Quando viajo, gosto de ir em busca de povos e locais que me impactem. Tenho fascínio por paisagens que me reduzam ao ponto de me sentir um grão de areia na imensidão, e busco povos resilientes que contribuam no meu propósito de aprender e me inspirar com eles. Com isto em mente, sugiro quatro destinos: Madagáscar, Paquistão, Mongólia e Albânia.

Paquistão

A Região Norte do Paquistão foi uma escolha sobretudo para buscar a parte do país mais desgarrada daquilo que podia ser uma imagem de uma segunda Índia, porque é muito mais do que isso. Aqui aparecem das três cordilheiras mais altas do mundo, mas qualquer elevação nos faz sentir minúsculo. Incidi especialmente nas regiões de Hunza e Gilgit-Baltistan. Foi uma experiência que desafia preconceitos. Envolvidas pelas majestosas montanhas do Karakoram, estas áreas não só impressionam pela beleza natural, mas também pela profundidade humana que oferecem. Quantas vezes, ao sermos acolhidos afavelmente pelos locais ou pela própria polícia, escutava dizerem: “We are not terrorists!”

Ao chegar, somos recebidos com uma hospitalidade única. Os habitantes locais, de sorriso sincero e gestos acolhedores, fazem-nos sentir parte de algo maior. Recordo–me de partilhar chai, um símbolo de calor humano, enquanto ouvia histórias sobre os antigos reinos que ali floresceram.

A História está viva em cada canto, desde o Forte Baltit, com séculos de memórias, até à antiga Rota da Seda, ao frenesim de Peshawar, que liga o presente ao passado. E a gastronomia é uma revelação: pratos como o chapshuro e os frutos secos locais refletem a ligação intensa entre o povo e a terra.

Ir a esta zona permite-nos ainda ir fundo num pequeno grupo de uma comunidade de etnia Kalash, onde tudo é diferente, a fisionomia, as vestes, a língua, a espiritualidade.

Albânia

Visitar este território é descobrir um país marcado por cicatrizes, mas vibrante em resiliência e hospitalidade. Atravessando as montanhas dramáticas e a costa azul do Adriático, somos confrontados com as histórias de um passado ditatorial que, embora sombrio, moldou a força e a identidade do povo albanês. Os bunkers espalhados pelo país são lembranças de tempos de isolamento, mas que hoje servem como símbolos de superação.

Lembro-me de ser recebido com um sorriso caloroso numa aldeia remota. Apesar das dificuldades históricas, os albaneses mostram uma simpatia genuína, como se quisessem partilhar o melhor do seu país com o mundo. A generosidade, mesmo com tão pouco, é tocante. A melhor experiência que tive foi no restaurante da linda cidade de Berat, onde conheci o Lili, dono e empregado de mesa cujos atendimento e comida deixam qualquer um ébrio de tanta simpatia e delicadeza.

Por outro lado, a ancestralidade do país é igualmente impressionante. Locais como Butrint, uma antiga cidade romana, revelam camadas de História que nos transportam no tempo. Na Albânia, aprendi que a adversidade fortalece e que a autenticidade está nos pequenos gestos.

Madagáscar

Ir a Madagáscar é embarcar numa jornada de descoberta que vai muito além de simples paisagens exóticas. Lembro-me do momento em que pisei pela primeira vez aquela terra avermelhada, rodeada de embondeiros imponentes e sorrisos calorosos. Madagáscar não é apenas um destino; é um convite a redescobrir a humanidade em todas as suas facetas.

A riqueza natural da ilha impressiona. Da zona de savana à desértica, das florestas tropicais às praias paradisíacas, cada cenário mostra uma diversidade impressionante. Mas foi o contacto com as pessoas que realmente me marcou. As comunidades locais das diversas etnias, com a sua simplicidade e a sua alegria de viver, ensinaram-me a valorizar o que temos de forma diferente. Conversar com um pescador ao pôr do sol ou brincar com as curiosas crianças revelou-se tão valioso quanto visitar os famosos Tsingy, a Avenida dos Embondeiros ou observar os lémures.

A ilha da terra vermelha é uma lição viva de resiliência e diversidade. A sua cultura, um mosaico de influências africanas, asiáticas e europeias, reflete a capacidade humana de adaptação e integração. Viajar para lá não é apenas explorar um território, é uma experiência transformadora. Ao regressar, trago sempre mais do que memórias – trago vivências que me ajudam a pôr os pés no chão e a compreender melhor o meu papel.

Mongólia

A Mongólia é uma imersão num mundo onde o essencial ganha novo significado. Ao atravessarmos os vastos desertos e estepes, somos sempre convidados a desacelerar, a observar e a viver com menos. O estilo de vida nómada, tão característico do país, é uma lição prática de minimalismo, onde cada objeto tem uma função e cada momento, um propósito.

Lembro-me de chegar a um ger, as tradicionais tendas mongóis, e ser recebido com uma taça de chá de leite salgado. A hospitalidade dos nómadas é verdadeiramente genuína, profundamente enraizada numa cultura que valoriza o acolhimento de estranhos como parte da sobrevivência nas duras paisagens. Apesar da simplicidade, há riqueza nos gestos, como partilhar um prato de khorkhog (prato tradicional de carne grelhada num wok gigante com pedras incandescentes), ouvindo histórias sobre cavalos e rebanhos ao calor de uma salamandra que aquece a tenda.

Se a Mongólia tiver de ensinar alguma coisa, é que menos é mais. Num mundo cada vez mais acelerado, esta viagem é um convite a refletir sobre o que realmente importa, conectando-nos com a Natureza e com a essência humana.

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Jornalista, autor do livro/guia Conhecer Portugal a Pé e líder de viagens na agência Landescape

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Viajar sempre foi uma paixão, muitas vezes sem o perceber. Por acaso, ou talvez não, tive a sorte de a transformar em trabalho. Enquanto repórter ou viajante, sinto-me mais atraído por zonas menos conhecidas, tantas vezes esquecidas, onde há sempre algo de novo por revelar – histórias, tradições, cheiros, sabores e, acima de tudo, pessoas

Ilha de Prócida, Itália

Sem o mediatismo de Capri ou dimensão de Ísquia, a mais pequena das ilhas do golfo de Nápoles é a que melhor preserva o espírito e o ambiente dos velhos tempos. Do porto Marina Grande, a principal porta de entrada, dominada pela fachada do Palazzo Montefusco, podem apanhar-se todo o tipo de transportes para as outras zonas da ilha, que devido à sua pequena dimensão pode, e deve, ser percorrida a pé. Um dos itinerários óbvios é subir a Via Roma em direção às ruas estreias do centro histórico. Quase sem darmos por isso, já estamos no outro lado da ilha, com vista para a bonita Marina Corricella, imortalizada no filme O Carteiro de Pablo Neruda, aqui filmado em 1994 (existe um percurso assinalado pela ilha a ele dedicado). Aconselha-se uma subida ao pequeno bairro fortificado de Casalle Vascello e, um pouco mais acima, até à Terra Murata, o ponto mais alto da ilha, de onde se pode apreciar a vista panorâmica sobre a baía, com as suas típicas casas mediterrânicas construídas em anfiteatro ao longo da encosta, descendo depois pelas estreitas ruelas até junto da água, onde inúmeras esplanadas convidam a ficar, para provar as especialidades gastronómicas desta ilha de pescadores.

Samarkanda, Bukhara e Khiva, Usbequistão

Em pleno coração da Ásia Central, o Usbequistão capitaliza como poucos países o imaginário exótico da Rota da Seda, através de uma série de cidades históricas exemplarmente preservadas, como a mítica Samarkanda, porventura a mais conhecida, devido à literatura e à banda desenhada de Corto Maltese. Habitada desde o século VIII a.C., é a cidade mais antiga da Ásia Central, onde ao longo da História se cruzaram culturas, povos e impérios – dos persas a Alexandre, o Grande, de Gengis Khan à União Soviética, meio mundo por aqui passou, e ficou. Igualmente impressionantes são Bukhara e Khiva, que se apresentam antes como história sob a forma de cidade. A primeira fica situada num oásis à porta do imenso deserto de Kyzyl Kum e as influências que recebeu mantêm-se até hoje, como é o caso da língua tajique, de origem persa, maioritariamente falada nestas ruas. Já Khiva, reza a lenda que terá sido criada por um dos filhos de Noé, que aqui, no meio do deserto, terá cavado um poço de onde brotava uma água sempre fresca. Hoje, apresenta-se aos visitantes como um daqueles locais que parece suspenso no tempo, onde a história se materializa nas feições, vestes, usos e costumes. Mas também em pormenores mais velados, como os símbolos zoroastras, expostos nas colunas das velhas mesquitas e nas paredes dos imponentes palácios como mera decoração, mas com significados mais profundos, há muito perdidos no tempo: suásticas, árvores da vida e as célebres “borboletas de Khiva”, que representam a eterna linha divisória entre o bem e o mal, sobre a qual todo o homem deve conseguir equilibrar-se ao longo da sua vida terrena.

