Quando chegou a Portugal, em 2019, a Cloudflare tinha uma equipa de 14 pessoas. Cinco anos depois, esse número cresceu para mais de 350 colaboradores. Nas palavras de Matthew Prince, cofundador e CEO da Cloudflare, a sede em Portugal – que é simultaneamente a sede europeia da empresa – é a que mais tem vindo a crescer a nível internacional. 

Na inauguração do novo escritório da empresa em Lisboa, um evento que contou também com a presença de Pedro Reis, ministro da Economia, o responsável deixou claro que a ambição é continuar a crescer, com vista à contratação de mais 400 pessoas ao longo dos próximos três anos. 

Matthew Prince, CEO da Cloudflare (à esquerda); Pedro Reis, ministro da Economia (ao centro); e John Graham-Cumming, CTO da Cloudflare e líder do escritório de Lisboa (à direita)

Embora reconheça o que o país tem feito para acolher a empresa, Matthew Prince não escondeu que existem “neste momento, três coisas que estão a fazer com que Portugal fique para trás”, com a abordagem do governo perante a imigração a encabeçar a lista. 

Recorde-se que, em 2020, o CEO da Cloudflare já tinha apontado críticas à burocracia nesta área. Dois anos depois, em entrevista à Exame Informática, as queixas ainda se mantinham. A esperança era de que surgissem mudanças significativas no horizonte à medida que entrávamos na fase pós-COVID. “Mas penso que não está definido se esse será o caso”, afirmou na altura. 

Pouco mudou desde então, com o responsável a apontar para a burocracia e para os longos tempos de espera na aprovação de vistos como grandes entraves à entrada de talento estrangeiro qualificado. 

Mas esta não é a única área onde desafia o governo português a fazer mudanças. A par das incapacidades do aeroporto em Lisboa, com atrasos que considera inaceitáveis para um país que não é apenas um sítio onde se passam férias, mas sim um local onde se fazem negócios, Matthew Prince aponta ainda para lacunas no sistema de educação. 

Se, por um lado, o país tem feito um bom trabalho a treinar engenheiros, o responsável defende que o mesmo não se tem aplicado à formação de gestores de produto: “temos de os importar, o que nos leva novamente aos dois primeiros problemas”. 

Já em declarações à Exame Informática, à margem do evento, o responsável defendeu que, se estes três problemas fossem resolvidos, a empresa conseguiria contratar o dobro das pessoas que tem em mente e até trazer para cá outras empresas. 

“Muitos dos meus colegas e outras empresas entram em contacto comigo porque sabem que estou a viver em Portugal há dois meses e perguntam «Como estão as coisas? Sabes, estamos a pensar em expandir-nos para a Europa e Portugal está na lista». Eu digo que há coisas boas aqui e há coisas más”, contou. 

“Se a lista de coisas más pudesse ser mais curta, penso que seria possível vermos um crescimento mais dramático e exponencial no investimento estrangeiro, na entrada de outras empresas e, mais importante, na contratação de talento local e para trazer de volta a diáspora que saiu de Portugal”. 

Como realça, esta diáspora é composta por “pessoas incrivelmente talentosas e que passaram os últimos 8 a 10 anos – quiçá mais, porque muitos saíram em 2008/2009 e, portanto, estão fora há 14 ou 15 anos – a treinar na Google, Microsoft, Facebook, Apple e Amazon e são algumas das mentes técnicas mais brilhantes do mundo. E querem regressar ao país”. 

Portugal é mais do que um ‘back office’ 

A Cloudflare tem escritórios um pouco por todo o mundo, mas, como conta Matthew Prince, apenas alguns se especializam em áreas como engenharia e desenvolvimento de produtos. O escritório em Lisboa é uma dessas localizações, mas a empresa emprega pessoas de todo o país. 

“Muitas empresas, em particular, muitas multinacionais, vêm para cá e usam Portugal como um ‘back office’, enquanto que a nossa abordagem é diferente no sentido de termos alguns dos problemas técnicos mais complexos e interessantes do mundo a serem resolvidos pela equipa que trabalha neste escritório”. 

Cloudflare Radar, uma das soluções desenvolvidas em Lisboa, em destaque no novo escritório no complexo ALLO

O Cloudflare Radar, por exemplo, é um dos produtos desenvolvidos a partir da capital portuguesa. Como detalha John Graham-Cumming, CTO da tecnológica e líder do escritório de Lisboa, o Cloudflare Radar reúne uma “tremenda quantidade de dados sobre o que se está a passar na Internet” (e através dele) podemos segmentar essa informação em diferentes formas 

A plataforma de analítica de dados continua a evoluir e o objetivo passa agora por tornar as interações mais intuitivas e por trazer novas formas de consultar os dados. O ‘segredo’ está na Inteligência Artificial e a empresa já está a implementar funcionalidades que recorrem a esta tecnologia. 

Por exemplo, uma das coisas que a empresa quer fazer é dar aos utilizadores a possibilidade de entrarem na ferramenta, fazerem perguntas no seu idioma e de obterem gráficos sobre essas questões instantaneamente. “Um grande passo em frente é fazer algo que as pessoas possam, por si próprias, pesquisar sem precisarem de ter grandes conhecimentos de data science”, realçou John Graham-Cumming. 

Se a IA tem marcado o sector da tecnologia, outra das tendências que se fazem sentir neste mundo é a do regresso cada vez mais ‘apertado’ aos escritórios. Para Matthew Prince esta é “uma situação que está a evoluir para toda a indústria”. “Penso que algum tipo de versão de trabalho híbrido acabe por prevalecer e algumas equipas ficarão completamente em remoto”. 

Mas, segundo o responsável, a questão torna-se mais complicada quando falamos de empresas que tentam aplicar uma única política a nível transversal sem considerarem as necessidades das diferentes equipas, que podem precisar de uma maior flexibilidade consoante o tipo de tarefas que desenvolvem. 

Encontrar um equilíbrio é desafiante, mas uma coisa é certa para a empresa: incentivar é melhor do que punir – motivo pelo qual investiu em tornar o escritório mais apelativo para quem lá trabalha, “O que temos visto é que, sem mudanças de regras, a utilização média aumentou dramaticamente”. 

