzeiros, numa paisagem marcada pela cor intensa do grés de Silves, que na verdade é um arenito.

Se o tivéssemos feito na totalidade, teríamos demorado mais de cinco horas, porque o terreno é acidentado, com muitos pedregulhos e várias subidas a pique (máximo de 215 metros), em que os glúteos são convocados para ajudar a vencê-las. Há algumas batotas que se podem fazer para aligeirar a caminhada, pois o percurso é em forma de oito e rapidamente, sendo essa a vontade, fica reduzido a metade.

Uma minissepultura

Quando paramos junto a um dos quatro menires que se encontram neste percurso, todos alinhados, e rasgamos o olhar num raio de 360 graus, deparamo-nos com a serra de Monchique, de um lado, e o Castelo de Silves lá no alto. Portimão fica para trás das costas, que nem vale a pena apreciá-la, mesmo que seja ao longe. Preferimos ficar neste sossego.

Esta zona, e mais uma área que integra ainda os concelhos de Albufeira e Loulé, faz parte do território do aspirante a geoparque Algarvensis, com candidatura posta na UNESCO desde 2019. Pode imaginar-se assim a riqueza do Algarve em que nos encontramos.

Ao cruzar este percurso circular da Via Algarviana descobrem-se achados arqueológicos surpreendentes

“O menir da Vilarinha tem decorações que datam da Idade do Ferro, mas depois cada cultura continuou a usá-lo, adicionando elementos aos já preexistentes”, explica Jorge Correia, em pleno percurso, sendo parado consecutivamente pelo seu entusiasmo. Conta ainda que, muito de vez em quando, a Câmara organiza passeios noturnos, em noites de lua cheia, para se conhecerem estes monumentos arqueológicos, porque é a hora em que são melhor apreciados, com a ajuda de iluminação artificial de baixo para cima.

Neste caminho, também existem várias sepulturas que, com a ajuda dos arqueólogos, se tornam mais fáceis de interpretar. Sabe-se hoje que tal estaria reservado a famílias mais abastadas, pois era preciso ter poder para contratar alguém que se dedicasse a esculpir um túmulo.

Estas que por aqui se encontram datam da alta Idade Média, da altura em que se desagregou o Império Romano. “Foram esculpidas na rocha, normalmente orientadas de norte para sul e aproveitando a inclinação da pedra. Estas encontraram-se sem cadáveres nem laje.”

Mais à frente, seguindo a seta que indica Necrópole, vamos dar junto a uma sepultura de criança, facto que se nota bem pelo tamanho da cova – “a única do Algarve, até agora.”

O resto do percurso é mais urbano, passando mesmo por dentro de algumas aldeias como a Amorosa. E a barragem do Funcho e do Arade ficam por perto. Boas razões para se desviar do caminho, continuando imergido na natureza.

Fato de banho, toalha e protetor solar serão o suficiente para umas horas bem passadas, entre banhos de sol e braçadas no oceano. Chapéu de sol, livro, farnel, balde e pá para um dia com crianças e mais atividade à beira-mar. Uma vintena de sugestões com passadiços até ao areal, bares de apoio com bons petiscos, dunas e pinhais, escadarias íngremes, falésias escarpadas e paisagens de cortar a respiração.

Grândola

Brejos da Carregueira
Situada entre a Comporta e o Carvalhal, a aldeia dos Brejos da Carregueira também tem praia. Um areal quase deserto, vendo-se ao longe a silhueta da serra da Arrábida e o imenso areal que se prolonga para sul, até Sines.
Ideal para: natureza

Santiago do Cacém

Fonte do Cortiço, Areias Brancas ou Vacaria
Uma das mais belas praias da região. A exemplo da vizinha Praia do Monte Velho, também daqui partem alguns percursos pedestres, que atravessam as dunas e o pinhal até à vizinha lagoa da Sancha. Na via rápida que liga Santo André a Sines, seguir as indicações para Fonte do Cortiço e Areias Brancas.
Ideal para: natureza, amigos