Ilhas Lofoten, Noruega

Cem quilómetros acima do Círculo Polar Ártico, este arquipélago, composto por cinco ilhas principais e um sem-fim de ilhotas e ilhéus, tem sido nos últimos anos redescoberto por viajantes de tudo o mundo, que aqui chegam atraídos por uma natureza quase virgem e um modo de vida desacelerado. À medida que o ferry avança pelo mar da Noruega, começam a avistar-se, no horizonte, os enormes picos nevados, também conhecidos como muralha de Lofoten, por parecerem um enorme muro, com cerca de 100 quilómetros de extensão e nalguns casos com mais de mil metros de altura, a erguer-se no meio do mar.

O porto de chegada é Svolvær, considerada a cidade mais antiga do Círculo Polar Ártico, desde que foi fundada pelos vikings por volta do ano 800. Entre maio e julho, o sol nunca se põe por estas paragens, transformando a noite num longo lusco-fusco de luz mágica e confundindo por completo o relógio biológico. São diversos os locais da ilha de Austvågøya merecedores de visita, como a pitoresca vila piscatória de Kabelvåg, o lago Kongsvatnet ou o pico Tjeldbergtind, de onde se pode apreciar uma vista panorâmica sobre as ilhas e montanhas vizinhas.

Embora as principais ilhas do arquipélago estejam ligadas por estrada – por uma única estrada, aliás, a E10, com 130 quilómetros, que permite desbravar todo o arquipélago em modo road-trip –, há locais apenas acessíveis por barco, como é o caso de Trollfjor, o fiorde dos Trolls, ou a ilha de Skrova, uma das mais pequenas e isoladas do arquipélago, com apenas 2 quilómetros quadrados e pouco menos de 200 habitantes.

Seguindo pela E10, chega-se a Henningsvær, uma vila distribuída ao longo de uma sucessão de ilhéus, ligados entre si por diversas pontes e molhes. É também famosa pelo seu campo de futebol, considerado um dos mais bonitos do planeta, devido à singular localização: ocupa um ilhéu inteiro e em vez de bancadas está rodeado de postes com bacalhau a secar. Em direção a norte, fica a pequena ilha de Gimsøya, onde o isolado lugar de Hov é ideal para apreciar o sol da meia-noite ou, a partir de setembro, as auroras boreais. Mas se existe um verdadeiro postal ilustrado das Lofoten, então esse fica em Reine, uma localidade de ruas estreitas e casas pintadas de vermelho e branco, nalguns casos ainda com o tradicional teto de relva. É daqui que se acede ao miradouro situado mesmo no topo do Reinebringen, a montanha sobranceira a Reine. Para lá chegar é necessário subir uma íngreme escadaria de 3,5 quilómetros escavada na rocha.

Região das 4 mil ilhas, Laos

Enquanto a pequena embarcação avança lentamente pelo rio Mekong, sob a luz do sol-posto, é impossível não desligar do mundo lá fora. O destino é a pequena e bela ilha de Don Det, uma das inúmeras existentes na região de Si Phan Don, mais conhecida como “4000 ilhas”. Don Det tem pouco mais do que uma rua, mas onde já abundam esplanadas e alojamentos com vista para o rio, num ambiente bastante relaxado que se prolonga em bares como o OuSa Library House, conhecido pela música ao vivo, a cargo de uma banda local e da potente voz da vocalista, que também é proprietária do bar. Esta pequena ilha é também o ponto de partida perfeito para explorar as margens do imenso rio Mekong, a pé, de bicicleta ou de caiaque, o meio de transporte mais indicado por permitir várias paragens para caminhadas pelos campos e aldeias, e, claro, para refrescantes mergulhos. Um dos percursos mais populares é atravessar de Don Det para a ilha de Don Khone, deixando os caiaques junto à aldeia e percorrendo em seguida um trilho ao longo dos arrozais, que conduz à cascata Khonpasoi. Já na aldeia de Veun Kham, seguindo agora por terra, chega-se à impressionante cascata de Khon Phapheng, a maior do Sudeste Asiático em comprimento, com quase 10 quilómetros.

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Escolhas de Bernardo Conde
Fotógrafo, fundador do festival internacional de fotografia e vídeo de viagem e aventura Exodus Aveiro Fest e fundador e líder de viagens em Trilhos da Terra

Sofia Aparício: “Viajo para ganhar mundo, não é para descansar”

No Instagram, Sofia Aparício apresenta-se como “atriz, manequim, amante da realidade e ativista do sonho”. Na vida real, foge de rótulos e realiza-se como pessoa “a tentar equilibrar um bocadinho os pratos da balança”.

Aos 54 anos, desdobra-se entre empreitadas de trabalho em Portugal (na moda, no cinema, no teatro) e viagens que lidera mundo fora, muitas vezes com África na mira. Vive indignada com a Humanidade e encontra momentos de felicidade na solidariedade, com os pés assentes na terra.

Está agora em S. Tomé e Príncipe, a ver no terreno a ação da Helpo, uma ONG portuguesa que já lhe deu vários afilhados à distância, como o Marcelo, um menino de 15 anos da região de Nampula, em Moçambique.

Benim
Fui ao Benim com uma líder incrível da 100 Rota, a Rosa Furtado, numa viagem pela África Ocidental que incluiu o Togo e o Gana, durante o festival anual de vudu. A região foi conhecida na Europa como a Costa de Ouro, depois como a Costa dos Escravos, e hoje sentimos que estamos na África pura e dura. No Benim, ficámos em aldeias remotas, onde as festas não são tão sofisticadas como em Ouidah, a capital do vudu. Aconselho a levarem máscara, por causa do pó.

O que a move? O que a apaixona no dia a dia?
Sou apaixonada por este planeta. Se existe um Deus, ele é este planeta, responsável pela nossa vida. Não uma construção ideológica, mas esta física e esta química que nos permitem existir. Adoro a sensação de que somos pó de estrelas que existiram há milhões de anos. E move-me a curiosidade pelo planeta em si, por culturas diferentes e, sobretudo, por pessoas diferentes.

As pessoas parecidas consigo despertam-lhe pouca curiosidade?
Sinto que aprendo pouco com quem teve o mesmo tipo de educação. E, sendo eu privilegiada por ter tido os pais que tive e por ter nascido e crescido na Europa, com acesso a educação, informação e cultura, tenho o instinto de tentar equilibrar um bocadinho os pratos da balança. Em miúda, a minha mãe ralhava comigo: “Lá estás tu a querer ajudar os pobrezinhos.” Mas não era isso. O meu instinto foi sempre proteger os mais frágeis.

Que pais foram esses?
Um pai angolano, e angolano mesmo, porque os meus avós eram de Santa Comba Dão e emigraram para Ucuma, uma pequena vila ao pé da cidade do Huambo (antiga Nova Lisboa), e ele nasceu e viveu em Angola até à independência. Tenho pelo meu pai um amor que não cabe em mim, vivíssimo e que só vai morrer quando eu morrer. Já fui ver o sítio onde nasceu e as lágrimas corriam-me pela cara, porque pensava: como é que em 1900 e troca o passo, uma criança com 17 anos, que só conhecia Ucuma e Nova Lisboa, veio com uma bolsa estudar engenharia para Portugal? É preciso uma coragem incrível.