Na sua visão “ninguém quer estar num escritório feio, desconfortável e solitário, porque depois sentes-te sozinho, aborrecido e que estás a perder tempo. Por outro lado, se tiveres a possibilidade de trabalhar num sítio confortável, em que podes trabalhar com pessoas que respeitas e com quem podes aprender, e que em sintas orgulho, isso é muito mais encorajador”. 

Pressionado pelos Senadores, que também são comentadores independentes, o líder do PS teve necessidade de informar o país de que, contas feitas, é melhor viabilizar a proposta de Orçamento de Estado para 2025. Uma novela que já tem muitos cámapitula, alvo de muita discussão, que me levou a interrogar se a maioria dos portugueses dá de facto importância ao documento.

A justificar a decisão de Pedro Nuno Santos dois pontos:
1. O facto de ter havido eleições legislativas há pouco mais de meio ano;
 2. Um eventual chumbo do Orçamento podia conduzir o país para as terceiras eleições legislativas em menos de três anos, sem que se perspetive um resultado com maioria estável.

Ou seja, o mais politizado “jovem turco” do PS, conhecido por ser “durão” e muitas vezes apelidado de arrogante, que em 2011 afirmou que se estava “marimbando” para os credores internacionais que tinham emprestado dinheiro a Portugal, acaba por, na sua estreia como líder do maior partido da oposição, subordinar a sua vontade aos Senadores do partido.

Anunciada que está a viabilização da proposta de OE para 2025, resta, agora, acompanhar a discussão na especialidade, onde o PS se compromete a “liberdade” mediante o compromisso de não ser causador de desequilíbrios nas contas públicas.

Com os partidos à esquerda do PS a falarem em “desalento” e que a posição traduz a convergência do PS com o Governo, questiono-me sobre a estratégia que o PS seguirá nas autárquicas?

É conhecida a ambição, para não dizer necessidade, do PS em regressar à liderança de cidades como, por exemplo, Lisboa, Coimbra, Braga ou Porto. Mas, para conquistar as grandes cidades Pedro Nuno Santos necessita de coligações à esquerda. Estarão os parceiros de geringonça, aqueles com quem tanto reuniu e negociou, dispostos a “meter para trás das costas” o produto da decisão anunciada ontem?

Estou cético. Mas, como diria Tocqueville “em política, a comunhão de ódios é quase sempre a base das amizades”.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Um drone – que atingiu Cesareia – tinha como alvo a residência privada do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, confirmou Israel, este sábado. Nem ele nem nenhum membro da sua família se encontravam na casa.

“Foi lançado um drone contra a casa do primeiro-ministro em Casareia. O primeiro-ministro e a sua mulher não se encontravam no local e não houve feridos no incidente”, refere um comunicado do gabinete de Benjamin Netanyahu, citado pela Efe.

O comunicado do exército israelita refere que foram detetados três veículos aéreos não tripulados a atravessar o Líbano para território israelita. “Dois deles foram intercetados e um terceiro atingiu a zona de Casareia”, lê-se.

É às terças-feiras que o centro da vila de Oleiros se anima e ganha mais vida. Ainda que seja vida já muito vivida. É dia de mercado, a Unidade Móvel de Saúde está presente e, quando o visitamos, está sol. Os emigrantes do verão, que enchiam a praça, já se foram e os mais idosos voltam a tomar conta do espaço que é seu. Até na Praça do Município se consegue ver a grande disparidade: os mais velhos são largamente mais numerosos do que os mais novos. Mas isso não parece ser um problema. Todos se entendem bem, entre “bons-dias!” e “como está a família?”. Ali, todos são filhos da terra.

Oleiros, no distrito de Castelo Branco, na Beira Baixa, é o concelho mais envelhecido do País, com 780 idosos por 100 jovens, em 2021 (revertido para 720 em 2023), segundo o Instituto Nacional de Estatística. Os números não mentem e, apesar de gostar de contrariar a tendência, Miguel Marques, presidente da câmara, “vive bem com esta realidade”. “Nós temos pessoas que vivem até muito tarde, que têm uma vida duradoura – desde pessoas acima dos 90 anos a algumas que vieram a falecer depois de completar um século de vida. Isso é também sinal de que temos dado condições para que possam resistir e viver neste território”, anima-se.

Bulício No centro da Ericeira, vila piscatória e balnear, os jagozes convivem com os estrangeiros que nos últimos anos ali se têm fixado e aberto negócios Foto: Marcos Borga

Alfredo da Silva, já com 91 anos, deixa a Unidade Móvel de Saúde para nos contar que só saiu “apenas uns dias do Sobral de Baixo para ir visitar Lisboa”. Diz-nos que hoje não vive perto de si nem uma terça parte dos que um dia lá passaram. “Tudo mudou. Desapareceram as pessoas. Morreram e não vieram outras”, desalenta-se. Se antes se mexia bem, agora passa o dia sentado, a ver televisão. “Gosto de cá viver, mas um dia vou ter de ir para um lar.”

O “lar” de Sílvia Gomes fica a 230 quilómetros, num outro mundo, o Litoral, cheio de crianças e jovens. Quando quis trocar o T2, onde morava com o marido e os filhos de 12 e 15 anos, por uma casa maior, a osteopata de 44 anos mudou não só de casa, mas também de concelho. Manteve-se na Área Metropolitana de Lisboa, mas o seu orçamento não permitiu continuar em Oeiras.

Pacatez É costume Palmira Martins deslocar-se a pé, sozinha, até à Unidade Móvel de Saúde. Foto: Marcos Borga

Em 2023, Sílvia vendeu o imóvel de 92 m² e, pelo mesmo preço, comprou um T3 com 160 m², no centro da vila de Mafra, ganhando garagem com dois lugares e sem aumentar o valor do empréstimo bancário. “No concelho de Mafra encontrei a melhor relação entre preço, área e segurança, para que os meus filhos começassem a ir a pé para a escola”, conta.

Num ano, esta família integrou-se no concelho da nova morada, tendo médico de família no Centro de Saúde, indo ao mercado local, andando mais a pé no dia a dia, com os mais jovens a frequentarem a escola pública, o Conservatório de Música e as infraestruturas desportivas da zona.