Sines

Foz
Quem passa de carro, decerto não imagina que ali se esconde um dos mais belos recantos desta costa. Pequena e pouco conhecida, fica na foz de um curso de água e uma enorme rocha, mesmo em frente à praia, abriga-a do mar. O acesso faz-se por um caminho de terra que sai da estrada municipal que liga Porto Covo a São Torpes, para quem vai no sentido norte-sul.
Ideal para: natureza, amigos, surf

Odemira

Aivados
Popular entre pescadores à linha e surfistas, esta bela praia de areia e pedra rolada serve de fronteira entre a zona mais rochosa de Porto Covo, a norte, e o extenso areal do Malhão, que se estende para sul, quase até Vila Nova de Milfontes, numa sucessão de praias muito pouco concorridas, mesmo durante a época alta.
Ideal para: natureza, surf  

Malhão
Com bons acessos, estacionamento e um grande areal, é uma das mais procuradas durante o verão. Fica limitada, a sul, por uma alta falésia, e, a norte, por três rochas conhecidas localmente como galés. Caminhando um pouco para norte, o areal começa a ficar cada vez menos concorrido, ao longo de uma sucessão de praias com nomes tão sugestivos como Nascedios, Saltinho ou Cruz.
Ideal para: famílias, amigos

Brejo Largo
Para chegar a uma das mais belas e desconhecidas praias do litoral alentejano, o caminho é simples, mas só para quem conhece. A praia, ou as várias praias que a formam, estende-se para sul quase até à vila de Almograve. Com uma extensão próxima dos três quilómetros, esconde sob as suas arribas paisagens para todos os gostos: do largo areal a norte às pequenas e abrigadas enseadas a sul, onde, mesmo no pino do verão, se consegue estender a toalha.
Ideal para: natureza

Aljezur 

Monte Clérigo
O tosco casario encavalitado na falésia dá um toque de postal ilustrado a este que terá sido outrora um importante centro piscatório. Situada num vale associado a uma linha de água efémera, é delimitada, a norte, por uma alta escarpa que a separa da vizinha Praia da Amoreira, prolongando-se depois para sul num extenso e largo areal, terminando numa zona rochosa em forma de anfiteatro.
Ideal para: famílias, amigos

Arrifana
Fica no fundo de uma elevada enseada, protegida por altas escarpas, com o casario a descer pela encosta, quase até ao mar. Na falésia a norte, junto às ruínas do velho forte, é possível apreciar uma das melhores vistas de toda a Costa Vicentina. Muito concorrida durante o verão e frequentada por surfistas durante quase todo o ano, tem como único senão a inclinação da rampa de acesso ao areal.
Ideal para: amigos, surf

Amado
O caminho mais bonito, para se chegar à praia, é pela estrada de terra paralela ao mar, que percorre a costa desde a Carrapateira. Entre os diversos locais de interesse, destacam-se o pesqueiro da Zimbreirinha, com as suas toscas casas de cana, onde os pescadores guardam os seus instrumentos de trabalho, ou as ruínas de um povoado islâmico do século XII, na Ponta do Castelo, de onde já se avista a Praia do Amado.
Ideal para: amigos, famílias, surf

Vila do Bispo
Cordoama
Durante a maré baixa, o seu extenso areal fica ligado ao Castelejo, a sul, e à Barriga, a norte. Durante anos, foi uma praia quase selvagem, mas tornou-se um aprazível espaço balnear, muito procurado não só por surfistas mas também por famílias e grupos de amigos. O acesso faz-se através de um caminho alcatroado que parte, rumo a norte, desde a estrada para o Castelejo.
Ideal para: surf, amigos

Murração
A praia só se deixa ver mesmo no final da estrada, após uma última curva em cotovelo, antes de mais uma descida a pique pela encosta. A visão, deslumbrante, é uma merecida recompensa. O areal, em forma de ferradura, estende-se pelo vale, desde a beira-mar até ao leito de um curso de água, que ali desagua no inverno. É limitada, a sul, por uma enorme rocha, enquanto a norte, a falésia, mais rasa, permite caminhar junto ao mar.
Ideal para: natureza