Portanto, um pai angolano e uma mãe…
Uma mãe filha de agricultores de uma aldeia ao pé de Viana do Castelo, Perre, que veio ter-me a Portugal porque o meu pai tinha escrito “branco de segunda” no Bilhete de Identidade. Penso que já não era assim quando nasci, em 1970, mas a minha mãe não queria esse estigma para mim. E com menos de um mês fui de navio para Angola.

Os seus pais conheceram-se em Portugal?
No Porto, onde a minha mãe estudou Medicina. E foram ambos os primeiros letrados nas suas famílias. Sou filha destes senhores incríveis que viviam bem em Angola e que ficaram praticamente sem nada, mas ainda construíram uma vida bastante confortável em Lisboa. Logo após a independência, a família ficou separada: eu fui para casa dos meus avós, em Perre, a minha irmã para um colégio interno no Porto, o meu pai para uma empresa de construção civil em Viseu e a minha mãe veio abrir o serviço de neonatologia na Estefânia.

Lembra-se de Angola? De Ucuma?
Já era Luanda, de onde vim com 5 anos. As nossas memórias também podem ser contadas, mas lembro-me do andar de cima da nossa casa, sem nunca ter visto fotografias, e até da cor da alcatifa, que era mostarda. Também me lembro das minhas talas, porque tinha as pernas muito tortas e dormia de talas, e de um vizinho sem uma unha. Claro que posso ter sonhado com isto da unha, não sei, não percebo nada de sonhos. [Risos.]

Fechou tudo numa gaveta?
O amor que tenho por África é uma extensão do amor que tenho ao meu pai. Ele era africano e viveu deprimido muitos anos. E eu costumo dizer que tenho um coração africano e uma cabeça europeia.

África tem que ver com a largueza de horizontes?
É isso, mas não é só isso. Tem que ver com o facto de ser o útero do planeta, o berço da Humanidade. Não sou nada de energias, mas quando saio do avião em África sinto uma energia que me agarra o coração e fico ali, presa ao chão e à força da Natureza.

Turquia, Curdistão e Iraque
Na 100 Rota, sou líder de duas viagens, uma pela Turquia e o Curdistão, e outra pelo Iraque. Mardin, considerada a capital do Curdistão turco, é uma cidadezinha linda no cimo de uma montanha que se visita a pé. No Curdistão iraquiano, um dos sítios de que mais gosto é Lalish, o local mais sagrado para os yazidis (religião perseguida por todos). É uma aldeia onde só se pode andar descalço e tem um templo yazidi que visitamos durante o festival anual. O Iraque é uma caixinha de surpresas e não conheço outro povo tão generoso, simpático e acolhedor. Na região dos pântanos, ficámos em casa de uma família cujo patriarca era um homem velhinho, lindo.

A sensação é boa?
É incrivelmente boa, mas ao mesmo tempo não deixa de ser dolorosa. A maior parte da população africana vive mal, a desigualdade é gigante e a responsabilidade desse mal viver é muito do Ocidente. Sendo que aquelas pessoas são maravilhosas, têm gestos de generosidade connosco sem pedir nada em troca. Quando estive no Gana, no início do ano, fui ao mercado Makola, no centro de Acra, e percebi logo que não era bem-vinda por causa da cor da minha pele. Nunca levo isso como uma ofensa, percebo. As pessoas que têm esta cor de pele [aponta para uma das mãos] não costumam lá ir para ajudar nem para ser amigos deles. O Gana tem uma das maiores lixeiras têxteis do mundo e aquele mercado vive muito à conta de fardos de roupa cada vez de pior qualidade que eles nem sequer conseguem usar ou reaproveitar.

Para quem tem um percurso na moda, faz sentido ter esta consciência.
Não sou hipócrita. Nunca fui muito consumista e cada vez sou menos, mas claro que consumo fast fashion. Faço-o com um peso muito grande na consciência e, sempre que posso, escolho roupa feita de materiais reciclados e com o símbolo do comércio justo.

Estava a contar que não se sentiu bem-vinda naquele mercado no Gana.
Já esperava, porque faz sentido, e por isso fui com uma pessoa de lá. Prefiro sempre ir com locais, acabo por aprender mais, e é também por isso que gosto de viajar sozinha. Conheço mais gente e fico em casa de pessoas onde não ficaria se estivesse acompanhada.

É outra experiência.
Quando viajo, nunca sinto que vou de férias, porque o meu trabalho não é das nove às cinco, 11 meses por ano. Agora tenho uma empreitada de seis ou nove meses, a seguir fico desempregada e é nesse tempo que viajo. E viajo para ganhar mundo, não é para descansar. Não tenho o menor interesse em passar o tempo todo num resort. Nada contra, mas viajar não é isso.

Já disse que viaja para ganhar mundo. Começou como manequim?
Com 11 anos, a minha mãe mandou-me sozinha para a Bélgica, estudar Francês durante três meses. E, no ano a seguir, mandou-me para Inglaterra, estudar Inglês. Portanto, chegava o verão e a minha mãe mandava-me embora [risos]. Depois, já como manequim, viajava bastante em trabalho, o que adorava. Talvez tenha sido aí que comecei a fazer as minhas viagens sozinha pelo mundo.

E o regresso a África, a Angola?
Houve uma altura em que queriam que o meu pai voltasse a Angola para trabalhar e eu fui a única da família a dizer-lhe para não o fazer. Ele sofreu imenso por ter de vir de Angola, vi-o deprimido, para que é que ia abrir uma ferida que entretanto fechara? Mais tarde, talvez há uns 20 anos, convidaram-me a abrir um cibercafé em Luanda e o meu pai foi comigo porque eu queria a minha nacionalidade angolana (passei a ter dupla nacionalidade) e era preciso ele ir buscar a sua certidão de nascimento. Dessa vez, viajei um bocadinho à volta de Luanda, mas não foi aí que me apaixonei por África.

Foi antes? Depois?
Já devia ter estado na África do Sul, em Cabo Verde e de certeza em Marrocos, mas este amor por África é uma coisa que eu sabia que existia. É a liberdade e a necessidade de horizontes largos. Tenho uma casinha na Graça, que comecei a comprar com 27 anos, e a única coisa que eu queria era uma vista. Às vezes, apetece-me passar muito tempo na casa que temos na aldeia, mas falta-me o “a perder de vista”.

Além de viagens, a sua conta no Instagram está cheia de ativismo.
Ah, mas isso não é uma coisa consciente. As coisas vêm ter comigo. Já em miúda, entrava muitas vezes em conflito e era sempre a defender quem estava a ser vítima daquilo que agora chamamos de bullying.

E isso passava-se onde?
No Sagrado Coração de Maria, em Lisboa. Sou menina de colégio de freiras e ainda entrei na Católica para estudar Gestão [risos]. Mas eu já era assim na escola da aldeia, onde fiz a segunda classe, e, segundo o meu pai, em África chegava do infantário e contava: “Andei ao milho”, ou seja, tinha andado à pancada para defender alguém que estava a ser agredido. Portanto, o meu ativismo nunca foi uma coisa pensada, foi mais uma incapacidade minha de não dizer nada e de ficar quieta.

O que é que a indigna?
Agora, especificamente, indigna-me o que se está a passar na Palestina. As pessoas têm medo de usar a palavra, mas a definição de genocídio é exatamente o que está a acontecer ali por interesses económicos. Como é que uma pessoa consegue ser acionista de uma fábrica de armas e tem os seus filhos e os seus netos a dormir? Gosta deles, quer que tenham um sono tranquilo e vende armas? Esta distopia… Não consigo viver numa bolha.

Gana
No Gana, estive em aldeias, mas também em grandes cidades como Acra, a capital. Em Acra, é obrigatório visitar o mercado Makola, onde há tudo à venda – até aquilo que é considerado lixo na Europa. O país recebe o desperdício da fast fashion mundial, e não muito longe desse mercado existe uma lixeira têxtil gigante, à beira-mar. As roupas, a maioria de poliéster, acabam por ser levadas pelo mar. Visitámos ainda a maior lixeira de sucata eletrónica do mundo. O Gana é um país lindo, mas as viagens também servem para nos educar.