Casos como o de Sílvia Gomes replicam-se há vários anos, levando famílias jovens portuguesas e estrangeiras, muitas com filhos pequenos, a fixarem-se no território, tornando Mafra o concelho mais jovem de Portugal Continental. O índice de envelhecimento, ou seja, a relação entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o de pessoas até aos 14 anos, situa-se em 108 idosos para 100 jovens (Censos 2021). Com os nascimentos a aumentarem (desde 2019) e os óbitos sem diminuírem, Mafra tem a sua pirâmide demográfica equilibrada.

O fator proximidade

Porque têm vindo a aumentar os habitantes deste concelho com 11 freguesias, em que os meios urbano e rural convivem, melhorando a sua qualidade de vida?

Se há duas décadas moravam em Mafra entre 43 e 46 mil pessoas, neste momento, a estatística dos últimos Censos contabiliza 86 523 residentes, mais 9 838 do que em 2011, em contracorrente com o que acontece na generalidade dos municípios portugueses. “Neste momento, temos cerca de 35% da população com menos de 30 anos”, assegura Hugo Moreira Luís, presidente da câmara.

Miguel Ângelo Correia, vereador com os pelouros do Desporto e da Juventude, foi diretor dos últimos dois Censos e destaca que, em 2021, durante a pandemia, muitas das que eram segundas habitações passaram a principal e que o total de residentes deverá rondar os 100 mil. Perceção corroborada pelos consumos de água (44 537 utilizadores em 2023, mais 20% do que em 2022) e pela crescente produção de lixo (54 930 toneladas em 2023, mais três toneladas do que em 2022).

Juventude Inaugurado há um ano, o skateparkde Mafra foi uma ideia de um grupo de jovens apresentada e aprovada na Assembleia Municipal

Pode parecer mentira que até há três décadas, em 1994, numa região a 50 quilómetros da capital e com o Atlântico aos pés, não se pudesse abrir as torneiras em casa e continuasse a ser preciso ir encher os jerricãs às fontes públicas pintadas de azul e branco.

“O crescimento brutal dá-se a partir dos anos 1990. O principal fator de atratividade é a autoestrada”, diz João Azeiteiro, professor de Ciências Sociais e Políticas aposentado, reconhecido na terra como historiador. Primeiro foi a A8, Autoestrada do Oeste, quando, em 1991, é prolongada até à Venda do Pinheiro/Malveira e, em 1996, a Torres Vedras, permitindo mais tarde a ligação à A21, Autoestrada de Mafra, entre Malveira (2005) e Mafra e Ericeira (2008). “Esta ligação leva a um aumento do parque habitacional, permitindo-nos estar a 30 minutos do aeroporto de Lisboa e a 40 minutos do Marquês de Pombal”, reforça o autarca.

Longe, muito longe, está Oleiros, região montanhosa, com difíceis acessos: são cerca de 470 km² de área de curvas e contracurvas. O turismo é um dos principais setores de atividade e vale-se das paisagens imponentes do Interior de Portugal. O rio Zêzere, que banha o território, é uma das principais atrações, tal como os trilhos pelas pequenas ribeiras e pelos miradouros de cortar a respiração. A calma que aqui se encontra é a mesma que é necessária para chegar. Talvez por isso seja fácil ir, mas não tão fácil regressar.

Cuidar Laurinda da Conceição Rosa (ao centro) nunca falta à visita mensal da Unidade Móvel de Saúde pelas freguesias de Oleiros, onde são prestados serviços de saúde básicos Foto: Marcos Borga

Ainda assim, em 2024, já se começa a assistir a uma inversão demográfica, que dá os primeiros passos. Uma das razões são os apoios dados para que se fixem pessoas nestes territórios. No âmbito do Programa Oleiros Jovem, o município concedeu, por exemplo, apoio ao nascimento e à primeira infância, e apoio à aquisição de habitação e à fixação de residência.

Cátia Silva, que vivia em Santa Cruz, Torres Vedras, mudou-se recentemente para o Estreito, uma povoação de Oleiros. “Foi o meu filho quem quis mudar-se para aqui. Como já passava cá os verões, em casa dos avós, para ele é uma alegria. E eu decidi começar de novo. Já estávamos há um ano a pensar nisto.” A mulher de 45 anos fala numa melhor qualidade de vida, mas principalmente em segurança. “Aqui ele pode ir para casa dos amigos de bicicleta e eu não me sinto preocupada.”

Em casos como o do filho de Cátia, os manuais escolares são gratuitos, assim como, havendo necessidade, a estada numa residência de estudantes. Se assim o pretender, e se permanecer no território, terá uma bolsa de estudo ao frequentar algum estabelecimento de Ensino Superior.

Surfar a onda

Com novas casas e mais famílias a mudarem-se para Mafra, surge “não só a necessidade de criação de emprego para quem veio morar para aqui, como criar identidade e relação com o território”, reconhece Marta Miraldes, da SBI Consulting, à frente da coordenação técnica das duas incubadoras de iniciativa municipal.

Em 2015, a antiga escola primária centenária da Ericeira, típica do Estado Novo, ganha novos inquilinos da Business Factory, transformando o antigo recreio no lounge para adultos empreendedores, com a incubadora interessada em perceber o que a região tem para oferecer e assim desenvolver o tecido económico-empresarial.

Mar, turismo e surf na Ericeira, terra e indústria agroalimentar em Mafra (aberta em 2018), novas tecnologias e sustentabilidade nas duas e em todos os projetos, sempre que possível. Tanto podem ser negócios que precisem de orientação, e nem sempre são pessoas novas – neste momento são 34 empresas e geram 50 postos de trabalho –, como se pode apenas usar a incubadora como cowork (18 negócios). Entre alemães, holandeses e franceses, “os jovens que aqui estão são estrangeiros. Trazem para o território novas formas de pensar e de estar, ideias disruptivas”, descreve Marta Miraldes.