Ingrina
Esta pequena baía de águas calmas é do feitio de uma concha, onde se forma uma extensa piscina natural durante a maré baixa, à qual é impossível resistir. No topo da suave encosta, a esplanada do restaurante Sebastião convida a ficar mais um pouco, depois de um dia de sol e mergulhos. Nos arredores há diversos monumentos megalíticos, também eles merecedores de uma visita mais atenta.
Ideal para: famílias, amigos

Lagos
Barranco Martinho
A Ponta da Piedade é um monumento natural, composto por várias formações rochosas, entre grutas e falésias, que nalguns locais chegam aos 30 metros de altura. Ali se escondem algumas praias, a maior parte apenas acessível de barco e a do Barranco Martinho bate com grande distância toda a concorrência. Outro modo de lá chegar é a pé, por um carreiro que percorre a falésia, desde o Farol da Ponta da Piedade, e depois por uma inclinada vereda que termina no areal.
Ideal Para: Natureza

Foto: Luis Quinta

Portimão
Vau e Alemão
Na ponta oeste do Vau, a zona conhecida como Praia do Alemão é uma boa alternativa às sempre muito concorridas praias vizinhas. Protegida por altas falésias, as rochas espalhadas pelo areal fazem sombras aproveitadas pelos banhistas nos dias mais quentes. Durante a maré baixa é possível aceder, para poente, até à zona da Ponta de João d’Arens.
Ideal para: amigos, famílias

Lagoa
Vale de Centianes
Ladeada por amplas e abruptas falésias de cor dourada, é banhada por águas calmas, que convidam a um refrescante mergulho. Um cenário de sonho que pode contemplar-se da esplanada sobre a praia ou percorrendo o trilho pedestre dos Sete Vales Suspensos, cerca de seis quilómetros até à vizinha Praia da Marinha.
Ideal para: amigos

Albufeira
Falésia
Uma das mais conhecidas praias do concelho de Albufeira, é também das poucas que, devido à enorme extensão, conseguiu manter quase intacta a sua beleza natural, onde se destacam as altas arribas alaranjadas. Prolonga-se por cerca de dez quilómetros, desde a zona dos Olhos de Água até Vilamoura, com espaços para todo o tipo de banhistas.
Ideal para: famílias, natureza

Loulé
Almargem e Cavalo Preto
Junto à lagoa da foz do Almargem, uma zona húmida protegida onde nidificam diversas espécies de aves, é uma praia de grande beleza natural, rodeada de uma enorme floresta de pinheiro-manso. Na margem leste da lagoa fica a praia conhecida como a do Cavalo Preto que, ao contrário da vizinha Almargem, não tem qualquer apoio balnear, sendo, por isso, menos concorrida e frequentada por praticantes de naturismo.
Ideal para: natureza, amigos

Faro
Culatra
Além do enorme areal, esta ilha-barreira da ria Formosa é também conhecida pela popular vila piscatória que lhe dá o nome. A pesca e a cultura de bivalves são, ainda hoje, a principal ocupação desta comunidade, como é visível nas redes espalhadas pela praia ou nas muitas embarcações fundeadas na ria. O acesso é feito por barco, desde Olhão.
Ideal para: famílias, amigos, natureza

Tavira
Terra Estreita
Fica situada a meio da ilha-barreira de Tavira, no preciso local onde “a terra se estreita” e o acesso é apenas possível de barco – existem carreiras regulares a partir de Santa Luzia. É evidente a beleza natural, e para quem pretender um pouco de paz, basta caminhar algumas centenas de metros para ficar sozinho.
Ideal para: famílias, amigos, natureza