Mas a Sofia já furou a bolha há muito tempo.
A maior parte das pessoas é muito preguiçosa e muito cobarde. Preguiçosa para pensar e cobarde, por exemplo, para assumir o seu privilégio. Não faz mal nenhum sermos privilegiados. É uma sorte. Eu não me sinto culpada por ser privilegiada, mas tento usar o meu privilégio. Quantas outras pessoas mereciam ter a vida que eu tenho? Todas mereciam e há melhores vidas do que a minha, atenção. Mas conheço muitas pessoas que não querem sair da sua bolha de privilégio por preguiça de pensar. Já mudei de ideias ao longo da vida. E, às vezes, basta só um bocadinho mais de empatia.

Um dia, vão perguntar-nos se não sabíamos o que se passava em Gaza.
Já me aconteceu precisar de me desligar, não ir ao Instagram nem ler notícias, como se a guerra estivesse em pausa para mim. Mas, ao terceiro dia, o meu sentimento de culpa era gigante porque as crianças que estão a morrer não podem pôr a guerra em pausa. Cada vez mais dou graças aos deuses por não ter tido filhos. Foi a decisão mais acertada.

Não ter filhos foi uma decisão consciente?
Completamente. Não queria deixar um filho neste mundo. Costumo dizer que foi por amor ao meu filho que nunca nasceu que não o tive.

Daí ter afilhados, na Helpo? Como é que começou a sua colaboração com esta ONG?
Ajudei a pintar a sede da Helpo nas Fontainhas, em Cascais, há uns 20 anos, e agora tenho dois afilhados, um em Moçambique e outro em S. Tomé. Para mim, uma pessoa de sucesso é uma pessoa que melhorou a vida de alguém. E eu quero fazer isso ao longo da minha vida. Essa é a minha recompensa e nem sequer o faço por altruísmo.

É para se realizar como pessoa?
Não é bem isso. Faz-me sentir melhor. Neste meu percurso à procura de associações com as quais gostava de colaborar deixei muitíssimas pelo caminho porque faziam caridade. A caridade é uma coisa de cima para baixo. Do tipo: estou aqui, sou privilegiada, mas sou boazinha, estou a dar-te uma esmolinha ou comidinha. Não gosto disso. Gosto de solidariedade. Eu sei os nomes dos sem-abrigo apoiados pela associação CASA, com a qual colaboro. Na Helpo, senti que faziam um trabalho eficaz, nomeadamente com os programas de apadrinhamento em África, e tive um afilhado no Norte Moçambique, na zona de Nampula, o Marcelo, que entretanto fez 15 anos.

O apadrinhamento na Helpo acaba aos 15 anos?
Sim, porque é quando os meninos acabam o Secundário. Depois, se forem para o Ensino Superior é outro apadrinhamento. O Marcelo ainda está a acabar o ano letivo e, naquilo que depender de mim, vai ser o que quiser. Talvez arquiteto? Já me disse que gostava de seguir Arquitetura. Eles ficam sempre muito acanhados quando nos conhecem, mas o Marcelo fala bem português, coisa que quase ninguém fala, porque a mãe é professora, ou seja, já não é a primeira geração da família a estudar.

E, mesmo assim, precisou de ajuda.
Estas populações que vivem em situações frágeis… é ter farinha e feijão para o dia e mais nada. Aliás, uma das coisas que a Helpo também faz é o lanche escolar. Infelizmente, só dá para ser uma vez por semana, porque não há meios para todos os dias, mas isso leva-os à escola porque nunca sabem quando é. E em S. Tomé e Príncipe tem uma horta comunitária e cria animais. Sou vegetariana, mas parece-me importante que criem animais para tentarem ser autossuficientes. O objetivo da solidariedade não é tornar os outros dependentes de nós, é dar-lhes instrumentos para não precisarem mais de nós.

Togo
Em língua jeje, Togo significa “além da falésia”. É um destino para quem gosta de África. Os seus mercados tradicionais são incríveis, mas temos de ir preparados para ver muita carne pendurada. Em Sokodé, a cerca de 300 quilómetros da capital, todos os anos há um festival que atrai centenas de cavaleiros. Na região de Koutammakou, as tata, umas casas fortificadas, são impressionantes.

A famosa cana para pescar.
Para serem independentes e saírem do ciclo da pobreza. Irritam-me as pessoas que vão a países africanos e levam na mala “umas coisinhas para as crianças da rua”. Não se dão coisas na rua. Isso é satisfação própria, é egoísta, fomenta a mendicidade e não é educativo. Se querem realmente ajudar, escolham uma associação, entreguem-lhe as coisas e a associação saberá como, quando e onde distribuí-las de forma eficaz. Os doces fazem mal aos dentes, eles não têm dentistas e aquilo é cáries por todo o lado. Estar a dar canetas e coisinhas escolares na rua só os habitua a pedir. E depois estas pessoas queixam-se “Ah, eles estão sempre a pedir.” Sim, claro, tu estás a potenciar isso!

Lá está, é caridade.
A minha mãe dizia que gostar de um filho não é dar-lhe tudo o que podemos dar. É poder dar tudo e não dar tudo. Saber ir dando, para que isso seja positivo para o filho. Temos de saber dar. E, às vezes, custa horrores não dar. É o complexo do salvador branco, essa coisa abominável. “Vamos salvar a África!” Há uns anos, quando me cruzei com este conceito, comecei a pensei: “Será que tenho isto?” Juro! É importante sermos confrontados com estas coisas.

Até porque as pessoas de certeza lhe perguntam “Então, porque é que não ajuda aqui?”
Mas eu ajudo aqui. Além da Helpo, que também tem ação em Portugal, colaboro com a CASA, com quem faço a ronda dos sem-abrigo (aliás, vamos fazer hoje), a CCC [Corações Com Coroa] e a Associação Mais Proximidade, que dá apoio a pessoas mais velhas, principalmente no combate à solidão.

Mas, sempre que pode, regressa a África. E entretanto também como líder de viagens.
Estava no Médio Oriente quando conheci um rapaz chamado Francisco [Agostinho], que é dono da 100 Rota. A primeira vez que fui ao Iraque foi com ele, em 2021, depois da minha mãe morrer.

Vai sempre com apoio dos locais?
Claro. Nem faz sentido de outra maneira. Aliás, o que gosto nas viagens é exatamente apoiar a economia local. E conhecer Bagdade com uma pessoa que vive lá… Já lá estive duas vezes e este ano ia liderar mais uma viagem, mas foi cancelada por causa do que está a acontecer na Palestina. E vamos ver o que acontece para o ano, porque tenho novamente marcado o Iraque e uma outra viagem, ao Sul da Turquia e ao Curdistão iraquiano.

O Curdistão iraquiano, que inveja.
Já tenho saudades dos meus amigos curdos. Quando se viaja sozinho, faz-se amigos. Os curdos sempre me despertaram curiosidade, por isso comecei a ler sobre eles e decidi que ia lá ver. Por exemplo, os peshmerga, que são os combatentes do Exército iraquiano, nunca são uma força atacante. Foram ajudar os americanos a acabar com o ISIS em Mossul, lutaram contra o Saddam e as prisões políticas… A história da Humanidade não é nada bonita.

Peru
Na América Latina, o Peru é um daqueles destinos que se deve aproveitar para conhecer enquanto não está completamente turístico. É lindo ver na rua as pessoas vestidas com os trajes típicos no seu dia a dia. Não é encenação, é genuíno. E depois temos toda a sua natureza exuberante – os vulcões, a selva, as montanhas. A vista da Montaña de Siete Colores (ou Vinicunca) é arrebatadora.

A Sofia gostava de ter regressado agora ao Iraque?
E porque não? Percebo que as pessoas tenham medo, mas eu ia e não é porque sou maluca e inconsciente. Há um ano, achei que Bagdade estava um bocadinho mais militarizada, mas tudo supertranquilo. Havia um tanque parado com militares lá em cima, numa praça qualquer… mas isso não me causa nem medo nem insegurança. É assim.

Se tivesse um cartão de visita, escrevia “atriz” ou “aventureira”?
Nunca sei apresentar-me. Quando me pedem a profissão, tenho de lá pôr uma coisa e então ponho atriz ou manequim. Sim, sou atriz, mas não punha isso num cartão de visita. Poria filha do meu pai e da minha mãe.

Mas porque não atriz? Não tem formação?
Não fiz o Conservatório, mas fiz um curso de teatro de três anos com o John Frey [ator e professor americano que teve um estúdio no Teatro do Bairro, em Lisboa, onde lecionava a Técnica Meisner]. E vou fazendo workshops, mas não punha “atriz” num cartão de visita, porque parece-me redutor. Viajante, sim, já poria num cartão.

