Por estes dias, os chás de Sebastian Filgueiras já estão à venda em duas das três lojas do Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova Iorque. Os produtos da Companhia Portugueza do Chá foram os últimos a deixar a alfândega e a chegar à exposição d’A Vida Portuguesa, em Manhattan, até dia 10 de março (incluindo online em store.moma.org).

Entretanto, alguns dos outros objetos já tiveram de ser repostos, tal foi o sucesso da estreia. É o caso dos pequenos bancos de cortiça alentejana, que também funcionam como mesa de apoio, com mais de 30 vendidos no primeiro fim de semana. “A cortiça intriga-os bastante, por ser um produto bastante sustentável, que não implica a morte da árvore”, justifica Catarina Portas, fundadora d’A Vida Portuguesa, que na última semana viu imensa gente em Nova Iorque com o Lenço Tabaqueiro de Alcobaça (desde 1774) ao pescoço.

25 marcas de produtos artesanais e industriais estão à venda em duas lojas nova-iorquinas, decorando as suas montras Foto: MoMA Design Store

Com Portugal cheio de turistas dos EUA – 1,16 milhões de dormidas nos primeiros quatro meses de 2024 –, Nova Iorque recebe 25 marcas portuguesas de produtos artesanais e industriais (Pasta Dentífrica Couto, Creme de Mãos Alantoíne da Benamôr, Água de Colónia Lavanda da Ach.Brito) que comprovam como as artes manuais continuam a elevar as tradições e os costumes.

A mala da Jane Birkin

Na inauguração, no passado dia 8, Catarina Portas falou no MoMA Design Store para uma plateia heterogénea e curiosa, de várias gerações, desde pessoas ligadas à comunidade lusa a outras ligadas ao design, bem como artistas e alunos de escolas de arte. Todos notaram o facto de Portugal ser um produtor diversificado. “É um país onde ainda há o saber-fazer das mãos, que se perdeu em geral em quase toda a Europa e que está a ser redescoberto por outra geração. E para mim esse é o caminho. Aquele saber-fazer que antes considerávamos um sinal do nosso atraso e da nossa pobreza hoje em dia é um ativo extremamente valioso. O nosso problema é não termos marcas, muitas vezes”, explica a fundadora d’A Vida Portuguesa. “É urgente que as técnicas passem para as gerações seguintes. Os designers nos anos 1980 ou 1990 não eram sensíveis ao artesanato. Agora já há designers muito investidos nessas áreas.”

O ofício da cestaria representado pelo atelier Toino Abel, com as suas malas de junco modernizadas, serve de exemplo do trabalho de designers emergentes dedicados ao artesanato, recuperando a moda lançada por Jane Birkin que, antes de dar nome a uma mala da Hermès, usava sempre um cesto de palha. Também a reedição dos bonecos de madeira pintados à mão do TOM (Thomaz de Mello, em 1939), figuras representativas do folclore de diferentes regiões do País, suscitaram interesse.

“A Vida Portuguesa sempre funcionou como uma espécie de showroom das marcas. Nós, ao contrário dos supermercados, não escondemos os produtores, revelamos e enaltecemos os fabricantes. E, por isso, muitas das marcas que vendo encontraram revendedores e distribuidores no estrangeiro”, destaca Catarina Portas.

Lentes modernas

Recuemos dois anos, quando uma amiga de Emmanuel Plat, diretor de merchandising das lojas do MoMA – que trabalha diretamente com os curadores do museu para garantir o alinhamento com a missão geral da instituição –, lhe deu a dica turística de visitar as lojas d’A Vida Portuguesa. “Comparando-nos com a Maison Empereur, em Marselha, disse-me que somos diferentes de tudo o que tinha visto no mundo, porque não são só os produtos, é também o ambiente”, descreve Catarina Portas.

“Há muito que nos impressiona a capacidade d’A Vida Portuguesa celebrar a história da manufatura portuguesa através de uma lente moderna”, disse Emmanuel Plat à Marketeer.

