Ricardo Leão assina em conjunto com o Chega e o PSD, em Loures, uma moção sobre o 25 de novembro que está muito longe daquilo que o seu partido, o PS, defendeu na sessão evocativa desta data esta semana na Assembleia da República. Se no Parlamento o deputado socialista Pedro Delgado Alves repudiou a tentativa da direita de se apropriar da data, na Câmara de Loures o autarca do PS junta-se à sua direita numa moção para que no próximo a autarquia celebre uma sessão solene para assinalar o dia.

Segundo o texto a que a VISÃO teve acesso, o 25 de novembro foi o dia em que “os militares defensores da democracia e da liberdade, militares do regimento de comandos na Amadora, impediram uma tentativa de golpe libertando Portugal de uma tentativa de radicalização do País”.

Moção fala num golpe que os historiadores rejeitam

Para os subscritores da moção, “o 25 de Novembro de 1975 integra a história democrática de Portugal, sublinhando a vitória da liberdade e da democracia, alcançada em Abril de 1974, sobre uma fase de grande instabilidade política e ameaças de radicalismo. Nesta data, forças leais ao Estado de Direito, compostas por militares patriotas, liderados por figuras como Jaime Neves, Ramalho Eanes, Lemos Ferreira e Pires Veloso, asseguraram a preservação dos princípios democráticos, pondo fim a uma tentativa de golpe que colocava em risco os valores conquistados na Revolução de Abril”.

Mas essa é uma versão que tem sido amplamente contestada por vários historiadores, que afirmam não ter estado em causa uma tentativa de golpe de estado da esquerda, mas antes uma sublevação de militares esquerdistas que poderia ter levado a uma guerra civil e que suscitou um contragolpe de forças reacionárias, tendo sido ambos travados pela ação dos militares moderados do Grupo do Nove.

“Entretanto, os paraquedistas não tinham nem armas, nem aviões, nem nada, porque já tinha ido tudo para a Base de Cortegaça. Inclusive os oficiais. Estavam só sargentos e o major Pessoa, que não sei se ainda era capitão. E isto foi o que se passou. Alguém acredita que o PCP fez um golpe de Estado e ninguém os viu nas ruas? Estavam mobilizados nas sedes? Evidentemente. Como em qualquer daquelas outras ocasiões”, dizia ainda esta semana a historiadora Irene Fulsner Pimentel em entrevista ao Diário de Notícias. “Do ponto de vista político, as pessoas esquecem-se de que o 25 de Novembro não alterou nada fundamental. O PCP continuou no Governo, continuou a haver nacionalizações importantes, como nos transportes”, afirmou José Pacheco Pereira, na mesma entrevista ao DN.

Na moção também se diz que “o 25 de Novembro permitiu o fim do Processo Revolucionário em Curso (PREC) e que fossem criadas as condições para a plenitude da Democracia Portuguesa que a Revolução dos Cravos trouxe para Portugal”, quando na verdade o país continuou a viver momentos atribulados, com a rede bombista da extrema-direita a fazer vítimas em 1976, como o Padre Max e a estudante Maria de Lurdes.

“Este momento histórico simboliza a defesa intransigente dos direitos e liberdades do 25 de Abril de 1974, que haviam sido postos em causa pela  forças civis e militares que tentavam implementar um regime autoritário em  Portugal. Foi um tempo de fortes tensões, em que a repressão, a censura e as coletivizações compulsórias ameaçavam substituir o ideal de liberdade pelo de opressão”. Não há, contudo, quaisquer provas de que o PCP tivesse como objetivo impor uma ditadura, sendo essa tese contrariada pelo registo de várias intervenções do então secretário-geral comunista Álvaro Cunhal e havendo mesmo um momento num debate com Mário Soares em que refuta essa ideia com o famoso “olhe que não”.

