Uma guerra à nossa porta, uma crise migratória grave, inflação ainda fora de controlo, crescimento do discurso de ódio, aumento do custo de vida… se estas razões não são suficientes para o levar às urnas este domingo, caro (e)leitor, então não sei bem o que o motivará. E repare que, desta vez, não digo isto com desalento. Fiquei animada assim que confirmei a quantidade de inscrições para o voto antecipado em mobilidade: 252 mil eleitores, o número mais elevado de sempre. E fiquei ainda mais animada quando, no passado dia 2 de junho, fui exercer o meu direito de voto na Cidade Universitária, em Lisboa. Debaixo de uns abrasadores 30 graus, vi milhares de pessoas a dirigirem-se às suas mesas para esperarem, pacientemente, em filas maiores do que as que se viram em algumas praias. Idosos de cadeiras de rodas, de bengalas ou apoiados em familiares, crianças que acompanhavam os pais, jovens adultos em grupo ou sozinhos. O processo foi, ainda assim, rápido, estava bem organizado e o facto de acontecer dentro de algumas das universidades mais conceituadas do nosso país deu ao ato ainda mais imponência. Sentiu-se, no dia 2, aquilo que raramente se sente em dia de eleições antecipadas (o trabalho obriga-me muitas vezes a optar por este dia, embora prefira sempre o dia oficial): o burburinho do entusiasmo por estarmos todos juntos a exercer o nosso direito e dever, aquele que é a maior conquista da Democracia. Não foram apenas rostos sorridentes aqueles que encontrei. Foram, sobretudo, rostos decididos. Pessoas que sem se conhecer se cumprimentavam, tentavam aliviar a espera, e se mostravam sociáveis e participativas.
Portugal registou, nas últimas eleições europeias, uma taxa de abstenção que nos envergonha a todos. Mais de 69% dos 10 786 049 eleitores abdicaram de ir às urnas. Sentiram, diziam os analistas na altura, a Europa mais longe. Este ano, o contexto é outro: a força do bloco europeu foi visível na pandemia, em 2020; no decorrer da guerra da Ucrânia, iniciada em 2022; na resposta à potencial crise energética graças ao conflito, desde então. A campanha para estas Europeias, possivelmente graças à proximidade com as nossas últimas Legislativas, foi também muito mais focada nos – pasme-se! – temas europeus. A comunicação social fez a sua parte, e os candidatos viram-se também esvaziados da urgência dos temas nacionais, em foco há pouco mais de três meses. E, tal como aconteceu no desfile do 25 de Abril, na Avenida da Liberdade, há o inevitável apelo da responsabilidade. Ajudado por um sistema que em tudo promove a ida às urnas: pôde votar-se em mobilidade e antecipadamente; pode votar em mobilidade no domingo, esteja em Portugal ou em outro país da União Europeia – a sério, é só chegar a uma mesa de voto com o seu Cartão de Cidadão e já está! Imagine-se a votar em Paris… Não há qualquer desculpa para não votar nestas eleições, a não ser preguiça e descaso. Que é algo que não acredito que qualquer leitor da VISÃO sinta. E é isto que o populismo, por mais que cresça, nunca entenderá: o sentimento de unidade, de desígnio nacional – ou europeu – que o livre-arbítrio e o voto em consciência dão a todos os que se preocupam com a Democracia.