Vitalidade Carla Silva e Mafalda Frazão, enfermeiras do Centro de Saúde de Mafra, acompanham muitas mulheres grávidase com filhos em idade de vacinação Foto: Luís Barra

O russo Valery Shashkov chegou ao concelho com os seus três filhos e criou a Ericeira Surf, uma plataforma para agregar todas as escolas de surf (39), em que é possível marcar as atividades. Entretanto, também se associou à Last Call (aluguer de powerbanks) da sua conterrânea Lidia Grechina.

O francês Olivier Boileau, da Wildsuits, marca de fatos de mergulho feitos de materiais reciclados e naturais, senta-se à frente do alemão David Hamel, gestor de investimentos da Ziggma, a morar na zona desde 2021.

No cantinho perto da janela, Marica Lehmann não desiste de fazer a revista Reserve por si idealizada, “para acabar com a bolha internacional, com mais poder económico e sem falar português. Este projeto bilingue, à venda na vila e online, não é para turistas, é mesmo para os locais”, assegura a alemã que trabalha como gestora de eventos para uma empresa germânica em Portugal.

Nas sete salas da Ericeira Business Factory, cada uma batizada com o nome de uma das sete ondas da Reserva Mundial de Surf, há mais negócios e a falarem português (35%). A GMT Hospitality, de José Maia e Sofia Faria, perita em consultoria em turismo; a agência de viagens Unusual Voyages, aberta em 2023 por Tânia Neves, a trabalhar como líder de viagens fotográficas desde 2016; a Why Not Soda, do grupo Nabeiro; a Outra Música, de Nuno Mendes, violinista, uma empresa focada em produção artística, atividade pedagógica e venda e assessoria de instrumentos musicais e acessórios.

A proximidade com o oceano Atlântico sempre foi relevante para a região, muito antes de a Ericeira ser considerada Reserva Mundial de Surf, em 2011, a segunda do mundo (depois de Malibu, na Califórnia) e a primeira da Europa.

Convívio Por entre aulas de História, Educação Física, Tecelagem, Inglês, Informática, Artes e Música, os alunos da Academia Sénior de Oleiros também fazem novas amizades. Em baixo, a vila encaixada nas serras Fotos: Marcos Borga

Mafra já viveu de forma profundamente rural, como a generalidade das terras do País, de uma agricultura de subsistência e da pecuária. É a partir da década de 1960 que se dá “um grande crescimento económico do País e os ritmos de urbanização, industrialização e terciarização aceleram”, conta-nos João Azeiteiro.

O que acontece na terra fértil da Quinta da Abelheira é um verdadeiro regresso às origens, um investimento sustentado e pensado, em oposição aos habituais minifúndios da zona.

Vasco Duarte-Silva, 58 anos, sempre quis ter uma quinta e, em 2013, comprou estes 40 hectares a um conjunto de 17 herdeiros. Numa década, a Quinta da Abelheira continuou a dar pera-rocha, mas também outros frutos e hortícolas, evoluindo para agricultura biológica e agrofloresta assente na agricultura sintrópica (recria o ambiente natural de uma floresta). Além da distribuição de cabazes, há um ano e meio abriu uma mercearia e café em Lisboa, onde também vende os ovos das suas galinhas poedeiras e Pedrês Portuguesa, raça autóctone e em vias de extinção.

Recentemente, o banqueiro e colecionador de arte tornou-se também apicultor e inaugurou o alojamento com quatro quartos e dois apartamentos. A longo prazo estão planeados 13 bungalows em frente à adega. “Tento que neste ecossistema, em que tudo gira à volta do conceito agrícola, esteja tudo ligado”, diz. “É mais difícil desenvolver um projeto agrícola em Portugal do que abrir cinco bancos em África do zero”, desabafa o banqueiro com projetos financeiros assinados no Senegal, na Costa do Marfim, no Mali e na Guiné-Conacri.

Aprender até ao fim

Isolamento, toda uma vida sofrida a trabalhar na agricultura… Sendo Oleiros uma região do Interior, há várias pessoas que “estão deprimidas, principalmente pela dura vida que tiveram, muito sofrimento, com carência económica”. Mas o sentimento de comunidade está presente e é fundamental. “Há aldeias isoladas que só têm duas ou três pessoas e olham umas pelas outras”, explica Ana Abreu, psicóloga e coordenadora do Programa de Apoio ao Luto.

Desde que o marido morreu, aos 67 anos, Zélia Santos, de 66, está a aprender a viver de novo. Perdeu o companheiro de vida há pouco mais de um ano para o cancro. Era um homem “muito dedicado à comunidade” e “sempre muito ativo”. E tê-lo perdido num espaço de um mês é algo que ainda hoje lhe custa. “Íamos para todo o lado os dois. Andávamos como estes casais que vemos aqui. Se estivesse aqui connosco, era o mais divertido, o fala-barato do grupo”, recorda, emocionada.

Mimos Cortar as unhas, arranjar os pés e cortar o cabelo e a barba são alguns dos serviços do Projeto CuidAdor, em Oleiros. José Antunes e Lúcia Gonçalves agradecem Foto: Marcos Borga

Por não se sentir capaz de lidar com o misto de emoções que tinha dentro de si, Zélia procurou ajuda no Programa de Apoio ao Luto. Através de apoio psicológico, o projeto começou por acompanhar processos de luto, mas agora também interfere em processos de envelhecimento, adaptação à doença, deficiência e demência, catástrofes, ajuda cuidadores informais, adaptação à institucionalização, impacto da Covid-19, situações de violência e consumo, ansiedade e depressão. Desde 2015 que, tanto ao domicílio como no edifício do município, acompanham quem mais precisa, idosos, adultos e também jovens.

“A nossa rede está bem estruturada. Somos sinalizados pela Unidade Móvel, por bombeiros, familiares, vizinhos, toda a comunidade ajuda quando percebe que alguém está em sofrimento”, analisa Ana Abreu. “Houve um grande trabalho feito no início e, apesar de ainda hoje a saúde mental ser um estigma, o projeto está integrado na comunidade e eles aceitam muito bem, dão-lhe valor.”

Apesar de haver apenas uma técnica para os 94 casos – 66 em processos de luto –, o cuidado e a disponibilidade são garantidos. “Temos um bom acompanhamento e, claramente, precisávamos de mais pessoas, mas este projeto devia ser replicado”, afirma Ana. 