Contrariando a ideia de que o PCP tinha tentado um golpe de Estado que foi travado, está também o facto de o partido continuar a fazer parte do governo de coligação com PPD e PS, de não ter sido ilegalizado (ao contrário do que pretendia a direita mais radical) e de Mário Soares se ter sempre oposto à ideia de que pudesse haver lugar a detenções na sequência do 25 de Novembro, embora centenas de jornalistas conotados com a esquerda tenham sido saneados após essa data e a esquerda militar tenha sofrido uma pesada derrota, ficando arredada do poder de uma forma que levou à saída de cena de Otelo Saraiva de Carvalho.  

De resto, as “coletivizações” prosseguiram após o 25 de Novembro de 1975, com as nacionalizações a avançar e com a Constituição de 1976 (aprovada apenas com os votos contra do CDS) a afirmar que o país seguia na via para o socialismo e a determinar a irreversibilidade dessas nacionalizações.

Ao longo dos últimos 49 anos, apenas o CDS tem pugnado para celebrar esta data, apresentando iniciativas nesse sentido no Parlamento desde o ano 2000. Nunca o PS tomou a iniciativa de assinalar o 25 de novembro, muito embora seja, segundo todos os historiadores, a força política que efetivamente se pode considerar vitoriosa deste episódio histórico.

PS nunca quis celebrar data

Pedro Delgado Alves explicou porquê no discurso que fez na sessão evocativa do 25 de Novembro, que se realizou este ano pela primeira vez no Parlamento, por iniciativa do CDS e com os votos a favor de toda a direita e a abstenção do PS.

“Se o PS se conta entre aqueles que, inequivocamente, são reconhecidos como vencedores do dia 25 de Novembro, também se conta entre aqueles que compreenderam desde cedo – e até hoje – que a reconciliação nacional começava ali, de imediato, superada que estava a ameaça de guerra civil”, afirmou Delgado Alves, numa sessão a que vários deputados socialistas nem sequer assistiram, tendo muitos aparecido de cravo na lapela – e não com as rosas brancas com que, por sugestão do centrista Paulo Núncio foi decorado o hemiciclo – e tendo outros saído da sala no momento em que o líder do Chega, André Ventura, aproveitou o seu discurso para associar os números das violações à imigração (dados que nenhum relatório oficial comprova).

A disputa tecnológica entre os Estados Unidos e a China é um vetor central da política internacional atual, marcada por uma rivalidade em áreas como semicondutores, inteligência artificial, telecomunicações e cibersegurança. Os EUA têm adotado medidas para conter o avanço tecnológico chinês, como restrições à exportação de tecnologia avançada e sanções contra empresas chinesas (como a Huawei e a ZTE), acusadas de representar riscos à segurança nacional. Por outro lado, a China procura reduzir sua dependência de tecnologias estrangeiras. Para isso, tem realizado investimentos massivos em inovação e autossuficiência tecnológica, com iniciativas como o “Made in China 2025”. E o leitor que não se engane: não se trata apenas de economia, mas de disputas pela supremacia global em setores estratégicos, em domínios securitários e influência geopolítica.

No meio dessa rivalidade, a União Europeia tenta equilibrar-se entre as pressões dos dois gigantes, enquanto protege os seus próprios interesses estratégicos. Por um lado, os Estados Unidos pressionam os europeus a restringirem o uso de tecnologia chinesa, especialmente em infraestruturas críticas como as redes 5G; por outro lado, a China é um parceiro comercial crucial para alguns Estados-Membros da UE, tornando a postura hostil norte-americana pouco viável.

Com (ou mesmo sem precisar deles) os novos ventos que chegam dos Estados Unidos da América, os últimos anos têm sido marcados por uma intensificação, por parte da UE, dos seus esforços para proteger o mercado interno de ciber-ameaças e influências externas.

Esta posição, diga-se, tornou-se particularmente evidente na forma como o bloco lida com a tecnologia chinesa. A recente introdução do Cyber Resilience Act (CRA) é mais um capítulo desta narrativa, sinalizando uma postura mais assertiva em relação à segurança digital e à soberania tecnológica, alinhada com o reforço da postura europeia, vincada na Diretiva NIS2.