Pelo meio, ainda faz trabalhos como manequim?
Sei que tenho 54 anos [risos], mas faço. Faço, por exemplo, sempre que a Antónia Rosa [maquilhadora e diretora criativa da revista Zoot] me convida, porque divirto-me muito. Eu sou plasticina para o talento dos outros e aquilo arranca sempre com uma conversa. Pergunto-lhe: “Então, o que é que pensaste hoje?” e ela começa a contar-me a história que imaginou e, enquanto está a maquiar-me, eu vou construindo a minha personagem, o que adoro. E a nossa amizade vem do 86 [80-60-86, programa sobre moda que Sofia apresentou na RTP, entre 1994 e 1998].

Quando esta entrevista for publicada, a Sofia estará em S. Tomé, com a Helpo. Já sabe por onde vai andar?
Nos 15 dias que estiver com eles, vou onde me levarem. A minha ideia é conhecer pessoas e só regressar em janeiro. Nunca sei quando volto [risos]. Talvez tenha trabalho logo no início do ano, mas preferia só em março porque fui desafiada a ir ao Burkina Faso no final de fevereiro.

Passa o Natal em S. Tomé?
E estou muito feliz com isso. Não odeio o Natal, mas odeio loucuras coletivas, seja o Natal, o Carnaval, os futebóis. Toda a gente em dezembro, no mundo ocidental, tem uma árvore de Natal em casa – e eu não tenho, nunca tive e nunca vou ter. As pessoas gastam imenso dinheiro a comprar coisas que ninguém quer e, quanto mais consumimos, mais lixo existe no planeta. E irrita-me muito que na altura do Natal as pessoas se lembrem todas de ser boazinhas. Os sem-abrigo dormem na rua e têm necessidades 365 dias por ano. Porque é que só se lembram deles no Natal?

“Com 75 cêntimos por dia, melhoramos a vida de alguém”

Sofia Aparício colabora com a ONG para o desenvolvimento portuguesa Helpo, apadrinhando crianças à distância

“A Helpo tem um trabalho incrível em Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, mas está desesperadamente a precisar de mais padrinhos. A forma clássica custa 23 euros por mês. Com 75 cêntimos por dia, melhoramos a vida de alguém, é dinheiro bem empregue. O apadrinhamento que apoia um jovem que quer fazer o Ensino Superior custa 45 euros por ano em Moçambique e 60 euros por ano em S. Tomé. Quando as pessoas se põem a dizer ‘Ah, ajuda em África, mas não cá dentro’ é mais uma desculpa de mau pagador. Quem ajuda lá fora também costuma ajudar cá dentro. Só quem não ajuda em lado nenhum é que usa essa desculpa. Em maio, fui ver o trabalho da Helpo em Moçambique e conhecer o meu afilhado Marcelo. E senti-me orgulhosa com o trabalho da ONG e por contribuir para ele. Porque vi as escolas que construíram, vi as escolas que apoiam, vi o resultado prático da nossa colaboração. Numa das escolas que visitámos, daquelas mais no meio do mato, mais isoladas, vi como é difícil convencer as crianças a ir às aulas, porque os próprios pais são analfabetos e parece-lhes mais importante ajudar na machamba [pequena horta]. Só o exemplo de quem já conseguiu fazer o Secundário mostra a estas crianças que, mesmo no meio do nada, existe uma perspetiva de futuro.”

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À descoberta das montanhas que Le Courbusier apelidou de “a obra arquitetónica mais bela do mundo”

Europa encantada
Dezenas de mercados de Natal enchem as principais praças do Velho Continente com árvores iluminadas, música e muitas barraquinhas com brinquedos, iguarias gulosas e vinho quente

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Ver auroras boreais e ir a banhos numa lagoa de águas quentes no país do gelo e do fogo

Cabo Verde: A ilha da calma e da gentileza
São pouco mais de 50 quilómetros de uma ponta à outra de Santiago, da cidade da Praia ao Tarrafal de má memória

Espanha: De Madrid a Toledo
Há muito para descobrir para lá da Gran Vía, com o bónus de visitar a capital manchega a meia hora de comboio

Marrocos: Tânger, a Branca
Paul Bowles sabia-a toda. E nós só não vamos na sua peugada se formos tontos

Brasil: Na terra dos Manezinhos
Na ilha de Santa Catarina encontramos as tradições açorianas. Um turismo de praia com muitas histórias para ouvir

Escolhas de Bernardo Conde
Fotógrafo, fundador do festival internacional de fotografia e vídeo de viagem e aventura Exodus Aveiro Fest e fundador e líder de viagens em Trilhos da Terra

Escolhas de Miguel Judas
Jornalista, autor do livro/guia Conhecer Portugal a Pé e líder de viagens na agência Landescape

Palavras-chave:

Os Prémios Os Melhores & As Maiores do Portugal Tecnológico atribuídos pela Exame Informática, com apoio da VISÃO, distinguem as personalidades, inovações, marcas e organizações que mais se distinguiram em Portugal na área da tecnologia.

Na 18ª edição dos prémios, o júri, presidido pelo Professor Arlindo Oliveira, decidiu por unanimidade atribuir a distinção Personalidade do Ano a Madalena Cascais Tomé.

Júri do prémio Personalidade do Ano

Arlindo Oliveira (presidente do júri), Professor IST, Presidente INESC
Cristina Fonseca, General Partner – Indico Capital Partners
Isabel Vaz, CEO Luz Saúde
Sérgio Magno, Diretor Exame Informática

O que significa ser líder? Liderar uma empresa é muito mais do que fazê-la atingir metas e apresentar resultados financeiros a cada ano fiscal. A capacidade de traçar uma visão para o futuro, capaz de equilibrar inovação e propósito, e de saber executá-la no momento certo é uma das bases para uma liderança bem-sucedida. Exemplo disso é Madalena Cascais Tomé, CEO da SIBS desde 2015. Sob a sua liderança, a SIBS consolidou-se como uma das maiores empresas de soluções de pagamentos digitais em Portugal, mas também na Europa. A sua carreira começou na consultoria, passando por consultoras como Deloitte e McKinsey. Mais tarde, entrou na Portugal Telecom, onde veio a assumir funções enquanto diretora na área de operações comerciais. A par do seu percurso profissional, a sua formação académica, em áreas que incluem Matemáticas Aplicadas, Estatísticas e Marketing Research, assim como Liderança Organizacional, deram-lhe as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios de estar à frente de uma empresa e de guiá-la num mercado em constante mudança.

Ao longo dos últimos nove anos, a SIBS apostou em inovações tecnológicas que transformaram a forma como interagimos com o dinheiro, com destaque para o MB Way, que trouxe mais conveniência e rapidez aos pagamentos digitais. No ano passado, o MB Way Pulse, que fez a sua estreia para assinalar o 40º aniversário da SIBS, veio facilitar o acesso à tecnologia de pagamentos contactless sem a necessidade do smartphone ou de outros equipamentos. A ‘família’ continua a crescer com iniciativas focadas na solidariedade social, com o MY Way Pulse Solidário, e na sustentabilidade, com o MB Way Eco. De olhos postos no futuro dos pagamentos europeus, este ano foi também realizada a primeira transferência internacional entre MB Way, BANCOMAT e Bizum, como parte de um projeto que tem como objetivo permitir transferências imediatas entre bancos de Portugal, Espanha e Itália a partir de 2025.

A sua visão estratégica à frente da SIBS não tem passado despercebida. Em 2023, por exemplo, foi reconhecida como uma das 25 mulheres líderes em tecnologia financeira na Europa, alcançando a 13ª posição neste ranking apresentado pelo The Financial Technology Report e dedicado às lideranças femininas que estão a transformar o setor das Fintech. Ser líder é também inspirar. Nos últimos anos, o número de mulheres em cargos de liderança tem crescido, no entanto, este continua a ser maioritariamente um ‘clube de rapazes’, incluindo no mundo da tecnologia. Mulheres como Madalena Cascais Tomé mostram que a liderança feminina pode ser sinónimo de transformação, inovação e propósito, desafiando preconceitos e abrindo a porta para a próxima geração de líderes.