Enviar um contentor de 40 pés cheio de material para Nova Iorque só foi possível com o apoio do Turismo de Portugal, do Ministério da Cultura (Programa Saber Fazer) e da TAP. Catarina, mais quatro pessoas da equipa, trataram de pintar paredes, colocar vinis, arrumar os produtos e adornar as montras (onde se veem as andorinhas negras de cerâmica da Bordallo Pinheiro e passam os filmes do desenho digital do ilustrador Jorge Colombo). Dar formação aos funcionários das lojas foi essencial, até porque os perfis dos clientes são diferentes: no Soho, em Spring Street, com 30 metros quadrados, a clientela é mais nova e mais local; em Midtown, na 53rd Street, em frente ao museu, tem mais turistas e pessoas mais velhas.

Esta não é a primeira internacionalização d’A Vida Portuguesa. Em 2017, ao comemorarem uma década, marcaram presença na La Trésorerie, em Paris, com uma espécie de residência temática e temporária, de um mês, dentro da loja de artigos de casa, perto da Praça da República. Mas celebrar a maioridade com duas pop-up stores no MoMA é “incrível”. “É um sítio simbólico, é um dos museus mais conhecidos do mundo, sem dúvida. E tem várias lojas que são uma das partes importantes do financiamento do museu. De vez em quando, fazem pop-ups com marcas, mas convidar uma loja nunca o tinham feito”, orgulha-se Catarina Portas.

Picos sem limites

O uNi ouriço em Nova Iorque é o primeiro passo da internacionalização da peça nascida na Ericeira

Paulo Reis conhece a Ericeira como a palma da sua mão. Na verdade, como as plantas dos seus pés, familiarizados com as praias, sobretudo com a Baía dos Coxos, onde costuma surfar e já foi picado pelos espinhos dos ouriços-do-mar, na base do nome desta vila piscatória.

Designer gráfico e antigo editor adjunto da revista VISÃO, onde trabalhou 25 anos, Paulo Reis demorou cerca de um ano até encontrar a melhor forma de construir o uNi ouriço. No primeiro teste, usou 100 picos de madeira; no segundo teste, 200; no terceiro, espetou 300 espinhos e percebeu que estava próximo da peça que imaginara. “E onde cabem 300 espinhos, cabem 365, um por cada dia do ano.”

Em 2016, no primeiro ano de atividade, fez uma centena de ouriços de madeira e daí em diante foi sempre a crescer. “Fui afinando a peça, desde os materiais e de ir buscar os cortes de madeira mais perfeitos aos fornecedores que conseguissem cumprir os prazos de entrega. Agora o processo está mais agilizado”, garante o artesão. “Demoro cerca de duas horas a concluir um ouriço, entre furação, pintura, colagem, secagem. Gosto de os fazer, vender não é a minha parte preferida do processo. Fazer um ouriço é o meu psicólogo, é um momento de prazer, não pode nunca transformar-se numa obrigação”, acrescenta.

Com o uNi ouriço à venda em cinco lojas em Lisboa, Ericeira e Comporta, Paulo Reis percebeu que para vingar no mercado online tinha de investir muito dinheiro em divulgação. Por isso, exposições como a d’A Vida Portuguesa na loja do MoMA, em Nova Iorque, são valiosos empurrões. “O que mais valorizo nesta oportunidade é a minha peça ter sido aprovada pelos curadores do MoMA, os mesmos especialistas que dão o aval para o que está em exposição no museu. Compraram 50 peças através d’A Vida Portuguesa. É só o mais importante museu de arte moderna do mundo… Nunca pensei que podia acontecer, só mostra que não há limites.”

A ideia andava na cabeça de Nuno Silva, 38 anos, desde que abriu a Bigorna juntamente com o irmão em 2020, junto ao Mercado do Bolhão: “O objetivo foi sempre criar um espaço semelhante ao dos clubes de jazz dos anos 60/70 em Chicago, ao fundo da barbearia”, conta. E assim foi. Desde meados de novembro, cortam-se cabelos e barbas durante o dia, mas, percorrendo o corredor com seis cadeiras vintage de pele e grandes espelhos, encontra-se um bar “ao estilo dos speakeasy”. 

Ao balcão, de madeira e com bancos bordeaux, ou nas quatro mesas do Bigorna Social Club saboreiam-se cocktails (a partir €9) com a assinatura da bartender Lia Igreja, como o Pompadour (mais cítrico, preparado com Calvados, Madeira meio seco, alperce e cera de abelha), o Spiced Pear Collins (mais refrescante, leva gin, curcuma, pera, cardamomo e limão) ou o No Smoking Inside (ao estilo Negroni).