Zélia tem uma grande rede familiar e um grupo de amigos da Academia Sénior que a “puxam para cima”. Mas a necessidade é a mesma. “Ir ter com a psicóloga é conseguir falar, é saber que alguém nos ouve. Lá eu sinto-me ouvida.”

Tal como acontece com Zélia, para os 125 alunos da Academia Sénior de Oleiros estar em casa permanentemente não é solução para o seu quotidiano. Por entre aulas de Saúde, História, Educação Física, Tecelagem, Costura, Inglês, Informática, Artes e Música, a vida vai tornando-se mais alegre, dizem. Fernando Martins, 68 anos, não tem familiares em Oleiros, mas não é isso que diz: “Eu aqui tenho uma família. As universidades seniores foram das melhores coisas que se fizeram nos últimos 50 anos em Portugal. Temos sempre algo a aprender na vida.”

Dinamismo Na escola de patinagem da Achada ou na sala dos videojogos da Casa da Juventude de Mafra, não faltam motivos para os jovens saírem de casa Fotos: Marco Borga

Telma Veríssimo, coordenadora da academia, garante que estas aulas lhes dão “uma nova rotina, novos hábitos, uma nova forma de se sentirem úteis e ativos, quer a nível pessoal, quer a nível social”. Há alunos dos 55 aos 91 anos.

Quando se pergunta ao grupo porque é que ainda vale a pena aprender nesta idade, para o que pode servir, as respostas não variam. “Para nós, nesta idade, aprender é viver. Se deixarmos de aprender, deixamos de existir”, reforça Ana Martins, professora reformada, de 71 anos. “Ir às aulas é mais do que aprender. É sair de casa, é vestir uma roupa, é conviver, é ir respirar ar.”

Juventude em marcha

Em Mafra, muitos alunos ainda não terão entendido este sentimento devido à leveza da vida em tenras idades.

Além das autoestradas, a renovação do parque escolar público, em 2003-2004, também contribuiu para atrair pessoas ao concelho. Nessa altura, “fechámos as escolas de localidades mais pequenas, abrimos uma escola por cada sede de freguesia, com salas de informática, biblioteca, salas de estudo e, nalguns casos, também com pavilhão desportivo e piscina, o que permitiu juntar as crianças, dando-lhes melhores condições e outra qualidade de vida e de serviço aos professores e a toda a comunidade escolar”, defende o presidente da câmara, Hugo Moreira Luís.

Um investimento que se reflete nos bons resultados de cerca de 15 mil alunos, com excelentes níveis de escolarização nos ensinos Básico (100,2%) e Secundário (99,2%) e de retenção e desistência do Ensino Básico (3,4%). “A literacia das famílias que vieram para Mafra e de outras que se foram desenvolvendo aqui, que têm agora entre 20 e 30 anos, melhorou significativamente”, admite o autarca.

A Academia de Ensino Superior de Mafra permite, por exemplo, que jovens ou menos jovens possam melhorar as suas qualificações e queiram transitar para o Ensino Superior. No polo de Mafra são ministrados, pelo Instituto Politécnico de Tomar, os cursos de Marketing Digital, Contabilidade e Gestão, Informática e Design Multimédia; no polo da Ericeira é ministrado, pelo Instituto Politécnico de Santarém – Escola Superior de Desporto de Rio Maior, em parceria com o Ericeira Surf Clube, o curso de Surfing no Treino e na Animação Turística. Está também prevista a criação de um polo universitário em conjunto com o Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa.

Em julho, a inauguração da Casa da Juventude, no Palácio dos Marqueses de Ponte de Lima, dos finais do século XVII, acrescentou mais um atrativo na zona do centro histórico de Mafra, onde se concentram as infraestruturas dedicadas à juventude e ao desporto.

Rodrigo Rodrigues, 14 anos, ainda não tinha ido à sala dos videojogos, com 11 lugares entre cadeiras, sofás, volantes e simuladores, mas está surpreendido pela positiva, pois o computador e a cadeira são melhores do que os que tem em casa.

Com 14 quartos e três camaratas, o alojamento local também faz parte da Casa da Juventude, um projeto apresentado por um grupo de jovens na Assembleia Municipal, o mesmo coletivo que viu aprovada a ideia do skatepark, com 1 700 m², inaugurado no Parque Desportivo de Mafra, em 2023, dividido em três zonas: bowl (nível avançado), saltos (nível médio-avançado) e técnica (todos os níveis).

O desporto é, sem dúvida, agregador. Que o diga Mariana Silva. Aos 25 anos, é há mais tempo treinadora do que foi atleta de patinagem artística na Ericeira.

Nascida em Lisboa, a morar em Vila Franca do Rosário, todos os dias Mariana vai trabalhar para a Achada, onde durante a pandemia encontrou o clube e o pavilhão da Associação Desportiva e Recreativa e abriu a escola de patinagem. Um projeto familiar, com a mãe, Sílvia, responsável pela parte administrativa e de gestão, iniciado com 20 alunas – hoje são 60 as atletas inscritas na federação. “Aviso logo os pais de que esta é uma escola de competição, não é só para deixar as crianças. E se não podem ir levá-las ao treino, ajudo e até vou buscá-las à escola”, conta.

Madalena Boaventura, 11 anos, vice-campeã distrital em Benjamim e vice-campeã no Campeonato Nacional de Solo Dance 2024, foi a primeira a internacionalizar-se, ao ser apurada para a Taça da Europa, em Zurique, na Suíça. É no escalão dos 6 aos 10 anos que há mais patinadoras e com melhores resultados. Entretanto, já são várias as crianças a mudarem de escola dentro do concelho para ficarem mais perto do clube.

Além da patinagem artística, outras modalidades (para lá do futebol) colocam Mafra no mapa do sangue novo desportivo, como ciclismo, hóquei em patins, basquetebol, andebol, ginástica acrobática e judo, com Guilherme Silva bicampeão nacional de juniores (-100 kg, sub-23).