Para o leitor entender do que estou a falar, o Cyber Resilience Act é uma iniciativa legislativa inovadora (e audaz), que estabelece requisitos rigorosos de cibersegurança para dispositivos conectados, desde eletrodomésticos inteligentes até sistemas industriais. Ou seja, o principal objetivo do CRA é garantir que os produtos vendidos no mercado europeu sejam seguros, protegendo os consumidores e as infraestruturas críticas de ciber-vulnerabilidades.

Contudo, a interpretação política desta medida não pode ser ignorada…

Uma Estratégia de Defesa ou de Contenção?

Já desde o legado de Merkel, a China tornou-se na maior exportadora de tecnologia para a Europa. O que a UE vem afirmar – através do CRA – é que quer cortar com gigantes como Huawei e Xiaomi. Estas empresas, frequentemente acusadas de estarem alinhadas com os interesses do governo chinês, têm enfrentado uma crescente resistência no Ocidente. A UE, ao exigir mais especificidades técnicas e certificações (que podem ser difíceis de atender para empresas que não compartilham os mesmos padrões de transparência e segurança que a Europa promove), vem criar ainda mais barreiras à entrada destes fornecedores no mercado europeu.

Além disso, a legislação também está alinhada com a agenda geopolítica mais ampla de diversificação das cadeias de fornecimento e da diminuição da dependência de parceiros considerados estratégicos, mas potencialmente adversários. É uma resposta clara ao que muitos dentro do bloco europeu veem como uma “diplomacia tecnológica” chinesa, onde o controlo sobre infraestruturas digitais e a recolha de dados desempenham papéis centrais.

Não vamos mais longe: a Huawei é um dos maiores fornecedores de equipamentos 5G, mas muitos Estados-membros temem que sua infraestrutura possa incluir “backdoors” que permitiriam espionagem ou interrupção de serviços críticos.

O Peso das Consequências

Embora as preocupações e ações legislativas sejam reais e plausíveis, as suas consequências podem ser ambivalentes. Por um lado, promove um mercado mais seguro e competitivo, impulsionando a inovação entre os fabricantes europeus. Por outro, corre o risco de agravar as tensões comerciais com a China, um dos maiores parceiros económicos da UE.

Além disso, o CRA pode aumentar os custos para os consumidores europeus. As exigências rigorosas de conformidade podem excluir do mercado produtos chineses acessíveis, reduzindo a oferta e elevando os preços. As pequenas e médias empresas europeias também podem enfrentar dificuldades para se adaptarem às novas leis do mercado, limitando sua competitividade frente a grandes players.

O Habitual Dilema: (ciber)Segurança vs Liberdade Individual

Último ponto, e vamos mesmo ter de falar sobre isso…

Não é só a Huawei ou a Xiaomi que está na mira desta ampla estratégia político-diplomático-ideológica da União Europeia. Vejamos, por exemplo, o caso do TikTok e da Shein. Tanto uma como a outra são acusadas de recolher vastas quantidades de dados, incluindo informações pessoais, preferências e padrões de navegação. Existe receio de que esses dados possam ser explorados pelo Partido Comunista Chinês, devido às leis de segurança da China.

A partir daqui, as plataformas têm livre-passe para todo o tipo de políticas de transparência e práticas – sejam elas contra ou a favor desses conceitos. Não é por acaso que o Tiktok tem sido caraterizado com uma veículo de disseminação de desinformação, manipulação da opinião pública e promoção de narrativas pró-China ou desfavoráveis ao bloco ocidental. Não por acaso, há esforços para limitar o uso de TikTok em dispositivos governamentais por razões securitárias…

As práticas de moderação de conteúdo e o impacto psicológico sobre crianças/adolescentes também geram muitas preocupações de segurança social.

Uma Aposta na Soberania Digital

Ao endurecer a sua posição em relação à tecnologia chinesa, a UE envia também um sinal claro de que a sua soberania digital é uma prioridade estratégica. O CRA faz parte de um conjunto mais amplo de iniciativas – como o Digital Services Act e o European Chips Act – que visam fortalecer a autonomia tecnológica do bloco europeu. Este movimento reflete uma conscientização crescente de que a cibersegurança não é apenas uma questão técnica, mas um pilar central da segurança nacional, competitividade económica e da continuação da preservação dos valores democráticos.