Nuno Silva ambicionava abrir um bar que fosse além de cocktails, cerveja ou vinho a copo, e juntou-lhe uma mesa de bilhar (€6/hora), pintada pelo artista Francisco Sampaio. Um sofá de pele e uma antiga jukebox destacam-se na decoração deste social club que conta com a atuação de DJ às sextas e aos sábados, das 19h30 às 22h30.  

“Faltava na cidade um sítio agradável para conviver, ouvir música e jogar bilhar com uns bons tacos”, diz Nuno Silva, satisfeito com a adesão das pessoas nestes primeiros meses. Mais adiante, quer organizar torneios de bilhar e, a partir de fevereiro, convidar um chefe de cozinha uma vez por mês para juntar petiscos aos cocktails.

Bigorna Social Club > R. Alexandre Braga, 62, Porto > T. 91 342 2588 > ter-sáb 16h-24h 

Vasco Rocha Vieira nasceu a 16 de agosto 1939 e exerceu o cargo de governador de Macau entre 1991 e 1999, quando se processou a transferência do território para a China.

Antes, entre 1976 e 1978, desempenhou funções como Chefe do Estado-Maior do Exército e foi também ministro da República dos Açores entre 1986 e 1991.

A sua morte, esta madrugada, aos 85 anos, foi confirmada à Lusa por fonte oficial daquele ramo militar.

Há arrozes e arrozes, e o de sarrabulho feito à moda de Ponte de Lima há muito que leva milhares de comensais à vila minhota ao longo de todo o ano. Há dias, o prato viu confirmada pela União Europeia a certificação de Especialidade Tradicional Garantida (ETG), que “visa preservar e perpetuar uma receita feita de forma tradicional e que tem sido transmitida de geração em geração”, nota Cristina Mendes, presidente da Confraria do Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima, impulsionadora desta candidatura juntamente com o município limiano.   

No início do século XX, foi à cozinheira Clara Penha (1836-1924) e, mais tarde, à sua sobrinha Belozinda Penha Varela (1908-2002), que se deveu a criação deste prato tradicional minhoto ligado à típica matança do porco. “De raça bísara, alimentados com batata e couve-galega, também a qualidade da carne do animal faz a diferença neste prato associado à História e à herança de Ponte de Lima”, realça Cristina Mendes. “Ainda hoje se diz que o porco era o mealheiro do povo, porque tudo se aproveitava.” E esta iguaria é disso exemplo.

O arroz malandro (deve ser carolino), vem numa caçarola “onde sobressai a carne desfiada [de porco, galinha e vaca], um aroma perfumado com notas de cominhos, louro e limão, de cor castanha-escura porque leva sangue do porco ao qual é adicionado vinagre, que pode ser de vinho verde”, descreve a presidente. Numa travessa à parte servem-se rojões temperados em vinha d’alhos, belouras, chouriça de verde, tripa branca e batatas assadas ou alouradas em gordura.

À mesa, o repasto vai bem com um copo de vinhão ou vinho verde da casta Loureiro. Além de um prato que pode ser saboreado em vários restaurantes num fim de semana gastronómico de 24 a 26, o arroz de sarrabulho à moda de Ponte de Lima é “um motor económico da região ao longo de todo o ano”, reforça Cristina Mendes.

Fim de semana gastronómico Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima > 24-26 jan, sex-dom > restaurantes aderentes 

Alguns restaurantes onde provar o prato típico de Ponte de Lima 

A Carvalheira R. do Eido Velho, n.º 73, Fornelos > T. 258 742 316, 931 100 062  

Açude Centro Náutico, Arcozelo >T. 258 944 158; 96 574 0022 

Brasão R. Formosa, 1 > T. 258 941 890 

Casa Antiga  R. S. João Batista da Queijada, 1695, Queijada > T. 96 304 4903; 96 184 4424  