Vila Real de Santo António
Cacela Velha ou Fábrica
Quando a maré está baixa, é a pé que se faz a travessia para a praia. Com a maré cheia, o acesso é só possível de barco, em pequenos botes a motor que transportam os banhistas para a praia, à medida que estes vão chegando junto ao casario do Sítio da Fábrica. Devido ao seu isolamento e à sua extensão, é uma excelente alternativa às enchentes que caracterizam a maioria das praias da região.
Ideal para: famílias, amigos, natureza

Palavras-chave:

Algumas destas sugestões ficam muito perto da costa, onde a vista sobre os areais e o Atlântico também conta na hora de escolher. Outras estão no interior sul, em ambiente mais quente e serrano.

Uma coisa é certa: a comida recomenda-se, pois férias sem bons repastos não ficam completas. Peixe fresco, do melhor do mundo, marisco guloso, tachos de arrozes e massinhas, cataplanas e boas carnes grelhadas. De preferência para partilhar com familiares e amigos, porque a companhia ajuda a dias de descanso bem passados.

Melides

O Fadista
Neste café snack-bar no largo do centro de Melides, a cerca de dez minutos de carro da Praia da Aberta Nova, servem comida caseira, em ambiente simples e rústico. Arroz de camarão com amêijoas, massinha de peixe ou de sapateira, bom porco preto grelhado e petiscos, como choco frito e saladas de polvo, ovas e bacalhau são escolhas certeiras.
R. Nova, 13 > T. 269 907 411

Sines

O Bejinha
Sardinhas frescas, com a pele crocante e o sal no ponto certo, servidas à discrição, com preço fixo. No antigo snack-bar de apoio à Docapesca ainda provámos barriga de atum, lulinhas com cebola e garoupa temperada com alho, tudo vendido ao quilo. Convém avisar que o Bejinha só serve almoços (seg-sáb 12h-15h30) e não aceita reservas. A fila de espera começa ainda antes do meio-dia.
Docapesca > T. 91 504 8904

Avis

Tasca do Montinho
A cinco quilómetros de Avis, no Alcôrrego, a Tasca do Montinho serve comida tradicional alentejana, dos torresmos bem fritinhos à sopa de tomate com ovo escalfado, costeletas de borrego fritas, carnes de porco preto grelhadas, migas e pratos de caça, por encomenda.
R. do Comércio, 1, Alcôrrego > T. 242 412 954

Portalegre

Solar do Forcado
Um clássico com mais de 35 anos, à beira da muralha, no centro de Portalegre. Com a ementa centrada nas carnes, é impossível resistir ao lacão assado no forno com arroz de trompetas negras e à espetada de touro bravo, uma carne maturada durante dez a 12 dias. O pudim de mel e azeite e o fartes (do Convento de Santa Clara, com ovos, amêndoas e gila) são quase um pecado.
R. Cândido dos Reis, 14 > T. 245 330 866

Évora

Moinho do Cu Torto
Restaurante aberto há mais de 25 anos no bairro de Nossa Senhora do Carmo, cujo nome deriva da alcunha do antigo moleiro. As várias ardósias pretas repetem a ementa simples e regional: sopa de tomate com enchidos fritos ou com bacalhau, ambas com ovo escalfado, pezinhos de coentrada, açorda de bacalhau, feijoada e migas de espargos.
R. de Santo André, 2A > T. 266 771 060

Mourão

Adega Velha
A taberna de Joaquim Bação tem agora os filhos, Pedro e Ricardo, à frente do negócio. Da cozinha saem cozido de grão, sopa de cação, costelinhas de borrego fritas ou ensopado do mesmo. Do lado de fora, há um pequeno balcão e pipas para se pousar a bebida e o petisco, lá dentro, mantêm-se as talhas, os rádios antigos e o balcão em que a clientela espera pelo despique de cante alentejano.
R. Dr. Joaquim de Vasconcelos Gusmão, 13 > T. 266 586 443