No entanto, a “guerra tecnológica” com a China exige um equilíbrio delicado. Embora seja essencial proteger o mercado europeu, a UE deve evitar que essa postura se transforme em protecionismo disfarçado ou que comprometa as relações diplomáticas e comerciais já frágeis. A estratégia está definida, mas a sua implementação e os seus efeitos devem ser monitorizados de perto para garantir que o objetivo de segurança e resiliência não seja eclipsado por consequências indesejadas.

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Para quem sonha ter um filho, perceber que a dificuldade em conceber de forma natural pode impedir a concretização desse desejo é desafiante. Mas mais desafiante ainda é quando a este obstáculo, para o qual a evolução da ciência e da medicina já consegue dar várias respostas, se junta uma limitação financeira. É por isso que o recente anúncio do aumento da comparticipação para 90% dos medicamentos para a infertilidade se reveste de uma importância enorme.

É um facto que para estes medicamentos já havia comparticipação. Mas é também uma realidade, com que se confrontam vários casais, que os custos de tratamentos que, em muitos casos, se prolongam no tempo, acabam por tornar essa comparticipação, que era até agora de 69%, insuficiente.  

Desde 2009 que não havia qualquer tipo de alteração a este nível. Mas muito mudou desde então, não só no que diz respeito à oferta de tratamentos, mas também do número de casais afetados por problemas de fertilidade. Atualmente, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 17,5% da população adulta, qualquer coisa como 1 em cada 6 pessoas, sofre de infertilidade em todo o mundo, o que é um sinal inequívoco da urgência de facilitar o acesso aos tratamentos de fertilidade, que continua a não ser equitativo.

Mas há outros dados que confirmam a importância, e sobretudo a urgência, de abordar este tema: é que a infertilidade está também associada a resultados negativos para a saúde, sobretudo ao nível do bem-estar mental, pelo que os esforços no sentido de reduzir estes problemas representam também avanços na melhoria da saúde global.

Depois, há a ainda a crise de natalidade, generalizada também, e que deve ser cada vez mais um incentivo para a tomada de decisões. Aqui, os números são claros: em 2022, a taxa de fertilidade na União Europeia, ou seja, o número de nados-vivos por mulher, era de 1.46, valor que traduz uma incapacidade de renovação de gerações (que exigiria uma taxa de 2.1). E o que é que isto significa? Muito, sobretudo tendo em conta o impacto demográfico nas finanças públicas e na segurança social, sobrecarregados por uma população cada vez mais envelhecida.

E sim, é verdade que são vários os motivos que justificam esta redução na fertilidade, que incluem um maior acesso à contraceção e aos cuidados de saúde reprodutiva, o empoderamento feminino na força de trabalho e até uma maior igualdade de género. Mas o aumento dos casos de infertilidade tem também aqui um peso, que tem vindo a crescer ao longo dos anos, e que, se fosse endereçado de forma adequada, poderia aliviar significativamente o sofrimento de muitas famílias e contribuir para um futuro mais promissor em termos de saúde reprodutiva.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

O Tribunal de Loures decidiu esta quinta-feira aplicar a pena de prisão preventiva a dois dos três suspeitos, detidos pela Polícia Judiciária, na sequência dos tumultos em Santo António dos Cavaleiros, Grande Lisboa, em outubro deste ano. O terceiro homem fica em liberdade.

Ambos os suspeitos, com idades entre os 21 e os 23 anos, foram “indiciados pelos crimes de homicídio qualificado na forma tentada” do motorista de autocarro da Carris incendiado em Loures a 24 de outubro e pelos crimes de “incêndio e dano”.

“Em causa está o ataque com engenhos incendiários que, a 24 de outubro, destruiu por completo um autocarro da Carris Metropolitana, deixando em perigo de vida o seu motorista e provocando-lhe sequelas permanentes”, pode ler-se num comunicado da PJ que refere que “as investigações prosseguem”.