Cozinha Velha  Lugar de Faldejães, Arcozelo > T. 258 749 664; 96 113 6653 

Diamante Azul R. de Vandoeuvre Bl. 3, r/c, loja AM > T. 258 742 754 

Encanada R. Doutor António Magalhães, Mercado Municipal, loja 8 > T. 258 941 189 

O Mercado R. do Mercado, Mercado Municipal, loja 13 > T. 258 753 700 

O Porão Limiano R. do Souto, 37 > T. 258 941 183, 96 613 5453 

Sabores do Lima  Lg. Doutor António Magalhães, n.º 78 > T. 258 931 121 

A sustentabilidade tem sido uma das principais preocupações, nos últimos anos, quer a nível individual como coletivo. Numa luta contra o tempo, em que se procura combater as alterações climáticas e minimizar o impacto do ser humano no ambiente, a educação ambiental desempenha um papel fundamental na sensibilização, promoção e adoção de práticas sustentáveis. Afinal, para construirmos um futuro mais sustentável e verde para as gerações futuras, é necessário saber mais sobre sustentabilidade e começar a incutir, desde cedo, esse conceito nos mais novos.

A educação e a literacia ambiental são um ponto de partida para contribuir para a sustentabilidade global, uma vez que um maior conhecimento sobre o tema permite compreender os desafios ambientais, fazer escolhas mais ecológicas, por mais pequenas que sejam, e, por outro lado, perceber as consequências da nossa inação, não só para o planeta, mas também para a vida humana.

A transição energética e a adoção de fontes de energia renováveis, como a energia solar, podem ser fulcrais rumo a um futuro mais sustentável. A energia solar é considerada das fontes renováveis mais promissoras, pois, além de ser mais sustentável, tem benefícios a nível económico. Para que os cidadãos beneficiem deste recurso, é importante estarem informados sobre as vantagens, como, por exemplo, o facto de ser uma energia limpa, mais económica e de valorizar o imóvel. É também essencial explicar de que forma é que a energia solar pode ser aplicada no dia a dia das famílias (geração de eletricidade, aquecimento de água, recarga de carros elétricos, etc.). Além disso, deve-se desmistificar a ideia de que a energia solar é um investimento caro e mais direcionado para as empresas. É verdade que o investimento inicial pode ser mais elevado, mas os custos operacionais e de manutenção são menores e, ao longo do tempo, os custos de energia vão ser menores.

Portanto, mais uma vez, é indiscutível a importância da educação ambiental para a transição energética e um futuro mais verde. Munir as pessoas de informação clara sobre o problema e as várias soluções existentes para a sua mitigação, não esquecendo os seus benefícios a nível económico, ambiental e social, é fundamental para que as pessoas possam tomar decisões informadas. Por isso mesmo, a educação ambiental deve ser vista como uma responsabilidade de todos – governos, empresas e escolas – sendo que também cabe a cada um de nós ter interesse em saber mais sobre estes temas.

Tendo o Dia Mundial da Educação Ambiental como mote, o apelo é claro: é importante investir e fomentar a educação ambiental dos cidadãos, de forma a que estes compreendam a importância da sustentabilidade e que possam adotar decisões mais responsáveis e informadas quer através de pequenos gestos no dia a dia, quer a longo prazo. Seja como for, o interesse é só um: o bem-estar global e um futuro mais sustentável para todos.

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Assim proclamada pelo novo Presidente dos EUA, a nova Era Dourada em muito choca o observador atento. Mais que a negação do mais simples e básico humanismo, o rol de ordens executivas assinadas por Trump no seu primeiro dia demonstram um radical corte com o que criou esse grande país: a liberdade que tanto atraiu gente como os avós do bilionário, agora trasvestido em Presidente ultra protecionista e paladino da luta contra a imigração, ou a sua eslovena esposa.

Os tempos que vivemos, com fluxos migratórios muitíssimo grandes, pede respostas e políticas que não fechem os olhos perante o problema. Ele existe e a prova de que tem de ser enfrentado é o facto de a questão se ter transformado quase exclusivamente em material da extrema-direita.

Contudo, a brutalidade e a insensibilidade na abordagem ao problema por parte de Trump e dos seus sequazes, implica que nos choquemos e procuremos forças e alimento naquilo que nos pode recentrar na busca de soluções que estejam do lado certo da História.

Emma Lazarus, em finais do século XIX, numa época em que os EUA se debatiam também com imensas levas de refugiados e de migrantes, escrevia um texto que algum tempo depois foi escolhido para estar inscrito na base da Estátua da Liberdade.