Vila de Frades

País das Uvas
Neste restaurante faz-se vinho da talha engarrafado com a etiqueta Honrado, o apelido dos donos da casa. As refeições decorrem em várias salas, a da entrada tem as antigas talhas mouriscas, mas há uma interior, mais recatada. À mesa chegam torresmos acabados de fritar, silarcas assadas ou com ovos mexidos, feijão com carrasquinhas ou cardos, cozido de grão e ensopado de borrego.
R. General Humberto Delgado, 19 > T. 284 441 023

Foto: Luis Barra

Longueira

O Josué
Na Longueira, perto de Almograve, aconselha-se uma paragem a quem aprecia o bom marisco, especialmente percebes, navalheiras, amêijoas à Bulhão Pato, santola e lavagante. O peixe do dia grelhado, como sargo e robalo, também é uma aposta certeira.
R. José António Gonçalves, 87 > T. 283 647 119

Zambujeira do Mar

O Sacas
Neste restaurante, a caminho da lota e em cima de uma falésia, não faltam os petiscos para dar início à refeição, que pode (e deve!) prosseguir com ensopado de choco, feijoada de búzios, raia de coentrada e filetes de peixe-aranha com migas alentejanas.
Entrada da Barca > T. 283 961 151

Aljezur

Cervejaria Mar
Especializada em mariscadas e arrozes (de marisco, tamboril, robalo ou lingueirão), esta cervejaria serve ainda petiscos, como percebes apanhados na zona e cozidos em água do mar, salada de polvo e pica-pau.
R. da Escola, 13 > T. 92 793 5418

Sagres

Mar à Vista
Canja de peixe-galo, cataplana de tamboril e lulas recheadas à moda da avó são algumas das especialidades desta casa, situada no alto da Praia da Mareta.
R. Comandante Matoso, 75 > T. 282 624 247

Lagos

Escondidinho
O rodízio de sardinhas e carapaus não inclui salada nem batata cozida. Mas não é por causa disso que os comensais deixam de registar, nas paredes brancas da esplanada, os seus recordes: os amigos Catarina, Amadeu, Carla, Telma e Nuno devoraram 99 sardinhas.
Beco do Cemitério, 2 > T. 282 760 386

Estômbar

O Charneco
A casa funciona com um menu de degustação com cinco petiscos e dois pratos, a bom preço, de sabores e produtos algarvios. Na tábua de entradas há muxama de atum com amêndoas, cenouras temperadas, assadura tradicional e outras iguarias, os petiscos fazem-se de moreia frita, pataniscas de raia ou cavalas alimadas, mas deixe-se espaço para o arroz de tamboril, um dos pratos principais.
R. Joaquim Manuel Charneco, 3 > T. 282 431 113

Albufeira

Veneza
A cozinha é simples, tem bons produtos, agrada sempre. Nos pratos principais destacam-se, entre outros, a cataplana de lombinhos com amêijoas, o cachaço de porco preto no forno com batatinhas, as bochechas estufadas, o cozido com grão, gostoso e rescendente, como o alentejano, mas mais leve. Doçaria regional como, por exemplo, morgado de amêndoa, tartes de figo e de alfarroba e D. Rodrigo.
Mem Moniz, Paderne > T. 289 367 129

Quarteira

Tico Tico
Fica no calçadão junto à praia de Quarteira e tem vista sobre o mar, salas amplas e luminosas e esplanada. Na carta, destaque para os mariscos frescos e variados, como sapateiras, lagostas, ostras, conquilhas e berbigões, mas também para os petiscos, dos carapaus alimados e da salada de polvo às ovas de choco ou ao xerém de conquilhas e camarão.
Av. Infante de Sagres, Ed. Elegante, Bloco C >T. 289 313 126

Fuseta

Iguarias da Vila
Se há iguaria bem tratada neste estabelecimento perto da Praia da Fuseta Ria, ela é o polvo, servido assado, com batata-doce e morcela. Uma combinação feita no céu. O risotto cremoso de camarão-tigre, o xerém com robalo, o peixe fresco e as carnes maturadas são de comer rezando.
Pç. da República, 8 > T. 289 033 909