Alguns anos depois de um casal jovem ter vindo para o concelho de Mafra, acontece um fenómeno intergeracional: os avós seguem os filhos, para ajudar no crescimento dos netos, e acabam por se mudar também para a região. Hoje, as três universidades seniores do concelho somam quase 400 alunos (Mafra, 170; Ericeira, 90 a 100; Venda do Pinheiro, 120), mas, a pouco e pouco, serão mais.

Dores de crescimento

A dinâmica de mais casais jovens em Mafra reflete-se nas preocupações nos setores da saúde e da educação, bem como no aumento do preço da habitação, “é a mancha de óleo de Lisboa a chegar aqui. E a Ericeira também influencia”, diz o presidente da câmara. O metro quadrado urbano, que em 2016 custava 922 euros, duplicou o valor (1 842,7 euros/m²), com o preço médio das casas em 332,5 mil euros e a serem precisos cerca de 151 dias (menos de seis meses) para realizar a transação de metade dos imóveis disponíveis.

Construtor há 30 anos, Fernando Duarte tem todos os T3 de dois prédios, a 600 metros do Convento de Mafra, vendidos. Rés-do-chão a partir de 310 mil euros (100 m²), um terceiro andar a partir de 400 mil (140 m²), com garagem e varanda/terraço. “Há cerca de quatro anos, a mesma tipologia custava metade do preço. A procura é o principal fator do aumento do preço”, diz o construtor.

Acessos Novas autoestradas e renovação do parque escolar público contribuíram para atrair famílias jovens a fixarem-se na vila do Convento de Mafra, classificado Património Mundial da UNESCO Foto: Marcos Borga

Diariamente, Carla Silva, enfermeira-gestora do Centro de Saúde de Mafra, acompanha o crescimento da população e as dores que provoca no sistema. O número de aposentações de médicos nos últimos cinco anos é superior ao número de entradas, e os 29 médicos e 60 enfermeiros para todas as seis unidades de saúde do concelho desdobram-se para responder a mais de 81 mil utentes, 38,7% sem médico de família.

Nem o programa de incentivo à fixação de médicos (atribuição mensal até ao valor máximo de 400 euros pelo período máximo de 24 meses) tem convencido os profissionais de saúde.

Para suprir as necessidades, há cinco médicos aposentados especialistas em Medicina Geral e Familiar com 20 horas por semana em horário fixo para os programas de saúde materna, infantil, planeamento familiar e saúde sexual e reprodutiva. Para a saúde do adulto (doenças crónicas, diabetes, hipertensão, doenças oncológicas) apostam no projeto Bata Branca, consultas de clínica geral para adultos sem médico de família atribuído.

É uma população com muitas mulheres em idade fértil, incluindo um grande número de gestantes e com filhos em idade de vacinação. “As grávidas e as crianças precisam de vigilância constante. Em 2023 houve um aumento do fluxo imigrante, com muitas pessoas em situação vulnerável”, relata a enfermeira.

E dores de envelhecimento

Laurinda da Conceição Rosa, 78 anos, viveu desde sempre em Oleiros. Não se sente isolada, mas a incapacidade e os incêndios tiram-lhe o sono. “Há pouco tempo, passou aqui o fogo. E eu não podia fazer nada”, conta. O seu dia a dia não varia muito: o marido, as conversas com as vizinhas, os animais de estimação e a televisão são a sua companhia. Mas uma vez por mês, pelo menos, tem visitas. Quando a Unidade Móvel de Saúde apita, é das primeiras a chegar. “Venho sempre, é muito importante para a minha saúde”, diz.

Sílvia Antunes, a enfermeira que anda na carrinha, corrobora. “É importante tanto a nível físico como psicológico”, explica. “Os utentes estão um pouco isolados, ficam à nossa espera, e todos os meses aparecem. E, além de se medir a tensão, os diabetes, o peso, ajudamos a que fiquem menos ansiosos. E é também um papel de educar: explicar a necessidade da hidratação, os cuidados com os açúcares…”, exemplifica.

Contra a solidão Em Oleiros, são várias as portas ilustradas com frases sobre o tema. A obra de Alexandra Mateus, uma artista da terra,é das mais conhecidas Foto: Marcos Borga

O futuro de muitos dos idosos da região passará pelo Lar da Santa Casa da Misericórdia, apesar de não parecer muito risonho. Todas as vagas estão ocupadas. “E o número de utentes na lista de espera é enorme, para lá das centenas”, confessa José Marques, provedor da instituição, no cargo há sete meses, tendo de dar resposta às freguesias de Oleiros, Mosteiro e Isna. Já o regime de apoios domiciliares ainda tem vaga para mais três agregados. “Estamos a trabalhar para que se possa fazer mais e melhor, aos poucos. Primeiro é importante dar condições aos que cá estão, e depois, sim, trabalhar para receber mais.”

Enquanto a vida ainda o permite, Lúcia Gonçalves e José Antunes, um casal com 68 e 71 anos, respetivamente, estão na sua casa. A mulher é a cuidadora informal do companheiro, que ficou incapacitado aos 57 anos, na PSP. Nessa altura voltaram para Oleiros e hoje são utentes do Projeto CuidAdor, que existe desde 2017. Implementado pelo Centro Social São João de Sobral, este programa passa por apoiar quem se encontra numa situação de dependência de cuidados básicos.

“Oleiros é um concelho extenso, muito envelhecido, e o grande problema é o isolamento. Muitos dos habitantes têm alguma incapacidade, seja por deficiência, doença ou velhice. E sentiu-se a necessidade de criar um serviço ao domicílio para que estes possam usufruir e os cuidadores, descansar um pouco”, diz Cátia Alves, coordenadora do projeto.

Ser comunidade

E será tudo deprimente quando falamos do Interior? Será o Interior do nosso País apenas para ser referido nas férias de verão ou na época dos incêndios? De todo.

Apesar de ter nascido em França, Alexandra Mateus veio aos 4 anos viver para Oleiros, terra natal do pai. Depois de se ter “perdido” por Coimbra, no mundo das artes, e em Lisboa, no mundo do design, a jovem de 26 anos regressou a casa e abriu o seu atelier de design. “Desde o início, soube que tinha trabalho aqui, sempre foi uma hipótese. Adoro Lisboa, mas a pressão não é para mim”, refere. “As pessoas não são iguais, principalmente porque cá tem-se uma forma diferente de ver a vida. Em Lisboa, parece haver timings para viver. E aqui é tudo muito mais calmo, aproveitamos mais a vida.”