A Exame Informática entregou esta quarta-feira os prémios ‘As Melhores & As Maiores do Portugal Tecnológico’, que distinguem, anualmente, empreendedores, inovadores, empresas e instituições nas áreas da Ciência e Tecnologia. Descubra os vencedores nas diferentes categorias.


As melhores

Uma das missões da Exame Informática é descobrir muito do talento que ainda está sob os radares do mercado e da restante comunicação social e os prémios ‘As Melhores do Portugal Tecnológico’ visa amplificar a criação de conhecimento e a geração de riqueza de base tecnológica que se faz no nosso país. A atribuição é da responsabilidade da equipa editorial da Exame Informática que faz três distinções por cada categoria: um vencedor e duas menções honrosas.

Marca nacional

Vencedor: Powerdot

Fundada em 2018, a Powerdot é um dos maiores operadores independentes de carregadores de veículos elétricos em Portugal e na Europa, estando presente em países como Espanha, França, Bélgica, Luxemburgo e Polónia. Com mais de 8400 pontos de carregamento ativos, a empresa tem como missão melhorar a infraestrutura europeia de veículos elétricos e a transição para transportes sem emissões. Até 2026, a Powerdot quer expandir a sua rede com mais 3100 pontos de carregamento, um objetivo para o qual contribuirá o investimento de 165 milhões de euros que assegurou este ano.

Menções honrosas

INESC TEC:O INESC TEC afirma-se como um dos pilares da inovação em Portugal. Além de promover avanços científicos e tecnológicos através de projetos de investigação, atua como uma ‘ponte’ entre academia, empresas, administração pública e sociedade. O seu impacto também se reflete no apoio à criação de empresas e na transferência de conhecimento para diversos setores, consolidando-se como um agente de transformação no nosso país..

eGames Lab: Formado por 22 entidades, o consórcio eGames Lab é uma das iniciativas que ambicionam colocar Portugal no mapa internacional dos videojogos. Com um investimento de quase 30 milhões de euros, o projeto já gerou mais de 120 novos postos de trabalho, avançando também com o lançamento de vários jogos e soluções tecnológicas que integram inovações em áreas como realidade virtual, IA e Blockchain.

Marca Internacional

Vencedor: Cloudflare

Chegou a Portugal em 2019, na altura, com uma equipa de 14 pessoas. Cinco anos depois, a Cloudflare já tem mais de 350 colaboradores a trabalhar no país, com a sede em Lisboa – simultaneamente a sede europeia da empresa – a afirmar-se como aquela que mais cresce a nível internacional. Soluções inovadoras como o Cloudflare Radar nasceram por terras lusitanas, demonstrando que Portugal é mais do que um ‘backoffice’. Com uma nova ‘casa’ em Lisboa e com a ambição de contratar mais 400 pessoas até 2027, a Cloudflare consolida o seu compromisso com o talento e a inovação local.

Menções honrosas

Microsoft: A Microsoft é outra das gigantes tecnológicas que mantém o compromisso com a inovação em Portugal através de parcerias com empresas e entidades locais, mas também ao trazer para novidades como os computadores Copilot+PC para o mercado nacional e ao aproximar os seus serviços dos utilizadores no nosso país, incluindo no campo da IA, com destaque para o chatbot Copilot, que já fala português de Portugal.

Google: A Google continua a apostar no hardware em Portugal, mas a inovação não se faz apenas com gadgets. A gigante de Mountain View também continua a trabalhar na disponibilização dos seus serviços em português de Portugal. Um dos exemplos mais recentes é o Gemini, o seu assistente pessoal de IA, que ‘aprendeu’ a falar a língua de Camões no seu modo de conversas por voz.

VOLT

Vencedor: Stellantis Mangualde

Este ano, o Centro de Produção Stellantis de Mangualde deu início à produção de veículos 100% elétricos da Citroën, Fiat, Opel e Peugeot. Com a nova aposta, integrada num investimento de 119 milhões de euros da agenda mobilizadora ‘Green Auto’, a fábrica tornou-se na primeira em Portugal a produzir veículos de passageiros e comerciais ligeiros 100% elétricos em série. Além de ajudar a impulsionar a economia nacional no setor automóvel, o arranque da produção afirma-se como um importante contributo para a mobilidade sustentável no nosso país.

Menções honrosas

International Flight Academy: Conhecida como uma das escolas de aviação mais bem equipadas do país, a International Flight Academy (IFA), em Viseu, começou a operar e a comercializar o primeiro avião 100% elétrico certificado em Portugal, o Pipistrel Velis Electro. O avião, livre de emissões poluentes, é também usado na formação de pilotos. Para a IFA, a adoção de modelos como o Velis Electro será fundamental para reduzir a pegada carbónica associada à aviação.

Bling Energy: A Bling Energy quer democratizar o acesso à energia solar e aposta num modelo de subscrição para a tornar acessível a um público mais vasto, eliminando as barreiras financeiras que, muitas vezes, impedem as famílias de investir em energias renováveis. A startup já arrecadou cerca de três milhões de euros em rondas de investimento e planeia expandir as suas operações para novos mercados.

Serviço digital

Vencedor: Manie

Mudar de fornecedor de eletricidade ou gás não tem de ser uma dor de cabeça e a Manie quer ajudar a encontrar os melhores preços e a poupar nas faturas. O objetivo passa por dar aos consumidores um único sítio a partir do qual podem gerir toda a sua energia, mas também aumentar a literacia energética dos portugueses. A plataforma compara as diferentes ofertas no mercado e, para encontrar o melhor preço, basta submeter uma fatura no seu simulador. Mas não é tudo: a Manie também trata automaticamente da mudança de fornecedor através de um serviço de Autoswitch.

Menções honrosas

Digi: Depois de garantir licenças para o 5G em Portugal e de comprar a Nowo por 150 milhões de euros, a operadora de origem romena iniciou oficialmente as suas operações no nosso país este ano. A oferta de serviços a preços reduzidos e contratos sem fidelização tem despertado a atenção dos consumidores e, apesar de ainda estar em fase de arranque, a sua proposta promete desafiar o mercado nacional de telecomunicações.  

Vinted: Começou em 2008 como uma forma de dar nova vida às roupas a mais após uma mudança de casa e, hoje, é um dos maiores marketplaces online do mundo para artigos de moda em segunda mão. O ‘unicórnio’ lituano chegou a Portugal em 2021, e, desde então, tem ajudado a renovar os guarda-roupas de maneira mais sustentável, promovendo uma economia circular e hábitos de consumo mais conscientes.

Responsabilidade social

Vencedor: Toyota APM

Fabricado pela Toyota Caetano Portugal, o Accessible People Mover (APM) é um veículo multifuncional e 100% elétrico. Os 250 modelos produzidos no nosso país desempenharam um papel importante no transporte de atletas, organizadores, voluntários e pessoas com necessidades especiais de acessibilidade durante a edição de 2024 dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, que decorreu em Paris. A par do APM, o Wheelchair E-puller e C+Walk S e T foram outras das soluções de mobilidade inclusiva desenvolvidas pela Toyota para o evento desportivo.

Menções honrosas

Critical TechWorks: O Programa de Neurodiversidade, promovido pela Critical TechWorks e Critical Software, quer demonstrar que as carreiras tecnológicas estão ao alcance de todos. A iniciativa entrou este ano na sua quarta edição e tem como objetivo recrutar, formar e integrar profissionais com autismo em equipas de engenharia informática. Nos últimos três anos, o projeto já permitiu a integração de 22 profissionais nos escritórios de Coimbra, Viseu, Porto e Lisboa das empresas.

Seedsight: A Seedsight quer combater o desperdício agroalimentar e está a desenvolver uma solução baseada em tecnologia de Blockchain, técnicas de Deep Learning e sensores óticos para analisar a qualidade de cereais e sementes com maior precisão. Com ela a startup prevê uma redução de até 8% nos custos de triagem do melhor cereal e de até 89% no tempo de aquisição dos melhores grãos. O projeto está em fase piloto e espera-se que chegue ao mercado até 2026.