Tavira

Marisqueira Fialho
À Marisqueira Fialho, em Luz de Tavira, vai-se para comer, entre muitas outras iguarias, o melhor arroz de lingueirão. É servido em doses avantajadas, em tacho de barro. Comem três à vontade e até pode chegar para mais, se antes vierem umas amêijoas grandes e gordas e, também para comer à mão, uma dose de peixe-rei frito. Tudo isto com uma vista privilegiada da ria Formosa.
Estr. Municipal 1339, 1090E, Luz de Tavira > T. 281 961 222

A Casa
N’A Casa há sempre lugar para mais um. Em Santa Luzia, por ser a capital do polvo, há salada e rissóis do mesmo, polvo na sua versão à galega, abafado (estufado), à lagareiro, em filetes ou na feijoada. O Algarve vem para a mesa na muxama e na estupeta de atum.
Av. Eng.º Duarte Pacheco, 78, Santa Luzia > T. 281 381 517, 96 508 4207

Vila Nova de Cacela

Casa de Pasto Fernanda & Campinas
De passagem, este restaurante situado à beira da estrada, com esplanada e sala interior, é uma surpresa. Para a mesa vêm boa carne grelhada e receitas regionais como açorda de galinha, arroz de cabidela na caçarola e cabrito assado no forno.
Corte António Martins > T. 281 951 770

Vila Real de Santo António

Cantarinha do Guadiana
Antiga casa de pasto de Alcoutim, em 2019 desceu à cidade ribeirinha para se instalar junto à paragem dos expressos. Da cozinha continuam a sair ensopado de enguias, javali no barro, coentrada de cação, filetes de peixe-galo com açorda de camarão, arroz de berbigão e pataniscas de polvo. Tudo servido com boa disposição familiar.
Av. da República, lj. 4 > T. 281 547 196

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Em garota, Conceição Gonçalves via o pai, pescador de ouriços-do-mar, transportar no seu barco os agricultores que vinham a banhos com os seus animais. Até 1978, não existia ponte em Vila Nova de Milfontes e esse percurso no rio Mira era imprescindível para a população.

A menina São ajudava o pai e acartava sacas de ouriços, que iam diretos para uma assada com todos à volta da fogueira. Outros tempos.

O rio, o Mira, continua o mesmo – vindo da serra do Caldeirão, atravessa o concelho de Odemira de sul para norte, algo inédito, indo desaguar em Vila Nova de Milfontes. Por na região haver pouca indústria, é considerado um dos rios mais limpos da Europa.

Boa comida, bons vinhos, negócios de família e empreendedores jovens fazem de Vila Nova de Milfontes um destino clássico de férias, com novidades para descobrir

É este o local de trabalho de Conceição Gonçalves, 57 anos, a tomar conta do negócio do pai desde 1990. Até 2016, conciliou o leme com a profissão na biblioteca escolar, mas prevaleceu a carta de patrão local. “É mais fácil conduzir um carro. O barco não trava, quaisquer que sejam a corrente e a maré. Não é pera doce entrar na barra com maré cheia, por causa dos bancos de areia”, explica a empresária enquanto nos leva ao pontão de embarque no lado do rio da Praia das Furnas.

No Maresia do Mira cabem nove passageiros e um tripulante, para viagens de cinco minutos até à outra margem. Se nos meses de verão são as famílias de férias, à procura do melhor lugar ao sol no areal, no resto do ano o ferry é uma bênção para italianos, alemães, austríacos e até sul-coreanos que fazem o Trilho dos Pescadores da Rota Vicentina.

São 226,5 quilómetros, de São Torpes a Lagos, com muitos passos sempre pela costa do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. “Quem vai para Almograve, a 14 quilómetros daqui, se for de barco encurta a viagem para metade e o passeio pelo rio é mais bonito”, justifica Conceição. Além de um breve descanso, os caminhantes têm a oportunidade de ver lontras junto ao cais, cegonhas, maçaricos, garças-cinzentas e guarda-rios.