Diz Emma Lazarus, uma judia descendente de cristãos-novos da Beira Alta portuguesa:

Não como o gigante bronzeado de grega fama,
Com pernas abertas e conquistadoras a abarcar a terra
Aqui nos nossos portões banhados pelo mar e dourados pelo sol, se erguerá
Uma mulher poderosa, com uma tocha cuja chama
É o relâmpago aprisionado e seu nome
Mãe dos Exílios. Do farol de sua mão
Brilha um acolhedor abraço universal; Os seus suaves olhos
Comandam o porto unido por pontes que enquadram cidades gémeas.
“Mantenham antigas terras sua pompa histórica!” grita ela
Com lábios silenciosos “Dai-me os seus fatigados, os seus pobres,
As suas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade
O miserável refugo das suas costas apinhadas.
Mandai-me os sem abrigo, os arremessados pelas tempestades,
Pois eu ergo o meu farol junto ao portal dourado.”

Entre resignação, a incapacidade de olhar mais longe, e os medos de cada momento, sabe bem olhar para o alcance destas palavras, materializadas numa estátua que representa, ela mesma, um coletivo que viu na imensidão das desgraças de cada um a oportunidade para que todos avançassem e se libertassem.

Mesmo quando a Liberdade nos obriga a pensar a liberdade de cada um, somos obrigados ao confronto com o que de atual este poema tem…

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Os números do Polestar 3 impressionam. Na versão ensaiada, são quase 500 cavalos de potência, um binário esmagador, bateria com mais de 100 kWh de capacidade e dimensões muito generosas. Comecemos por esta última característica: as rodas grandes e as linhas desportivas ajudam e esconder que este é um carro com 4,9 metros de comprimento e, ainda mais expressivo, 2 metros de largura. O que também significa que o espaço interior é amplo, em qualquer um dos lugares. Até porque este Polestar é baseado numa plataforma exclusiva para carros 100% elétricos, a SPA2, também utilizada pelo Volvo EX90. O que, como já sabemos, permite um maior aproveitamento do espaço interior. A habitabilidade é reforçada por bancos bem conseguidos e acabamentos interiores convincentes. Mas não é para quem gosta de ‘rococós’ já que, como é típico da marca e da origem Volvo, o interior segue as típicas ideias do minimalismo escandinavo.

A tração integral e a possibilidade de aumentar a altura da suspensão permitem passeios fora de estrada

Muito rápido, mas pouco desportivo

A aceleração é o primeiro ponto que impressiona. Os dois motores elétricos desta versão ‘colam-nos’ ao banco e catapultam o SUV de 0 a 100 km/h em apenas 5 segundos. As recuperações são igualmente vigorosas, permitindo ultrapassagens seguras e desembaraçadas. A velocidade máxima está limitada a 210 km/h, mas a sensação de velocidade é amplificada pelo silêncio a bordo.

Apesar do peso (mais de 2,5 toneladas) e das dimensões generosas, o Polestar 3 surpreendeu-nos pela agilidade. O SUV demonstrou um comportamento dinâmico em curva, graças ao sistema de vetorização de binário e à tração integral. A suspensão, com afinação confortável, filtra bem as irregularidades da estrada, mas permite algum adornar da carroçaria em condução mais desportiva. A direção é precisa, mas falta-lhe ‘feedback’, aquela ligação entre o condutor e a estrada que nos faz sentir o que se passa com as rodas. Ainda no que diz respeito à suspensão, é possível aumentar a altura do carro para, por exemplo, facilitar a passagem por zonas alagadas ou ultrapassar outros obstáculos. Esta capacidade em conjunto com a tração integral até permitem lidar com situações fora de estrada. O que verificámos já que, durante os dias de teste, acabámos por ter de sair de uma situação em que, num terreno agrícola, uma chuva repentina e forte transformou uma estrada de terra batida numa estrada de lama. Outros carros ficaram presos, mas o Polestar 3 saiu da situação sem dificuldades.

No geral, o Polestar 3 conduz-se bem. É um carro competente, seguro e previsível. Mas não transmite a emoção que se poderia esperar de um SUV com este nível de potência. Falta-lhe caráter, ‘alma’ É como se a Polestar tivesse privilegiado demasiado o conforto e a eficiência, esquecendo-se da vertente desportiva que tanto promete. De outro modo, parece-nos um… Volvo.