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A proposta do Partido Socialista (PS) para o aumento adicional das pensões em 1,25 pontos percentuais foi aprovada esta quinta-feira nas votações na especialidade do Orçamento do Estado para 2025, na Assembleia da República. A medida representa a subida extraordinária das pensões até três indexantes de apoios sociais (IAS), e vai somar-se à atualização regular anual das reformas, contemplada pela lei, em janeiro.

O PS estima que a sua proposta venha a ter um impacto orçamental de 265 milhões de euros. Contudo, um estudo pedido pelo Governo à Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), sobre o impacto da medida, defende que o aumento extra significará um incremento na despesa com pensões de 273,8 milhões de euros.

O Bloco de Esquerda, Livre e PCP também tinham apresentado propostas para o aumento das pensões, mas nenhuma foi aprovada.  

Novos ensaios clínicos realizados por investigadores do King’s College, no Reino Unido, mostraram que uma injeção do medicamento Benralizumab durante uma crise de asma severa ou em pessoas com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é mais eficaz no tratamento e alívio dos sintomas do que as terapias convencionais – utilizadas nas últimas décadas – à base de comprimidos de esteroides. As novas descobertas, publicadas sob a forma de um estudo na revista The Lancet Respiratory Medicine, são os primeiros avanços científicos no tratamento da doença nos últimos 50 anos.

Para o ensaio clínico foram analisados os registos médicos de 158 pessoas em necessidade de assistência médica devido a uma crise de asma eosinofílica ou com DPOC. Os doentes foram submetidos a análises sanguíneas e divididos em três grupos – com diferentes tipos de tratamento – de forma a comparar a eficácia das diferentes medicações. O primeiro grupo recebeu uma injeção de benralizumab, o segundo recebeu o tratamento atualmente utilizado nestes casos (à base de esteroides) e o terceiro uma injeção de benralizumab e esteroides.

As conclusões do ensaio – que contou com a participação dos hospitais da Universidade de Oxford, Guy’s e St Thomas – revelaram que administrar aos doentes o medicamento benralizumab foi mais eficaz no tratamento e alívio dos sintomas de uma crise grave de asma ou de Doença Pulmonar Crónica (DPOC) – como tosse, pieira ou falta de ar – e reduziu, em 30%, a necessidade de tratamentos posteriores. Cerca de 28 dias depois da injeção do medicamento foi possível verificar melhoras significativas nos sintomas da doença e, 90 dias depois, constatou-se que o número casos em que este medicamento não foi eficaz foi quatro vezes menor do que no grupo que recebeu esteroides.

O benralizumab é um medicamento monoclonal que tem como alvo específico os glóbulos brancos – chamados de eosinófilos – responsáveis por invadir os pulmões de pessoas com asma do tipo eosinofílica e provocar o inchaço e o encerramento das vias respiratórias. Até agora era muito utilizado, em doses baixas, no tratamento de crises de asma grave, mas este novo ensaio concluiu que uma dose única, mais elevada, pode ser mais eficaz se injetada na altura de um surto. “O Benralizumab é um medicamento seguro e eficaz já utilizado no tratamento da asma grave. Utilizámos o medicamento de uma forma diferente – no momento de uma crise grave – para mostrar que é mais eficaz do que os comprimidos de esteroides, que é o único tratamento atualmente disponível”, explicou Mona Bafadhel, uma das autoras do estudo.

Segundo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, em Portugal, estima-se que cerca de 600 mil pessoas tenham asma, das quais 11% são crianças e 5% adultos. Já dados apresentados no estudo revelam que metade dos casos de asma registados mundialmente são de tipo eosinofílico e causam cerca de 3,8 milhões de mortes anualmente. “Temos de oferecer a estes doentes opções que lhes salvem a vida antes que o seu tempo se esgote”, explicou Sanjay Ramakrishnan, que esteve envolvido no estudo. O tratamento para a asma e DPOC que tem sido feito nas últimas décadas, com recurso a comprimidos de esteroides, para além de nem sempre funcionar e levar o doente a procurar tratamento hospitalar, tem alguns efeitos secundários graves – incluindo o aumento do risco de diabetes e da osteoporose.