Olhà bola de Berlim

A Praia da Franquia foi a escolhida por António Pereira, 37 anos, para abrir a SW SUP, escola com aulas e passeios de stand up paddle (SUP) e wing foil, modalidade mais recente e apontada para quem tem experiência de windsurf. Planar com a prancha em cima de água graças a uma lâmina (foil) e conseguir orientar a asa (wing) presa aos pulsos não é para todos. Apesar de a água ser fresca (15ºC a 18ºC), aqui predomina o vento noroeste, favorável para as brincadeiras dentro de água.

Vamos em direção à Praia do Farol, onde o ex libris, além do pôr do sol, é o restaurante A Choupana, aberto há 43 anos e a servir amêijoa, camarão e bom peixe grelhado em horário contínuo.

Outra instituição gastronómica desta vila alentejana é a Tasca do Celso, nome do pai de José Cardoso, atual proprietário e um anfitrião de mão-cheia. Há lista de espera para conseguir reservar mesa para comer ostras, bruschetta de tomate e sardinha, polvo salteado, canja de garoupa e cachaço de bacalhau e beber um dos vinhos da vasta garrafeira com 1 700 referências.

Com Luís Leote Falcão, da Herdade do Touril, na Zambujeira do Mar, José Cardoso também tem a concessão do Bar da Praia do Almograve, primeiro balcão privilegiado sobre o areal para tomar uma refeição leve ou uma bebida.

No centro de Milfontes, a Mabi, com os seus croissants, gelados e bolas de Berlim – pelo terceiro verão, voltam a estar à venda na Praia do Malhão, uma das melhores para surfar –, é local de doce romaria.

Todos os dias, David Rodrigues, genro de Cristina e José Cardador, donos da Mabi, de 41 anos, pega no carrinho e lá vai, pronto a palmilhar 12 quilómetros de areia, apregoando bolas simples, com creme ou com chocolate.

Este ano, uma das novidades da terra é o Charm-in Center, novo projeto de David Rodrigues e da mulher, Susana Cardador. Uma casa nova com cinco bons quartos duplos, na mesma rua da Mabi, ao lado da cabine telefónica vermelha transformada em minibiblioteca, repleta de livros.

Menos som, muitos sabores

Há oito anos que a vila acompanha o negócio de Marta Salvador e Pedro Johnston. Primeiro, o café 18 e Piques; agora, o mesmo lugar, mas outro nome. O Laréu aposta no café de especialidade, do Brasil torrado em Milfontes, da Colômbia e do Peru torrado em Aljezur (Koyo), com uma fatia de bolo (de maçã, de chocolate, crumble, cheesecake).

Milfontes tem o tamanho certo para ser calcorreada devagar, apreciando as vistas, as praças, os recantos, as praias. Até dia 1 de junho, Tiago Teotónio Pereira, Francisco Castelo Branco, Thomas Teixeira da Mota e Lourenço Pestana eram turistas na vila, entretanto passaram a ser também empresários. Já com um hostel em Porto Covo, abriram um segundo no lugar onde funcionou o Selina. “Silenciar o ruído, aumentar o som” é o lema do Mute sem televisão na sala nem nos dois quartos familiares, 12 duplos com casa de banho e vários dormitórios (três de quatro beliches, um de dez e um de oito), lugares de cowork, restaurante a cargo do Porto das Barcas, cozinha equipada à disposição de todos, com sistema de partilhar as sobras. A biblioteca promove a troca de livros e jogos de tabuleiro, enquanto a pequena piscina-jacuzzi de frente para o Mira obriga a desligar da corrente.

Quem mora e trabalha em São Luís, povoação a 20 minutos de Milfontes envolvida pela serra de São Domingos, vive num ritmo mais lento, sem perder o frenesim cultural e gastronómico daquele microcosmos. Descobrir o Ar’Terra Bistro, num recanto da Rua da Igreja, é fazer uma das melhores refeições das férias e conhecer verdadeiras mulheres do Sudoeste.