Demasiados bugs

O Polestar 3 é um ‘concentrado’ de tecnologia. O sistema operativo Android Automotive oferece uma experiência de utilização intuitiva e fluida, com integração nativa de aplicações Google como o Google Maps e o Assistente Google, que está cada vez mais inteligente. Ainda mais importante, este sistema dá acesso a muitas apps através da Play Store. O ecrã central de 14,5 polegadas tem uma excelente qualidade de imagem e o sistema de som Bowers & Wilkins com 25 colunas proporciona uma experiência sonora de alta-fidelidade.

O sistema de infoentretenimento com base no sistema operativo da Google é do melhor que já vimos…. Se não fossem os bugs. É esta a razão da nota Fraco no Tome Nota – se não fossem os bugs, a nota para o infoentretenimento seria Excelente

Mas esta montra tecnológica é ofuscada por falhas graves e inaceitáveis num carro desta gama. Durante os testes, o sistema de infoentretenimento entrou em ‘blackout’ por três vezes, deixando-me às escuras – literalmente. Sem ecrã central, sem painel de instrumentos, sem controlo do ar condicionado e sem qualquer informação sobre o estado do carro. É de assinalar que estas falhas aconteceram após carregamentos em casa, uma delas após uma atualização de software. A solução foi fazer um reset ao sistema, o que se consegue mantendo pressionado o botão de controlo multifuncional, disponível na consola central, durante uns bons 30 segundos.

Mas estes não foram os únicos problemas. A ligação integrada de dados móveis (5G) deixou de funcionar várias vezes, impedindo-nos de usar a navegação com informação de trânsito em tempo real. O Head Up Display também ‘desapareceu’ durante uma viagem, para reaparecer depois de uma paragem.

Estas falhas são simplesmente inaceitáveis num carro que custa quase cem mil euros. A Polestar tem de resolver estes problemas com urgência, sob pena de comprometer a credibilidade deste modelo e da própria marca.

Prós
Design minimalista funcional
– Autonomia real superior a 500 km
– Prestações e comportamento previsível
– Sistema de infoentretenimento Google

Contras
Bugs, muitos bugs
– Eficiência (consumo)
– Travagens automáticas ‘fantasma’

Carregamento e consumos

Este é um carro devorador de eletrões. Não conseguimos ver o computador de bordo a mostrar um consumo médio abaixo dos 20 kWh/100 km. E em autoestrada, não é preciso exagerar na velocidade para ver médias acima dos 30 kWh/100 km. Não podemos dizer que seja surpreendente considerando as especificações, com destaque para o peso e largura dos pneus. Mas, ainda assim, seria bom que a Polestar se preocupasse um pouco mais com os consumos.

Carregamento ultrarrápido? Sim, mas só em postos capazes de fornecer potências elevadas usando a arquitetura de 400 volts. Em muitos postos ultrarrápidos da rede pública, a potência máxima só é obtida com 800 volts, arquitetura que não é suportada pelo Polestar 3

O Polestar 3 Long Range Dual Motor está equipado com um carregador de bordo de 11 kW em corrente alternada (AC), o que permite carregar totalmente a bateria em 11h30 quando a usar uma wallbox trifásica de 11 kW ou um posto de carregamento lento. Em carregamentos rápidos, a potência máxima é de uns impressionantes 250 kW, mas a média já não é tão impressionante: medimos cerca de 150 kW de média em carregamentos entre 10 e os 80% (32 minutos). Atenção que este carro utiliza uma arquitetura de bateria de 400 volts, pelo que em muitos postos ultrarrápidos, que só atingem as potências mais elevadas quando a usar 800 volts ou mais, a potência de carregamento máxima real pode cair para metade. Considerando o segmento do Polestar 3, seria de esperar suporte para 800 volts, tecnologia cada vez mais comum, mesmo em segmentos de preços inferiores.

Diamante por lapidar

O Polestar 3 Long Range Dual Motor é um SUV elétrico com um potencial enorme. Tem um design atraente, uma autonomia generosa, um desempenho competente e tecnologia de ponta. Mas as falhas tecnológicas e a falta de caráter na condução impedem-no de se afirmar como uma verdadeira referência no segmento.