Este estudo registou ainda uma melhoria significativa da qualidade de vida das pessoas com ambas as doenças. “Esperamos que este estudo mude a forma como as crises são tratadas no futuro, acabando por melhorar a saúde de mais de mil milhões de pessoas que vivem com asma e DPOC em todo o mundo”, disse Bafadhel.

Há quem chegue com a expectativa de encontrar uma loja de Louboutin. Mas dos sapatos de salto agulha e sola encarnado-vivo que celebrizaram o designer francês no mundo da moda nem sombra. Nunca foi essa a sua intenção, aliás. E é por isso que nem o seu nome aparece associado à palavra Vermelho.

Embora a cor se encontre em muitos apontamentos do hotel – no chão em mosaico do bar, nas portas e janelas –, a verdade é que o som de vermelho pode lembrar merveille (maravilha em francês), mas também vermeil, uma técnica usada na ourivesaria para dourar a prata, explica Vera Gonçalves, diretora do hotel que, recentemente, recebeu o selo da Relais & Châteaux, atribuído a pequenos projetos de luxo por todo o mundo.

A ideia inicial de Christian Louboutin era abrir um restaurante. O criador tem casa em Melides desde 2009 (depois de se ter cansado do buzz da Comporta) e gostaria de ter um sítio perto onde comer bem. Foi essa ideia que apresentou à autarquia, que lhe fez uma contraproposta: construir um hotel.

Caminhar pelos três edifícios que compõem o Vermelho (e destes, apenas o da receção não foi construído de raiz) é viajar pelos lugares de eleição de Louboutin: a Índia inspira o lounge; o balcão do bar (aberto a não hóspedes) é uma homenagem à Andaluzia, com um altar de prata feito na oficina sevilhana Orfebrería Villareal.

Cada um dos 13 quartos é único. Foto: DR

Dos 13 quartos (todos diferentes, com nomes de terras vizinhas de Melides), uns estão decorados com mobiliário antigo e objetos que adquiriu ao longo dos anos, outros refletem a sua admiração por artistas e artesãos (há livros espalhados pelo hotel que falam do seu trabalho).

Os portugueses (40% dos clientes) escolhem o Vermelho para uma “escapadinha de fim de semana”, já os estrangeiros ficam em Melides a meio de um roteiro por três ou quatro zonas de Portugal. Também há quem venha de Lisboa aguçado pelo apetite. O restaurante Xtian (o nome é uma abreviatura de Christian) está aberto a passantes e, desde novembro, tem um menu executivo ao almoço (€19,50), durante a semana.

O restaurante Xtian tem agora um menu de almoço (€19,50), durante a semana. Foto: DR

Emanuel Machado inspira-se na cozinha portuguesa para levar à mesa o arroz da região feito no tacho com peixe e marisco, a garoupa à Bulhão Pato, o chambão de borrego ou a bochecha de novilho em vinho tinto. Pode não haver uma loja Louboutin por aqui, agora que se come bem, está garantido.

Vermelho > R. Dr. Evaristo Sousa Gago, 2, Melides > T. 91 528 0511 > a partir de €270

Luxo: menos formal, mais pessoal

Uma flor-de-lis dourada brilha nas fardas do staff do hotel Vermelho, em Melides. Trata-se do símbolo da Relais & Châteaux, uma associação sem fins lucrativos fundada em 1954 (celebra agora 70 anos), quando hoteleiros e chefes de oito pequenas unidades em França decidiram unir-se para divulgar os seus estabelecimentos sob o slogan La Route du Bonheur. Atualmente, a associação tem 580 hotéis e restaurantes espalhados por 65 países – são quase sempre de famílias, apostadas em promover a hospitalidade, a gastronomia, a História e a cultura locais.

Em Portugal, desde 2000, existem 13 membros com o selo da Relais & Châteaux, sendo o Vermelho a entrada mais recente. Esta não é a única novidade no hotel em Melides. Um programa de atividades foi desenhado para animar a época baixa: conversas à lareira com uma filha da terra (as datas são anunciadas nas redes sociais do hotel e qualquer um pode participar), passeios de bicicleta, com um parceiro local, e retiros de meditação.