Para a empresária, o volume de negócios que tem agora é o mesmo que tinha na capital. “E aqui damos a mão sempre uns aos outros, apoiamo-nos todos.” Mas há diferenças e Alexandra admite-as. “Apesar de termos as coisas mais básicas, não há muito comércio aqui na região. Não há grandes lojas de roupa, por exemplo, ou grandes supermercados”, diz. “Uma das coisas de que sinto saudades é de sushi, aqui nem temos como fazer em casa, não chega cá esse tipo de produtos.” Mas, segundo a empreendedora, hoje já se consegue jantar depois das 21h num restaurante, algo que antes parecia difícil, principalmente no inverno. “Nota-se que há mais pessoas, há mais turismo. As pessoas já não vêm só em agosto.”

A terminar, Alexandra indica o ingrediente-chave que dá sentido à vida. “Isto é o nosso cantinho do céu, todos querem voltar. E acho que é muito por este espírito de amizade e de companheirismo, conhecemos toda a gente e não deixamos ninguém para trás.”

As máquinas chegaram ao Bairro de Santa Marta, no Seixal, por volta das 7h30 da manhã de quinta-feira. A essa hora, vários moradores estavam já no trabalho e, por isso, alguns só perceberam que ficaram sem as casas no final do dia. A demolição ordenada pela Câmara do Seixal deixa, segundo o movimento Vida Justa, cerca de 20 pessoas, entre as quais há mulheres grávidas, crianças e bebés, sem um teto. Todos foram, para já, alojados em pensões ou ficaram em casas de amigos, mas Beatriz Lopes, do Vida Justa, queixa-se de falta de planeamento e comunicação com os moradores e garante que demolir as barracas não impedirá as pessoas de voltar a reerguer o que foi deitado abaixo.

“Amanhã as pessoas voltam e pegam nas pedras e ficam lá na mesma, porque a opção é ficar na rua”, diz à VISÃO Beatriz Lopes, explicando que as casas que foram agora demolidas, por estarem num terreno privado, estão numa zona do Bairro de Santa Marta que começou a ser construída nos últimos dois anos.

A crise da habitação, acredita a ativista, está a fazer com que os bairros de génese ilegal que existem há décadas cresçam com construções recentes. “Isso está acontecer noutros bairros de génese ilegal na área metropolitana de Lisboa”, assegura, explicando que quem vem fazer estas novas construções é quem não encontra no mercado casas ou mesmo quartos que consiga pagar.

“Estas pessoas não se importavam de pagar um quarto. Mas não conseguem encontrar nada abaixo dos 300 ou 350 euros. Está muito difícil. E há senhorios que não alugam quartos a casais com bebés”, relata Beatriz Lopes.

Segundo o Vida Justa, os moradores das casas demolidas começaram por ficar sem saber para onde ir, tendo inicialmente sido encaminhados para a Santa Casa, onde lhes ofereceram refeições. Só no final do dia terão ficado a saber que a Câmara do Seixal pagaria quartos em pensões aos que não conseguiram lugar em casa de familiares ou amigos, mas não sabem até quando se manterá essa solução temporária.

Beatriz Lopes diz mesmo que o edital que anunciava a demolição só foi afixado em duas árvores no dia das demolições, 17 de outubro, apesar de estar datado de dez dias antes. Para o comprovar, mostra fotografias onde se vê um papel sem qualquer sinal de ter estado à chuva nestas últimas semanas. Segundo a ativista do Vida Justa, há dias que fiscais da Câmara recolhiam dados pelo bairro, mas os moradores não sabiam a data da demolição.

Apesar das críticas à Câmara do Seixal, Beatriz Lopes sublinha que “este não é um problema apenas desta câmara” e aponta o dedo aos governos que não têm dado às autarquias instrumentos para resolver o problema da habitação.

Apesar de reconhecer isso, lamenta que as autarquias estejam a avançar para demolições, sem antes assegurar que os moradores destas construções têm um teto. “Se a Câmara não consegue dar uma solução, as demolições não devem acontecer. Deve haver outro cuidado nas demolições”, até porque, argumenta, demolir não vai dissuadir quem não tem outra alternativa a continuar a erguer barracas.

Há moradores fechados em casa para impedir demolições

A falta de alternativa, conta Beatriz Lopes, está a fazer alguns moradores do Bairro de Santa Marta ficarem nas casas em permanência, para impedir que sejam demolidas. “As pessoas estão a resistir”. Num dos casos, relata, há uma mulher “que esteve com o Vida Justa na manifestação pela Habitação [a 27 de setembro] que teve há duas semanas um princípio de AVC e faltou a uma consulta para não perder a casa”.

Resistir em casa pode ter um preço elevado. “Nesta situação as pessoas vão perdendo empregos, porque faltam para não deixar as casas vazias”.

“A habitação é um direito básico, universal e constitucionalmente consagrado. O movimento Vida Justa exige soluções habitacionais dignas para os moradores do Bairro de Santa Marta por parte de todas as instituições responsáveis — a Câmara Municipal do Seixal, a Santa Casa da Misericórdia do Seixal e o Governo. Nenhuma família deve ver a sua casa demolida sem ter antes uma alternativa digna e adequada às condições do seu agregado familiar — e, quando essa alternativa não existe, o Estado não pode retirar às pessoas a única habitação que têm. Reiteramos ainda que nenhuma família pode ser separada no meio deste processo, como acontece frequentemente em situações semelhantes”, lê-se num comunicado do Vida Justa.

A VISÃO contactou a Câmara do Seixal para obter mais esclarecimentos, mas ainda não teve uma resposta.

Durante um evento de apresentação em Lisboa, que a Exame Informática acompanhou, a Bose apresentou várias novidades, mas começemos pelos auriculares QuietComfort, que se destacam por se adaptarem às necessidades diárias dos utilizadores e incluem funcionalidades como cancelamento ativo de ruído, controlo por voz e conetividade multiponto, afirma a marca.