Startup, powered by IziBizi

Vencedor: Glooma

É na deteção precoce do cancro da mama onde a Glooma, fundada por Francisco Nogueira e Frederico Stock, quer fazer a diferença. Com a luva sensorial SenseGlove, a startup quer pôr o conhecimento de milhares de médicos das mãos das mulheres.O objetivo é criar uma espécie de substituto mais objetivo à auto-palpação, que dê mais confiança às mulheres durante este momento, disponibilizando informação prática para que, aos primeiros sinais de alerta, contactem um profissional de saúde o mais cedo possível. A SenseGlove combina três elementos fundamentais: sensores de pressão; tecnologias de Machine Learning e Inteligência Artificial; e um tutorial baseado num algoritmo de mapeamento.

Menções honrosas

Uplink: Tornar a Internet acessível para todos: é este o plano da Uplink (anteriormente HypeLabs), fundada por Carlos Lei e André Francisco, que levantou um investimento de 9,3 milhões de euros este ano. O objetivo passa por oferecer um incentivo financeiro aos utilizadores para que partilhem um pouco da sua rede e, a partir destas partilhas, criar uma rede aberta a outras pessoas, num ecossistema autossustentável onde todos – de indivíduos a grandes empresas – possam contribuir.

Starkdata: A Starkdata desenvolveu um sistema que faz previsões automáticas para ajudar empresas na projeção das vendas, na gestão do stock e na relação com os clientes. Focada nos setores da banca, retalho e indústria farmacêutica, a startup criada por Miguel Teixeira, Miguel Reis, João Ramos e Paulo Figueiredo apresentou recentemente o seu primeiro agente de Inteligência Artificial para empresas, chamado starkVision, e está a preparar a expansão internacional.

Inovação Pedro Oliveira

Vencedor: Unbabel Halo

A tecnologia, desenvolvida no âmbito do consórcio Centro para a IA Responsável, foi concebida para ajudar pessoas com condições como ELA a recuperar a capacidade de comunicar. A solução consiste num leitor de sinais musculares – essencialmente uma banda que pode ser colocada na cabeça que, por eletromiografia, deteta as contrações musculares finas – e software com Inteligência Artificial, que inclui informação sobre o utilizador, como a personalidade, gostos ou ambiente que o rodeia. A partir deste sistema, que vai sendo ‘alimentado’ com informação tanto por parte do utilizador como pelas pessoas que o rodeiam, é criada uma persona. Esta persona é capaz de gerar sugestões de resposta a perguntas colocadas ao utilizador. As respostas são depois apresentadas em áudio e o utilizador sinaliza a mais adequada ao mover os músculos da testa. Uma vez que o sistema converte texto para voz, de modo a tornar a conversação mais natural, é possível usar a voz do próprio paciente, seja ela gravada previamente para esse fim numa fase anterior da doença ou através de áudios antigos.

Menções honrosas

MEDgical: O excesso de trabalho burocrático no sector da Saúde resulta em ineficiência, assim como no aumento dos casos de erro médico e de burnout entre profissionais. Para solucionar o problema, a MEDgical desenvolveu uma solução que usa Inteligência Artificial para gerar notas clínicas e relatórios médicos automaticamente, permitindo que os médicos saiam detrás do computador e falem com os pacientes. No final, toda a documentação médica fica disponível ao pressionar num botão.

BEAT Therapeutics: Fundada em 2023, como spin-off da Universidade do Porto, a farmacêutica Beat Therapeutics encontrou no extrato de uma planta usada em práticas de medicina tradicional moçambicana um novo elemento para o tratamento do cancro. A molécula identificada serve de base àquele que será o primeiro medicamento de uma nova classe, os inibidores da resposta a danos no ADN. A startup prevê que os primeiros ensaios clínicos em pacientes comecem a ser realizados em 2027. 

Personalidade do ano

Na 18ª edição dos prémios, o júri, presidido pelo Professor Arlindo Oliveira, decidiu atribuir a distinção Personalidade do Ano a Madalena Cascais Tomé. Conheça as razões que levaram à escolha do Júri aqui.


As Maiores

Quais as maiores empresas tecnológicas em Portugal? Quais as empresas que cresceram mais em emprego, volume de negócios ou exportações? Quais as empresas que tiveram melhor desempenho global? Estas são algumas das perguntas que vão ser respondidas na edição de 2023 dos prémios “As Maiores do Portugal Tecnológico”, que distinguem as empresas que mais impacto positivo têm na economia do país. Este é o único ranking que revela as 200 Maiores da Tecnologia em Portugal e é desenvolvido numa parceria com a Iberinform.

Fast Mover – Emprego

Critical TechWorks: Apesar de ter uma história ainda relativamente recente, esta empresa já se tornou uma referência mundial no desenvolvimento de software para a área automóvel. Entre 2022 e 2023, aumentou o número de colaboradores em quase 30%, ultrapassando a marca dos 2000. Crescimento que continua… Atualmente, já conta com 3000 colaboradores em território nacional.

Fast Mover – Volume de Negócios

AppGeneration: Com mais de 100 milhões de utilizadores ativos em apps utilitárias no período de um ano e dois jogos com mais de 10 milhões de instalações, as receitas desta empresa subiram mais de 50% entre 2022 e 2023. O volume de negócios já está próximo dos 20 milhões de euros. Um dos maiores sucessos da AppGeneration é a app My Tuner Radio, que disponibiliza mais de 50 mil rápidos de todo o mundo

Exportação + Fabrico

Siemens Portugal: A empresa conseguiu vencer, pelo segundo ano consecutivo, nas categorias Exportação e Fabrico. O que é natural porque são duas áreas intimamente ligadas no caso da Siemens , que exporta mais de 60% do que produz em Portugal. Um valor que subiu cerca de 35% entre 2022 e 2023, ultrapassando os 240 milhões de euros em exportações.

Top score

Vortal Powered by Hubexo: Uma referência internacional na contratação eletrónica, com soluções de eSourcing e eProcurement. Incluindo nas contrações no setor público. A plataforma reúne mais de 350 mil utilizadores no setor público e privado. Os índices apurados pela Iberinform demonstram que esta é uma empresa extremamente saudável, resiliente e bem preparada para o futuro.

Serviços

Capgemini Portugal: Esta empresa alcançou o 11º lugar do ranking geral, graças ao volume de negócios superior a 200 milhões de euros. Emprega mais de 3000 pessoas e tem sido uma parceira estratégica no desenvolvimento das ferramentas tecnológicas para tornar as empresas portuguesas mais competitivas.

Distribuição

Samsung Portugal: Quarta no ranking das maiores tecnológicas em Portugal, com um volume de negócios superior a 400 milhões de euros em 2023, é um gigante da eletrónica de consumo. Em Portugal, a Samsung comercializa uma grande variedade de produtos.

Inovação e Desenvolvimento

Medidata: Esta empresa tem a particularidade de se ter especializado na área da modernização da Administração Pública. Nomeadamente no desenvolvimento de ferramentas que facilitam o acesso dos cidadãos à informação e aos serviços digitais, ajudando na desburocratização e na descentralização.

Telecomunicações + Top Ranking

Meo: Uma repetente que, apesar da instabilidade vivida no setor, conseguiu aumentar o volume de negócios entre 2022 e 2023, atingindo os 2,25 mil milhões de euros. E com exportações próximas dos 80 milhões de euros. Ainda há umas semanas, a Meo assegurou as telecomunicações de grande largura de banda aos mais de 70 mil visitantes da Web Summit, recorrendo a um conjunto de tecnologias de ponta. Uma forte demonstração das capacidades técnicas desta operadora.

Com uma extensa costa atlântica e uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas (ZEE) marítimas da União Europeia, Portugal tem uma relação profunda com mar, que não só moldou a sua história e cultura, como constitui um recurso inestimável para o país. Efemérides como o Dia Nacional do Mar, que se comemora a 16 de novembro, e o Dia Mundial da Pesca, que se assinala a 21 de novembro, são ocasiões importantes para relembrar a responsabilidade de gerir de forma sustentável os recursos, em especial quando Portugal é o país da UE que consome mais pescado per capita, com uma média de mais de 55 kg por ano e ocupa a terceira posição mundial, de acordo com dados do EUMOFA 2023. Entre o pescado consumido, cerca de dois terços é importado para fazer face à procura, com o bacalhau a liderar na preferência.