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será de 2025. Esta previsão foi feita de acordo com a estimativa provisória da esperança média de vida aos 65 anos para o triénio 2022-2024.

Divulgado esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), este valor foi estimado em 20,02 anos, o que corresponde a um aumento de 0,27 anos (3,24 meses) relativamente ao triénio anterior (19,75 anos em 2021-2023). Assim, com base nestes dados, é possível calcular que a idade legal de acesso à reforma.

Em 2024, a idade de reforma ficou inalterada, nos 66 anos e quatro meses, face a 2023, ano em que se registou um recuo de três meses por comparação com a idade fixada para 2022, algo considerado inédito. A estes dois anos estão associadas o recuo na esperança média de vida devido à mortalidade associada à pandemia de covid-19 e a sua incidência junto da população mais idosa.

O valor provisório da esperança de vida aos 65 anos, apurado anualmente pelo INE, é divulgado em novembro servindo de referência para efeitos de determinação da idade normal de acesso à pensão de velhice do regime geral de Segurança Social.

É visível o entusiasmo de Nuno Mendes enquanto descreve o Santa Joana, o restaurante que faltava inaugurar no hotel Locke de Santa Joana e do qual é chefe e diretor criativo. “É um projeto muito diferente para Lisboa, quero que seja boémio, divertido e ao mesmo tempo sofisticado”, diz-nos.

A entrada pela Rua de Santa Marta dá acesso direto à antiga igreja do Convento de Santa Joana (século XVII), onde o restaurante está instalado. Mas não se acanhe, há muito que os rituais católicos não eram aqui ministrados, e o espaço até chegou a servir de parque de estacionamento de viaturas da PSP (em alternativa pode atravessar o hotel a partir da Rua Camilo Castelo Branco).

Com interiores desenhados pelo designer espanhol Lázaro Rosa-Violán e pontuados por peças de artesãos portugueses, como as tapeçarias de Carolina Machado e as peças de cerâmica da Grau Cerâmica, o espaço está completamente transformado.

É neste cenário que Nuno Mendes e a sua equipa, formada por Maurício Varela (Matte e Dahlia), como head chef, e Maria Ramos, como chefe de pastelaria (ex-Bairro Alto Hotel), brindam os comensais com as suas criações.

“A ideia é poder chegar e fazer uma refeição rápida ao balcão ou um almoço executivo, e depois, mais tarde, trazer os amigos para jantar”, continua Nuno Mendes, enquanto apresenta as outras zonas do restaurante: o Bar Joana, que ocupa a mezzanine, O Pequeno, um bar intimista com carta dedicada aos champanhes e Martini, e o Santa Joana Terrace, uma ampla esplanada.

Aliás, o potencial do espaço, a liberdade para criar e a possibilidade de poder trabalhar com produtos locais foram algumas das razões que o fizeram aceitar o desafio feito pelo grupo londrino White Rabbit Projects, responsável pelos vários projetos gastronómicos do hotel (tem mais um restaurante, três bares e um café). “Há muito que esperava um projeto como este, com muitas camadas e possibilidades.”

Recorde-se que Nuno Mendes abriu o Cozinha das Flores, no hotel The Largo, no Porto, e agora está de volta a Lisboa onde já tinha trabalhado à frente do Bairro Alto Hotel. Em Londres, onde continua a viver e fez grande parte do seu percurso como chefe, tem o Lisboeta.

Produto é luxo

A carta do Santa Joana está dividida entre Acepipes, Ostras, Do Bar, Entradas, Principais, Pratos Maiores (2 ou 3 pessoas), Para Acompanhar e Sobremesas. “São propostas inspiradas pela cozinha portuguesa, pelo que levámos e trouxemos aos e dos quatro cantos do mundo. Para mim, o luxo de trabalhar em Lisboa é o produto”, destaca o chefe, que tem, na sua rede de fornecedores, produtores locais e regionais como a Carnes do Campo ou a Nutrifresco.