Evento de apresentação da Bose em Lisboa

Equipados com tecnologia de cancelamento ativo de ruído, os novos QuietComfort geram rapidamente um sinal oposto que elimina o ruído indesejado, explica a Bose. Os utilizadores podem escolher entre três níveis de cancelamento: desligado, silencioso e consciente, permitindo uma personalização adequada ao ambiente.

A aplicação Bose QCE permite personalizar os controlos tácteis dos auriculares e monitorizar a duração da bateria. Além disso, o suporte a comandos de voz dá aos utilizadores a possibilidade de realizar diversas funções em modo mãos livres, como reproduzir música, atender chamadas e até tirar selfies. Para assegurar um maior conforto, os earbuds chegam com capas de silicone em três tamanhos diferentes, adaptando-se à maioria dos utilizadores.

Veja os novos auriculares QuietComfort

Em termos de autonomia, estes auriculares oferecem até 8,5 horas de utilização contínua, com a possibilidade de carregamento rápido em apenas 20 minutos para obter três horas adicionais, afirma a Bose. Já a resistência ao suor e certificação IPX4 pode torná-nos numa opção a considerar para quem pratica atividades físicas. Os novos Bose QuietComfort já estão disponíveis em três cores — preto, branco e lilás — com um preço de 219 euros.

A Bose também lançou a versão Ultra destes auriculares, que, embora tenha algumas semelhanças, destaca-se pela inclusão de tecnologia de cancelamento ativo de ruído (ANC) mais avançada, além de incluir modos de audição imersiva. No entanto, a autonomia é inferior à versão standard, prometendo apenas 6 horas de utilização contínua.

Os QuietComfort Ultra contam ainda com certificação sonora Snapdragon. Importa também destacar que a aplicação para telemóveis é diferente, sendo necessário instalar a Bose App para aceder a mais funcionalidades. Esta versão já está disponível em Portugal com um preço de 299 euros.

SoundLink Flex II e Smart SoundBar

Outra das novidades no alinhamento da Bose é a SoundLink Flex II, uma coluna portátil concebida para uma reprodução sonora clara e impactante. Um dos principais destaques é a tecnologia PositionIQ, que ajusta automaticamente a saída de som com base na orientação da coluna para uma experiência auditiva otimizada.

Com classificação de resistência IP67, a SoundLink Flex II é resistente à água e poeira, tornando-a adequada para atividades ao ar livre, como idas à praia ou acampamentos. A marca enfatiza que o design robusto do produto visa atender às exigências dos utilizadores que buscam durabilidade.

A coluna SoundLink Flex II tem resistência à água

A coluna também conta com suporte a ligações Bluetooth multiponto, permitindo a conexão a vários dispositivos simultaneamente. Além disso, a funcionalidade SimpleSync possibilita a sincronização entre duas colunas Bose, ampliando as opções de som em grupo.

Com uma autonomia de até 12 horas por carga, a SoundLink Flex II garante uma longa duração de reprodução e já está à venda com um preço de lançamento de 189 euros.

Por fim, a Bose vai lançar em breve a Smart SoundBar, que ambiciona transformar a experiência de entretenimento em casa. A integração do modo Dolby Atmos é uma das principais funcionalidades, contudo, e considerando que muitos conteúdos ainda não são codificados com esta tecnologia, a Bose introduziu a tecnologia TrueSpace. Esta inovação analisa de forma inteligente o que está a ser assistido e combina diferentes sinais do Atmos, criando uma experiência multicanal que adiciona profundidade ao áudio, mesmo em conteúdos 5.1 e estéreo.

Outro dos recursos integrados é o AI Dialogue Mode, que equilibra automaticamente a voz e o som surround. Esta funcionalidade elimina os problemas comuns de ajustar o volume entre diálogos e efeitos sonoros, permitindo que os utilizadores aproveitem o conteúdo sem interrupções.

Já a funcionalidade Personal Surround Sound permite que a Smart SoundBar seja emparelhada com os auriculares Bose Ultra Open para uma experiência de som surround amplificada, sem a necessidade de um sistema completo de home theater. A tecnologia da Bose simula os canais de áudio laterais e traseiros através dos auriculares, enquanto o design de orelha aberta dos Ultra Open permite aos utilizadores desfrutar da qualidade de som da barra de som, ao mesmo tempo que experimentam um som surround mais imersivo.

Embora a marca ainda não tenha avançado mais pormenores quando ao preço, a Smart SoundBar é esperada em Portugal ainda no mês de outubro.

O Tribunal de Castelo Branco deixou em liberdade os dois professores que, na passada quarta-feira, foram detidos pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeitas de abusos de cariz sexual e maus tratos a, pelo menos, 10 menores, todos rapazes.

Os dois homens, de 34 e 24 anos, de nacionalidade portuguesa, eram responsáveis e professores de um centro de estudos naquela cidade. A investigação acredita que os abusos começaram no início do ano letivo anterior, altura em que os suspeitos começaram a impor às crianças, com idades compreendidas entre os seis e os 10 anos, castigos e humilhações – batiam-lhes e despiam-nas à força, obrigando os meninos a exporem-se nus diante dos colegas. Não há, porém, quaisquer indício de atos sexuais abusivos para obter satisfação sexual.

Apesar de admitir que os dois homens – que não têm antecedentes criminais – estão “fortemente indiciados” pelos crimes e de existir “perigo de perturbação” do inquérito e de “continuação da atividade criminosa”, o juiz-presidente Miguel Fernandes de Castro, após primeiro interrogatório judicial, aplicou-lhes a medida de coação mais leve: termo de identidade e residência.

Os dois suspeitos ficam ainda proibidos de contactar com todas as crianças que frequentaram o centro de estudos nos anos letivos 2023/2024 e 2024/2025 e de se aproximarem a menos de 100 metros daquele espaço, e também das residências e escolas dessas crianças.

A investigação iniciou-se em junho passado, depois de a PJ ter recebido uma denúncia de um psiquiatra que acompanhava uma das vítimas. A PJ apurou a existência de, pelo menos, 10 vítimas, mas não exclui que haja mais, daí que a investigação vá continuar.

O centro de estudos com a valência de ocupação de tempos livres era frequentado por cerca de 50 crianças.