Carolina Guerreiro e Salomé Aroeira, ambas de 31 anos, estão, desde 2022, a dar pequeninos passos para fazer o que sempre sonharam juntas: montar um restaurante. Nenhuma estudou culinária nem gestão hoteleira, mas as duas na juventude já deram o litro a trabalhar em restaurantes de outros. Sabem receber – o sorriso de Carolina é contagiante – e a comida tem alma, mesmo quando Salomé diz não gostar de provar o que faz (imagine-se se o fizesse). As combinações improváveis constituem o lema desta “casa tradicional alternativa”, pronta para tanta diversidade de pessoas que entram serra adentro. Carpaccio de vinho tinto, tártaro de papaia, tomate cherry, abacate e faláfel, pani puri de javali, carne d’avó com migas, carpaccio de polvo, tempura de legumes e hambúrgueres de carne de raça Limousine alentejana, só para abrir o apetite.

Já no regresso a casa, paragem na Adega dos Nascedios, a única entre Porto Covo e Vila Nova de Milfontes. Outro negócio familiar, em que os mais novos, neste caso Diogo Ribeiro, 28 anos, agrónomo e sommelier, mais os dois irmãos seguem o interesse do pai. Natural da região Oeste, Luís Ribeiro, 60 anos, comprou a herdade em 2000 e plantou as primeiras vinhas, sete hectares de uva de mesa. Hoje tem oito referências, uma mão-cheia de tintos e três brancos, em 18 hectares com uma barragem natural feita pelos próprios. Os vinhos Amina Reserva, Nascedios Terroir, Encosta da Fornalha e os novos monocastas, tinto Alicante Bouchet e branco Antão-Vaz, são o resultado deste Alentejo litoral, defendido pela serra do Cercal, onde em agosto o termómetro marca 45ºC, mas há brisa marítima para equilibrar. “É a barreira da serra que trava a influência atlântica”, diz Luís. “Até os brancos são mais gastronómicos devido aos solos pouco férteis, o que obriga a planta a procurar minerais na profundidade”, acrescenta Diogo. As provas de vinho podem ser agendadas e no futuro querem ter alojamento disponível. Aos vinhos daqui juntemos o mel (de Algoceira, de Bicos e de Fornalhas Velhas), os queijos (de Garvão e do Campo Redondo) e o azeite (de Colos) e tanto que há para explorar para lá do rio e da praia.

— COMER

A Choupana > Praia do Farol > T. 283 011 275

A Fateixa > Lg. do Cais > T. 283 996 415

Tasca do Celso > R. dos Aviadores, 34 > T. 283 996 753

Bar da Praia do Almograve > seg-dom 11h ao pôr do sol

Mabi > Lg. de Santa Maria, 25A > T. 283 998 677

Laréu > Lg. do Rossio, 18 > T. 96 366 5768

Porto das Barcas > Estr. do Canal > T. 283 997 160

Manjedoura > Cerca do Arneirão, R. António Mantas > T. 96 520 4477

Ar’Terra Bistro > R. da Igreja, São Luís > T. 96 758 7167, 96 866 0935

— FAZER

SW SUP > Praia da Franquia > T. 96 355 1232 > aula SUP €25/1h, wing foil €140

Ferry Maresia do Mira > T. 96 420 0944 > seg-dom 8h30-19h > ida e volta €7, €4 (2-11 anos), passeio 1h €20, €15 (2-11 anos)

Adega dos Nascedios > Fornalhas Novas > T. 283 623 163

— DORMIR

Charm-In Center > R. António Mantas, 29 > T. 96 874 6979 > quarto €100 a €150/noite

Mute > R. dos Carris, 9 > T. 283 105 018 > beliche €22 a €50, duplo €85 a €179

Casa do Lado > Beco da Escola, 30A > T. 91 996 8116 > a partir €70

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