Foto: Luís Moreira

A ideia é poder chegar e fazer uma refeição rápida ao balcão ou um almoço executivo, e depois, mais tarde, trazer os amigos para jantar

Nuno Mendes, chefe de cozinha

Uma refeição no Santa Joana pode começar com sabores tão diversos como uns corações de galinha grelhados com molho “pica-pau” (€8,50), um biquíni de farinheira, tártaro de camarão da costa e algas (€15) ou um tomate-coração-de-boi marinado, emulsão de batata-doce assada, gomos de laranja e poejos (€12).

Depois, seguir para uma pescada escalfada, emulsão de manteiga fumada, funcho assado e ervas suculentas do mar (€25) ou uma presa de porco alentejano, pasta de nozes estufadas, nabos e grelos marinados e assados (€33). Nos Pratos Maiores, pode partilhar-se um belíssimo arroz de marisco caldoso, caranguejo e lavagante nacional (€76).

O Santa Joana é um restaurante para qualquer hora do dia e está dividido por várias zonas. Para um jantar mais intimista, os nichos da segunda sala são ideais; para um encontro de amigos, as várias mesas e cantos da sala de entrada servem bem esse propósito, e quem gosta de um bom balcão deve dirigir-se logo na entrada para o lado direito e subir alguns degraus.

Tártaro de vaca maturada, nabos marinados e pinhões. Foto: Charlie McKay

Daqui, assiste-se ao trabalho da equipa do bar, dirigida por Tiago Santos, e à preparação dos pratos crus, que também são servidos à mesa. Destacamos a barriga de atum maturada, caldo do refogado, azeite maduro, flores de alliums da época (€19) e o lírio dos Açores, água de peixe fumado e vinho do Porto, cogumelos frescos e confit de limão (€16). Também há ostras de origem nacional (ria Formosa, ria de Aveiro e Sado) servidas com guarnições como sriracha verde, kosho de limão, mignonette de pimenta-longa (€3,50/unidade).

Do Santa Joana não viemos embora sem provar uma sobremesa. A inspiração conventual saboreia-se nuns delicados Papos de Anjo (pão de ló embebido, sabayon de laranja e anis tostado, €9), mas, se é para pecar, que seja em grande. O fresquíssimo e cremoso gelado de creme de laranja, gomos de laranja e azeite novo (€8,50) é uma ótima forma de rematar a refeição.

Locke de Santa Joana > R. de Santa Marta, 61, Lisboa > T. 21 155 5582 > qua-dom 12h-16h, seg-dom 18h-23h

A BGI e o EIT Digital lançaram a oitava edição do Scaleup Portugal Report, um relatório que analisa mais de 300 startups criadas entre 2019 e 2023 e destaca as 25 tecnológicas mais promissoras de 2024. As 334 empresas analisadas geraram 188 milhões de euros de receitas totais no último ano e registaram um crescimento de 44% do Valor Acrescentado Bruto nos últimos cinco anos.

A i-charging, a Bloq.it e o 360hyper surgem nos três primeiros lugares de um ranking que é maioritariamente ocupado por startups do setor de Tecnologias de Informação e Comunicação (52%), seguindo-se o Consumer & Web (28%). Por volume de negócio, o setor CleanTech & Industry 4.0 contribui com 49% das receitas totais. As empresas do setor MedTech & Health IT não atingem Top25, o que indica que o setor ainda se encontra em fases iniciais de crescimento.

O relatório revela um impulso notável no ecossistema tecnológico português com as principais startups a angariar um total de 87 milhões de receitas, o equivalente a 47% das receitas totais. Por regiões, Lisboa é o principal polo de empreendedorismo e inovação, com 34% das startups avaliadas e 43% do mercado total, seguindo-se Porto (17%) e Aveiro (8%).

Em termos de investidores, Portugal Ventures e Unicorn Factory Lisbon são os líderes, com 22 e 12% do total de investimentos.

O relatório completo deste ano pode ser descarregado aqui.

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