Tome Nota
Polestar 3 Long Range Dual Motor – Desde €91.700

polestar.com/pt

Autonomia Muito bom
Infoentretenimento Fraco
Comunicações Muito bom
Apoio à condução Bom

Características
Potência e binário 360 kW, 840 Nm ○ Acel. 0-100 km/h: 5 s ○ Vel. máx. 210 km/h ○ Bateria: 111 kWh (107 kWh usáveis) ○ Autonomia WLTP 636 km ○ Potência de carregamento: 11 kW em AC e 250 kW em DC ○ 2,120×1,614×4,900 m (LxAxC)

Desempenho: 4,5
Características: 4
Qualidade/preço: 2,5

Global: 3,7

Os jornais diziam há dias, com espanto, que a Igreja, entenda-se igreja católica (ICAR), não foi convidada para a abertura do ano judicial, e sublinhavam que esta situação era inédita na “laicidade do Estado”.

O Público ainda teve a clarividência de avançar que a decisão tinha sido tomada por unanimidade pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), pelo procurador-geral da República (PGR) e pela bastonária da Ordem dos Advogados (AO), sendo todos eles católicos, talvez para evidenciar que não se tratará de qualquer luta político-religiosa. Mas o Expresso preferiu ocultar esta informação. O título daquele semanário era: “Abertura do ano judicial pela primeira vez sem representantes da igreja católica”, o que sugere confusão onde não parece haver nenhuma.

Quando questionado, o STJ esclareceu que “não irão estar presentes, porque não foi convidada nenhuma entidade eclesiástica de qualquer religião”, e aproveitou para explicar os convites aos representantes das Forças Armadas devido ao facto de existirem juízes militares em funções naquele tribunal.

A ICAR disse não querer comentar, confirmando a ausência de qualquer convite, mas manifestou desconforto com a nova situação (o que se compreende) não deixando de dar uma “bicada”, pois declarou que tal situação vinha “ao contrário do que acontecia, de acordo com uma longa tradição”. Só que Portugal é um estado de direito e não um “estado de tradição”. A lei vigente retirou há muito aos organizadores de cerimónias oficiais a obrigatoriedade de convidar uma autoridade eclesiástica católica para se fazer representar nas mesmas, em linha com o espírito da constituição e os princípios do estado laico.

Por que razão há-de o bispo duma diocese de estar obrigatoriamente presente com lugar de destaque numa cerimónia civil? E porque não os outros líderes religiosos? Se a constituição portuguesa é tão clara em matéria de não discriminação religiosa, por que razão se haveria de persistir justamente numa discriminação tão evidente? Se a Lei de Liberdade Religiosa segue a mesma linha, por que motivo o Estado haveria de continuar a proclamar liberdade e a negar a sua prática pelas mais altas instâncias?

Desde quando é que a tradição tem valor legal? As próprias instituições religiosas mudam as suas tradições antigas todos os dias, incluindo a ICAR. Um estado de direito não se guia por uma tradição, longa ou não, mas pela legislação que o rege. E a legislação não obriga a tais convites.

Portanto, se os organizadores agiram estritamente dentro da lei, como seria de esperar, porquê o espanto? Também é verdade que a lei não impede que se façam tais convites protocolares, mas já não por imposição legal.

O estado laico é uma conquista democrática e sem ele não existe liberdade religiosa. Bem sei que a notícia é quando o homem morde o cão, mas a comunicação social não tem mais nada de importante a realçar na cerimónia de abertura do ano judicial senão o facto de o representante do patriarcado de Lisboa não ter sido convidado para uma cerimónia, quando não tinha que o ser?

Há notícias que dificilmente se entende porque o são, em especial quando as instituições cumprem escrupulosamente a lei. A não ser que se queira inventar uma questão religiosa onde ela não existe.

O facto de o estado ser laico não significa que a sociedade o seja, por que não é. Mas isto nada tem que ver com os extremismos do laicismo. A laicidade defende a neutralidade e a não confessionalidade do Estado, justamente para não introduzir distorções no campo religioso e não colocar em causa a liberdade religiosa.

Mas o laicismo é outra coisa, implica que o Estado assume uma ideologia hostil à religião. Ora, não é disso que se trata aqui, mas, pelo contrário, da afirmação da neutralidade do Estado face às religiões, como deve ser. Por isso é de saudar a decisão do STJ, da PGR e da OA na afirmação pública da laicidade do Estado e da liberdade religiosa, no respeito para com todo o campo religioso.

Que as outras entidades públicas lhes sigam os passos.

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