O relatório ‘Consumer Insights do MSC’, Marine Stewardship Council, de maio deste ano, realizado pela GlobeScan, revela que 42% dos consumidores de produtos do mar estão preocupados com o estado dos oceanos a nível mundial e 75% acredita que é preciso mudar os hábitos de consumo para pescado proveniente de fontes sustentáveis. Estes números demonstram um maior interesse e consciência dos consumidores com questões ambientais ligadas aos produtos do mar. Mas tal como o mar se agita, é preciso continuar a agitar consciências, continuar a trabalhar a educação ambiental, apostar na promoção de um consumo mais diversificado e sustentável, assim como continuar a promover uma pesca sustentável, que permita que as populações de peixes se reproduzam de forma adequada e contínua. Isso passa também por fomentar práticas de pesca responsáveis, que minimizem os impactos ambientais, combater a pesca ilegal e a sobrepesca.

Para isso, Governo, indústria, organizações não-governamentais e cidadãos devem agir em conjunto na construção de um futuro sustentável dos oceanos. Sabemos que Portugal está comprometido com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, sendo um deles inteiramente focado na conservação e uso sustentável do oceano. O objetivo 14 inclui metas específicas até 2030, como prevenir e reduzir a poluição marinha, gerir e proteger os ecossistemas marinhos e costeiros, regular a extração de recursos e implementar planos de gestão com base científica, entre muitos outros.

A questão da transparência é também essencial. Os consumidores merecem e devem ter garantia da origem e do percurso que o pescado faz desde o momento da captura até chegar à mesa. Um dos requisitos a fim de garantir a sustentabilidade do produto final é que o sistema de rastreabilidade seja credível, sendo este um trabalho que envolve todos os intervenientes na cadeia de valor da pesca sustentável

Compreender a proveniência, os métodos de pesca utilizados e o impacto ambiental associado são fatores que contribuem para decisões de compra mais informadas e sustentáveis. Neste contexto, as certificações desempenham um papel crucial, sobretudo quando são emitidas por entidades independentes, uma vez que oferecem uma maior credibilidade e confiança quer na marca, quer no produto, levando o consumidor a comprar com maior consciência.

Aproveitemos estas efemérides para repensar as nossas ações, pois por mais pequenas que sejam cada uma delas tem um impacto real e tangível nos nossos preciosos oceanos.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Bem-vindo ao último episódio da série do podcast Tech Flow que é inteiramente dedicada à cibersegurança. Ao longo de cinco episódios, exploramos a segurança informática de forma descomplicada – dos conceitos gerais que definem esta área, às novas tecnologias que estão a transformar a forma como utilizadores, empresas e organizações devem abordar a segurança digital. Este é um podcast que tem como objetivo sensibilizar os utilizadores e os decisores – porque no fim de contas, todos usamos tecnologia – para a importância da cibersegurança no dia-a-dia.

Veja o quarto episódio do Tech Flow: O que é a cibersegurança quântica
e porque precisamos dela (já hoje)

Neste episódio falamos sobre a nova diretiva de segurança das redes e dos sistemas de informação, mais conhecida por NIS2. O que é e quais as grandes diferenças para a diretiva original? O que muda para as empresas? Como devem as organizações preparar-se para a NIS2? Quais as alterações que traz na resposta a incidentes de cibersegurança? E de que forma vai contribuir para um panorama mais robusto da segurança informática?

As respostas a estas e outras perguntas são dadas por Bruno Horta Soares, conselheiro executivo na IDC Portugal e especialista em temas de risco e segurança de sistemas de informação, e Rodrigo Branco, engenheiro de sistemas de cibersegurança na Warpcom. Pode ver o quinto e último episódio desta temporada do Tech Flow na versão vídeo no início deste artigo ou ouvir aqui a versão em áudio:

Tech Flow, episódio 5

Veja ou reveja os outros episódios já publicados do podcast Tech Flow:

A nova série do podcast Tech Flow, dedicada à cibersegurança, é feita pela Exame Informática em parceria com a Warpcom.

Num novo estudo, uma equipa de investigadores de Hong Kong revela ter criado um dispositivo portátil que simula um chupa-chupa e dá aos utilizadores a possibilidade de sentirem até nove sabores virtualmente. O estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences revela que é possível sentir sabores doces, salgados, cítricos, assim como de cereja, maracujá, chá verde, leite, durião e toranja.

Os cientistas conseguiram recriar as sensações de sabor induzidas pela estimulação da língua, faringe, laringe e epiglote com recurso a iontoforese, a introdução de químicos nos tecidos através de um campo elétrico produzido por uma corrente unidirecional.

Até aqui, a recriação de sabores virtuais foi feita com recurso a químicos (isto é através da aplicação direta de químicos na língua, o que requer espaço para armazenamento destes químicos e implica um grande desfasamento temporal, não sendo ideal para uma experiência de realidade virtuaç); variações térmicas (o que implica um sistema complicado que incorpore sistema de arrefecimento, sensores de temperatura e outros componentes) ou estimulação elétrica (que requer a implantação de elétrodos na língua ou próximo desta). Assim, a abordagem desta equipa passou pela iontoforese, que usa iões que circulam em hidrogéis biológicos e que transportam de forma segura os sabores recriados quimicamente.

A equipa liderada por Yiming Liu explica que este é um método estável, requer um baixo consumo de eletricidade, permite um feedback de sabor mais preciso e a criação de uma interface humano-máquina mais natural, avança o ArsTechnica.

No que toca a hardware, a equipa recorreu a componentes miniaturizados para a placa de circuitos colocada sob duas camadas ultrafinas num ‘chupa’ impresso em 3D em nylon. Entre os componentes do aparelho, estão uma bateria de iões de lítio, um microcontrolador, um módulo de Bluetooth, capacitadores, MOSFETs de tipo N e tipo P e reguladores que controlam os canais de sabor através de uma interface no ambiente virutal. O dispositivo mede 8x3x1 centímetro e pesa 15 gramas.

Os sabores são gerados pela corrente que flui pelo gel próprio e que os utilizadores apreendem ao lamber o dispositivo. A equipa adicionou também cheiros, o que enriquece a sua perceção do sabor e vai agora dedicar-se em aumentar o alcance temporal do dispositivo, que atualmente só pode ser usado durante uma hora porque os géis esgotam-se e ficam sem sabor.

Os investigadores explicam que o aparelho pode ser usado para testes padronizados de sabores e ajudar a tratar doenças ou disfunções relacionadas com o paladar, para uma experiência mais imersiva em compras online em lojas virtuais ou para um contexto educativo, onde os pais ensinam os diferentes sabores às crianças.

Palavras-chave:

O grupo de hackers RomCom, associado a ciberataques e outras intrusões em prol do governo russo, está a explorar ativamente duas vulnerabilidades zero-day que afetam os utilizadores de Windows e Firefox na Europa e América do Norte. Os investigadores da ESET revelam ter encontrado evidências desta atividade na criação de um exploit ‘zero-click’, ou seja, que afeta o utilizador mesmo sem qualquer interação por parte do mesmo.

Damien Schaeffer e Romain Dumont, da ESET, explicam no blogue da empresa especializada em cibersegurança que “este nível de sofisticação mostra a capacidade e intenção” dos atacantes em criar “métodos de ataque furtivos”, cita o Tech Crunch.

Para serem infetados, os utilizadores apenas precisam de ter visitado um site malicioso específico controlado pelo grupo. Ao visitar a página, é aberta uma ‘backdoor’ que permite que os hackers acedam ao dispositivo da vítima.

A ESET estima que o número de vítimas possa ir de uma a 250 por país na Europa e América do Norte. O ROMCOM tem sido particularmente ativo contra organizações que se colocam do lado da Ucrânia na questão da invasão russa.

A Mozilla informa que corrigiu a vulnerabilidade a 9 de outubro, um dia depois de ter recebido o alerta da ESET e a Microsoft também o fez a 12 de novembro. O Tor Project, que desenvolve o navegador Tor com base em código do Firefox, também corrigiu a falha, embora não haja vestígios de que o browser tenha sido explorado durante esta campanha.

A equipa da Google Threat Analysis alertou a Microsoft para o bug e não descarta a hipótese de a falha ter sido explorada para perpetrar outros ataques a organizações e governos.